Jarros de Almas - Capítulo 7

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- Bom dia, Senhor. Já sabe o que vai querer comer?

Com um suspirar teatral, o moreno baixou o cardápio e na mesma hora a jovem deu um passo para trás esbugalhando os olhos e entreabrindo a boca de forma involuntária. Ele apoiou o cardápio na mesa e depois retirou os óculos de sol, colocando-os na camisa. Ele a olhou nos olhos e inclinou a cabeça para o lado enquanto tamborilava os dedos da mão direita na mesa com um pequeno sorrisinho de canto.

- Já. – arqueou uma sobrancelha.

Agora

Me deparar com aqueles olhos negros alí, me encarando daquele jeito tão famintos era algo que eu não esperava àquela hora da manhã. Os olhos estreitos possuíam um brilho estranho em minha direção. Ele passou a ponta da língua por entre os lábios e apoiou os antebraços na mesa enquanto inclinava levemente o corpo para frente. Por algum motivo, todo meu corpo me mandava correr dalí, por algum motivo todos os pelos de meu corpo estavam arrepiados, mas eu não conseguia me mover. Ele possuía um magnetismo que me fazia ficar...

- Só não sei se está no cardápio. – concluiu enquanto o sorriso de canto aumentava.

Mas o que droga esse homem estava insinuando? Insinuando não, Dona Sakura! Não seja inocente! Respiro fundo sentindo o cheiro dele chegar até mim e isso foi uma merda, mas consigo recuperar meu autocontrole e minha postura. Pigarreio e devolvo o olhar desafiador dele olhando para o cardápio e depois para ele, demostrando todo meu tédio em ter que aturar os joguinhos dele.

- Pois bem, então já que tem dúvidas, peço para que peça o que está disposto no cardápio.

- Hun... – Ele continuava me encarando, os olhos negros passeiam por meu rosto e eu vejo os bagres negros descerem por meu pescoço, colo e depois subirem para meus lábios e olhos novamente – Café sem açúcar e dois croissants.

- Certo. – Anoto os pedidos – Em alguns minutos será entregue.

Ele apenas acenou brevemente com a cabeça e eu me retirei dali olhando desconfiada para ele. Que cara mais esquisito. Certamente era turista, pois, nunca o ví por aqui. Entrego o pedido no balcão e vou atender outros clientes. Percebo que o tempo todo, o moreno ficou me olhando de um jeito analítico e claro que eu também o analisava, afinal, quem ele pensa que é para ficar me analisando desse jeito?

Vejo minha Noná sair da cozinha e os olhos castanhos dela vão de mim para o moreno e voltam para mim novamente. Ela pega uma flanela em baixo do balcão e começa a passar na vitrine ainda nos olhando. Com um suspiro, me aproximo do balcão e apoio o antebraço esquerdo na vitrine, fazendo com que os olhos castanhos caíssem sobre mim de forma curiosa.

- O que houve, Noná?

- Nadaaaa... – cantarola.

- Te conheço. Fala logo.

- Apenas observando o quanto que aquele belíssimo jovem não tira os olhos de você. Só isso.

- É um atrevido! – murmuro.

- Você o conhece? – Ela para de passar a flanela na vitrine e me olha com as sobrancelhas erguidas.

- Não... ele estava ontem no luau, e apareceu por aqui, mas é bem direto nos objetivos dele.

- E qual seria o objetivo dele?

- Noná! – olho para ela com censura e a mesma sorri.

- Não falo nada... Na verdade vou até me retirar, você anda cheia de pretendentes. – indica com a cabeça algum ponto atrás de mim.

Viro na mesma hora e vejo o Kakashi vindo na direção da padaria, ele estava vestindo uma bermuda branca e uma camiseta azul clara, no rosto trazia óculos de sol e acenou animado para mim antes mesmo de se aproximar. Acenei de volta e me encostei na vitrine vendo-o se aproximar. Ao chegar dentro da padaria, ele tira os óculos de sol e pendura no colarinho da camisa, enquanto para em minha frente.

- Bom dia, Saky. – inclina brevemente o tronco e deposita um beijo em minha bochecha.

- Bom dia, Kakashi. – sorrio – Café?

- Certamente. – ele olha ao redor e seus olhos pousam no moreno – É aquele carinha de ontem?

- É. – viro pegando um bloquinho e anotando o pedido do Kakashi, deixo o pedido em cima do balcão e me viro para ele novamente.

- Você já sabe quem é ele? – volta os olhos negros para mim.

- Não. Veio tomar café, nada demais.

- Tem certeza? Se ele estiver lhe incomodando...

- Está tudo bem. – Sorrio e envolvo meu braço direito no braço esquerdo do Kakashi – Uma mesa?

- Agradeço. – sorri animado.

Guio o Kakashi até uma mesa mais no canto ao lado oposto ao qual o moreno estava. Se tem uma coisa que estava na cara era que esses dois deveriam ficar longe um do outro. Assim que o Hatake está acomodado, voltei para o balcão quando ouvi a cigarra tocar informando que um pedido estava pronto. Ví na nota que era a mesa do tal moreno. Peguei a bandeja e com um suspiro pesado, segui na direção dele. Os olhos negros que olhavam para alguns panfletos voaram para mim. Um sorriso de canto nasceu novamente em sua boca e ele se encostou na cadeira enquanto cruzava os braços.

Como se não estivesse incomodada com aquilo, coloco a xícara com o café em cima da mesa e depois o prato com os croissants, o potinho de açúcar para o caso de ele decidir usar, guardanapo, os talheres e por fim, dois molhos para ele colocar no croissant.

- Mais alguma coisa? – Olho determinada para ele e o mesmo possuía uma expressão divertida.

- Posso lhe fazer uma pergunta? – a voz dele era séria, mesmo seu rosto parecendo relaxado.

- Não prometo responder. – cruzo os braços.

- Hun... – ele olha para algum lugar atrás de mim e depois para o café. Penso que ele chegou a desistir, mas então os olhos negros me olham e eles pareciam mais intensos. Mais escuros... e até mais... sedentos. – Qual sua idade?

- Meio deselegante querer saber esse tipo de coisa, não acha? – arqueio as sobrancelhas.

- Um pouco, mas estou realmente curioso quanto a isso. Você é encantadora demais e estou com receio de estar investindo em alguém inalcançável. – franzi o cenho.

- “Investindo em alguém inalcançável”? – arqueio uma sobrancelha – Deveria desistir então.

- Por quê? Seu pretendente é muito ciumento? – os olhos dele vão para trás de mim novamente e agora eu sei que ele está olhando para o Kakashi.

- Pretendente? – sorrio – De onde tirou isso?

- Só um idiota namoraria com você e não estaria cercando-a. Se me permite dizer, mesmo sem sua permissão, ele está doido por você. – Os olhos negros voltam para mim novamente e dessa vez posso até vê um brilho felino alí – E eu também.

- Então pode tirar seu time de campo. – passo uma mão por meus cabelos. – Não estou disposta para brincadeira de criança.

Sem falar mais nada, dou as costas ao moreno e sigo até o balcão bem a tempo de ouvir a cigarra tocar novamente e dessa vez era o pedido do Kakashi que estava pronto. Peguei a bandeja e fui até sua mesa. Coloquei a xícara em cima da mesa e também torradas com queijo como ele gostava de comer todas as manhãs. Os olhos negros estavam em mim de forma curiosa.

- O que foi, Kakashi? – suspiro cansada.

- Nada... – beberica um pouco do café – Apenas... curioso...

- Com...? – abraço a bandeja.

- O carinha alí. Parece bem interessado em você. – murmura, pegando uma torrada.

- Um idiota que se acha. – dou de ombros. – Bom café.

- Obrigado, Saky.

Com um sorriso, me afasto dele e sigo até o balcão, deixo a bandeja alí e dou a volta no mesmo, entrando na cozinha. O cheiro de massa, trigo, ovos, café e doce me acalma. Pego um pedaço de pão caseiro e me encosto na bancada de preparos. Os cozinheiros estavam alí e pouco depois meu padrinho entrou com um sorriso de orelha a orelha, joga umas sacolas em cima do balcão e vem em minha direção. Sem falar nada, ele me dá um beijo na testa e passa pela porta dupla, indo para a parte de fora da padaria.

Fico alí comendo meu pão, distraída, enquanto penso o que posso fazer para tirar esse moreno de meus calcanhares. Não posso me envolver com ninguém, muito menos ter ninguém atrás de mim. Já basta o Kakashi com seu amor platônico, agora mais esse carinha que nem sei quem é. Um tempo depois, decido sair da cozinha e para minha infelicidade, o moreno estava no caixa. Ele conversava algo com meu padrinho e o assunto parecia bem interessante, pois, o velho não parava de falar, enquanto o moreno apenas ouvia e maneava a cabeça. Os olhos negros correram em minha direção e quando meu padrinho deu o troco, o moreno caminhou em minha direção e parou em minha frente, com apenas o balcão nos separando.

- Olá. – inclina levemente a cabeça.

- Aposto que conseguiu a informação que queria.

Ele não responde, em vez disso, tira um panfleto do bolso de trás da bermuda que usava e coloca-o sobre o balcão, desliza levemente em minha direção e volta a colocar as mãos dentro dos bolsos da bermuda.

- Você vai? – aponta discreto para o panfleto que anunciava uma balada hoje a noite.

- Não sei. – Murmuro, ignorando-o.

- É uma ótima oportunidade para deixar a máscara cair... E ser quem você realmente é. – os olhos negros me encaram afiados.

- Não uso máscaras. – rebato estreitando os olhos na direção dele.

- Não? – arqueia as sobrancelhas.

Abro e fecho a boca algumas vezes a fim de protestar, mas não consigo formular nenhuma palavra. Ele dá um sorriso de canto e coloca os óculos de sol no rosto. Com um breve aceno de cabeça, o moreno me dá as costas e sai da padaria me deixando irritada, curiosa e agora intrigada.

Olho para o panfleto em cima do balcão “ Mykonos Raving Night - Coloque sua máscara e seja você”. Olho para frente bem a tempo de ver o corpo do moreno virar na esquina. Tudo bem então. Se ele queria brincar, eu iria brincar também. Olho para o panfleto novamente, pego-o, e com uma determinação que veio sabe-se lá de onde, decido que essa noite, apenas essa noite, não vai fazer mal algum eu deixar meu lado Theá se mostrar um pouquinho.

~> Continua