Pelotão 28 - Capítulo Quarenta e Nove

 

O sol já iluminava parcialmente o céu. Sakura estava toda suja de sangue, seus cabelos presos em um coque qualquer enquanto o suor escorria por sua têmpora. Seus dedos já estavam doloridos, seus olhos queimavam de sono, mas ela os forçava a ficarem abertos e atentos. Mais da metade daquele pelotão estava agora descansando depois de serem atendidos por ela. Agora, costurava o braço de um soldado que a olhava de forma fixa, mas ela apenas ignorava, concentrando todas as energias em ficar acordada e fazer aquela sutura do jeito correto.

Deu o último ponto e cortou a linha, colocando a agulha na caixinha metálica.

Passou o antebraço na testa e suspirou, fechando brevemente os olhos e corrigindo a postura. Abriu os olhos e arrumou todo o material dentro da bolsa, ficando de pé. Colocou as mãos na cintura e alongou o tronco, olhando ao redor.

Viu os olhos do Capitão sobre si.

- Parece que fez um bom trabalho, doutora.

- Sempre faço. - deu de ombros.

- Sua comida. - apontou com a cabeça para um prato onde estava um pão e ao lado uma garrafa com água.

- Nem um café? - fez careta.

- Você é bastante exigente.

- Estabilizei mais da metade dos seus homens. É o mínimo que mereço. - caminhou até onde o pão estava e sentou, começando a comer - Mas não faz diferença. É bom que eu descanso.

- Vai dormir? - ele sorriu debochado - Podemos fazer algo enquanto você dorme.

- Não vai. - devolveu o sorriso - Eu disse que estabilizei seus homens, não os salvei. - comeu todo o pão e suspirou - Você ainda precisa de mim se quiser ter seu pelotão inteiro.

- Você é uma vadia desgraçada mesmo, não é? - apontou uma adaga pra ela e meneou a cabeça - Vem cá... você realmente salvou o Uzumaki?

- Claro que sim. - bebeu a água e se espreguiçou - Não percebeu ainda que eu sou foda?

- Hun... - o capitão olhou a Haruno de cima a baixo e passou a língua entre os lábios - Você é bem gostosa, doutora... diz aí, qual filho da puta te comeu.

Sakura olhou para ele por longos segundos decidindo se ficava ofendida ou não, mas então suspirou, encostando a cabeça na parede e fechando os olhos. Quando falou, sua voz era suave.

- O Uzumaki. Aquele que você tentou matar e eu salvei.

- Filha da puta desgraçada! - ele esbravejou - Você tá me dizendo que foi o miserável do Uzumaki que te fodeu?

- Ele mesmo. - meneou a cabeça ainda de olhos fechados - Ele me fodeu e também vai foder você... - deu um sorriso nasalado - Mas não se preocupa, capitão. O Naruto sabe foder como ninguém.

O capitão soltou um palavrão alto e guardou a adaga, levantando e indo para fora do local, dando ordens de redobrar a segurança. Ele sabia que se a médica estivesse realmente falando a verdade, a coisa ficaria bem séria. Tinha suas dúvidas, já que Naruto ainda estava debilitado, mas sabendo da insanidade do Uzumaki, não podia deixar tudo à sorte.

Sakura aproveitou para descansar um pouco. Não queria relaxar junto com os inimigos, mas precisava descansar minimamente para colocar seu plano em ação aquela noite. Sabia que a essa altura do campeonato, Naruto já estava agindo, então precisava estar preparada para ajudá-lo de qualquer forma.

Naquela noite, ela fugiria dali.

Quando a noite começou a cair e os soldados começaram a se colocar em seus postos de observação, Sakura também começou a se preparar para seu plano. E ele era bem simples: dopar o maior número de soldados possível.

A médica começou a organizar os medicamentos e injeções dentro da bandeia de material cirúrgico. Estava nervosa, mas tentou a todo o custo esconder isso, deixando transparecer seu desgosto em estar "cuidando" daqueles homens. Foi verificando e medicando um por um dos homens, sempre com um soldado no seu pé. Vez ou outra olhava pelo canto do olho para se certificar de que o soldado estava prestando atenção e quando percebia que ele estava distraído, trocava as ampolas e injetava um calmante no soldado doente.

Colocou como prioridade dopar os soldados menos graves, afinal, numa investida, eles poderiam lutar, por isso, dopar os soldados menos graves era mais vantajoso do que um soldado que estava todo costurado, estes, ela apenas aplicava algum remédio que deixava mais “grogue” e pronto.

Por volta de dez da noite, estava terminando seu serviço e percebeu que a grande maioria do pelotão estava quase pegando no sono. Como havia injetado o calmante no soro, levaria um tempo para fazer efeito, mas quando fizesse, seria infalível, por isso, precisava ter paciência e esperar.

Quando terminou, organizou todo o material dentro da bolsa e a colocou num canto, mas sem que o soldado visse, Sakura preparou uma ampola específica em uma seringa e colocou dentro do busto, e outras duas no bolso frontal da calça. Aquele do busto era especial e tinha dono.

Encostou as costas na parede e jogou a cabeça levemente para trás, apoiando-a na parede também e fechou os olhos, suspirando. Estava exausta, tanto física quanto psicologicamente. Estava naquilo há horas, estava tentando se manter sã, confiante e forte, mas era tão, tão cansativo. Tudo o que queria era poder deitar e fechar os olhos sem nenhum medo, mas ali não podia baixar a guarda.

Esperou pelo que pareceram horas e quando finalmente tudo se acalmou, ela abriu os olhos. A maioria dos soldados dormiam. Três estavam num canto conversando, dois estavam na entrada de guarda. Certo, a única saída era aquela entrada e essa ideia não a agradava, mas a deixava em pura adrenalina. Sair pela porta da frente era triunfal.

Digno de uma fanfic.

Olhou para o outro lado e viu o médico do pelotão analisando um dos soldados, ele estava com o cenho franzido. Com certeza havia percebido que algo estava errado, aqueles homens não deviam estar daquele jeito. 

O médico logo se aproximou da médica e se abaixou em frente a ela, com os olhos estreitos.

- O que porra você fez? - perguntou baixo.

- Como assim? - franziu o cenho.

- Esses homens estão apagados. - apontou para o lado onde eles estavam.

- Sim, estão. - deu de ombros - Você sabe que precisam descansar.

- Eles não estão apenas descansando...

- Eles não vão morrer. - deu de ombros - Estão apenas dormindo. - sorriu - Amanhã estarão ótimos.

- O que você tem em mente, sua desgraçada? - inclinou a cabeça para ela.

- Hum... Por quê não senta ao meu lado, doutor? Parece exausto. - arqueou uma sobrancelha e baixou o tom de voz para um sussurro - Quero ter uma conversa com o senhor.

O médico ficou olhando para Sakura longos segundos, até que sentou ao lado dela, encostando as costas na parede. Ele estava desconfiado, muito desconfiado. O homem manteve três palmos de distância de Sakura e a olhava de forma atenta.

- Nossa, parece que está com medo de ser mordido. - ela brincou, arrumando os cabelos.

- Não confio em você. - resmungou - Diga logo o que quer.

- O que posso fazer aqui? - franziu o cenho - Tem olhos por tudo que é canto nessa merda de lugar, não vê? - e indicou os três soldados conversando e os dois na porta.

- Claro que sim. - zombou - Se torna até tedioso.

- Nisso concordamos. - brincou e suspirou, olhando para frente - Aqui é tão chato.

- Se esse é o problema, peça para o Capitão lhe levar para os confrontos. - brincou de volta - Seria interessante alguns homens do seu lado lhe vê lá... e você os veria morrendo.

Ela riu e passou a mão nos cabelos novamente, dessa vez, um pouco mais para baixo. Aproveitou quando o médico olhou para os soldados e retirou a seringa do busto, escondendo-a debaixo da palma, no chão.

- Nossos homens não morrem assim tão fácil.

- Não foi o que pareceu com aquele tal de Kiba. - relembrou.

Sakura sentiu o sangue ferver e seus olhos queimaram. Sentiu vontade de chorar. Sentiu vontade de quebrar a cara daquele médico ali mesmo, mas precisava esperar. Kiba havia morrido e não seria em vão.

Não seria.

Sorriu de forma falsa.

- Kiba era um homem incrível, e sua morte será vingada, acredite.

- Fiquei curioso sobre isso. - ele olhou para ela com as sobrancelhas arqueadas - Quem vingaria o Kiba?

- Eu. - arqueou as sobrancelhas de volta.

- Você? - ele sorriu e encostou a cabeça na parede, fechando os olhos de forma despreocupada - Uma vadia como você só serve para ser fodida, e se quer saber... é isso que vai acontecer... - baixou a voz de forma prazerosa, como se esperasse por aquilo - E eu vou fazer questão de te foder.

Sakura estreitou os olhos. Ele estava relaxado: olhos fechados, respiração tranquila, sorriso nojento e debochado nos lábios.

Olhou para o lado e viu que os soldados não olhavam para eles e muito rapidamente, a Haruno ergueu a mão com a seringa e com precisão, enfiou a agulha na jugular do homem, apertando o êmbolo até o fim.

O médico abriu os olhos rapidamente, assustado, ele segurou no pulso de Sakura e abriu a boca para gritar, mas a voz falhou. Rapidamente a mão dele caiu pesada sobre o chão e o mesmo começou a ofegar. O barulho dos tiros e explosões lá fora, abafava um pouco do arfar dele, o que ajudou a não chamar a atenção dos soldados.

Ele abriu e fechou a boca várias vezes enquanto a mesma começou a espumar.

- Va... dia. - sussurrou, sem ar.

Ela deu um sorriso de canto, aproximando o rosto do dele.

- A vadia aqui acabou de te foder, seu filho da puta! - e puxou a mão, retirando a seringa. Rapidamente a colocou atrás do corpo do homem.

Ele começou a suar e então fechou os olhos. Ela viu quando o peito dele subiu e desceu com dificuldades e então parou.

Ele estava morto.

Sakura tornou a olhar para os soldados. 

Estava em pânico.

A primeira parte havia dado certo.

Agora o medo a assombrava. Havia matado um homem, por Deus! Se alguém descobrisse, ela que estaria morta, por isso, decidiu se controlar primeiro antes de partir para a segunda parte. Com a manga do blusão, limpo a boca do homem.

- Eca. - sussurrou.

Encostou a cabeça na parede fria e contou até cem.

Céus, morreria!

Precisava controlar o pânico. Suas mãos tremiam tanto...

Pigarreou e tornou a abrir os olhos.

Estava tudo da mesma forma. Certo, era a hora de colocar o segundo plano em ação. Pigarreou e ficou de pé. Rapidamente todos os soldados se voltaram para ela.

- Preciso ir ao banheiro. - comunicou.

Um dos soldados olhou para o médico que estava com a cabeça encostada na parede de forma tranquila.

Sakura acompanhou o olhar dele.

- Preguiçoso rabugento. - xingou - Não sei como consegue dormir. Eu tô aqui lutando pra pegar no sono...

- Vadias como você não merecem descanso. - um dos soldados falou e então apontou para outro - Acompanha a cadela até o banheiro.

O soldado apenas meneou a cabeça e indicou que Sakura fosse na frente. Quando passaram pelo médico, Sakura orou para que o soldado não verificasse o médico e para sua sorte, o homem não verificou. Subiram um lance de escada até chegar no corredor que dava ao banheiro. Assim que chegaram lá, a Haruno fechou a porta e apoiou as mãos na parede gélida, ofegante. Certo, precisava organizar os pensamentos.

Primeiro preparou as duas seringas com calmante. O único problema é que eram cinco soldados. Não sabia como faria para desarmar e fugir dos outros três, mas precisava calcular isso e agir muito rápido. Escondeu uma seringa numa manga do blusão camuflado e a outra na outra manga. Mão direita e mão esquerda. Respirou fundo novamente e meneou a cabeça.

- Você consegue, Sakura. Você consegue. - sussurrou para si mesma.

Abriu a porta do banheiro e fez careta para o soldado que apenas deu as costas e começou a andar, sendo seguido por ela. Sakura caminhava de forma articulada e quando já estavam perto do final do corredor, ela viu algo que a fez repensar todo o seu plano: a sala de armamentos.

Estava ficando louca!

Merda, Naruto... Você me transformou numa louca!” Pensou.

Sem pensar muito no que estava fazendo, Sakura apenas ergueu as duas mãos e sem dó, espetou as duas agulhas no pescoço do homem que ainda se virou e empurrou ela, mas em segundos, o calmante duplo fez efeito e ele caiu num baque surdo no chão.

O peito da Haruno subia e descia de forma acelerada. Estava nervosa, muito nervosa.

Entrou correndo na sala de armamentos e pegou uma pistola que nem sabia qual era. Pegou um cartucho que ela nem sabia como usar, mas viu ao fundo algo que não precisava de muitas instruções: granadas.

Agora só precisava arrumar um jeito de sair dali, mas sua mente insana logo lhe mostrou a solução: A janela da sala.

Deu um sorriso maníaco e balançou a cabeça.

Naruto era uma má influência. Agora tinha certeza.

Sakura foi até a porta e a fechou, colocando uma metralhadora para prender. Aquilo não seguraria muito. Um esforço maior a abriria facilmente, mas ela não precisava de muito, só alguns minutos. Pegou cinco granadas e retirou os pinos e com muito cuidado, um cuidado cirúrgico, ela foi colocando as granadas encostadas na metralhadora e também aos pés da porta. 

Sentia tanta adrenalina, porque o menor dos movimentos, tudo aquilo explodiria. E até ela morreria.

Quando terminou de colocar a quinta granada presa na metralhadora, deu seis passos lentos e cautelosos para trás. Estava morrendo de medo.

 - Puta merda! Puta merda! Puta merda! - repetiu várias vezes, sentindo o coração quase sair pela boca de tão forte que batia.

Pegou uma outra metralhadora e sem pensar, quebrou o vidro da janela.

Claro que o barulho foi alto e chamaria atenção, então ela simplesmente arrastou o armamento pela armação da janela removendo a maior quantidade possível de vidro, mas quando ouviu os gritos pela escada e depois xingamentos, percebeu que não dava mais para esperar. Soltou a metralhadora e se enfiou pela janela.

Não ligou para os cortes que sofreu, não ligou para o sangue escorrendo, muito menos para a altura que pularia. Nem era tanta, pensou rápido. Apenas um andar. Só precisava ter cuidado, mas quando ouviu a porta ser forçada a abrir, esqueceu de tudo.

Até mesmo de sua própria segurança, e pulou da janela.

Caiu com os pés no chão e acabou sentindo uma dor enorme no tornozelo direito, o que a fez rolar no chão várias vezes. Gritou de dor, mas ao ouvir mais gritos, retornou para a realidade. Não poderia ficar ali, então tentou ficar de pé, mas a dor no tornozelo a impediu, então ela apenas se arrastou o mais rápido que conseguia para longe, porém, um estrondo muito alto a fez levar as mãos aos ouvidos e ela rapidamente rolou para o lado, sentindo o corpo ser machucado com cados, pedaços de concreto e tijolo.

Seus ouvidos apitaram e sua cabeça girou. Escondeu o rosto contra o chão terroso enquanto mais barulhos de explosões se faziam ouvir bem próximo de si.

Não precisou olhar para saber que as explosões estavam vindo daquele prédio.

Ela não apenas tinha escapado dali, como havia explodido mais da metade daquele pelotão. Ainda com o rosto contra o chão, soltou uma gargalhada.

- Kiba, essa foi por você. - sussurrou.


Comentários

  1. Amemmmmm!!!!!!!! Autora não faz mais isso por favor! Deixar quase um ano a fic sem atualização, meu coração não aguenta 🥹🥹🥹 Que capítulo sensacional!!!!!!!

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