Gypsy - Fagulha 23

Paralisado, Sasuke olhava para Sakura com os olhos esbugalhados. Queria falar algo, mas nada vinha a sua mente. Tudo o que processava era o fato de Konan estar grávida. O que iria fazer. Sakura permanecia olhando-o com os enormes bagres verdes, esperando por alguma resposta. Respirou fundo e desviou dela, caminhando pelo quarto.


Esfregou o rosto com força e depois deslizou-as pelos cabelos, puxando-os na nuca. Virou para a cigana e abriu a boca, mas acabou puxando uma grande lufada de ar. Aquilo era loucura. Pigarreou e ficou caminhando pelo quarto enquanto pensava, já Sakura, aflita, sentou na beirada da cama dele, esperando. O quarto de Sasuke era parecido com o de Itachi, exceto pela decoração. Ela se agarrou ao roupão com mais força e mordiscou o lábio, incerta. Será que Sasuke não iria ajudar?


- Olha, Sakura... - começou, incerto e parou, suspirando - Eu não tenho como ajudar.


- Não diga isso. - implorou, nervosa.


- Mas não há o que fazer. O filho é do Shisui, é ele quem tem que assumir essa responsabilidade.


- Eu sei. Caramba, eu sei! - suspirou e esfregou o rosto - Mas é que... ela está desesperada. Eu também estou!


- Eu acredito que sim. - murmurou e olhou para o teto. Longos segundos se passaram em silêncio e Sasuke olhou para Sakura. Ela torcia as mãos no colo, nervosa, enquanto o olhava. Com um muxoxo, o moreno caminhou até ela e sentou ao seu lado na cama, mas não ousou tocá-la. Em vez disso, apoiou os braços nas coxas e inclinou o corpo para frente - Me deixe pensar... Vou pensar em um jeito de resolver isso da melhor forma possível.


- Eu sabia que você nos ajudaria. - respondeu baixo, sorrindo.


- O problema é o Itachi... - resmungou.


- Imagino que sim, por isso vim lhe pedir ajuda. - mordiscou o lábio, nervosa.


- Você quer que ele me mate, não é? - franziu o cenho.


- Ele é seu irmão! - balançou a cabeça - Deve ouvi-lo!


- É do Itachi que estamos falando, Rom... - olhou Sakura de cima a baixo - Acho mais fácil você convencê-lo.


- Não sei se consigo sozinha... Sem falar que não estou totalmente convencida de que ele vá ter uma boa reação mesmo comigo.


- E se ele me matar? - arqueou as sobrancelhas.


- Possuo alguns venenos guardados. - deu de ombros - Posso ameaçá-lo. - alegou, sorrindo.


Sasuke olhou para ela e deu um pequeno sorriso. Sakura possuía um sorriso lindo e apesar de estar nervoso, era a primeira vez que a via daquele jeito. Sem maquiagem, sem os adornos ciganos, sem roupas extravagantes ou cabelos perigosamente soltos. Só então ele percebeu o quão afortunado era em tê-la ali, em seu quarto, da forma mais natural possível e por Allah, como ela era linda! Instintivamente, ergueu uma mão e retirou uma mecha do cabelo que estava em frente ao rosto da jovem, prendendo-o atrás da orelha.


- Você é linda. - sussurrou e deslizou o indicador pela linha do maxilar da cigana.


- Não sou a única aqui. - respondeu baixo, sentindo-se nua perante o olhar dele.


- É diferente. - subiu o olhar para ela e encarou as orbes verdes - Você é sensual, possui um mistério quase enlouquecedor... Além de ser impenetrável. - puxou o ar pela boca e tocou o lábio inferior dela com o polegar - É fácil compreender porque o Itachi fica perdido com você.


Percebendo a forma como o Uchiha a olhava e a tocava, Sakura desviou o olhar e esfregou as mãos no roupão, ficando de pé de forma rápida, pigarreando.


- B-bom... eu acho melhor ir. - deu um pequeno sorriso - Agradeço imensamente você nos ajudar. - deu de ombros - Fico lhe devendo esse favor.


- Eu costumo cobrar favores, Rom. - arqueou uma sobrancelha.


- Espero que seja justo na cobrança. - arqueou uma sobrancelha também - Não peça coisas irreais.


- Não pedirei. - deu uma piscadela.


Com um sorriso, Sakura respira fundo e se retira do quarto. Não sem antes espiar no corredor para vê se tinha alguém, mas ao constatar que estava vazio, correu para o quarto e fechou a porta às costas com um baque. Konan, que até então estava aflita, roendo as unhas, ofegou e ficou de pé com os olhos esbugalhados. Ela engoliu em seco e prendeu o ar quando viu Sakura ofegante.


- Para aonde você foi, sua louca?


- Consegui ajuda. - sorriu e se aproximou da outra, segurando em ambas as mãos - O Sasuke vai nos ajudar.


- Quem? - esbugalhou os olhos.


- Sasuke, o irmão mais novo. - agitou as mãos e caminhou até o guarda roupas, retirando de lá algumas peças - É uma história louca, mas pode confiar, ele vai nos ajudar.


- O Sasuke? - franziu o cenho - O irmão mais novo? O que pensa com a cabeça de baixo?


- Ah Konan! - revirou os olhos e jogou toda a roupa sobre a cama, suspirando - Ele é uma boa pessoa, acredite em mim!


- Vocês estão se envolvendo?


- Quê!? - esbugalhou os olhos - Não! Claro que não! 


- Hun... - Konan estreitou os olhos e então suspirou - Tudo bem, vou confiar em você.


- Pode confiar. - sorriu - Agora se me dá licença, preciso me arrumar. Acho que já está na hora de irmos para o jardim.


- Oh sim! - levou as mãos à boca - O chá, perdemos!


- Não há importância. - se aproximou da cama, analisando a roupa que iria vestir - Foi um caso de emergência. Agora precisamos esperar e ver o que o Sasuke vai fazer.


- É a única coisa que posso fazer... esperar. - suspirou e caminhou na direção da porta, mas parou com a mão na maçaneta, lançando um sorriso sincero para a cigana - Obrigada, Sakura. Eu não tenho palavras para lhe agradecer.


- Não se preocupe com isso. - sorriu e deu de ombros - Todos nós temos problemas.


- Um problemão. - murmurou e saiu do quarto, fechando a porta às costas.


- É. - sussurrou, sozinha.


Com um suspiro profundo, Sakura se arruma de forma lenta. A verdade é que por mais que tivesse sido otimista com Konan, estava nervosa. Não conseguia acreditar que Itachi faria algum mal a pobre coitada, mas a forma como todos falavam em relação a ele dava calafrios nela. Já Shisui, bem... ela acreditava que ele ficaria feliz, ou ao menos era assim que desejava que fosse. O moreno não lhe pareceu ser ruim, muito pelo contrário, dos três, Shisui foi aquele em quem ela logo confiou por lhe parecer ser uma ótima pessoa.


Ela só esperava que estivesse certa quanto a isso.


Quando terminou de se arrumar, deixou os cabelos soltos, rebeldes e fez uma maquiagem pesada nos olhos, deixando-os marcados. Por algum motivo, ela se sentiu disposta a estar bem maquiada naquele dia. Aproveitou a disposição e colocou uma presilha na lateral dos cabelos com uma enorme rosa como adorno. Mirou-se no espelho e sorriu com o reflexo. Naquela manhã em especial, sentia-se linda.


Saiu do quarto quase flutuando. Os pés descalços enfeitados com tornozeleiras flutuava pelo piso polido. A saia esvoaçava ao seu redor enquanto ela cantarolava uma música cigana.


Durante todo o caminho, as pessoas que trabalhavam no palácio a olhavam desconfiados. Nunca aquela cigana havia estado daquele jeito enquanto estivera ali, mas o que ninguém sabia, era que o que realmente motivava Sakura era o fato de ela saber que sua família seria liberta. Como não estar feliz?


Chegou no jardim pouco tempo depois e encontrou todas as meninas ali. Até mesmo Hinata que montava um lindo buquê para decorar o quarto delas estava conversando animada com Izumi. Sakura olhou ao redor procurando Konan e a viu sentada junto de Ino. Pela cara da loira, ela ainda não sabia de nada e comprovando isso, Konan balançou a cabeça de forma negativa.


Entendendo o recado, Sakura meneou a cabeça e decidiu se juntar a elas, mas não obteve muito sucesso porque quando deu dois passos, ouviu risos mais ao lado e ao olhar, viu Karin a olhando com deboche. Desconfiada, Sakura arqueou uma sobrancelha e preferiu ignorar, mas a ruiva não estava disposta a deixar a Haruno em paz.


- Cigana! - chamou com um tom de ironia.


Sakura respirou fundo e contou até três e só então se virou na direção da ruiva com um sorriso falso nos lábios.


- Muçulmana! - cumprimentou com a mesma ironia.


- Ah querida. - sorriu falsa - Não quer juntar-se a nós?


- Ah não, obrigada. - deu de ombros - Já tenho algo marcado com as meninas. - Aquilo era uma grande mentira, mas não tinha paciência para tratar com a ruiva.


- Hun... - olhou para Konan e Ino e depois olhou para Sakura novamente - É uma pena.


- Pois é. - começou a caminhar.


- Está tão radiante hoje. - Karin indagou alto fazendo Sakura parar de caminhar e girar nos calcanhares, olhando-a - Algo especial?


- Digamos que acordei feliz. - estreitou os olhos para a ruiva - Algo pessoal.


- Entendo... - fingiu desinteresse, mexendo nos cabelos ruivos - Você faltou ao café da manhã e ao chá também... Está tudo bem?


- Pois é. Estive ocupada hoje pela manhã. Mas estou bem sim. Na verdade, estou ótima. - estranhou a ação da ruiva.


- Imagino que sim. - Karin sorriu de forma fingida - O Senhor Uchiha costuma ser bem faminto para largar a carne tão rapidamente.


- Do que está falando, Karin? - Tenten questionou, olhando para a ruiva.


- Ué... o óbvio, não acha? - deu de ombros, mexendo nos cabelos. Sakura percebeu que ela estava fazendo um falso teatro de "tanto faz", mas que no fundo, estava tramando aquilo há muito tempo - Estou dizendo que a cigana não compareceu ao café nem ao chá hoje pela manhã porque esteve ocupada com o Senhor Uchiha.


- Do que está falando!? - Sakura franziu o cenho. Odiava suposições e Karin o estava fazendo naquele exato momento.


- De você e do Sasuke. - arqueou uma sobrancelha, vitoriosa - Não tente negar, cigana. Eu vi você saindo hoje pela manhã do quarto do Uchiha mais novo apenas com roupão. Na verdade, você se esgueirou para seu quarto, escondendo-se. - cruzou os braços - Vai dizer que estou mentindo?


- Não. - respondeu simples e ouviu Hinata ofegar ao seu lado enquanto levava as mãos à boca já as outras meninas, esbugalharam os olhos - Mas nós não...


- Ah, então não nega. - Karin sorriu de canto, passando a língua entre os lábios - Claro que não iria negar. Olha só para essa carinha de felicidade! - deu uma piscadela falsa - O Senhor Sasuke sabe como satisfazer uma mulher, não é?


- O que pensa que está fal... - Sakura não conseguiu concluir porque a voz que soou atrás de si a fez esbugalhar os olhos.


- O que fazia no quarto do meu irmão, Rom? - a voz grave a fez estremecer. Tudo o que não queria naquele momento era ter que encarar o Uchiha do meio, mas ao girar nos calcanhares, encontrou os olhos negros julgando-a. Sakura piscou perdida. Se falasse para ele a verdade, complicaria Konan, mas também não podia ficar calada ou ele iria tirar conclusões erradas. Balbuciando, Sakura pigarreou enquanto tentava pensar em algo. Itachi cruzou os braços enquanto os olhos negros ficavam afiados em raiva - Vamos, Sakura, estou esperando uma explicação.