Reencontros - Capítulo 15

Silêncio...


A única coisa que acusava haver vida ali era a respiração de ambos. O mais novo olhava para o mais velho, paralisado. "O Itachi não é meu filho". Como assim? Como assim!? Como o Itachi não era filho do Fugaku? Isso era loucura. Total loucura. 


Ainda olhando nos olhos do pai, o mais novo começou a rir. Algo contido, mas que pouco a pouco foi perdendo o controle e se tornando uma gargalhada. O som da gargalhada do Sasuke ecoou pelo local pequeno e adentrou os ouvidos do mais velho que fechou os olhos. Pronto, seu único filho havia enlouquecido. Literalmente.


Esperou pacientemente pela perda total de controle do filho, mas tudo o que ele fazia era rir muito, muito alto e descontrolado. Depois de um bom tempo, o Uchiha mais novo colocou uma mão na barriga enquanto a outra apoiava sobre o tampo de ferro, respirando profundamente enquanto tentava se controlar.


- Boa... muito boa, pai. - respirou fundo olhando para o pai - Desconhecia esse seu talento para comediante.


- Hun... - respirou fundo, encostando as costas na cadeira, sério - Estou com cara de quem fez uma piada, Sasuke?


- Aaaah, Fugaku... por favor, né. - balançou a cabeça, sorrindo - Itachi? Bastardo? - começou a sorrir novamente, dessa vez mais controlado - Faça-me o favor.


O mais velho não respondeu, apenas ficou olhando sério para o filho enquanto o mesmo divagava entre ficar sério e sorrir. Alguns minutos se passaram até que o Uchiha mais novo estreitou os olhos para o pai e balançou a cabeça. Itachi bastardo? Claro que não... Seu pai estava mentindo... só podia estar. Não havia a menor lógica, afinal, eles se pareciam muito. Itachi era a cara do Fugaku. Como podia não ser filho dele?


- Isso é mentira! - deu um sorriso nervoso - Eu e o Itachi somos a cópia um do outro! - passou as mãos nos cabelos - Uma mentira... Somos idênticos...


- Madara. - cortou o filho. Sasuke paralisou. Estava tão estasiado que não conseguia nem respirar.


- Como? - inclinou o corpo na direção do pai.


- O Madara... ele é o pai do Itachi. - respondeu sério e o filho começou a gargalhar.



- Nunca! - gargalhou mais ainda - Minha mãe nunca deitaria com ele!


Fugaku preferiu manter-se sério, inabalável. Havia dito a verdade agora custava ao seu filho acreditar ou não. Observava seu herdeiro entrar e sair do lapso de incredulidade em que estava. Sabia que não era fácil absorver uma informação dessa, muito menos na situação em que estavam. Seria paciente, iria aguardar ele cair na real para poder continuar falando. Enquanto isso, Sasuke caminhava de um lado para o outro dentro da sala, variando entre risos nervosos e seriedade.


O choque ainda o afetava e ele custava em acreditar.


Minutos se passaram até que finalmente ele paralisou e olhou para o pai que permanecia sério, estudando-o. Com o cenho franzido, uma mão na cintura, a outra nos cabelos, ele caminhou até o pai e sentou na cadeira à sua frente, olhando-o profundamente. Estava esperando o pai assumir que havia brincado, mas ali estava o mais velho, sério, imponente, mostrando toda sua elegância mesmo estando preso.


- Não é brincadeira, não é? - balbuciou.


- Não, Sasuke. - respirou fundo - Sinto em lhe dizer que não.


- Meu... Deus... - sussurrou enquanto olhava para o "nada" e piscava perdido.


Madara...


Seu tio era o pai de seu irmão...


Seu irmão era filho do seu tio...


Então sua mãe...


E seu tio...


Desesperado, ele levou as mãos aos cabelos e os bagunçou inconscientemente. Sua cabeça embaralhava e desembaralhava numa fração de segundos que o deixava tonto. Ele ofegou quando o peito apertou e a cabeça latejou. Precisava manter o controle, por isso, fechou os olhos por alguns segundos e respirou fundo enquanto tentava manter a estabilidade física e mental. Olhou para o pai de forma lenta.


- Como...?


- Sasuke, antes de começar a lhe contar, quero que saiba que tudo o que vou lhe falar é a verdade, que não quero difamar, prejudicar ou alterar a imagem de qualquer pessoa, mas você precisa saber da verdade. - encarou o filho em silêncio e inclinou o corpo para a frente, passou a língua entre os lábios e respirou fundo. Seu filho precisava ser forte e entender o que aquela informação significava - Não importa como as coisas chegaram onde chegaram, mas sua mãe amava seu tio...


- Não... - balançou a cabeça.


- Escute, Sasuke! - estreitou os olhos, censurando o filho - Seu tio estava a alguns anos casado, mas era apenas por questões políticas... Não podia ficar com sua mãe... Eles mantinham um caso escondido, até que a Mikoto engravidou do Itachi. - inclinou ainda mais o corpo - Tanto ela como o Madara ficaram loucos, afinal, seus avós eram muito amigos e descobririam que o Itachi era um Uchiha de cara. Na época eu estava me saindo muito bem nos negócios, mantinha destaque dentro da família e sempre amei meu irmão, assim como você ama o Itachi e faria qualquer coisa por ele... E foi o que eu fiz.


- Você... você casou com minha mãe... - sussurrou sem conseguir completar.


- Sim. - desviou o olhar do filho e olhou para algum lugar na sala. Sua mente viajava para a época... aquela época em que as coisas começaram a mudar - Assumi o Itachi como meu filho para o Madara continuar casado, mas o caso dele com sua mãe teve que terminar ai. O laço entre as famílias se fortaleceram. Os anos foram passando e então planejamos você. - olha para o filho como se ele fosse algo precioso. Fugaku venerava o mais novo. Amava o Sasuke mais do que a si mesmo e depositava nele tudo aquilo que um dia desejou ser - Sua mãe engravidou e foi naquele momento em que me apaixonei por ela... Quando ela me deu você... As coisas estavam indo bem até que a mulher que eu amava veio me procurar. - dá um sorriso nasalado e balança a cabeça - Eu não conseguia acreditar na sorte que estava tendo. Ela finalmente estava me dando uma chance de ser feliz com ela. De tê-la comigo para sempre. - baixou a cabeça e deu um sorriso de canto - Passamos a noite juntos...


- Desgraçado. - sussurrou. Seu pai havia traído sua mãe.


- ... mas não passou disso. - completou e olhou para o filho - Você já tinha um ano e meio, ela te aceitaria, mas a mulher não queria aceitar o Itachi na vida dela... Aceitaria um filho meu, mas nunca um bastardo como o Itachi... E foi ai que a coisa desandou. - respira fundo - Ela desapareceu da minha vida... Me odiando... Não queria me ver, falar comigo... Passei dias tentando falar com ela. Até que descobri que a mulher estava grávida.


- Puta que pariu. - sussurrou estagnado.


Olhava para o pai sem conseguir compreender. Nunca imaginou que a história por trás de sua família fosse tão complexa e desestabilizada. Não conseguia aceitar aquela história, mas sabia que o pai não estava mentindo... Agora tudo fazia sentindo... O fato de sua mãe ficar desconcertada perto do Madara... As conversas pelos cantos entre os dois... O ódio mortal da mulher de seu tio por sua mãe... Tudo fazia sentido... Total sentindo... E ainda tinha essa tal mulher... A que seu pai amava...


- Então... - passou as mãos nos cabelos piscando rápido, sua cabeça trabalhava a todo vapor tentando encaixar as peças do quebra cabeça. Seu pai havia dormido com a mulher quando ele tinha um ano e meio aproximadamente, e depois descobriu que ela estava grávida - Então... Eu tenho uma irmã?


- Eu não sei. - pigarreou e se ajeitou na cadeira. Aquela era a parte delicada da história. Sabia que estava indo por um caminho sem volta... Daquele momento em diante não haveria mais paz para o filho. Sabia disso - Ela não me permitiu fazer o DNA, Sasuke.


- Porra! - levantou passando as mãos na cabeça - Porra! Porra! - caminhava pela sala de forma desorientada. Estava atordoado... ou pior... estava entrando em um lapso nervoso - Você não tentou...


- Claro que tentei, mas ela colocou uma guarda em seu encalço... E o marido dela...


- Marido!? - parou olhando para o pai.


- Sim... Quando veio me procurar, ela estava noiva e quando eu descobri que ela estava grávida, a mesma havia casado.


- Isso é loucura! - apoiou as mãos na parede, de costas para o pai e fechou os olhos. Seu peito doía muito. Sua cabeça latejava, seus olhos embaçavam... Essa maldita dor no peito que o incomodava constantemente. Passou segundos daquele jeito até que por fim, virou para o pai, encarando-o. Fugaku parecia dez anos mais velho, aquela revelação havia mexido com ele também - Quem... Quem é essa mulher, Fugaku? - pigarreou - Quem é a mãe da minha possível irmã?


Xeque-mate.


Tinha plena ciência que ao abrir a boca, seu filho desabaria ali mesmo. O mais velho respirou profundamente e fechou os olhos. Não queria encarar o filho naquele momento. Não queria ver a dor que iria nascer nos olhos do seu herdeiro.


- Mebuki... Haruno.