Gypsy - Fagulha 13

Sakura estava aflita. Mesmo depois de o Uchiha ter dito que iria resgatar Hinata, ela estava insegura. Sabia que a amiga estava em situação complicada, mas não sabia o quanto nem o nível de lealdade e de relevância que o seu portador dava ao Uchiha. Estava sentada no chão do grande salão enquanto o filhote de Simba dormia em seu colo e ela acariciava seus pelos albinos. Era um lindo filhote. Os olhos verdes estavam no horizonte, divagava sobre sua família. Sentia tanta falta deles, de quando faziam seus círculos e passavam a noite cantando e dançando a luz do luar. Um dia ainda seria livre. Cria nisso.


Estava tão perdida nos próprios pensamentos que nem se deu conta de que era observada com afinco. Os olhos cor de mel do homem escondido atrás de um pilar, a olhava com tanta devoção que o homem quase não respirava. Os pelos do braço do homem estavam arrepiados e com lentidão, fechou os olhos, respirando fundo. Sentiu o cheiro da cigana chegar a suas narinas e ele gemeu baixo. Desde quando a vira pela primeira vez, imaginou como ela seria, queria muito vê-la, tocá-la, possuí-la, mas sabia que não deveria fazer aquilo, pois, seu senhor não permitiria, mas agora com ele longe, ele possuía todo o campo livre para agir.


Se escondeu um pouco mais quando ouviu passos vindo da entrada do grande salão, não queria ser visto ali. Sabia que não podia estar ali, mas pela cigana, valia o risco. Viu quando Shisui entrou no local de forma tranquila. Ao vê a cigana, o Uchiha sorriu abertamente, caminhando na direção dela.


- Sakura! - cumprimentou animado - Que bom vê-la aqui... E bem acompanhada. - indicou o filhote 


- Ah sim, ele é um amor. - sorriu por baixo do véu e olhou para o felino em seu colo - Muito manhoso também.


- Com certeza. Mas é um milagre o Simba não estar aqui. - olhou ao redor - Ele costuma ter muito cuidado com seu filhote.


- Ele sabe que eu não faria nenhum mal ao pequenino. - deu de ombros.


- Hun... Tudo bem então. Bom... - respira fundo - Estou vendo se vocês precisam de algo. Vou me trancar no escritório e para não ser interrompido, resolvi dar uma volta primeiro. - sorri - Então, precisa de algo?


- Ah, não, obrigada. - balança a cabeça e da de ombros - Ja já vou para o quarto, descansar.


- Tem certeza?


- Sim.


- Tudo bem, então. Se precisar de algo, me informe.


- Ok.


- Até mais, Sakura.


- Até mais, Uchiha. 


Ela ficou observando o moreno partir e sorriu minimamente, estar apenas sob os cuidados de Shisui era tranquilo. Não que ela estivesse gostando dali nem nada do tipo, mas ao menos não precisava ficar com medo dos olhares penetrantes de Itachi nem se esquivando das investidas de Sasuke. Demorou-se ali mais algum tempo, até que finalmente resolveu ir para o quarto. Precisava de um banho, trocar de roupa e depois iria passear pelos arredores do palácio. Tinha que conhecer o território e havia lugares que ela ainda não conhecia. Com isso em mente, colocou o filhote no chão com cuidado, levantou, passou as mãos na saia longa e começou a caminhar pelo grande salão, indo na direção leste.


Ao passar pelos portões que davam acesso ao corredor que levava para alguns salões, uma biblioteca, escritórios, dentre outros e por fim os quartos, decidiu caminhar com calma para observar o quadros que estavam na parede. Aquele corredor era cheio deles e muitos retratavam estilos de vida. Estilos esses que ela ficara curiosa a respeito, já havia perguntado a Ino e a Tsunade, mas nenhuma delas soube lhe explicar, por isso, permaneceria com sua curiosidade.


Enquanto caminhava de forma tranquila, parou em frente a um quadro que era dividido em três partes e ocupava a parede quase toda desde o teto até o piso. Era um desenho colorido do que parecia ser uma mulher com o rosto pintado, principalmente na parte dos olhos, possuía algum adorno na cabeça muito colorido em azul e vermelho. Estava tão distraída com a imagem que nem percebeu o homem se aproximar de sí. Ele parou atrás dela e em silêncio, ficou admirando a jovem. Os olhos cor de mel e com um brilho perverso estavam atentos a cada respirar da cigana. O coração do homem pulsava dentro do peito e ele passou a língua entre os lábios, puxando arpara os pulmões.


- É um lindo quadro, não é? - falou de forma firme e isso fez com que Sakura se assustasse e desse um pequeno pulo, virando e olhando para o homem com os olhos esbugalhados. Ele por sua vez, deu um leve sorriso - Assustei? - Ainda tomada pelo susto, Sakura permaneceu em silêncio, meio ofegante, olhando cismada para aquele homem. Ele deu de ombros e olhou para o quadro - Esse quadro se chama "Cultura Indígena". Veio de algum lugar da América Latina. - respirou fundo e voltou os olhos cor de mel para a cigana que ainda olhava para ele - Bom... o Senhor Uchiha me pediu para lhe informar que necessita falar com você. Siga-me!


E sem falar mais nada, o homem dá as costas a cigana e começa a caminhar. Sakura fica parada um tempo sem saber se deveria seguir o homem ou não, mas com um suspiro, decide ir atrás dele, afinal, Shisui não era uma pessoa que tinha a desconfiança dela. Com isso em mente, seguiu o homem.


Caminharam por alguns metros até que o homem reduziu a caminhada e passou a caminhar lado a lado com a Haruno que estava distraída nos próprios pensamentos. Ao passar ao lado da biblioteca, o homem para em frente a porta e a abre, dando espaço para Sakura passar, mas ela permanece parada. Lembrava perfeitamente do Uchiha informando que estaria no escritório, por isso, franziu o cenho para o homem.


- Ele está lá dentro, na parte dos livros de romance. Ia para o escritório, mas disse que precisava pegar alguma coisa aqui. Vamos, entre logo, não temos o dia todo! - informou com impaciência.


Com os olhos estreitos, Sakura passa pelo homem e entra na biblioteca. Vê o local de leitura vazio, mas como o homem havia informado que o Uchiha estaria na área de romance, começa a caminhar por entre as enormes estantes, lendo na lateral de cada corredor, o gênero literário. Ao chegar no quarto corredor e vê que era o de romance, olha ao redor, mas não vê o Uchiha. Achando aquilo estranho, Sakura vira determinada a sair dali, mas ao virar, acaba recebendo uma pancada na cabeça que a faz cambalear e cair no chão.


Zonza, com dor na cabeça, olhos fechados, sentindo algo quente escorrer por sua testa, ela tenta levantar, mas sente um peso sobre seu corpo e com relutância, pisca os olhos várias vezes para tentar abrir os olhos e tudo o que vê é um borrão escuro sobre o corpo e se dá conta de que era o homem.


- O que... - balbucia.


- Calada! - o homem decreta com urgência enquanto começa a retirar o véu do rosto dela - Vamos vê a belezinha que você é.


- Não... - balança a cabeça e sente mais dor. Fecha os olhos com força e os abre novamente, se debatendo com fraqueza - Sai... Me deixa!


- Não... - com um puxão, ele retira o véu e ao olhar para o rosto da jovem, respira fundo - Nossa! Agora compreendo o motivo do Senhor Uchiha estar tão obcecado por você. - suspirou e levou a mão ao rosto dela - Você é belíssima.


- Sai... de cima... de mim. - balbuciou, se debatendo meio lento.


- Não! - balançou a cabeça e desceu a mão pela lateral do ombro direito da cigana, até chegar na cintura onde ele apertou com força - Quero saber o que mais você tem de tão belo. - sorriu de forma maníaca e segurou com força no tecido que complementava a veste da cigana, puxando-o com força e o rasgando, fazendo com que grande parte da barriga da cigana ficasse a mostra - Vamos... quero vê tudo!


- Não! - ela se debatia ainda mais, a força estava voltando, mas ela continuava com a vista turva e os sentidos pouco apurados, mas ainda assim conseguiu se debater ainda mais - Sai de cima de mim! - tentou empurrar o homem, mas ele deu um tabefe em seu rosto com as costas da mão. O estalo ecoou pela biblioteca e causou um hematoma no rosto da jovem próximo ao olho já que o homem usava anel - AAAH!


- CALA A BOCA! - gritou, levando a mão livre ao pescoço dela, apertando enquanto a outra mão começava a rasgar a saia dela - Fiquei quieta sua Rom desgraçada!


- Me... solta! - em um ato inesperado, Sakura ergueu o joelho, dando uma joelhada nas partes baixas do homem.


- FILHA DA PUTA! - gritou, caindo no chão e levando as mãos a genitália, enquanto gemia de dor - Eu vou matar você!


Sem falar nada, Sakura se apoia em uma estante de livros e levanta sentindo a cabeça doer ainda mais. Estava muito zonza, sua vista escurecia e voltava, deixando-a perdida. Começou a cambalear pelo corredor, se apoiando nas estantes, derrubando livros por onde passava. Ofegante, desesperada,  dobrou no longo corredor e respirou fundo tentando juntar forças para correr e forçou seus pés a irem o mais rápido que podia, mas sua situação não era fácil, ainda escorria algo quente por seu rosto e ela julgou ser sangue. Cada vez que piscava, seus olhos queimavam, sua cabeça doía, seus sentidos embaçavam, mas ela iria lutar até o fim.


Já estava chegando na porta quando o homem a pegou pelos cabelos, puxando-a e a jogando sobre a mesa, derrubando vários objetos de cima da mesma. Sakura sentiu uma dor em seu abdome que havia se chocado contra a madeira, mas ela ignorou. Precisava ignorar. Tentou sair da mesa, mas o homem a segurou pelos cabelos novamente e bateu a cabeça dela contra a mesa, fazendo Sakura soltar um gemido alto de dor.


- CALA A BOCA, ROM DESGRAÇADA!


- ME... SOLTA! - gritou de volta. Sentiu o gosto de ferro na boca e constatou que o dente havia cortado a bochecha por dentro.


- CALADINHA! - com a mão livre, ele começou a abrir a calça.


Desesperada. Sakura se debatia, tentando fugir, mas ele a prendia com muita força. Lutar contra ele não daria em nada, afinal, o homem era maior e mais forte que ela. Sentiu as forças e esperança indo embora quando viu caída sobre a mesa, uma tesoura. Sem pensar duas vezes, Sakura pegou a tesoura com rapidez e então girou a mão, fincando a tesoura no homem. O grito de dor que o homem deu foi alto e ele a soltou, soltando palavrões. A cigana não parou para analisar a situação. Quando se viu livre do homem que agora jazia à alguns metros de si, com a mão na lateral do corpo,  Sakura puxou uma lufada de ar grande para dentro dos pulmões e correu o mais rápido que pode, abrindo a porta da biblioteca e saindo para fora da mesma. O corredor estava vazio. Um desespero tomou conta dela quando se deu conta de que estava sozinha.


Os olhos verdes encheram de lágrimas e involuntariamente, grossas gotas escorreram pelo rosto feminino. Ofegante, sentia os pulmões queimarem, todo seu corpo tremia, sua vista ficava cada vez mais  escura e ela sentia que estava perdendo as forças. Não aguentaria muito tempo. Começou a cambalear pelo corredor se apoiando nas paredes quando ouviu um barulho atrás de si. Olhou por cima do ombro e viu o homem vindo em sua direção aos tropeços enquanto sangue escorria pela lateral do corpo dele. Com o peito apertado em angústia, sem saber o que fazer, Sakura entrou em desespero.


- Socorro! - tentou gritar, mas sua garganta fechou - Alguém... me ajuda! - se engasgou com algumas lágrimas. Olhou novamente por cima do ombro e viu o homem se aproximando. Estava perdida. Respirou fundo reunindo o retante da força que tinha e gritou o mais alto que pode - SOCORRO! ALGUÉM... - não conseguiu completar, pois, seu corpo fraquejou e a vista ficou escura, fazendo a cabeça dela girar, levando-a a cair. Tentando se manter acordada, Sakura piscou algumas vezes forçando a mente a se manter ativa, mas havia levado pancadas na cabeça e isso não facilitava. Sentindo que iria desmaiar, piscou mais uma vez e viu quando uma porta fora aberta um pouco mais a frente. Não conseguiu distinguir quem era, a pessoa falou, mas a voz saiu longe, abafada, distorcida. Viu quando o corpo correu em sua direção e tudo o que ela conseguiu fazer antes de desmaiar foi sussurrar - Me ajuda...

~*~

- Eu não entendo, Itachi. - balança a cabeça enquanto caminhava pelo extenso corredor - Você vai acabar se prejudicando desse jeito.


- Eu sei o que estou fazendo, Sasuke. - foi firme, caminhando à passos largos.


- Você sabia, até perder a noção das coisas. Desde quando essa cigana apareceu você tem estado diferente. - dobrou no corredor, seguindo o irmão.


- Não estou diferente, apenas vejo-a de forma diferente. - desceu as escadas praticamente correndo - Agora fique quieto, preciso ser preciso e você está me desconcentrando.


- Você está com pressa, vai falar com os investidores com essa pressa toda só porque vai desviar nossa rota e não pretende demorar... Mande alguém em seu lugar! - abriu os braços - Não precisa ser você.


- Sim! - parou e virou para o irmão fazendo Sasuke quase trombar em si - Precisa ser eu. Ninguém é melhor negociador do que eu. O Edo não vai entregar aquela cigana tão facilmente, você sabe disso. Ele não venderia ela para outra pessoa e acredite, eu estou preparado para debater e pagar muito alto agora eu preciso me concentrar nessa negociação de agora, preciso convencer esses investidores e você está tirando minha concentração, então fique calado para que eu possa ganhar a confiança deles de forma rápida e precisa, assim, partiremos o quanto antes.


- Mas... - tentou argumentar.


- Sem mais! - deu um passo na direção de Sasuke, mirando-o com determinação - Eu vou convencer os investidores. Meia hora é todo o tempo que preciso.


- Meia hora? Sério!? - cruzou os braços - Temos uma reunião e depois o que? Dez minutos para apresentar o projeto e convencer! - apontou para a cabeça - Você pirou?


- Dez minutos. Sete eu apresento o projeto e três eu convenço.


- Você se acha muito, Itachi. - murmurou - Nem tudo é conforme você deseja... A cigana é uma prova disso!


- Eu não tenho controle sobre Sakura. - informou baixo - Nem pretendo tê-lo. A mantenho no harém, mas isso não quer dizer que quero controla-la, mas esses homens... - indicou uma porta atrás de si - Eles, eu posso controlar e vou, agora mantenha-se quieto!


Sem falar mais nada, Itachi dá as costas e começa a caminhar na direção da porta, respirando fundo. Já tinha tudo em mente, iria ser direto, preciso, sabia como barganhar aqueles homens e o faria. Não tinha tempo para enrolação. Sua viagem deveria durar três dias e iria fazê-lo.