Projeto Ampulheta - Epilogo

Sasuke ajustava a gravata enquanto caminhava. A roupa social de corte reto, alinhada ao corpo, o terno negro, aberto deixando a mostra o colete cinza o fazia lembrar dos tempos em que viveu no século passado. Engoliu em seco quando atravessou o corredor e parou em frente a porta de madeira talhada e pintada de branco. Já haviam se passado 24 anos desde quando chegara nesse século e agora, ele vivia uma nova etapa de sua vida. Respirou fundo, estufou o peito e com lentidão, deu três batidas na porta. As vozes femininas lá dentro se calaram e segundos depois, a porta fora aberta e a primeira pessoa que ele viu foi o amor de sua vida.


Sakura estava linda com seu vestido azul marinho longo, estilo sereia de corte liso e ombros caídos. Os cabelos soltos dançavam nas costas e a maquiagem marcada nos olhos completava a bela mulher que ela era. Sasuke suspirou ao olhar para a sua mulher e sorriu quando encontrou-a sorrindo para si. Era possível mesmo depois de tantos anos, amar alguém como ele ainda a amava? Como se fosse a primeira vez que a visse?


- Querido. - ela o chamou e deu dois passos na direção do marido, apoiando as mãos nos ombros largos e lhe deu um selinho ao qual foi correspondida - Você está lindo.


- Obrigado, meu amor, entretanto, não encontro palavras para descrever sua beleza. - respondeu baixo e ergueu a mão direita, acariciando o rosto dela - Acho que estou apaixonado.


- Bobo. - sorriu e beijou a mão dele - Venha, ela está linda. - cantarolou e abriu um sorriso de orelha a orelha, dando um passo para o lado e permitindo que ele entrasse no local.


Sasuke entrou e olhou ao redor, se deparando com o ser mais belo que já pode conhecer em toda sua vida. O anjo mais celestial que havia na terra, o maior amor que poderia sentir em forma de gente. May, em frente ao espelho, ajustava a tiara quando percebeu o pai entrar e encarou os olhos do mais velho através do reflexo. O Uchiha estava paralisado, observando-a enquanto esquecia de respirar. Sem perceber, os olhos dele encheram de lágrimas e elas começaram a rolar pelo rosto masculino enquanto ele engolia o bolo que se formava em sua garganta.


Sua menina. Sua doce, adorada e amada menininha havia se tornado a mulher mais linda de todo o mundo e agora, ele iria entregá-la a outro. Como o mundo podia ser tão injusto?


Fungando, ele caminhou na direção da filha que virou para ele e deu um sorriso nervoso, com os olhos cheios de lágrimas. May usava um vestido digno de princesa, armado, cheio de pedrarias, rendas, transparência e elegância. Os cabelos caído nas costas, uma maquiagem leve. Ela tinha os olhos, os cabelos e algumas semelhanças com o pai, mas havia puxado a beleza sutil de Sakura. May era elegante, com ombros eretos, queixo erguido, nariz arrebitado e suave quando andava. Uma verdadeira dama e não teria nenhum problema com as regras se vivesse no século 18.


Ao parar em frente a filha, ele segurou as mãos da menina e fez uma mensura, beijando o dorso de uma, depois da outra e quando ficou ereto, viu algumas lágrimas escorrendo pelas bochechas coradas da filha. Trêmulo, ergueu a mão e enxugou as lágrimas.


- Não chore, meu amor. - fungou - Não há motivos.


- Mas o senhor está chorando. - fungou também.


- É a idade. - murmurou e isso fez Sakura e May sorrirem.


- Ela está linda, não está? - Sakura se aproximou e apoiou as mãos nos ombros do marido, apoiando em seguida o queixo na ponta do ombro direito dele, olhando para a filha.


- Sim. - sussurrou - Como o mundo pode ser tão cruel ao ponto de me presentear com você e depois vem um sujeito como o Uzumaki e te arranca de mim? - respirou fundo.


- Pai... - revirou os olhos - Ele não está me arrancando de você. - mordiscou o lábio inferior.


- Não é o sentimento que estou agora. - franziu o cenho.


Tomaram um susto quando a porta fora aberta de supetão e por ela passou um jovem belíssimo, com seus cabelos longos presos atrás da cabeça, os ombros largos escondidos pelo terno bem alinhado. Itachi era a cópia fiel do tio Itachi. Ele paralisou na porta olhando a cena e quando seus olhos caíram na irmã, o rapaz estufou o peito e fechou a porta as costas. Ele olhou para a mãe e arqueou as sobrancelhas, caminhando na direção dos três.


- Vim buscar a mamãe. - para ao lado da mãe e dá o braço para a Uchiha que segura no antebraço do filho - A senhora está encantadora, mãe.


- Obrigada.Você está uma gracinha, meu anjo. - beijou a bochecha do filho que fez uma leve careta.


- Mãe... Já tenho 20 anos. - revirou os olhos e olhou para a irmã - Não se preocupe, maninha. Acabei de ter uma conversa com o idiota do Boruto. - meneou a cabeça e olhou para o pai - De homem pra homem.


- Fico feliz que o tenha feito. - Sasuke dá uma piscadela para o filho.


- Se ele se meter a besta, a prole dos Uzumaki entrará em extinção. - fechou uma mão em punho.


- Pelo amor de Deus, Itachi, se eu chegar no altar e ele tiver desistido do casamento, eu te mato. - May inflou as bochechas.


- Eu ficaria feliz. - Sasuke murmura.


- Sasuke! - Sakura ralha.


- Pai! - May esbugalha os olhos.


- Acho melhor irmos. - Sakura pigarreia e sorri para a filha - Estaremos te esperando.


- Certo. - May pisca para a mãe.


Pai e filha ficam observando mãe e filho saírem do quarto e quando os minutos se passam, Sasuke informa que estava na hora de eles irem também. May segura no braço do pai e lado a lado, eles saem do quarto. O Uchiha estava nervoso, suas têmporas estavam suadas, suas mãos geladas e seu peito pesado. Já May apertava levemente o antebraço do pai. Ela estava levemente ofegante enquanto caminhava pelo corredor.


Com cuidado, desceram as escadas do casarão, o local fora escolhido para a cerimônia de casamento. A decoração era doce, suave, graciosa. Quando chegaram na porta ainda fechada do casarão, eles pararam e Sasuke olhou para a filha. May mordiscou o lábio inferior, nervosa e ele meneou a cabeça como um voto de que iria da tudo certo. Com um respirar profundo, ambos olharam para frente e a enorme porta dupla fora aberta, revelando os jardins do casarão. O jardim havia sido preparado para o casamento com cadeiras, tenda, flores e tudo o mais. Uma música suave fora tocada e todos levantaram, olhando para a porta.


Quando passaram pela porta, eles encontraram o alvo daquela caminhada. Boruto Uzumaki estava de pé no altar improvisado ao lado de Hinata. Quando o rapaz olhou para a Uchiha, ele entreabriu a boca, a respiração entrecortou e todos viram os olhos azuis ficarem banhados em lágrimas. No mesmo momento May sorriu e ao vê o sorriso da futura esposa, o loiro retribuiu com o seu sorriso ao estilo mais genuíno Uzumaki.


Naquele momento Sasuke soube: Seu coração de pai, egoísta e sentimental, não aceitava ter que entregar sua princesinha para um predador como aquele loiro desgarrado, mas seu coração de pai também entendia que não havia no mundo, um homem melhor para desposar sua filha. Boruto a amava verdadeiramente, a respeitava e era um bom rapaz. Então se sua menininha tinha que ser entregue a alguém, que fosse para aquele aproveitador de princesas indefesas, afinal, o jovem era bom nas artes marciais e saberia defender sua garotinha.

~*~ Vários Anos Depois ~*~

Estava sentado na varanda da casa vestindo um suéter, calça caquí, os óculos de grau pendendo no nariz enrugado e uma bengala na mão esquerda. Era primavera, os jardins da mansão estavam floridos, o sol banhava o local com graciosidade. Os olhos negros e enrugados observavam as crianças correndo pelo jardim. Duas meninas e três meninos. Eles gritavam, sorriam, enquanto se divertiam. Sasuke estava sentindo o coração leve.


Fechou os olhos e respirou fundo. Aquilo era plenitude. Sentiu uma mão pousar suavemente em seu ombro e abriu os olhos sabendo quem encontraria ali. A senhora sentou na cadeira ao seu lado e piscou os olhos verdes com ternura. Os fios brancos haviam tomado o lugar do rosa e os olhos verdes e enormes, haviam se transformado em estreitos e enrugados, mas para ele, aquela mudança a havia deixado ainda mais charmosa. Para ele, os 92 anos dela não haviam mudado em nada a sua excêntrica beleza.


Haviam se mudado para a mansão quando estavam na casa dos 70 anos. May cuidava deles com afinco e com a ajuda dos filhos. Ela tivera um menino e uma menina e Itachi, havia casado e tido dois meninos e uma menina. Todos os finais de semana se reuniam na mansão e faziam a maior festa. Sakura olhou para a frente enquanto escutava as vozes dos filhos dentro da mansão. Estavam preparando o lanche para o pique nique que fariam mais tarde. Sakura sentiu quando a mão enrugada do marido cobriu a sua e ao olhar para ele, contemplou a mesma paixão de quando revelaram o amor que sentiam ha tantos anos atrás. Com um suspirar, ele sorriu e inclinou o corpo velho, beijando o dorso da mão dela e depois ficou ereto, fazendo uma careta ao sentir dor nas costas. 


- Já lhe falei que qualquer dia sua artrite vai te deixar na mão. - ela dá uns tapinhas carinhosos no dorso da mão dele - Você já não é mais tão jovem, querido.


- Ora essa, não me subestime, Senhora Uchiha. - tossiu e pigarreou, erguendo o queixo - Um cavalheiro sempre cumprimenta sua dama.


- Que galante. - feliz, ela suspira e olha para a frente - Uma palavra para esse momento?


- Hun... - estreitou os olhos e respirou fundo - Plenitude.


- É... - respirou fundo e sentiu o corpo cansar, havia ficado tempo demais de pé - Acho que essa palavra é perfeita.


Eles trocaram olhares mais uma vez. Não precisaram falar mais nada, pois, sabiam se comunicar apenas com troca de olhares. Estavam felizes e aquilo bastava. Ouviram as vozes dos filhos e não demorou para os dois casais passarem pela porta trazendo comida. As crianças correram na direção deles, apostando quem iria comer mais bolo de cenoura e uma discussão da parte de Itachi começou. Ele insistia que os meninos estavam mal educados demais, mas a esposa, Yumi, fazia questão de contornar o marido.


Naquela mesma noite, enquanto dormiam abraçados, as cortinas da vida se fecharam para ambos. A historia deles chegou ao fim de forma graciosa, com o sentimento de realização e plenitude, como o Uchiha havia dito. Agora, descansavam após uma longa e bela jornada. A areia dentro da ampulheta chamada vida, havia para eles, terminado de cair. E o tempo deles havia acabado para sempre.

~*~ FIM  ~*~

Feliz, satisfeita e realizada. Venho agradecer a cada um que acompanhou o Senhor Uchiha e nossa queria Sakura nessa aventura. Nessa estória, chorei junto com os personagens e com vocês. Também sorri horrores. Fui feliz e triste em vários momentos, mas encerro esse capítulo dizendo que mesmo que a areia da ampulheta tenha terminado de cair, a poeira de sua existência vai continuar pairando no ar. Obrigada por tudo 💖