Pub - Drink 10




Carneirinhos?


Contou.

Fazer planos até cansar?

Fez.

Não pensar em nada?

Até limpou a mente.

O problema é que nada parecia fazer efeito para a insônia da jovem que estava sentada no sofá olhando para o "nada". Havia largado do cedo pub (às 02:00), foi para casa, tentou dormir, mas não conseguiu. Foi para o sofá e sentou, onde permanecia até agora. Os raios de sol atravessavam pela pequena fresta da cortina verde musgo que serviam como barreira para a iluminação. Não estava disposta, queria apenas poder apagar tudo o que rodeava sua mente e relaxar, mas não conseguia. Suspirou alto e jogou a cabeça para trás, apoiando-a no encosto do sofá cor de vinho e ficou olhando para o teto.

Iria enlouquecer.

Se continuasse alí, parada, certamente enlouqueceria, por isso, decidiu que iria caminhar. Melhor! Iria praticar exercícios. Fazia tempo que não tirava um tempo para cuidar do corpo nem da mente então levantou rápido, foi até o banheiro onde tomou uma ducha fria (como sempre), colocou uma calça em poliéster rosa, um tênis branco, uma regata cinza e por cima, um blusão branco fechado até a altura dos seios, deixando-a com um discreto decote. Prendeu os cabelos em um rabo de cavalo alto, colocou um boné rosa e se olhou no espelho. Estava confortável. Pegou o celular, fones de ouvido e ligou numa música animada.

Saiu do apartamento e ao passar pelo porteiro deu um leve aceno. Assim que chegou na calçada, fez um breve alongamento e começou a caminhar. Permitiu-se entrar em um mundo só dela, deixando as batidas da música adentrar seu cérebro. Umbrella. Adorava as músicas antigas, mas Rihanna era Rihanna. O sol não estava queimando tanto e ela agradeceu aos céus por isso.

Depois de meia hora de caminhada, chegou no parque do bairro. Estava pouco movimentado, talvez porque fosse quinta de manhã. O parque fazia parte de uma reserva e se parecia muito com um bosque, o que lhe dava um ar tranquilo e natural. Ia para lá desde muito novinha, quando seu pai a levava para andar em sua bicicleta azul piscina... Lembrava de como sua mãe enlouquecia quando o pai soltava ela, permitindo a garota pedalar sozinha, mas ela acabava abrindo os braços por pensar que estava voando e logo depois, encontrava o chão... com o rosto.

Possuía até hoje uma cicatriz no cotovelo de uma das quedas que tinha levado... Havia levado três pontos e em seguida, perdeu a bicicleta. Nunca superou essa perda. Adorava a bicicleta azul piscina, mas seus pais acharam que ela não tinha maturidade suficiente para manobrar um meio de transporte "perigoso" como aquele já que nunca aprendera que não deveria tirar as mãos do guidão... Com um suspiro, parou de caminhar e elevou os braços, alongando-se. Queria muito relaxar, só não sabia como.

- Menina?

Ouviu uma voz masculina soar atrás de sí e se não conhecesse aquela voz, certamente ignoraria, mas ela conhecia de algum lugar, por isso, virou rápido e se deparou com o velhote. Ele estava com as mãos na cintura,  cabeça levemente inclinada em curiosidade, os cabelos presos em um coque, ofegava levemente, possuía gotículas de suor pela testa, a roupa preta e azul escura dava-lhe um ar sério. O homem era gostoso até daquele jeito. Viu uma gota do suor escorrer da têmpora, seguir pela bochecha e adentrar a barba no maxilar. Quase. QUA-SE soltou um gemido por desejar ver todo o percurso da gota, mas acabou piscando e se concentrando nos olhos negros.

- Iae da deprê. - colocou as mãos na cintura, virando completamente para ele. - Que faz por essas bandas?

- O mesmo que você. - indicou a roupa dela.

- Isso eu já sei né. - revirou os olhos - Estou perguntando o motivo de ser tão longe de sua cúpula perfeita.

- Sossego. -deu de ombros - Aqui, poucas pessoas vêm me perturbar.

- Huuun... - o olhou de cima a baixo, analisando-o debochadamente - Senhor Importante da Fama!

- Prrr... - revirou os olhos e olhou ao redor - Venho aqui quase todos os dias e nunca lhe vi. - franziu o cenho.

- Ou talvez tenha visto, mas não memorizou. - deu de ombros também.

- Tenha certeza que nunca lhe vi, menina. - estreitou os olhos para ela - Cabelo rosa e olhos verdes como você tem... - balançou a cabeça - É como uma gota de sangue na pétala de uma rosa-branca. Por mais que você queira ignorar, ela acaba se destacando.

- Olha... isso foi um elogio!? - o olhou espantada.

- Estou apenas dizendo que não há como ignorar. - tentou contornar a situação.

- Hun... - estreitou os olhos para ele, mas depois abriu um sorriso - Tá legal, você tem razão... Não sou de vir aqui... Ao menos não nos últimos tempos.

- Qual o motivo? - começou a fazer alongamento.

- Tempo. - olhava atenta aos movimentos dele - Apenas isso.

- Entendo... - se espreguiçou e olhou ao redor - Então... vamos correr? - arqueou as sobrancelhas.

- Está pedindo minha companhia, velhote? - deu um sorriso zombeteiro.

- Estou apenas querendo lhe ajudar, afinal, se algum policial te ver sozinha vai querer saber porque não está acompanhada de alguém mais velho.

- Assume logo que adora minhas indelicadezas em vez de ficar enrolando. - sorrindo, começou a caminhar.

- Não estou enrolando! - defendeu-se caminhando ao lado dela.

- Vou fingir que acredito. - revirando os olhos, ela começou a correr - Então se prepara para comer poeira!

- Está me desafiando? - começou a correr também, deixando-a ficar um pouco à frente de propósito.

- Estou! - o olhou por cima do ombro.

Ele balançou a cabeça, sorrindo. Ela também sorriu e continuou correndo. Ele a alcançou e ficou correndo ao lado dela. A corrida permaneceu silenciosa por quase dez minutos, apenas eles correndo, lado a lado, apreciando a companhia e silêncio um do outro. A mente dele viajava por tudo o que já havia passado, desde seu relacionamento (que nos últimos dias tomava parte de seus pensamentos) enquanto a outra parte era destinada ao novo projeto. Já a mente dela, viajava para a clínica, para os gastos e a doença que avançava... Sem falar nos trabalhos e estudos. Sentía-se esgotada, como se carregasse o mundo sobre os ombros.

Era complicado carregar todo aquele peso sozinha, tão nova. Com um suspiro, olhou pelo canto do olho e viu que o homem corria concentrado em seu próprio mundo. Daria a vida para saber o que ele estava pensando. Deveria ser algo complicado, pois, havia um vinco entre as sobrancelhas. Cansada de ficar quieta, deu um passo para o lado e chocou o ombro contra o bíceps dele que a olhou com o cenho franzido.

- Mas...

- Você tá franzindo a cara. Parece que tá com dor de barriga... Vai ficar cheio de rugas!

- Você também vai ficar, um dia. - arqueou uma sobrancelha.

- Mas vou continuar gata! - sorriu - E disposta.

- Está dizendo que não tenho disposição?

- Sim!

- Aaaaah... Grande erro, garota! - com uma expressão de desafio, ele começou a correr mais rápido.

- EI! - ela protestou e correu mais rápido também.

- VAI COMER POEIRA! - ele gritou, acelerando a corrida.

- TRAPACEIRO!

Ele deu um tapinha no ar e continuou correndo. Cada vez que ela acelerava os passos, ele acelerava também, ficando sempre à frente dela. A corrida permaneceu desse jeito por quase cinco minutos até que adentraram em uma área mais aberta do parque. Apesar da hora, haviam poucas pessoas. Ele olhou por cima do ombro e viu que ela estava cansada. Girou o corpo na direção dela e começou a correr de costas, sorrindo em completo desafio.


- Vamos, menina. Você vai acabar ficando para trás! - começou a rir.

- VAI COM CALMA AÊ, DA DEPRÊ! - gritou, ofegante - Você tem mais energia que eu.

- Pensei que os "velhotes" tivessem menos energia. - franziu o cenho e ficou "correndo" parado.

- Retiro o que disse. - deu um tapinha no ar e quando chegou perto do homem, parou de correr, inclinou o corpo para a frente e apoiou as mãos nos joelhos, respirando - Vocês não têm com o quê gastar energia, ai fica tudo acumulado.

- Não gastamos energia? - para de "correr" e coloca as mãos na cintura.

- Sim. - olhou para ele ainda ofegante - Vocês não têm uma vida tão ativa, isso resulta em energia acumulada.

- Você está me chamando de sedentário? - arqueou as sobrancelhas - Menina, quem está morrendo é você.

- Estou falando de outras coisas. - respira fundo e fica ereta colocando uma mão na cintura e com a outra, enxuga a testa - Esse negócio de ficar correndo assim é bem pra velho mesmo. Não tenho tempo para essas coisas.

- Aé? - arqueia uma sobrancelha com desdém - E como a "jovem" gasta energia e mantém o corpo em forma.

- Com muuuuuuita comida, muuuuuito trabalho e uma coisa que você desconhece chamada: sexo! - arqueou as sobrancelhas também com desdém.

- E você acha que eu desconheço. - sorrindo, joga a cabeça para trás.

- Claro. Você disse que não usava a azulsinha, então meu filho, a teia de aranha deve correr solta por ai. - com um gesto, indicou as partes baixas do mais velho. 

- Entendi. - passa a língua entre os lábios, tentando conter o riso - É legal que pense assim, de verdade. Não quero que você perca a pureza.

- QUÊ!!!!? - Ela soltou uma gargalhada alta, jogando a cabeça para trás. Nunca, em toda a sua vida, havia dado uma gargalhada tão alta, mas aquela era a melhor piada de todos os tempos.

- Qual a piada? - franziu o cenho olhando ao redor e percebeu que a risada da jovem atraía alguns olhares - Menina, controle-se!

- Desculpa, velhote, mas você é muito engraçado. - ela levou uma mão até a barriga que doía de tanto que havia sorrido enquanto a outra mão enxugava as lágrimas que tinham caído.

- Explique. - intrigado, inclinou a cabeça para o lado.

- Fala sério... Minha pureza? - começou a sorrir novamente, dessa vez, mais descontrolada ainda, parecendo uma hiena - Por Santo Thor...

- Sim... Qual a graça disso? - cruzou os braços. Queria saber o que tanto a fazia rir.

- Qual é, cara... Eu fui expulsa de um colégio interno porque desvirtuei um coroinha... - respira fundo tentando ficar séria, mas acabava voltando a rir - Ai Deus, minha barriga...

- Bem... - constrangido, coçou a barba. Tinha esquecido completamente daquele detalhe.

- Relaxa... - fungou, enxugando os olhos - Ai cara... estou com dor na barriga... mas sério... Nem meus olhos são puros.

- Ah... - ele piscou rápido enquanto os olhos ficavam esbugalhados. Aquela menina falou aquilo tão naturalmente que o deixou constrangido - Acho que...

- Deixa pra lá! - deu um tapinha no ar. Respirando fundo, ela olhou ao redor - Que horas são hein?

- Hun... - um pouco desconfortável, ele levantou levemente a manga do blusão e olhou as horas no relógio de pulso - Falta quinze para às 11:00.

- Ai caralho! - deu um tapinha na testa - Me fudi... Tenho que ir, velhote. - deu um soquinho no peitoral dele e sentiu que era rígido - Hun... tá com as pregas em dia, hein...

- Acho que isso foi um elogio. - arqueou uma sobrancelha.

- Foi sim... Enfim, foi bom zoar de você. Até a próxima, cara! - deu as costas.

- Ei, menina. - deu uma corridinha para alcançá-la - Eu te levo.

- Pra onde? - franziu o venho, parando de caminhar.

- Você parece atrasada. Eu te levo... Estou de carro, já terminei minha caminhada.

- Ah cara, eu vou pra casa e tenho certeza que ela não fica à caminho da sua. - balançou a cabeça - Mesmo assim, valeu.

- Deixa disso. Não vai ser trabalho nenhum. - deu de ombros. Realmente não era. Algo naquela menina o fazia bem, apesar de indelicada e nem um pouco discreta, ela era uma boa pessoa - Você me escuta sempre que apareço pelo Pub... Não vai me matar te dar uma carona.

- Escuto porque gosto de saber das fofocas. - abriu um sorriso enorme - Mas sério... Eu moro...

- Não importa! - a cortou - Vamos... - fez um gesto com a mão indicando a direção do estacionamento.

- Insistente. - revirou os olhos e seguiu na direção que ele havia apontado.

Caminharam por mais alguns minutos até que chegaram no estacionamento e seguiram até um carro grande e preto. Foi inevitável não cair o queixo diante daquela belezinha. Tinha que admitir, se soubesse que o carro dele era AQUELE não havia entregado as chaves quando ele deixou no pub. Deu-se um soco mentalmente por ser tão burra. Ele colocou a mão dentro do bolso da calça de moletom e retirou as chaves de lá, desativou o alarme, deu a volta no carro e abriu a porta do carona para ela, mas ao olhar para a cara da jovem, franziu o cenho.

- Algum problema? - ficou olhando dela para o carro tentando encontrar algo de errado.

- Cara... Por isso que você não queria me deixar ele de herança. - ficou parada olhando para o carro.

- Ah... - deu um sorriso contido - Ele é lindo, não é? - olhou para o carro com admiração.

- Sim... Não é todo dia que se vê um Mitsubishi Triton 2018.

- Bem... - desviou o olhar - É que... eu sou um pouco grande. - deu de ombros - carros pequenos não me cabem de maneira confortável.

- Isso deve ser verdade. - o olhou de cima à baixo. Ele tinha oquê? 1,98... 2,00 metros? Sem falar nos músculos que ficavam destacados mesmo na confortável roupa moletom - Mas cara... Você PRE-CI-SA me deixar esse carro de herança.

- Você está abusando da minha boa vontade, menina. - murmurou e meneou a cabeça em direção ao carro - Entra logo antes que eu desista.

- Porra nenhuma! - rápido, entrou no carro e quase se jogou contra o banco de couro negro - Você me ofereceu uma carona com cavalheirismo, não vai desistir agora.

Ele revirou os olhos, fechou a porta, deu a volta no carro, entrou, fechou a porta e ligou o mesmo, dando partida. Quando o motor do carro roncou, a garota fechou os olhos. Adorava carros, quando criança, assistia corrias e mais corridas com o pai. Era uma antiga paixão que se perdeu com o tempo e com as lembranças, Ainda assim, continuava gostando de carros. Ele perguntou qual o endereço dela e a mesma informou. O GPS traçou a rota e ela viu ele fazer o percurso. Por incrível que pareça, permaneceram em silêncio por todo o trajeto. Ele estava concentrado.

Ela aproveitou para analisá-lo pelo canto do olho. As mangas do blusão estavam puxadas até o ante braço, o relógio negro brilhava vez ou outra por conta do sol, as mãos grandes que seguravam o volante de forma confortável com algumas veias levemente destacadas e alguns pelos nas mãos, os braços pouco tensionados... Desceu um pouco o olhar pelo abdome masculino que ficavam beeeem escondido pelo moletom folgado, mas as coxas não... Essas ficavam marcadas, mesmo na calça moletom. Principalmente quando ele pisava no freio ou no acelerador.

Curiosa que só ela, subiu um pouco mais o olhar e acabou esbugalhando os olhos quando viu que não era apenas as coxas dele que ficavam destacadas na calça, mas também um certo volume na região pélvica. Ela desviou o olhar rapidamente enquanto o corpo esquentava. Não queria ter olhado para aquilo, não queria mesmo, nem era sua intenção, mas bem... é complicado quando um bichinho mesmo dormindo chama a atenção de alguém. " É que... eu sou um pouco grande" Não era só o corpo... Agora tinha certeza disso.

- Você chegou ao seu destino. - piscou rápido voltando a realidade quando a voz do GPS informou que haviam chegado.

- Pronto. - ele puxou o freio de mão, encostou a cabeça no encosto do banco e virou a cabeça na direção dela - Chegamos.

- É... - olhou pelo para brisa o antigo prédio em que morava - Valeu, da deprê... Você ajudou bastante.

- Imagina... - sorriu levemente - Acho que você já não está mais tão atrasada.

- Não. - abriu um enorme sorriso - Você salvou o dia. Valeu mesmo. - levantou a mão em punho na direção dele. - Toca aqui.

- De nada. - deu um soquinho no punho dela - Até mais, menina.

- Até, velhote.

Ela desceu do carro, fechou a porta, deu a volta e foi até em frente ao portão de ferro antigo do prédio, ao abrir, as grades fizeram seu habitual barulhinho e ela entrou, virou e quando olhou para frente, viu que ele permanecia alí, olhando para sí. Acenou brevemente e ele meneou a cabeça enquanto saia vagarosamente com o carro. A garota ficou olhando o carro se perder na esquina da rua e com um pequeno sorriso, entrou no prédio. A portaria estava vazia e isso facilitou muita coisa. Precisava se arrumar para ir à sua aula. Sentia-se bem melhor do que estava logo cedo, por isso, decidiu que não faltaria a aula.




Notas finais:

Quero agradecer a Bia por Betar esse cap.








Comentários

  1. Qro mais dona Bruna, e logo..
    "Menina" amei a conversa deles.. tio Mad até fez uma piada kkkkkkkkkk
    E essa análise da Sasa?! Caracaaaaa me deu até calor 😍
    POSTA LOGO OUTROOOO CAPITULO PLEASE ❣️❣️❣️

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  2. As coisas estão fluindo.
    É tão diverdido os dois juntos.
    Antes de qualquer sentimento amoroso ou carnal a amizade tá sendo construída. Tem como ser melhor?!
    Ansiosa por mais

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    Respostas
    1. Não tem não *-*
      Eles vão ficando próximos à cada momento

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