Flash - 02

Terminava de amarrar o cadarço quando ouviu um barulho no corredor. Terminou a ação e com entusiasmo, pegou a mochila colocando-a sobre o ombro, pegou o celular e colocou no bolso da calça, foi até o canto do quarto e pegou seu fiel amigo, o skate. Abriu a porta do quarto e ouviu vozes lá em baixo. Ao descer as escadas, viu sua mãe, seu pai e seu irmão sentados à mesa, tomando café da manhã. Ele colocou a mochila no sofá e deixou o skate ao lado do mesmo, caminhando até a cozinha.


- Bom dia, família! - puxou a cadeira e sentou. Pegou a cafeteira e colocou café na caneca que aguardava por si.


- Bom dia, filho. - o pai cumprimentou sereno, bebericando seu chá e lendo o jornal.


- Bom dia, pivete! - Itachi jogou um pedaço de torrada que foi facilmente desviado pelo mais novo.


- Itachi!... - ralhou com o mais velho e olhou com doçura para o mais novo - Bom dia, meu amor. - a mãe estendeu a mão por cima da mesa e tentou ajeitar os cabelos rebeldes, sem sucesso - Não acha que deve cortar o cabelo, Sasuke? Está grande demais.


- Não, mãe. - balançou a cabeça, fazendo os fios agitarem com displicência e algumas gotas de água voarem dos cabelos molhados. Pegou uma torrada no cesto e começou a comer - Assim está ótimo. Água, sabonete e pronto. - com a boca cheia, ele apontou para a cabeça - Zero de trabalho.


- Não fale de boca cheia, Sasuke! Pelo amor de Deus! - Mikoto estreitou os olhos e suspirou, olhando para o marido - Fugaku! - ralhou e o marido olhou pra ela - Dê um jeito no seu filho!


- Hun... - suspirou e voltou os olhos pro jornal - Sasuke, escute sua mãe. - murmurou com tranquilidade. 


- Olha isso! - respirou fundo, balançando a cabeça - Não sei como sobrevivo nessa família! - passou as mãos no rosto e olhou para Itachi - E você, Itazinho... Como anda a faculdade?


- Mãe... - gemeu baixo por conta do apelido - Não me chame assim, por favor.


- Bobagem, meu amor... - a mais velha ignorou as reclamações do filho mais velho, enquanto o mais novo se engasgava com a torrada enquanto tentava não cair na gargalhada - Você pode estar com 500 anos, será sempre meu Itazinho.


- Aaargh... - resmungou e "afundou" na cadeira, fechando os olhos.


- Sem "argh" Itazinho, você pode resmungar o quanto quiser, mas não esqueça que fui eu quem trocou suas fraudas sujas!


Sem conseguir se controlar, Sasuke começou a gargalhar muito alto, tanto que soltou a torrada e abraçou a barriga, jogando a cabeça para trás. Itachi fechou a cara e fuzilou o mais novo com os olhos enquanto Sasuke ofegava tamanho era seu descontrole com o riso. Mikoto olhava sem entender e Fugaku apenas gemeu baixo, já imaginando onde tudo aquilo iria terminar. Já sem aguentar, Sasuke acabou se engasgando e começou a tossir enquanto tentava respirar e controlar a respiração.


- Anjinho da mamãe. - zombou o mais novo, voltando a tossir e gargalhar novamente. os olhos estavam cheios de lágrimas e ele apertava a barriga.


- Vai pra merda, Sasuke! - ralhou.


- Caaaalma... Itazinho! HAHAHA... - começou a dar tapas na mesa.


Itachi não estava gostando nem um pouco daquilo. Odiava quando a mãe o chamava daquele jeito, principalmente quando seu irmãozinho zoava consigo. Cansado e decidido a dar o troco, o mais velho estreitou ainda mais os olhos para o mais novo já preparando sua vingança. Sabia bem como baixar a bola de Sasuke e por isso, respirou profundamente, pegando um pouco de geleia e passando em uma torrada de forma despreocupada, sentindo o gosto da vingança na ponta da língua.


- Sabe, Sasuke... Encontrei a Sakura ontem. - informou com tranquilidade e viu quando o Uchiha mais novo parou de rir na mesma hora - Muito gata, viu... - mordiscou a torrada olhando nos olhos do irmão - Se não fosse menor de idade...


- Tire seus olhos da Sakura, Itachi. - respondeu sério.


- Ah! A Sakurita! - Mikoto sorriu, bebericando o café - Nunca mais a vi.


- Ela mesmo, mãe. - Itachi fez cara de inocente, mas olhou para Sasuke com os olhos de águia, arqueando as sobrancelhas, deliciando-se com o olhar mortal do mais novo - Deve ter um monte de garotos atrás dela, afinal, a Sakurita tá crescendo muito, muuuuito bem.


- A Sakura não liga pra essas coisas. - resmungou carrancudo, pegando a torrada e mordendo com raiva.


- Uma hora vai ligar. - dessa vez, Fugaku decidiu interagir.


- Não agora. - bebeu o café de uma vez só, levantou e levou o prato até a pia - A Sakura não é como essas garotas por ai... Ela se preocupa com os estudos. - virou passando pela mesa e antes de desaparecer pela sala, olhou mortalmente para o irmão - Ela não se envolve com certos tipos.


À passos largos, caminhou até a sala, pegou a mochila, jogando-a nas costas. Pegou o skate e passou pela porta como uma bala, batendo-a em seguida. Itachi continuou comendo tranquilamente enquanto seus pais lhe lançaram um olhar de censura. 


Sasuke caminhou pela calçada com raiva, batendo o pé à cada passo e até mesmo chutando uma pedrinha que aparecia que caminho aqui e ali. Depois de caminhar uns 50 metros, desceu para o asfalto, colocou o skate no chão e subiu, dando impulso com o pé. Vagueava pela rua, desviando dos carros e das pessoas enquanto a raiva ia se dissipando aos poucos. Era sempre assim, quando o vento batia contra o rosto, toda a raiva se dissipava... principalmente porque ele sabia que no próximo quarteirão iria encontrar a coisa mais chata da face da terra.


E isso fez ele impulsionar o skate com mais velocidade.


Fez força com o pé fazendo o skate saltar em uma pedra e depois aterrizar com graça e então ele dobrou na esquina, vendo a figura de cabelos róseos presos em uma trança lateral bagunçada sorrir assim que seus olhos se encontraram. Sem querer, um sorriso idiota surgiu nos lábios masculino e com destreza, ele derrapou bem em frente a jovem, fazendo um charminho com os cabelos e soltando uma piscadela para ela que revirou os olhos, mas sorriu logo em seguida, dando um soquinho no peito dele.


- Bom dia, iogurte. - brincou, descendo do skate e pegando-o, colocando-o debaixo do braço esquerdo.


- Bom dia, demente. - começou a caminhar com ele seguindo-a - Como está seu humor hoje?


- Péssimo. - resmungou e lançou para ela um olhar mortal - Sou capaz de matar mil homens com apenas um soco.


- Aaaaah claro... - fez cara de quem acredita - E com um chute você mataria dois mil, não é?


- Gosto de saber que você conhece meus poderes.


- Gosto de conhecê-los. - deu uma piscadela - Me sinto mais segura sabendo que há um ninja particular para me proteger.


- Sou um justiceiro, Alteza. - fez uma mesura com a cabeça.


- Idiota. - resmungou e ambos caíram na gargalhada.



Lado a lado, caminharam até chegar no colégio. Seguiram para a sala de aula e sentaram em seus lugares. Os dois últimos lugares do canto esquerdo da sala. Conversaram sobre trivialidades enquanto a aula não começava e quando a mesma começou, o martírio da Haruno começou. Gramática. Como ela odiava aquela disciplina. Era totalmente de exatas enquanto o melhor amigo, de humanas. Não conseguia compreender como alguém como ele se dava tão bem com as letras e tão mal com os números. Não mesmo. Vez ou outra, ouvia um sorrisinho de ironia dele para consigo e isso a irritava.


O tempo parecia correr muito devagar para ela que já não estava mais aguentando e a coisa ficou pior quando o professor resolveu perguntar sobre pretérito... Um tal de pretérito imperfeito do subjuntivo. E ela lá sabia o que cargas d'água queria dizer aquilo. Por isso, agora, ela caminhava à passos pesados com um bico do tamanho do mundo enquanto Sasuke a seguida.


- Vamos lá, Sakura, não precisa ativar a TPM, não é?


- Ativar a TPM!? - parou de andar e virou para ele, fuzilando-o com o olhar - Qual é a desse velho? Hãn!?


- Ele só fez uma pergunta. - respondeu com calma.


- Claro. Me perguntando sobre a porcaria do verbo irregular no pretérito imperfeito do subjuntivo. SASUKE! - esbravejou - Olha bem pra minha cara e me diz se eu lá sei algo sobre coisa irregular, meu bem. - agitou as mãos - Não gosto de nada irregular... A não ser seu cabelo, o resto, tô fora!


- Fico agradecido pela exceção. - sorriu e se aproximou dela, segurando-a pelos ombros e mirando nas orbes verdes - Fica tranquila ta... Ele não compreende que você é inteligente demais para ficar se importando com verbos irregulares.


- Odeio quando você é irônico. - murmurou fazendo bico.


- Não estou sendo irônico. Ninguém é capaz de entender a Lei de Newton melhor que você, nem geometria ou logartimos...


- É logaritmos, Sasuke. - corrigiu, dando um pequeno sorriso.


- Viu só! - passou um braço em volta dos ombros dela e começou a caminhar, levando-a consigo - Você é tão boa nisso, que consegue até decorar o nome desses troços.


- Você é um anjo, sabia? - murmura, deitando a cabeça no ombro dele, deixando-se ser guiada.


- Pensei que eu fosse um ninja. - relembra.


- Um ninja anjo. - confirma.


- Ata.


Sem falar mais nada, eles caminham na direção do último andar do colégio, indo para o terraço. O local não ficava vazio no intervalo, mas era um bom lugar para estar principalmente naquele horário, pois, a cobertura deixava o local com uma sombra maravilhosa, a vista dali era linda, dava para vê praticamente todo o bairro onde moravam daquele andar. Aqui e ali haviam alunos conversando trivialidades e eles seguiram até um cantinho, onde sentaram lado a lado em uma pequena caixa de concreto, ficando com os pés pendurados, sentindo o calor do verão bater contra a pele.


- Não vejo a hora de tudo isso acabar e sair viajando... - suspirou e olhou para ele de forma esperançosa - Podemos ir para muitos lugares, não é, Kishan?


- E a universidade? - arqueou as sobrancelhas, olhando-a.


- Podemos viajar nas férias... - balançou as pernas, olhando para frente, sonhadora - Desvendar o mundo... Acho que é necessário... Na verdade, é fundamental.


- Tudo bem. - suspira e olha para a frente também - Já falei: Vou te seguir para onde você for.


- Até que a morte nos separe. - olhou para o céu, relembrando da promessa dele de quando ainda eram crianças.


- Até que a morte nos separe. - confirma a própria promessa, olhando para o céu.