Gypsy - Fagulha 21
As meninas conversavam distraídas enquanto Hinata pintava em uma tábua e Sakura fazia um trançado que futuramente viraria uma bolsa. Mesmo estando junto com as meninas, sua mente estava longe. Olhos negros emaranhavam diante de seus olhos e suas narinas ainda sentiam o cheiro dele. Sem falar no toque... por mais que o odiasse, não podia negar que a forma como ele a tocava era única. Enquanto os dedos femininos trançavam as cordas com uma familiaridade única, a cigana se permitiu fechar os olhos e respirar fundo.
Aquele ato não passou despercebido por Hinata que parou por longos segundos sua pintura enquanto observava a prima. Piscou tristemente e olhou para o lado vendo que os irmãos vinham caminhando pelo extenso corredor que passava pela lateral do jardim. A Hyuuga voltou os olhos para a prima e com um suspiro, começou a cantar uma música muito conhecida no meio cigano. A voz doce, de timbre contínuo e carregada de tristeza preencheu o ambiente e foi impossível para todos não a escutarem cantar. Até mesmo Sakura que de olhos fechados, ao ouvir a música, deu um pequeno sorriso de canto.
Por que logo aquela música tão triste?
Talvez eu tentarei, uma última vez
Te convencer de que aqui
é o seu lugar
Enquanto cantava, Hinata corria o olhar da prima para o moreno que ao lado dos irmãos, viu as meninas todas reunidas ali no jardim e sorriu. Para Itachi, vê-las todas bem era prazeroso.
Mas sem palavras e sem silêncio
Você alcançou um mundo diferente
E eu fico aqui
Sakura baixou o olhar para as cordas trançadas em suas mãos e ficou cantarolando em forma de sussurro, permitindo apenas que a voz delicada de Hinata se fizesse ouvir. Amava aquela música, era linda e triste ao mesmo tempo.
Eu soube o tempo inteiro que a sua alma
não poderia sobreviver
Se você ficasse aqui, sentada nesta cadeira
O barco que levantou vela
pelos sete mares
Nunca parará na costa
Distraída, ela subiu o olhar para a prima que cantava olhando para a tábua que pintava e Sakura sorriu um pouco mais. Adorava ouvir a prima cantar, lembrava dos momentos em que todos se reuniam em volta da fogueira. Com um suspirar profundo, correu os olhos pelas meninas e seus olhos pararam nos três morenos parados na saída do jardim. Eles estavam lado a lado, observando-as e ouvindo Hinata cantar, mas o olhar de Sakura se deteve em Itachi que a olhava de volta com intensidade.
Sem palavras e sem silêncio
Eu realmente acreditei em você
Fiquei com saudade, mas na verdade
O silêncio lentamente cobrou seu preço
Olho no olho, apenas com a música embalando aquele momento, foi como se nada mais ao redor existisse, apenas eles dois. Ela viu os olhos dele descerem para as mãos dela e depois voltar para os olhos dela com um pequeno sorriso nos lábios. Ah, aqueles lábios... Sakura ainda conseguia sentir a textura ressecada, mas quente deles raspando sobre os seus. Um calafrio percorreu seu corpo quando ela lembrou da respiração dele batendo contra seu rosto e da forma como ele a havia envolvido sem ela nem ter percebido.
Talvez eu nunca entenda
O sorriso que você abriu em meus lábios
Mesmo enquanto você se distancia de mim
Parece que nunca acaba
Sem perceber, Sakura parou de trançar as cordas e acabou adentando no olhar penetrante que ele lhe lançava. Imagens de quando estava dançando invadiram sua mente. A forma como os olhos negros flamejavam diante da imagem dela bailando sobre sua presença. A música do momento... Naquele momento, apenas naquele pequeno momento, nada pareceu estar errado. E ela não compreendia isso. Ainda agora, enquanto tinham essa troca de olhares tão forte e só deles, ela não conseguia compreender porque seu coração falhava uma batida à cada "tum". Não era correto. Era doentio!
Não há nada além do calor do Egito
Que pode acender o seu fogo
Que tem estado adormecido há um tempo
Rígido como uma fortaleza
macio como seus quadris
Saia, parta enquanto você ainda pode
Enquanto está quieto por aqui
Ainda assim, enquanto Hinata cantava as últimas estrofes daquela triste canção, Sakura se sentia em paz. Como se a letra da música dançasse por sua mente e permanecesse ali, anestesiando qualquer sentimento. E com Itachi não parecia estar acontecendo nada de diferente do que estava acontecendo com ela. Tudo, absolutamente tudo do que ela estava sentindo, ele também estava, com uma única condição: Para ele, aquela triste música era um retrato de sua lamentável realidade. Porque por mais que a desejasse, ela o repudiava com todas as forças.
Talvez eu tentarei, uma última vez
Te convencer de que aqui
é o seu lugar
Quando a música acabou, todos ficaram em silêncio. Sakura respirou profundamente e soltou o ar pela boca. Itachi fechou brevemente os olhos e sem falar nada, apenas deu as costas e saiu dali, deixando os irmãos para trás que não o questionaram. Eles haviam visto a troca de olhares. Engolindo em seco, Sakura baixou a cabeça e olhou para as cordas entre as mãos. O que faria de sua vida? Não era para estar se sentindo tão perdida daquele jeito. No mesmo instante, a voz do Uchiha mais novo invadiu sua mente como um sussurro quente.
"Mas se sua vontade é de perdoá-lo, então o perdoe. Ninguém poderá lhe julgar por qualquer escolha sua."
Não! Ela não podia perdoá-lo!
Com isso em mente, Sakura apenas continuo o que fazia, tentando levar a mente para qualquer lugar longe daquele palácio.
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O ar fresco do jardim batia contra o rosto da jovem que estava sentada debaixo de uma árvore. Sakura havia voltado para aquele lugar no inicio da noite. Não teve fome. A revelação dos búzios ainda a atormentava e ela decidiu ir para ali para pensar um pouco. Agora, mais tranquila, compreendia um pouco o que precisava fazer, e iria fazer... Mas ainda assim, era impossível não sentir-se triste diante da situação.
Perdida nos próprios pensamentos, ouviu passos pisando sobre algumas folhas secas e ao olhar para o lado, viu Itachi se aproximando sutilmente.
Quando percebeu ser notado, ele parou de caminhar e a olhou com um pouco de receio. Sakura respirou fundo e meneou com a cabeça, permitindo-o se aproximar e assim ele o fez. Parou próximo a ela e olhou para o céu, vendo o veludo negro repleto de pontos reluzentes. Era um lindo céu estrelado. Ficaram lado a lado por longos segundos apenas apreciando o silêncio do outro, até que o moreno respirou fundo e baixou o olhar para ela.
- Não foi jantar.
- Estou sem fome. - respondeu baixo.
- Sente-se bem? - preocupou-se.
- Sim... apenas... sem fome. - deu de ombros e ficou de pé, com um respirar profundo, Sakura pigarreou - Vou indo. Boa noite... - e então começou a caminhar.
- Espera! - a segurou pelo braço, fazendo-a parar. Em silêncio, Sakura olhou para a mão dele em seu braço e então subiu o olhar para o dele - Eu... eu queria conversar com você.
- Não sei se quero ouvir. - vacilou. Não estava pronta para tocar em qualquer assunto.
- Rom... - franziu o cenho e passou a língua entre os lábios - Não fuja de mim, por favor...
- Não estou fugindo. - franziu o cenho também, tentando parecer confusa, mas a verdade é que estava fugindo sim.
- Então fique! - deu um pequeno sorriso - Apenas quero... conversar... lhe conhecer melhor.
- Não há o que conhecer. - girou o corpo totalmente para ele, erguendo levemente o queixo - Sou o que vê.
- Não. - balançou a cabeça e sorriu ainda mais - O que vejo não é nem metade do que você realmente é. - deu um passo na direção dela e baixou a cabeça para poder olha-la nos olhos - Você é como um quarto neblinado, denso, misterioso... e eu sei que há muito para ser descoberto, mas você não me permite fazê-lo.
- E o que quer tanto descobrir? - perguntou baixo, a aproximação dele a deixava vacilante. O fato é que o local estava em silêncio, o ar era agradável e o cheiro dele chegava a suas narinas com tanta facilidade. Sem falar na presença dele que a deixava reclusa. Itachi emanava uma áurea forte, intimista, mesmo sem ele querer... mas aquilo não a assustava. Essa sensação a fazia sentir... protegida, mesmo que intimidada.
- Tudo. - deu mais um passo, ficando à centímetros dela - Absolutamente tudo, Rom. - ele puxou o ar pela boca, respirando profundamente - Quero compreender você porque minha existência depende absolutamente disso. De você.
Sakura esbugalhou levemente os olhos, sentindo o "tum" do coração vacilar. Suas mãos suaram e sua respiração se tornou errática. Os olhos negros pesavam sobre si enquanto perscrutavam seu rosto. A cigana sabia que ele a tentava ler, mas naquele momento, ela não conseguia se esconder. Estava desarmada e tinha medo do que ele podia encontrar ou deduzir.
E isso fez com que ela desviasse o olhar e baixasse a cabeça de forma triste. Não queria que ele a lê-se. Não mesmo. Itachi entendeu essa ação dela de forma errada e lamentando, ergueu uma mão, tocando suavemente no rosto dela, erguendo o rosto feminino com delicadeza, até que ela voltasse os olhos para os seus.
- Eu não quero vê-la triste, Sakura. - apontou baixo e com o polegar, acariciou a cútis rosada com ternura - Não quero que tenha medo ou receio de mim. Já lhe disse que não irei machucá-la, nem ninguém a fará algum mal. - respirou fundo, sentindo-se abatido - Tudo o que quero é vê-la feliz.
Em silêncio, ela refletia sobre aquelas palavras. De fato, desde que havia chegado naquele lugar, Itachi mantivera sua promessa. Ela tinha total liberdade dentro daquelas paredes. Ainda assim, não se sentia totalmente bem. Ele a aprisionava. Itachi, por mais bondoso que parecesse consigo, ainda a mantinha como refém.
- Fala isso, mas não é capaz de cumprir seu próprio desejo. - empinou o queixo, não iria deixar as emoções tomarem conta de si - Diz que quer minha felicidade, mas não entende que só não sou feliz por sua causa.
Seria melhor ter levado um tiro.
"Não sou feliz por sua causa."
Aquelas palavras feriram Itachi de um jeito que ela não tinha a menor noção. A força das palavras foi tanta que ele parou o carinho no rosto dela enquanto seu interior desmoronava. Claro que sabia que ela não gostava de si. Claro que sabia que Sakura desejava a liberdade, mas até aquele momento, acreditava que ela poderia gostar de si ao conhecê-lo melhor, mas pelo visto, ela só o odiava cada vez mais.
A realidade é algo que dói quando não é da forma que desejamos e isso Itachi estava sentindo naquele momento. Nunca, em toda a sua vida, havia estado apaixonado e agora que conhecia tal sentimento, era justamente pela única mulher que o odiava. Seria mais fácil se fosse qualquer uma das outras meninas, não estaria sofrendo tanto, mas não podia negar, estava sendo egoísta em mantê-la ali contra a sua vontade.
Por isso, deu um pequeno, quase imperceptível e triste sorriso, voltando o carinho no rosto dela. Engoliu o bolo que se formou em sua garganta e com a voz falhando, respirou fundo para poder fazer o que era correto.
- Então peça. - informou baixo, ainda acariciando o rosto dela.
- Qualquer coisa? - os olhos verdes brilharam afoitos, surpresos.
- Qualquer coisa, Rom. - sua voz saiu pesada. Itachi sabia o que ela iria pedir e daquela vez, ele não negaria. Seu peito doía e respirar era difícil, não estava preparado para ouvi-la pedir para ir embora, mas ele a permitiria partir. A faria feliz, mesmo que isso custasse sua própria felicidade - Disse que quero vê-la feliz.
Sakura abriu um sorriso lindo. O sorriso mais lindo que ele havia visto e aquilo doeu em sua alma. Desde que a conheceu, desejava receber um sorriso dela e agora recebia, mas não pelo motivo que ele desejava, mas sim por saber que ela sabia que teria sua liberdade concedida.
Viu quando Sakura respirou profundamente e então desviou brevemente o olhar. No mesmo instante o sorriso dela morreu. A cigana ficou séria e seus olhos baixaram em descontentamento. O que havia de errado afinal? Ele deixava claro que se ela pedisse a libertaria, mas ainda assim, agora, ela não parecia de fato feliz como a segundos atrás. Os olhos verdes voltaram para si e Itachi viu ela lançar um pequeno sorriso para ele. Aquele sorriso era para ELE. Não pela liberdade que ela teria, mas um sorriso de agradecimento.
E ele não compreendeu.
- Eu... agradeço. Talvez não devesse, mas agradeço a proposta. - respondeu baixo, sentindo a mão dele em seu rosto vacilar - Mas... eu quero pedir algo que pode dar um pouco de trabalho.
- Como assim? - franziu o cenho. Não estava entendendo mais nada. Liberta-la seria dolorido, não trabalhoso.
- Eu quero que liberte minha família. - piscou esperançosa - Toda ela.
Itachi ficou um tempo em silêncio, olhando-a com o cenho franzido. Após alguns segundos - longos segundos - ele suspirou e retirou a mão do rosto dela para coçar a barba que aquela altura, já estava bem desenvolvida.
- Deixe-me vê se entendi. Você quer que eu liberte toda a sua família?
- Sim.
- Todos sem exceção?
- Sim.
- Sabe que será complicado, não é? Afinal, alguns já estão com outras pessoas.
- Sim, eu sei, por isso falei que seria trabalhoso.
- Compreendo. - murmurou e passou a língua entre os lábios. Com um suspiro profundo, a olhou desconfiado e pigarreou - Eu... estou surpreso.
- Imagino que sim. - mordiscou o lábio inferior e aquilo chamou a atenção do moreno para aquele pedaço de carne por breves segundos - Acho que você esperava que eu pedisse para me libertar, não é?
- Não é isso que você sempre me pede? - questionou baixo.
- Sim, mas não dessa vez. - suspirou.
- O que mudou? - quis saber, afinal, dava a ela a oportunidade de ir embora e ela rejeitava. Nem mesmo após falar sobre a família ela se colocou no meio. Era como se ela estivesse afirmando que permaneceria ali e isso ascendeu uma chama dentro do coração do moreno.
- Bom... - respirou profundamente enquanto dava as costas e caminhava pelo local. Sakura passou por entre algumas flores e tentou buscar forças para falar, esperava que ele não perguntasse muito - Apenas não é o momento para partir.
- Eu não compreendo. - murmurou e coçou a nuca, confuso. Ele a seguiu pelo jardim, mantendo distância enquanto a observava. Estava feliz, mas imensamente confuso. - Está me dizendo que vai ficar?
- Sim... - suspirou e deu de ombros sentindo-se triste, mas precisava confiar no que viu - Por algum motivo eu tenho que permanecer aqui. Ao menos foi isso que eles falaram.
- Eles? - franziu o cenho. Parou de caminhar quando viu ela parar e virar para sí. Os olhos verdes estavam escuros e profundos.
- Sim, os búzios. - Sakura caminhou na direção dele a parou próximo, erguendo o queixo para poder olhá-lo nos olhos - Por algum motivo, estar aqui, é o certo a se fazer. - ela desviou o olhar e buscou forças com um respirar profundo e então voltou os olhos para ele novamente - E não me pergunte mais sobre isso, porque nem eu mesma sei. Apenas vi o que vi, e o que vi diz que eu devo permanecer.
- Compreendo... - sussurrou e passou a língua entre os lábios. Estava feliz, era um fato, mas ainda mais confuso - E... você aceita isso assim, mesmo que vá contra sua maior vontade?
- Minha maior vontade é ser feliz, Gadjô, e se para ser feliz eu precise ficar aqui, então ficarei.
- Tudo bem, então... - suspira e coça a barba novamente. Sakura percebeu que aquela era uma ação que ele sempre fazia quando estava pensando ou confuso - Então... tentarei reunir toda a sua família e os libertarei. Pode ser que demore, mas prometo tentar.
- Obrigada. - sorri.
E dessa vez, ela sorriu para ele. E então Itachi compreendeu: Era necessário abrir mão dela, para poder ter alguma chance de tê-la. Esse pensamento o fez ficar confiante de que as coisas poderiam sim, tomar um rumo melhor. Esperançoso, ele devolveu o sorriso enquanto olhava ao redor tentando controlar a imensa vontade de sorrir igual um idiota.
Ela iria ficar.
- Há algo mais que deseje pedir? - voltou os olhos para ela.
- Tenho algo à perguntar. - mordiscou o lábio inferior novamente e isso atraiu os olhos de Itachi para os lábios. Sakura percebeu o olhar dele e pigarreou para tentar ajustar os sentidos.
- Pergunte. - informou baixo, subindo o olhar para os olhos dela.
- Continuarei sendo sua prisioneira? - estava temorosa.
- Não. - suspirou e balançou a cabeça - Você tem total direito de ir e vir.
- E se eu não voltar?
- Rezarei todos os dias a Allah para que isso não aconteça.
MÚSICA CANTADA https://www.youtube.com/watch?v=1vX8cs1LpUM
Wou... muitos sentimentos nesse capítulo! Então os búzios disseram para a Sakura permanecer ali... talvez ela devesse seguir o conselho do Sasuke e perdoar o Itachi de uma vez...
ResponderExcluirContinuaaaaaa
Bela