Gypsy - Fagulha 32

 

O deserto estava tão quente naquele dia que estava quase insuportável para os ciganos aguentarem do lado de fora das carruagens, por isso, estavam cada um dentro de sua própria moradia, aproveitando o conforto do ambiente. Sakura estava deitada na cama, olhando para o teto decorado com várias estrelas, planetas e afins, como uma constelação particular que ela havia montado ha muito tempo e que se tornara seu lugar preferido para reflexão.

Já haviam se passado quatro meses desde sua partida e desde então, ela não tivera mais nenhuma notícia do Gadjô. Sua mente sempre lhe pregava peças lhe levando até ele, fazendo-a sonhar com ele, relembrar dos bons momentos vividos com ele e da forma mais engraçada possível, a parte ruim quase parecia não existir.

Fechou os olhos e respirou fundo.

Aquela paz era tão boa para si que quase não acreditava. Ouvia o vento serpentear pelas dunas quentes naquele deserto com seu calor de mais de 40º. Há três meses, o restante de sua família havia voltado e ela ficou extremamente feliz por isso. Itachi realmente tinha cumprido a promessa de enviar todos com segurança e assim fora feito.

Ainda de olhos fechados, lembrou dele. Dos olhos negros e firmes, lembrou do sorriso que ele havia destinado a ela, lembrou das mãos e de seu toque. De como ele a segurou e lembrou do beijo. Dos lábios macios tomando-lhe em um beijo calmo e depois feroz.

Suspirou, abrindo os olhos. Sempre que lembrava dele, lembrava do beijo e consequentemente, sentia-se quente.

A tarde já começava a findar quando Sakura se espreguiçou, sentindo-se tentada a sair um pouco para ver se conseguia pensar um pouco mais. Levantou da cama e pegou um véu, colocando-o sobre o rosto. Saiu da carruagem e viu que alguns familiares estavam em volta de uma fogueira que ainda estava apagada. Hinata dançava animada, decidiu se aproximar, assim que os olhos negros da prima pousaram sobre si, ela respirou fundo.

- Vejo que estão todos tão felizes.

- Como não estar, prima? - batia palmas no ritmo da música que embalava a dança.

- Fico realmente feliz com isso. - bateu palmas também, balançando o corpo de um lado para o outro - Pensei em ir dar uma volta na feira, o que me diz?

- Na feira? - arqueou as sobrancelhas - Mas em pouco tempo será noite.

- Eu sei, mas queria comprar algumas coisas... Preciso renovar meus enfeites. - deu de ombros. Ela realmente estava inclinada para tal ato já fazia um tempo, mas usou isso como desculpa para dar uma volta - Sem falar que a feira fica há meia hora daqui, rapidamente voltaremos.

Hinata ponderou. Ir até a feira comprar alguns acessórios não era de todo o mal e pensando por esse lado, ela até se interessou.

- Tudo bem, deixe-me pegar um véu e iremos.

- Ótimo! - sorriu, animada, vendo a prima seguir até a carruagem dela e sair minutos depois com um véu nas mãos - Vamos?

- Vamos!

Elas seguiram até onde os cavalos estavam e cada uma pegou o seu, não sem antes conversar com os pais de Hinata, informando que iriam dar uma volta. Shino ainda se prontificou em ir junto, mas elas alegaram que era um momento apenas para as meninas e relutante, ele desistiu.

Após montarem nos cavalos, seguiram cavalgando afoitas pelas dunas bastante conhecidas enquanto a saia delas esvoaçava ao vento. Em menos de meia hora elas já avistaram as luzes da pequena cidade que possuía uma feirinha bem movimentada em seu centro. Sakura abriu um enorme sorriso por estar se sentindo mais livre. Acertou as costelas do cavalo com os calcanhares e tornou a galopar, agora, mais afoita.

- Espere, Sakura! - Hinata gritou, galopando para alcançar a prima.

Assim que chegaram na feira, desceram dos cavalos e os colocaram presos em uma baia específica para cavalos de visitantes. Depois de se certificarem de que os animais estavam seguros, elas começaram a caminhar pela feira, olhando aqui e ali vários utensílios, tecidos, dentre outros. Os olhos de ambas as ciganas brilhavam tamanha a variedade das coisas e por alguns longos segundos, a Haruno se esqueceu de seus próprios problemas.

Quase duas horas depois, elas já possuíam algumas pequenas sacolas nos braços com tecidos, prendedores de cabelos e até mesmo algumas maquiagens. Sakura havia adorado uma pequena presilha de águia. Era um belo animal talhado em latão e pedraria que o deixava majestoso e algo nos olhos daquela águia a fez achar familiar, mas ela não sabia dizer o que era.

Estava tão distraída observando alguns véus, colocando-os sobre a cabeça e envolvendo os cabelos e o rosto, mostrando-os a Hinata que aprovava ou desaprovava, sorrindo. Elas estavam realmente se divertindo. Retirou o véu que ficou preso na presilha de águia e com cuidado e ajuda de Hinata, ela conseguiu livrar o prendedor do véu, depois ajustou o prendedor nos cabelos novamente e quando foi pegar um outro véu, ouviu seu nome ser pronunciado por uma voz conhecida.

- Sakura?

Ela paralisou ainda com a mão estendida para pegar o véu. Hinata foi a primeira a olhar para trás e seus olhos esbugalharam quando ela reconheceu aquele homem. De forma lenta e automática, Sakura girou nos calcanhares e quando o fez, encontrou os olhos negros e os cabelos rebeldes de Sasuke que fugiam do véu que ele usava em volta da cabeça.

Assim que os olhos verdes encontraram os negros, ela viu o moreno suspirar em alívio e agradecimento mudo, abrindo um enorme sorriso. As mãos de Sakura caíram na lateral do corpo e ela piscou atordoada, vendo que Sasuke parecia bastante cansado, mas ao vê-la, estava se renovando sem nem perceber.

- Que bom que lhe encontrei. - ele deu dois passos na direção dela, aproximando-se - Estive lhe procurando por três dias.

*-*-* Três Dias Atrás *-*-*

Os passos apressados ecoavam pelo corredor bastante movimentado. Os sapatos lustrados deixavam claro a pressa de seu usuário. Ele dobrou no corredor e quando chegou no desejado, encarou a porta bem talhada sendo protegida por dois guardas. Ao se aproximar, eles menearam a cabeça e deram um passo para o lado, permitindo que o mesmo se aproximasse, abrisse a porta e entrasse.

Dentro do quarto, ele viu Shisui sentado em uma poltrona aos pés da luxuosa cama, ao lado da cama estava Tsunade espremendo uma toalhinha em uma tina com água fria e pressionando sobre a testa do que estava sobre a cama e era ele, Itachi Uchiha. Os olhos estavam fechados, mas ele estava visivelmente mais magro, pálido e desfalecido. Em baixo dos olhos, olheiras profundas deixavam sua aparência fantasmagórica e seus lábios ressecados eram um prelúdio de tudo aquilo o que ele estava se tornando: um morto vivo.

Sasuke se aproximou de Shisui, olhando-o aflito.

- O que o médico disse? Vim o mais rápido que consegui.

- O mesmo que todos os outros. - suspirou, vendo Itachi se remexer na cama - Não há o que fazer. Ninguém sabe o que é, Sasuke.

- Não pode ser! - bufou, frustrado, esfregando o rosto - Não posso acreditar que não exista absolutamente ninguém capaz de dizer o que merda está matando o Itachi! - deslizou as mãos pelos cabelos, puxando-os - TEM QUE HAVER ALGUÉM!

- Pare de gritar... COF, COF, COF... Idiota! - a voz baixa e rasgada de Itachi se fez ouvir.

Sasuke girou nos calcanhares e se aproximou com cautela da cama do irmão. Tsunade se afastou um pouco, olhando piedosa para o irmão do meio, vendo-o abrir os olhos. Com um suspiro cansado, o mais novo dos irmãos sentou na beirada da cama de Itachi e apertou suavemente o ombro magro do irmão.

- Como você está?

- Morrendo... - a voz se arrastou sendo seguida por outra crise de tosse.

Os dois irmãos trocaram olhares e depois suspiraram, tentando não demonstrar toda a preocupação que estavam. A verdade é que sabiam que o irmão do meio estava, de fato, morrendo aos poucos, mas o que podia ser feito, afinal? Médicos, curandeiros, benzedeiros, rezadeiros... haviam tentado de tudo, mas Itachi só piorava.

- Não fale isso, vamos dar um jeito. - tentou parecer animado, mas sabia que não havia muito o que ser feito. Era o que todos falavam quando terminavam de examinar o Sheik - Você vai sair dessa.

- Não seja tão ingênuo, Sasuke. - Itachi respirou fundo, tendo outra crise de tosse e no mesmo instante, Sasuke o ajudou a sentar na cama enquanto Itachi pegava um lencinho e colocava sobre a boca, sujando-o com sangue vivo.

O mais novo tentou não demonstrar pânico enquanto Itachi olhava para o lencinho e fechava os olhos, respirando profundamente enquanto tentava controlar outra tosse que ameaçava vir.

- Certamente estou pagando por meus pecados.

- Não seja, idiota, Itachi. - revirou os olhos, tentando aliviar a tensão - Você teria que assumir o inferno para pagar por eles. Uma simples doença não seria o suficiente.

- Você ajuda bastante, Sasuke. - Shisui balançou a cabeça, sorrindo.

Um pequeno silêncio se fez enquanto Itachi fechava os olhos e respirava com dificuldade. Ele ficou longos segundos daquele jeito, até que os tornou a abrir e dessa vez, possuía um olhar triste.

- Como será que ela está? - a pergunta foi feita para ninguém em específico e ele olhava para o teto bem desenhado.

Não foi preciso falar um nome para que eles soubessem exatamente de quem Itachi falava. Desde a partida da cigana, Itachi se perguntava sobre como ela estaria e a ausência dela o afetava em demasia, porém, agora no leito de morte, a falta dela ia além. Pensar em Sakura o confortava, aliviava todas as dores e até mesmo a falta de ar se tornava suave. Desejava tê-la como último pensamento quando estivesse morrendo, enfim.

Quando fechava os olhos, conseguia ver os olhos verdes e intensos dela. Conseguia ver o sorriso tão radiante que ela possuía e que só lhe foi dirigido uma única vez. Conseguia sentir o sabor dos lábios dela e até sentir a textura da pele leitosa da mesma forma quando ela dançou na última noite.

Suspirou, tornando a fechar os olhos.

- Preciso descansar. - Itachi pediu baixo - Gostaria de ficar sozinho.

- Itachi... - Shisui tentou se opor. Não queria deixar o irmão só, tinha medo de algo acontecer a ele e não haver ninguém por perto para socorrer.

- Vão logo! - resmungou, virando o rosto para o lado - Estou morrendo, mas ainda estou vivo. Me deem um pouco de privacidade em nome de Allah!

Tanto Sasuke quanto Shisui suspeitaram derrotados. Eles tocaram o ombro de Itachi com tranquilidade, saindo do quarto logo em seguida. No corredor, os irmãos pararam um em frente ao outro em total silêncio. Ficaram longos segundos daquele jeito, até que Sasuke suspirou.

- Acho que deveríamos procurar por ela.

- Ele não quer, Sasuke. - Shisui balançou a cabeça - Já tentei barganhar isso, mas Itachi é orgulhoso, você sabe.

- Ele vai morrer com essa falta, irmão. - esfregou o rosto em agonia - Ele a ama! É justo uma despedida.

- É justo a vontade de ambos ser feita. Ela quis a liberdade e ele a deu. Não podemos interferir nisso.

- Não vamos interferir, mas acho que a Sakura merece saber que Itachi está morrendo... - caminhou de um lado para o outro no corredor - Sei que ela sente algo por ele.

- Não seja idiota, Sasuke. De nós três, você é o menos sonhador...

- Eu sei exatamente do que estou falando, Shisui. - Sasuke olhou para o irmão por alguns segundos - Eu sei do que estou falando.

E em silêncio, Sasuke seguiu em direção ao próprio quarto. Shisui suspirou, sabendo que o irmão mais novo estava ficando maluco. Era realmente difícil para eles ter que aceitar que o irmão do meio, aquele que assumira todas as responsabilidades estava os deixando. Itachi, apesar de ser o irmão do meio, cuidava de cada um e agora, ele estava sendo cuidado. Isso o transtornou.

As horas se passaram e com ela, um Sasuke inquieto caminhava de um lado para o outro dentro do cômodo. Viu quando a madrugada chegou. Estava descabelado, cansado e angustiado. Não conseguia pensar em mais nada além de proporcionar uma pequena felicidade ao irmão. Sentou-se na cadeira em frente a pequena mesa que possuía alguns cadernos e com angústia, abriu um, pegando uma caneta e respirando fundo, começou a escrever.

Enquanto escrevia afoito, algumas lágrimas caiam e molhavam o papel. Ele tentou permanecer firme a todo o custo para poder finalizar aquela carta e quando terminou, a dobrou e limpando o nariz com a manga da camisa que usava, ficou de pé. Pegou uma pequena bolsa colocando uma muda de roupa e dinheiro, pegou um véu e cobriu os cabelos e rosto, e com um respirar profundo, saiu do quarto.

No outro dia, quando acordou, Shisui espreguiçou-se e ficou olhando para o teto por alguns longos minutos. O medo de ser acordado durante a noite para ser informado a respeito de Itachi o sufocou, pois, se ninguém o havia acordado só havia dois motivos: ele permanecia vivo ou ninguém o havia olhado ainda.

Torcia amargamente pela primeira opção.

Com preguiça, mas não podendo permanecer na cama, levantou e calçou os chinelos, passando as mãos nos cabelos para conter o fios rebeldes. Estava distraído, mas viu o papel no chão do quarto próximo a porta. Com um franzir de cenho, Shisui se aproximou e se abaixou, pegando o papel dobrado.

Ao desdobrar, reconheceu de imediato a entra de Sasuke e com isso, soltou um respirar profundo, lendo o breve, mas profundo bilhete que o irmão mais novo deixará.

"Shisui,
Sei de nosso acordo com o Itachi. Tenho ciência da vontade dele e da Rom, porém, me nego a aceitar isso sabendo que nosso irmão está dando os últimos suspiros de vida. Já errei muito nessa vida, com você, com o Itachi e até mesmo com a Sakura, mas hoje me arrependo de tudo. Também sei, verdadeiramente, do sentimento que um tem para com o outro e não acho justo ele partir sem se despedir dela, muito menos ela não saber que ele está indo.
Por isso, peço desculpas por deixar o Itachi em suas mãos. Cuide de nosso irmão para que ele permaneça vivo e possa se despedir da mulher que ama. Até lá, estarei procurando por ela incansavelmente e não retornarei antes de falar para ela a situação de nosso irmão.
Estou ciente que posso levar uma negativa da cigana, mas preciso tentar a todo o custo.
Elevarei minhas preces a Allah para que o Itachi aguente e quanto isso, estarei colocando na mesma prece, o desejo de que ela o perdoe e aceite vir se despedir. Itachi, independente de qualquer coisa, merece partir em paz.
Não fique com raiva de mim e entenda, estou fazendo isso para que o Itachi possa partir tranquilo e que a Sakura possa se despedir da forma apropriada. Sei que ela vai me ouvir. Sakura possui um coração bom.
Novamente, peço para que tome conta do Itachi. Faça-o se alimentar direito e não o deixe falar tanto, essas tosses vão acabar com ele. Ah, também não conte para ele que parti em busca dela, invente qualquer desculpa, talvez algo que tenha a ver com trabalho. Ele está tão doente que irá engolir.

Até logo,
Uchiha Sasuke."

Comentários

  1. Ahhh Bruna, querendo matar Itachi mulher... será que ela vai voltar?

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  2. Ahhh Bruna, querendo matar Itachi mulher... será que ela vai voltar?

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  3. Que guinada afff..... esperava tudo menos isso .... estou com a cabeça a mil aqui ...por kami ! Essas reviravoltas acabam com o meu emocional ... essa é uma das histórias que mais gosto ! Ansiedade e pouco para descrever o quanto eu quero o próximo capítulo......
    Será que ele está sendo envenenado ? Uma retaliação daquele troglodita ? Queria que ela chegasse e resolvesse as coisas ... afffgf esperança é a última que morre certo ?
    Um amor assim ....separados dessa forma ... a distância pode mesmo matar um .... essa intensidade uiiii até desnorteia ....
    Enfim esperando por vc ....

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  4. Por favor atualiza logo essa fanfic....ela é minha paixão

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  5. Por favor atualiza logo,eu amo essa fanfic

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