Jarros de Almas - Capítulo 8

Dizer que o resto do dia passou tranquilo é o mesmo que dizer que no oceano não há ondas. Todo o meu corpo formigada cada vez que eu lembrava do discreto convite do moreno para a rave de hoje à noite. Enquanto penteio meus cabelos, admiro meu reflexo no espelho e fico muito contente com o que vejo. Meus cabelos estavam soltos, comportados, minha maquiagem era pesada: olhos bem marcados com rimel e deneliador e um batom preto. Meu vestido era preto, longo, com renda e transparência, mas não era armado, levemente decotado com renda no busto, um colar com pedrarias também negras. Um scarpin meia pata preto. Era uma roupa gótica. Deixo a escova de cabelo em cima da penteadeira e vou até a cama onde pego meu par de luvas pretas, o xale preto e um terço que tinha no lugar da cruz, um coração.

Com um suspiro, saio do quarto e quando chego na sala meus padrinhos estavam lá. Os olhos deles caem sobre mim e na mesma hora minha madrinha franzi o cenho para meu look. Meu padrinho inclina a cabeça para o lado e solta um suspiro pesado.

- Por que tanta produção? – Ele passa uma mão nos cabelos.

- Vou para a Rave que vai ter o centro. – Coloco o xale em minha cabeça.

- E por que esse mistério todo? – minha madrinha franzi o cenho ainda mais.

- Apenas fantasia. – dou de ombros.

- Tome cuidado, Saky. – meu padrinho se aproxima e beija minha testa.

- Tomarei Nonó.

Após me despedir dos meus padrinhos, sai de casa e a rua estava vazia, o que era estranho para aquela hora e dia em Mykonos. Ajeitei o xale puxando-o para frente dos olhos, deixando apenas meu nariz e boca à mostra. Apertei os passos pelas ruelas da ilha seguindo em direção ao centro. Alí o movimento era um pouco maior. Olhei para cima e ví que nuvens escuras começavam a se formar, sinal de que iria chover em breve. Apressei os passos e quando cheguei perto do centro, ví várias pessoas fantasiadas. As fantasias eram as mais diversas, desce anjos à demônios.

Seguro na barra de meu vestido para poder subir alguns degraus e finalmente estou no local da rave. Era uma espécie de clube a céu aberto, onde tinha piscina, a ornamentação era toda em pedra, com uma pequena cachoeira artificial que desaguava na piscina, várias luzes coloridas e a iluminação baixa dava um ar misterioso e libertador. Olhei ao redor tentando reconhecer alguém alí, mas estava difícil, todos estavam tentando esconder quem realmente eram.

Fui até o bar e peguei um drink de cor verde. Dei um gole vendo que era álcool quase puro e o líquido escorreu por minha garganta queimando. Ainda protegida pelo xale, comecei a vagar pelo local enquanto a música soava alta o bastante para abafar qualquer resquício de conversa. O DJ tocava animado, algumas pessoas dançavam ao redor da piscina, outras estavam próximas aos coqueiros, não parava de chegar pessoas, cada uma com a fantasia mais louca que a do outro.

Assim que estava me aproximando dos coqueiros, senti um par de mãos rodearem minha cintura enquanto um corpo masculino colava em minhas costas. Virei a cabeça levemente para o lado e sob o xale, reconheci aqueles cabelos tão incomuns. Os olhos negros cintilaram através da máscara que ele usava e eu ví um sorriso de canto surgir quando ele aproximou a boca de meu ouvido para poder falar.

- Freira gótica?

- Zorro? – voltei a olhar para frente dando mais um gole em minha bebida.

- Gosto de aventuras. – sinto ele aproximar o nariz de minha nuca e respirar profundamente o local – Nunca irei me acostumar com o quão tentador é seu perfume. – ele sussurra, o que faz alguns pelos de meu corpo se arrepiarem.

- Não precisa se acostumar. – dou de ombros enquanto continuo olhando o local.

- Podemos apenas aproveitar a noite? – sugere.

- Hun... – viro ficando de frente para o homem. As mãos dele permaneciam em minha cintura e seus olhos negros cintilavam. – Não quero lhe dar falsas esperanças, Kakashi.

- Não estou com esperança nenhuma.

Arqueio as sobrancelhas para a afirmação dele. O Hatake leva uma mão até minha nuca e sem esperar minha aprovação, ele desliza a ponta do nariz por meu nariz. Fecho os olhos sentindo seu carinho suave, sinto também seus lábios tomarem os meus com calma. Levo a mão que estava com o terço de coração para a nuca do homem, correspondendo ao seu beijo. A mão dele que estava em minha cintura vai para minhas costas, me puxando mais para sí enquanto eu fico na ponta dos pés para compensar a altura (mesmo eu estando de salto). Deslizo minha mão por seu ombro enquanto ele desliza a mão para meus cabelos, segurando-os.

Enquanto nossas línguas traavam uma batalha delicada, eu sentia o gosto de minha bebida misturar com a que ele certamente tinha tomado, deixando o sabor de nossas línguas quente e tentadora. Mordisco levemente o lábio superior do Hatake enquanto ele aproveita e mordisca meu inferior. Afasto um pouco meu rosto apenas para poder olhar nos olhos dele e vejo seus olhos me encarando intensamente. Com a mão que estava em meus cabelos, ele afasta um pouco o xale de meus olhos para poder olhar nos mesmos.

- Sabe se o pessoal vem? – volto a beber do meu drink.

- Vem sim. Ao menos o Gaara e a Ino vem. – olha ao redor – Mas não sei se já chegaram.

- Devem estar no mínimo se pegando. – resmungo.

- Olha quem fala. – estreita os olhos em minha direção.

- Em minha defesa, gostaria de dizer que fui induzida. – faço cara de inocente o que o faz rir.

- Quem não conhece até acredita. – Ele segura meu queixo com a mão que estava em meu cabelo.

- O que está insinuando, Senhor Hatake? – estreito os olhos para ele.

- Eu? – arqueia as sobrancelhas – Nada. -me dá um selinho e solta meu queixo – Apenas pensei alto.

- Hun...

Viro novamente ficando de costas para o Kakashi enquanto ele voltava a rodear minha cintura com as duas mãos. Aproveito e puxo o xale para frente dos olhos novamente e fico observando o salão de forma discreta. Termino de beber meu drink, mas continuo com a taça em uma mão enquanto o terço de coração permanecia na outra. Eu sentia o Hatake dançar minimamente as minhas costas e isso me fazia dançar também. Vejo bem no meio do salão uma cabeleira ruiva dançando empolgado com outra cabeleira loira, aqueles dois não tinham jeito mesmo. Acabo sorrindo para a dança do Gaara quando meus olhos capturaram algo que não deveriam capturar com tanta facilidade. Em baixo de um coqueiro, fantasiado de O Fantasma da Opera, estava ninguém mais, ninguém menos que o moreno misterioso. Mesmo debaixo da máscara, eu o reconheci. Seus olhos negros cintilavam em minha direção enquanto ele permanecia parado, nem parecia respirar.

No instante em que nossos olhos se cruzam, sinto minha respiração ficar pesada e um calafrio percorre minha coluna. Ele ajeita o chapéu negro discretamente com a mão coberta pela luva de couro preta e de repente gira o corpo, fazendo sua capa negra esvoaçar, e sai de meu campo de visão, desaparecendo por entre as pessoas.

~> Continua