Pub - Drink 12




Tamborilhava os dedos no volante do carro enquanto o barulho das gotas de chuva batendo contra o para-brisa envolvia seus ouvidos. O som do carro ligado baixinho, embalando os pensamentos do mais velho enquanto ele observava o letreiro de neon piscando a palavra "Open" logo abaixo do nome do Pub. Um carro passou rápido por ele, jogando água na lateral de seu carro. Os olhos negros foram para longe, acompanhando o carro distanciar-se enquanto ele ficava no dilema: Entrar ou não entrar no Pub?



♪ I wonder how we can survive

This romance
But in the end if I'm with you
I'll take the chance ♫


Fechou os olhos e respirou fundo. Adorava aquela música: Richard Marx - Right Here Waiting. Um lampejo passou por sua cabeça em uma coragem boba. Estava parecendo um garotinho com medo do escuro, mas bem... Seus pensamentos estavam traiçoeiros nas últimas horas. Precisava encorajar-se e entrar alí. Era a última vez que iria vê-la e nem entendia o motivo de ter ido despedir-se da jovem. Não havia necessidade. Não eram amigos. Não eram ligados... Apenas compartilharam momentos de camaradagem.



Mas ainda assim, sua mente foi capaz de criar aquele sonho.



Grunhiu baixinho só de lembrar. Precisava encará-la sem lembrar daquele sonho. De tê-la entre suas pernas. Não era saudável para ele ficar imaginando aquele tipo de coisas, e nem sabia porque imaginava aquilo. Até então, não havia olhado para a jovem com desejo sexual, afinal, ela tinha a idade do sobrinho mais novo, mas ele teve... E agora não conseguia esquecer. Coçou a barba com displicência e retirou o cinto de segurança com raiva. Não era nenhum garotinho. Era um homem, decidido, dono de sua vida e de suas escolhas, então iria sim entrar alí... pela última vez.



Desligou o som, saiu do carro e correndo para a calçada, ativou o alarme guardando a chave no bolso. Ao passar pela entrada cumprimentou o segurança com um curto "boa noite" e ao passar pela porta, ouviu o sininho tocar anunciando sua entrada. A primeira coisa que sentiu foi o bafo quente e agradável do interior do estabelecimento tocando seu rosto, a segunda foi o cheiro agradável de madeira com bebida suave. A terceira coisa que tomou sua atenção foi a música que saía pelo caixa da jukebox... Era a mesma que ele estava ouvindo no carro: Richard Marx - Right Here Waiting.


Acabou sorrindo de canto com a coincidência. Olhou ao redor vendo a garota próximo à maquina limpando-a. Viu também uma loira de cabelos repicados limpando o balcão, e ela, ao vê-lo, deu uma piscadela indicando uma mesa. Ele seguiu para lá vendo que o Pub estava vazio. Sentou de costas para o balcão, retirou o paletó colocando-o sobre as costas da cadeira e esperou.


- Sasaaaa... Mesa 9.


- Tô indo! - o barulho dos saltos dela alcançaram seus ouvidos e um sorriso de canto surgiu nos lábios masculinos - Olha só... Iaê da Deprê! - a jovem colocou-se ao seu lado encostando o quadril na mesa.


- Boa noite, menina. - ergueu os olhos para ela. Os olhos verdes estavam marcados por uma maquiagem pesada, os lábios estavam sem nenhum batom, mas ainda assim eram rosados, as bochechas coradas, provavelmente por conta do leve frio que fazia naquela noite. - Movimento fraco?


- Algumas pessoas são de açúcar. - dá de ombros - Mas iaê, manda a boa.


- Hoje vou querer algo leve.



- Iiiih... O fígado não aguentou nossas bebidas, não é? - fez bico anotando algo no bloquinho de notas - A idade é foda!


- Já passou por sua cabeça que seja apenas "vontade". - estreitou os olhos sentindo-se desafiado.


- Hum... - ergueu uma sobrancelha olhando-o desconfiada - Não... - deu um sorriso brincalhão - Você está velho, precisa admitir isso para si mesmo. - deu uma piscadela, saindo.


- Não estou velho. - retrucou por cima do ombro com o timbre um pouco alto já que ela se afastava.


- Aham... - retrucou também enquanto caminhava para o balcão - E eu sou virgem!


Opa! Que história era aquela??? Certo. Aquela menina era maluca mesmo. Só podia. Balançou a cabeça desacreditado e apoiou as mãos em cima da mesa. Era melhor não questionar, esperar ou imaginar qualquer coisa que pudesse vir daquela garota. Ela era como uma eterna adolescente.



♪ Oh, can't you see it baby
You've got me goin' crazy


Pouco depois a jovem voltou e colocou o copo sobre a mesa do mais velho. Ele pegou o copo e deu um gole vendo que o líquido era gélido, agradável e levemente picante. O álcool era discreto na composição, bem como o sabor e o cheiro. Ele ergueu as sobrancelhas e olhou para a jovem que o olhava com um pequeno sorriso de canto em desafio.



- O que é isso?


- O chamamos de marola. - deu de ombros - Uma bebida leve... como um mar calmo.


- O gosto é muito bom... Só um pouco doce, mas muito bom.


- Claro que é. - sorriu orgulhosa - Fui eu quem criou.


- Mesmo!? - arqueou as sobrancelhas surpreso.


- Uhum.


- Hum... Interessante... - deu outro gole - Você... tem um minuto?


- Momento divã? - arqueou as sobrancelhas enquanto sentava - Pode falar, caro paciente.


- Tudo bem. - balançou a cabeça - É que... lembra do projeto que te falei?


- Da tal franquia nova? - tamborilhou os dedos sobre a mesa.


- Exato. - segurou o copo com ambas as mãos olhando-a intensamente - Está tudo muito bem encaminhado e bem... Amanhã viajo à Paris para colocar o negócio para frente.


- Já!? - esbugalhou os olhos inclinando-se sobre a mesa, curiosa - Tão rápido assim?


- Sim. - sorriu orgulhoso - O negócio está indo muito bem, não há motivos para esperar... Agora é "mãos à obra".


- Cara que... foda! - encostou as costas na cadeira - Caralho isso é... Pica demais!


- Hun... - franziu o cenho com o palavreado da menina, mas suspirou e deu um sorriso, afinal, ela não seria ela sem aqueles palavrões - Pois é.


- Mas cara, você vai para Paris amanhã? Tipo, é meio surreal e tudo o mais, mas Paris é foda né!


- É... mas não vou curtir Paris, vou à trabalho.


- Aaaaah não, cara. - balançou a cabeça enquanto ele tomava um gole - Paris é Paris, você PRE-CI-SA aproveitar aquela belezinha lá, meu filho. Visitar a Eiffel, o Arco do Triunfo... Sempre sonhei em ir lá. - mordisca o lábio inferior de forma sonhadora e os olhos negros foram para aquele pedaço de carne.


- Bem... - pigarreou desviando os olhos dos lábios dela - Já estive na Torre antes, mas nunca no Arco...


- QUÊ!!!? - ela quase se jogou por cima da mesa - Cara, você só pode ser muito doido... Ou já está gagá. Na boa! - fez um gesto com a mão no ar de um lado para o outro - Você tem que ir.


- Já disse que...


- Nem fodendo! - deu um tapa na mesa e ele sentou ereto - Você vai conhecer a porra do Arco do triunfo sim! Eu não posso ir à Paris, mas você pode e vai! Então vai aproveitá-lo por mim.


- Como? - franziu o cenho.


- Está decidido. Você vai aproveitar aquela belezinha por mim, entendeu? - inclinou o corpo por cima da mesa de forma autoritária fazendo o homem inclinar o corpo levemente para trás.


- Você é bem mandona. - murmura com os olhos estreitos.


- Que bom que nos entendemos. - balançou a cabeça e sentou com postura - Mas então... Você veio aqui para o que mesmo?
- Bem... Eu vim me despedir.



- Então... é um adeus? - franziu o cenho enquanto mordiscava o lábio inferior.



- Acho que sim. - murmurou e olhou para o copo entre as mãos por uns segundos. Aquele era um "adeus"? Não sabia exatamente.



- Tudo bem. - a voz dela soou animada e ele ergueu os olhos encontrando os verde lhes sorrindo - Espero que você aproveite muito sua vida... Ah! - estalou o dedo - Também espero que dê certo a franquia. Você parece bastante empolgado com tudo.



- Obrigado. - sorriu minimamente - Sei que vai dar.



- Exibido. - fez um bico, mas acabou sorrindo. Eles ficaram se encarando por um tempo até que pouco a pouco o sorriso foi morrendo. A jovem apoiou o queixo na mão enquanto desviava os olhos para a mesa e desenhava círculos imaginário no tampo de madeira.



- O que foi? - franziu o cenho, intrigado.



- Nada. - deu de ombros enquanto suspirava - Só cansada.



- Você precisa de uma folga. - bebeu um pouco do líquido gélido - Já percebi que trabalha demais... Essa sua rotina de trabalho, estudo e trabalho não é muito saudável para alguém tão jovem.



- É... eu sei... - continuou fazendo os círculos - Mas é necessário.



- Por quê? - estava realmente intrigado. Não entendia o motivo da jovem se esforçar tanto com empregos. Ela não parecia fazer o tipo ambiciosa... Conhecia pessoas assim à quilômetros de distância e aquela menina, definitivamente, era o tipo de pessoa que não precisava de muito para ser feliz.



Mas ela não respondeu, em vez disso, deu de ombros, suspirou e inclinou o corpo para frente, encostando o busto na mesa e depois, deitou sobre o tampo. Ficando com a parte de cima do tronco na mesa. Cruzou os braços embaixo da cabeça e apoiou a bochecha no ante braço enquanto ficava com o rosto de lado e observava o mais velho. Os olhos verdes eram analíticos enquanto eles ficavam olho no olho. Ele tentando entender e ela tentando explicar.



Como explicar sem falar? Era complicado. Lentamente, ela ergueu o dedo indicador e médio da mão direita e os apoiou na mesa fazendo com que eles deslizassem, como se os dedos caminhassem sobre o tampo de madeira em direção as mãos dele que ainda envolviam o copo. Os olhos negros foram para os dedos dela enquanto ela também olhava para os próprios dedos, e quando os dedos estavam perto da mão esquerda dele, a Haruno ergueu o dedo indicador e tocou o botão que ficava no punho da camisa social do homem.



O toque foi suave, discreto, as peles nem se tocaram, mas um pequeno calafrio percorreu a coluna do homem. Ele respirou fundo e ela cutucou novamente o botão, dessa vez com a unha e suspirou. Instintivamente, ele desgrudou a mão do copo e ergueu o dedo indicador também e tocou a ponta do dedo dela com a ponta do próprio dedo. Os olhos verdes brilharam intensos. Nenhum dos dois se olhavam, mas ele sentia. Sentia que ela estava cansada. Daquele jeito, parecia que carregava o mundo nas costas.



- Você não vai me contar, não é? - deslizou a ponta do dedo pelo dedo dela até o primeiro "nó" e então voltou para a ponta.



- Não. - respondeu baixo rodeando o dedo dele com o próprio dedo. - Você é bom demais...



- Não acho... - murmurou enquanto o dedo indicador dele rodeava o dedo dela - Estou sempre aqui falando dos meus problemas enquanto você só escuta. Aconselha. Escuta novamente... Solta uns palavrões... Mas eu nunca te escuto. - pigarreou - Meio egoísta da minha parte.




- Não... - Nenhum dos dois se olhavam, pois, estavam hipnotizados pelos dedos um do outro - Você apenas tem coisa demais na cabeça... É normal quando estamos com problemas explodindo ao nosso redor.



- Continuo achando egoísta. - murmura.



- SAKURAAAAA!? - A voz aguda da Ino soou em algum lugar e foi como se ambos acordassem daquele transe. Com um sobressalto, a Haruno sentou ereta, recolhendo a mão e o Uchiha limitou-se a segurar o copo novamente. 



- OI? - respondeu vendo a loira aparecer na porta da cozinha.



- Oi... Ah! - piscou constrangida vendo que a amiga estava com o "velhote bonitão" - Desculpa, não sabia que estava com ele.



- Tudo bem. - O Uchiha ergueu os olhos ao perceber que a voz dela tinha voltando "ao normal", daquele jeito que ele conhecia, com ânimo, vivacidade... Ela ficou de pé e passou as mãos na saia e depois ajeitou a gravata borboleta, olhou para ele e lhe deu um sorriso jovial - Espero que você faça uma boa viagem, Velhote.



- Obrigado, menina. - pigarreou, virou o restante da bebida, levantou, pegou a carteira no bolso traseiro da calça e abriu - Espero que você tenha sucesso também... Seja lá o que você planeja. - pegou uma nota e estendeu para ela.



- Obrigada... Terei sim. - pegou o dinheiro, sorrindo - Adeus.



- Adeus, menina.



Ela passou por ele indo em direção ao balcão e ele seguiu em direção à saída do Pub. A jovem deu a volta no balcão e quando já estava chegando na porta da cozinha, olhou para trás no exato momento em que o homem alcançava a porta do Pub. Incrivelmente, no mesmo momento em que ela olhou para trás, ele também olhou. Ambos trocaram um sorriso contido e um meneio de cabeça. Foi uma despedida sutil, mas agradável. Algo naquele momento, fez o coração dos dois pesarem, afinal, era a última vez que se viam.
















Comentários

  1. Que fofo esse momento q eles se trocaram só com os dedos 😍
    E tenho para mim que não será a última vez q iram se ver não kkkkkkk
    Ansiosa pelo próximo capítulo ❣️

    ResponderExcluir
  2. Que lindo! Tio Mad não vai aguentar e vai voltar.....ansiosa pelo próximo!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Fugitivos - Capitulo Quinze

Fugitivos - Capitulo Onze

Fugitivos - Capitulo Treze