Projeto Ampulheta - Capítulo 19

Claro que a chegada da feira foi bem movimentada com o Sasuke me perguntando sobre a “funcionalidade” de mais uma dúzia de produtos. O restante do dia passou bem tranquilo com filme e jantamos sem muitos acontecimentos (ou seja, ele me evitando quase o tempo todo com medo de “cair em tentação”). Agora por exemplo, estamos tomando café, ele em uma ponta da mesa e eu na outra ponta.

Decidimos que iríamos nos divertir hoje e como o Uchiha não conhece nada nos dias atuais, dei a sugestão de irmos a um parque/zoológico. Claro que ele ficou viajando na maionese sobre o que eu estava falando, então apenas concordou, desde que não houvesse nada de indecente. Garanti que as pessoas lá ficam todas vestidas e ele aceitou. Agora estou rezando para que ninguém com o instinto naturalista apareça por lá.

Falando em naturalista, mas não tendo muito a ver com isso, o Uchiha está bem na fita ao estilo século XXI com sua bermuda (a ferro e fogo para ele vestir), sua camisa de algodão e sapatênis, enquanto eu estou com um short jeans (que ele deu aquela velha olhada e corada), uma regata amarela com detalhes em preto e um tênis também preto. Meus cabelos estavam em um rabo de cavalo e uma bolsinha de lado repousava no sofá de couro negro.

- Está calado demais. – murmuro, olhando desconfiada para o Uchiha.

- Perdão, Senhorita. – Ele pega o guardanapo e limpa a boca, soltando um breve suspiro – Estou apenas... pensando.

- Em...? – bebo um pouco de café, terminando minha comida.

- Tudo. – repousa o guardanapo ao lado do prato e me olha de um jeito curioso, mas o canto de sua boca sobe num breve sorriso. – Em como minha vida mudou drasticamente de uma hora para outra.

- E pensando em casa também. – Arrisco.

- Estaria mentindo se falasse que não. – Os olhos negros vão para o prato vazio e então voltam a me encarar novamente – Mas, também sinto-me honrado por tê-la conhecido, Senhorita Haruno.

- Está sendo divertido. – Afirmo, sorrindo e ele me devolve o sorriso. – É melhor irmos.

Levantamos e rapidamente arrumamos tudo, pouco tempos depois já estávamos no bebê indo para o parque. O Sasuke permaneceu mais atento dessa vez, as ruas de Tókyo domingo de manhã eram mais tranquilas e isso pareceu deixa-lo mais à vontade. Graças aos céus! Cerca de quarenta minutos depois, estávamos estacionando no parque e eu já percebi um pouco de desconforto do Uchiha quando os olhos negros encararam o letreiro brilhante, enorme e chamativo à nossa frente com os dizeres “Tókyo Park Zoo”. Desliguei o bebê e saímos. Ele deu uma voltinha, dando uma bela olhada ao redor e eu vi seu peito subir e descer numa respiração longa e espantada. Dei a volta no carro e parei na sua frente, segurei sua mão levemente e ele me olhou rápido.

- Quer voltar?

- Não. – Ele olhou em volta mais uma vez e seus olhos caíram sobre mim decididos – Vamos nos divertir, Senhorita.

- Isso ai!

Sorrindo, puxei o Uchiha rumo a entrada do parque. Assim que passamos pela catraca de entrada, um homem pegou minha mão e carimbou o dorso dela, quando ele pegou a do Uchiha, ví os olhos negros estreitarem na direção do homem e quando o pobre do homem carimbou o dorso, o Uchiha aproximou a mão do rosto afim de ver aquilo mais de perto. Não contente, ele levou a outra mão até o carimbo, mas fui mais rápida e segurei sua mão.

- Tem que esperar secar.

- Para que serve isso? – Susurrou enquanto eu o puxava para dentro das dependências do parque.

- É como um passaporte... Uma espécie de ingresso.

- Não seria mais fácil comprar o ingresso e entregar para ele? – franzi o cenho voltando a olhar para o dorso carimbado.

- Sim, mas existem pessoas que não compram ingresso e invadem.

Percebo a intriga em seus olhos, mas mesmo assim ele não questiona. A entrada do parque era bem arborizada, com caminho de paralelepípedo, banquinhos e algumas pessoas fantasiadas de animais e personagens. Claro que aquilo não passou despercebido pelos olhos ônix que ao ver um Pluto parou na hora e franziu o cenho de um jeito muito engraçado.

- O que exatamente é aquele cachorro?

- Olááá! – o Pluto cumprimentou todo animado dando pulinhos, tchauzinho e fazendo uma breve reverência exagerada.

- Ah... – o Sasuke assumiu uma postura invejável e fez uma mensura perfeita – Bom dia, Cavalheiro.

- É o Pluto, um personagem de desenho, Sasuke. – ainda segurando sua mão, comecei a puxá-lo, mas ele paralisou assim que passamos em frente a outro personagem, dessa vez um enorme King Kong.

- Cuidado, Senhorita! – o Uchiha me puxou para trás de sí e levantou uma mão em frente ao corpo, o King Kong o olhou... não só ele como todos que passavam alí.

- Sasuke...

- Não se aproxime! – Ameaçou o Uchiha. – Ele deu um passo para trás, me levando junto.

- Raaaaw! – o King Kong de pelúcia rugiu em sua direção. Certamente a pessoa dentro daquela fantasia estava se divertindo.

- EU JÁ FALEI PARA NÃO SE APROXIMAR! – Ele olhou ao redor – Que falta faz minha bengala. – murmurou.

- Sasuke, é só mais um personagem. – murmuro sentindo minhas bochechas esquentarem – Homem, se acalma.

- Mais um...? – me olha rápido por cima do ombro.

Afirmo com a cabeça e como se estivesse tirando a prova, ele estreita os olhos na direção do bicho novamente e quando percebe que eu estava falando a verdade, respira fundo e me permite ficar ao seu lado novamente. O King Kong dá um “tchauzinho” e nós seguimos. Começo a pensar que talvez vir para cá não tenha sido uma boa ideia, estamos apenas na entrada e ele já surtou com dois personagens.

O parque ficava organizado da seguinte forma: Primeiro o zoológico, depois a parte de alimentação e por fim o parque de diversão. Por ser domingo de manhã o zoo estava bem movimentado e muitas pessoas passeavam alí, mas isso não impediu de uma ou outra ser atraída pela gentileza excessiva do Uchiha que insistia em cumprimentar a todos que passavam por nós dois. Sinceramente, acho que esse homem tem que ser político.

Ví um sorriso enorme se formar nos lábios masculino quando chegamos no aviário. Ele caminhou um pouco mais rápido, e claro, me puxou junto. Paramos em frente a um tucano e ele começou a ler a placa informativa. Os olhos do Uchiha pareciam olhos de criança e eu me perdi nas reações dele. Era como se tivesse dado um brinquedo incrível a uma criancinha. Ele viu outro criadouro ao lado e foi em direção me puxando. Era uma arara azul. Tinha uma família dela e uma das araras parecia brigar com outra.

- Veja Senhorita, aquela alí é bem implicante... me lembra a Senhorita. – me olha sorrindo.

- Está me chamando de implicante? – estreitei os olhos para ele.

- De um jeito muito peculiar. – pega minha mão (a que não estava com o carimbo) e beija o dorso dela. Reviro os olhos, derrotada.

Seguimos para os outros criadouros e ele parecia ainda mais encantado. Aves de rapina, corujas (que o Uchiha ficou bastante assustado quando uma piou para ele, porque segundo o mesmo, quando uma coruja pia para você é sinal de mau agouro), isso me deixou surpresa porque eu não sabia que ele era supersticioso. O Uchiha defendeu-se dizendo que não era, mas a Senhora Alonzo, o Senhor Yamato e a filha dele (pobres coitados) morreram depois que uma coruja piou para eles.

Depois de deixar o aviário, seguimos para a parte dos animais grandes (ursos, hipopótamos, girafas, dentre outros) e de cara encontramos uma hipopótamo cheia de graça, banhando-se numa piscina. Seguimos nosso caminho e uma família de urso pardo tomava banho de sol. O pai urso estava deitado de barriga para cima em uma pedra, enquanto a mãe urso estava sentada observando seus dois filhotes que rolavam na grama.

- Eles são tão fofinhos. – minha voz sai aguda e eu abraço o Sasuke, apertando suas bochechas. Ele me olha com os olhos esbugalhados e seu rosto fica corado.

- S-Senhorita... – sussurra olhando ao redor – Estão todos vendo.

- Deixa de ser turrão. Ninguém tá ligando para nós dois. – Dou um beijo estalado na bochecha dele – Ursão!

- Perdão?

- Você se parece com ele. Fica só nas observâncias. Sem falar que quando agarra... – solto o abraço e volto a caminhar.

- Senhorita Haruno!? – ele me chama, e me segue – E-eu acho que não compreendi.

- Claro que compreendeu... Ursão. – pisco marota para o Uchiha – Veja! – indico uma girafa – Que linda!

- Nossa! – sussurra.

Ele caminha lentamente em direção à girafa e para com as mãos apoiadas na primeira grade de segurança. Fico um pouco mais atrás vendo o quão ele estava admirado. Era engraçado também porque ele era o único adulto tão perto da grade, ao seu redor tinha apenas crianças. Vendo essa imagem, começo a pensar que nunca mais ele será o mesmo de antes, que quando ele voltar para o passado, a vida dele vai ter uma mudança drástica. Talvez eu não devesse apresenta-lo tanto assim ao futuro, mas... É tão incrível vê as reações do Uchiha com coisas tão simples. Como se lesse meus pensamentos, ele vira em minha direção e me direciona um sorriso discreto. O Sasuke caminha em minha direção e estende o braço para que eu segure.

- Então, Senhorita, qual animal iremos ver agora?

- Felinos. – indico a parte onde ficavam o leão, leopardos, tigres, onças e outros.

Com um aceno de cabeça, seguimos para lá. O local onde o leão estava era enorme com fosso, pedra para ele tomar sol, grama, um pequeno lago, uma leoa, um filhote, sem falar em algumas árvores e vegetações. A boca do Uchiha ficou entreaberta o tempo todo e quando o leão rugiu, senti os pelos do braço do Sasuke se arrepiarem. Certamente essa é uma experiência única e inesquecível em sua vida e demoramos alí mais do que o esperado. Aproveitei e peguei o celular e fiz uma selfie com a família leão ao fundo (sob perguntas do tipo “O que a Senhorita está fazendo?”, então apenas o convenci a olhar para a câmera e sorrir). Nos dirigimos para as panteras e lá tiramos mais fotos, mas o Sasuke pareceu meio decepcionado, pois, uma pantera negra não queria papo e acabou que na foto que tirei ficou: O Sasuke com a cara emburrada e o leopardo no fundo da jaula com a cara tão emburrada quanto o Uchiha.

Depois de rodar pelo zoológico com o Sasuke admirado com o restante dos animais (tirando a parte das cobras que ele fez questão de passar bem longe, porque segundo o Uchiha, o Doutor Kankuro ainda não foi capaz de encontrar uma cura para picada de cobra). Claro que eu tentei explicar que estávamos bem protegidos contra elas, mas quem disse que ele me deu ouvidos?

Por volta das 14 horas almoçados, o que foi outro trabalho, porque o Uchiha ficou boa parte do tempo de cara fechada por eu ter pago tudo. Segundo ele, era humilhante ele não pagar nada. Tentei explicar que eu possuía mais dinheiro do que gastava, mas ele não aceitou isso, disse que o correto era o cavalheiro pagar os gastos da dama. Pensamentos antigo esse dele, expliquei isso também, mas ele não aceitou. Acessei minha conta pelo celular e mostrei meus gastos e minha reserva, e só depois disso, ele pareceu relaxar um pouco, depois que eu prometi que, eu aceitaria ser recompensada (ele disse que iria pensar em um jeito de me pagar por isso).

Depois do almoço, seguimos para a parte do parque e nessa parte senti certa dó do Uchiha. O primeiro brinquedo que ele viu foi a roda gigante e claro que seguimos para ela. Os olhos negros analisaram aquilo com extrema desconfiança e enquanto esperávamos nossa vez, ele me perguntava a cada três segundos se era realmente seguro.

- Senhorita, isso realmente não irá soltar? – pergunta baixo quando o rapaz termina de fechar a trava de segurança e segue para o próximo assento.

- Claro que sim. Veja, isso aqui lhe segura firme. – aponto para a trava – E a vista lá de cima é linda.

- É muito alto. – murmura olhando para cima. As mãos dele se fecham em torno da trave de segurança quando a roda gigante começa a se mover.

- Relaxa, e aproveita a vista.

Ele balança a cabeça de forma positiva, mas sua confiança era 0. Quando estávamos na metade do percurso, ele se encosta ainda mais na poltrona e eu vejo seu pomo de Adão descer e subir e os nós dos dedos ficarem brancos. Os ombros dele estavam tensos e o peito descia e subia rapidamente.

- Está tudo bem, Sasuke. Relaxa. – apoio minha mão esquerda em cima da sua mão direita e ele me olha rapidamente – Olha... olha como é lindo aqui de cima.

- S-S-Senhorita... – ele estava muito travado.

- Calma... Ei... – Retiro a mão dele da trava e seguro-a entre minhas mãos. Ele olha para nossas mãos e então me olha com o cenho franzido, vejo seu pomo subir e descer mais uma vez – Olha.

Indico o parque. Estávamos agora no topo da roda gigante. Pouco a pouco ele foi virando a cabeça. A mão dele segura a minha com um pouco de força e também estava suada. O Uchiha olha lentamente o parque. De forma analítica e receosa, ele vai se acostumando com aquilo, sentindo a segurança do brinquedo e apreciando a vista, e então sua mão já não aperta a minha, mas apenas fica repousada entre elas.

- É realmente... Deslumbrante, Senhorita Haruno. – sussurra voltando os olhos negros para mim.

- Eu te falei. – pisco divertida. Olho ao redor e vejo outro brinquedo – depois vamos naquele alí.

- E como se chama? – ele estreita os olhos na direção do mesmo.

- Montanha russa.

~> Continua