Reencontros - Capítulo 16

Ouviu um muxoxo e deu um sorriso de canto. Respirou profundamente sentindo a brisa bater contra o corpo deitado. O cheiro da maresia adentrava suas narinas causando uma paz gostosa... mas não era só isso... Mesmo tendo uma pequena discussão, ele sabia que estava em paz, afinal, ELA estava ali... Mesmo que chamando-o de idiota a cada dois minutos... Mas ele amava isso nela... o fato de ela não se deixar levar pelos gosto dele e defender suas ideias.


- Você é muito chata, Bear. - resmungou, olhando pro céu estrelado.


- Sou nada. Você que é muito idiota! - revidou e sentou. Ele olhou para o lado vendo-a sentada de costas para ele, enquanto os cabelos balançavam com o vento que vinha da praia.


- Vai fazer birra? - franziu o cenho.


- Não faço birra, Uchiha. - cruzou os braços e o olhou por cima do ombro - Eu guardo rancor. Já te falei isso.


- Cuidado com o coração. - cutucou as costas dela, dando um sorriso contido - Rancor pode afetar muito ele.


- Não se preocupe. Procurarei um ótimo médico! - virou o rosto.


- Hun... - respirou profundamente e sentou. Aproveitou que ela estava de costas e rodeou a cintura feminina, puxando-a para ai.


- Me solta, Uchiha! - se debateu, mas não colocava força. Apenas fazia charminho.


- Não. - imobilizou ela com uma mão e com a outra, virou o rosto dela para si e aproximou o rosto do da Haruno, ficando com a boca colada na dela - Eu vou ser seu cardiologista.


- Você não é médico. - arqueou as sobrancelhas.


- Se esse é seu fetiche, posso ser médico... gari, professor, advogado, pistoleiro... Ou ser o que você quiser. - mordeu o lábio inferior dela e o puxou.


- E se... Eu tiver fetiche com mulher... Você vira gay? - desdenhou, mas estava arrepiada por conta da mordida dele.


- Não abuse da minha boa vontade, Bear.


Ela deu um sorriso nasalado e rodeou os ombros dele, tomando os lábios masculinos em um beijo tranquilo. Como era bom estar com ela. Todo o tempo parecia estar em paz quando o cheiro dela alcançava suas narinas e seu coração acelerava e relaxava em frações de milésimos, como se ali fosse o lugar certo para se estar. E era...


- Não sei se devo ficar. - ouviu um sussurro abafado, mas espera... aquilo não fazia parte da lembrança daquela noite estrelada no píer.


-Claro que sim! - outro sussurro - Seu primeiro paciente. Não pode rejeitar.


- Mas... Ele!? - ouviu um suspiro - Meu... Deus... Ele está muito pálido!


- E você vai atendê-lo. - um resmungo e então uma porta abrindo - Agora!


- Shiiiiiooonnn! - um sussurro desesperado e então uma porta fechando.


O que estava acontecendo? Estava sonhando? Ainda estava no píer ou estava louco? Quem estava sussurrando? O que estava acontecendo? E por que ele sentia falta de ar? Seu peito estava pesado, suas mãos dormentes. O que havia acontecido? Estava com frio, mas onde estava? A última coisa que lembrava era... Deus... Seu pai contando sobre Mebuki Haruno.


- Sasuke? - ouviu um sussurro baixo e então uma mão lhe tocando suavemente no ombro - Sasuke, consegue me ouvir?


Tentou falar, mas tudo o que ouviu foi um breve resmungo e então a mão saiu de seu ombro. Ouviu algo tilintar e então um ofego. Forçou um pouco mais os olhos e finalmente conseguiu abri-los... A luz clara incomodava sua retina e ele piscou várias vezes tentando fazer a visão entrar em foco, já que estava tudo embaçado. A primeira coisa que viu foi uma parede extremamente branca e presa a ela, uma espécie de balcão-mesa onde havia um jarro com flores amarelas. Que flores eram aquelas? 


Fechou os olhos apertando-os e os abriu novamente. Olhou para o lado esquerdo e viu uma janela fechada com persianas, próximo a janela, um frigobar. Ao lado do frigobar uma poltrona bege e um pequeno armário. Piscou novamente e sentiu uma falta de ar. Fez careta enquanto o peito palpitava novamente. Que merda era aquilo!?


Olhou para o lado direito e seu coração palpitou novamente, dessa vez mais forte, mais intenso, mais prolongado. Os olhos verdes estavam levemente esbugalhados, a íris dela estava dilatada. Ela abraçava uma prancheta enquanto olhava meio assustada, meio preocupada. Não sabia bem distinguir. Passeou o olhar por ela fazendo uma análise rápida: Jaleco, calça branca, camiseta rosa bebê, sapatos baixos e cabelos presos em um rabo de cavalo... Ela nunca aprende que deve usar os cabelos soltos.


Os dedos do Uchiha formigaram. Ele queria soltar os cabelos dela, mas não podia... nem conseguia. Estava cansado demais para isso.


A Haruno respirou profundamente e engoliu seco, se aproximando dele. Ela pigarreou e olhou rapidamente para a prancheta.


- Como se sente? - olhou para ele.


- O que... - pigarreou. Sua garganta estava seca e ele estava com falta de ar, por conta disso, a voz era baixa e extremamente rouca - Houve?


- Hun... - olhou para a prancheta novamente e depois para ele - Aqui diz que você estava no presídio quando teve uma espécie de mal súbito... - olha para a prancheta e respira fundo - É um milagre estar vivo... - mordiscou o lábio inferior - Como se sente?


- Cansado... - sussurrou e fechou os olhos brevemente, depois abriu os olhos e ficou olhando para o teto - Mas bem... eu acho...


- Certo... - sussurrou.


Viu ela analisando seus dados na ficha. A Haruno anotava alguma coisa e ele preferiu olhar para o teto. Achava tudo aquilo desnecessário. Havia apenas tido um surto nervoso por conta da notícia do pai... falando em seu pai... baixou os olhos para ela e a analisou novamente, queria vê se encontrava nela alguma semelhança consigo, mas não encontrava nada. A única coisa que enxergava era o quão linda ela ficava com aquele jaleco... Ela ficava bem demais com aquilo. Ouviu batidas na porta e logo a mesma é aberta. Por ela passa um homem alto, meio pálido com cabelos espetados, um sorriso de canto e as mãos nos bolsos do jaleco. Ele olha para o Uchiha e depois para a Haruno.


- Bom dia! - cumprimenta animado.


- Bom dia, Doutor. - ela estende a prancheta para ele e o homem pega e analisa o que havia ali. - Senhor Uchiha, esse é o Doutor Hoshigaki.

- Bom dia. - o Uchiha resmunga desgostoso. Achava realmente desnecessário tudo aquilo. Precisava conversar com ela, mas queria primeiro tirar a dúvida sobre ela ser ou não sua irmã.


- O que temos aqui?


- Sasuke Uchiha, 22 anos, apresenta problemas cardíacos. Dores no peito, falta de ar, tremores e perda de consciência.


- Hun... - coloca a prancheta de lado e olha para o moreno - Estresse? - pega o estetoscópio.


- Um pouco. - resmunga olhando rápido para a Haruno.


- Tão jovem... - apoia o aparelho no peito do Uchiha que ainda olhava para a Haruno - Está um pouco acelerado... - olha para o moreno e ao constar que ele olhava para a jovem, o médico olha para ela e arqueia as sobrancelhas - É... faz sentindo... A Doutora Haruno realmente costuma causar esses efeitos nos homens.


- Como? - Sasuke olha rápido para o médico e a Haruno escancara a boca.


- A Haruno... - guarda o estetoscópio no bolso do jaleco e cruza os braços de um jeito charmoso - Só fazem dois dias que ela está aqui, mas todas as vezes que a vejo, meu coração também acelera. - olha para Sakura e dá uma piscadela, fazendo a jovem esbugalhar os olhos - É apaixonante.


- Ah... - ela pisca, atordoada.


- Você não deveria estar focado em mim? - resmungou. Que médico mais ousado!


- E estou. - arqueou as sobrancelhas e pegou a prancheta novamente e começou a escrever algo. Passou folhas e voltou a escrever - Vou pedir alguns exames e quando os resultados chegarem, quero que você os traga para mim, tudo bem? Precisamos saber onde o estresse está, de fato, afetando.


- Não foi nada demais... Apenas uma carga excessiva. - respira profundamente e sente uma dor leve, o que o faz fazer uma careta.


- Não deveria ser tão teimoso. - ela ralhou.


A Haruno coloca as mãos dentro do bolso do jaleco e ele fica maravilhado. Ela já tinha todo um porte para médica... e caramba... Como ficava linda... Como um balde de gelo, ele lembrou da fala do pai e fechou os olhos com raiva. Controle-se, Sasuke! Você já fez merda demais com sua suposta irmã... mas como resistir? Não conseguia. Não conseguia controlar seus pensamentos nem seu coração.. O simples fato de estarem em um local fechado com o perfume dela alcançando seu olfato o deixava dormente. O fazia lembrar do píer... do sonho que tivera.


- Não sou. - murmurou e olhou para o médico. Precisava tirar a atenção dela - Vou fazer esses exames apenas para comprovar que está tudo bem.



- Vou ficar aguar...


- SASUKE! - um furacão invadiu a sala. Naruto derrapou no piso polido e apoiou as mãos nos pés da cama, olhando rapidamente para o amigo com os olhos esbugalhados. Uma análise rápida e ele olhou para a Haruno. Seus olhos azuis esbugalharam mais ainda - Sakura!?


- Naruto... - meneou a cabeça com um breve sorriso.


- Por favor, não me diz que você bateu nele dessa vez. - soltou um gemido baixo.


- Idiota! - Sasuke resmungou fechando os olhos.


- Não, Naruto. - ela revirou os olhos - Seu amigo se sentiu mal e veio para cá.


- Ele está morrendo, não está? - olhou para o médico - Eu disse para esse idiota cuidar desse coração dele, mas ele não me ouve, Doutor! - bateu com a mão em forma de punho, na cama - Esse idiota nunca me escuta! Toma! Agora vai morrer! Otário, burro do caralho! - balança a cabeça desesperado.


- Naruto! - o Uchiha adverte.


- Não, meu jovem. - sorri - Seu amigo apenas se sentiu mal, conforme a Doutora Haruno explicou... Mas precisa se cuidar e fazer exames, caso contrário, morrerá rápido.


- Doutora? - olha para Sakura e a analisa de cima a baixo - Caramba... - abre um sorriso enorme e caminha rápido na direção dela, puxando-a para seus braços, dando nela, um abraço de urso - Como você está linda, Sakura!


- Obrigada, Naruto. - sorri, abrançando-o rapidamente e dá dois passos para trás - Mas parece não ser a primeira vez que sente isso.


- Não! - o loiro olha pro médico - Pode ser grave?


- Sim. Por isso preciso dos exames. - olha pro Uchiha - Para ontem!


- Hun... - revira os olhos.


- Tudo bem. - pegou as guias médicas e estendeu para o Uchiha que pegou - Tente não morrer até lá.


- Não vou. - resmungou.


- Bom... - virou para a Haruno e arqueou as sobrancelhas - Vai almoçar que horas?


- Ah... - olhou rápido para o Uchiha e para o Uzumaki que olhavam para ela esperando a resposta. Ela olhou para o médico e pigarreou, erguendo o queixo - Ainda não sei, Doutor. Tenho muitos pacientes...


- Acabo de lhe liberar deles. Repasse os da manhã para a Shion. - caminhou até a porta e passando por ela, proferiu - Almoço às 12:00.


E se foi.


Ela ficou paralisada no meio do quarto morrendo de vergonha. Havia recebido muitas cantadas do médico durante esses dias iniciais, mas ignorava todos ou simplesmente dava uma resposta curta, mas era totalmente diferente de ter Naruto e Sasuke como platéia... O médico nunca havia ido tão longe, ao ponto de soltar gracinhas na frente de pacientes, mas havia mudado de postura exatamente na frente deles.


- Ele te convidou para almoçar? - Naruto foi o primeiro a falar.


- Ignore. - balançou a cabeça e respirou fundo, depois passou as mãos nos cabelos e caminhou até a porta - As vezes o Doutor parece que bateu com a cabeça.


- Batida do caralho... - o Uchiha resmunga baixo, mas é ouvido.


- Enfim... meu papel aqui está feito. - olha pro moreno e meneia a cabeça - Cuidado pra não morrer.


- Hun... - murmurou vendo-a acenar para Naruto e ir embora, fechando a porta as costas.


- Sasuke... - murmurou olhando para o amigo - O que houve?


- A pior coisa que poderia ter acontecido. - respirou profundamente e afundou a cabeça no travesseiro, olhando para o teto.


- Ela receber uma cantada desgraçada do médico-instrutor na sua frente?... e olha... o cara é mó presença. Devo admitir. - sentou na beirada da cama.


- Não seu idiota. - fechou os olhos e respirou fundo. Precisava compartilhar aquilo com alguém ou iria enlouquecer, e independente de qualquer coisa, Naruto era seu melhor amigo. Mesmo sendo um irresponsável do caralho, havia sido nele e no Gaara que ele vinha se apoiando até agora, desde o momento em que havia abandonado-a no baile.


- Cara, você tá com cara de cú... - estreitou os olhos pro amigo - O que houve, Sasuke?


- A Sakura... - respirou lento sentindo o peito apertar. Olhou pro amigo e sussurrou - Acho que ela é minha irmã.