Pub - Drink 39

 

Estacionou o carro em frente ao local e ficou olhando a fachada. Degradante. Era exatamente assim que o local era. Um pequeno prédio de cinco andares com a pintura velha, descascando em diversos lugares, o reboco da parede caindo aqui e ali, um montante de lixo na esquina, lâmpadas quebradas na fachada, além das três mulheres na calçada visivelmente se vendendo.

Suspirou, engolindo em seco e desligando o carro. Desceu do mesmo e ativou o alarme, guardando a chave no bolso da calça social. Assim que desceu do carro, recebeu a atenção das três mulheres que logo arrumaram a postura, olhando de forma fixa para ele. Madara ignorou totalmente aqueles olhares, mas não podia ignorar as mulheres, já que ele estava indo na direção delas. Assim que se aproximou, pigarreou e tentou soar o mais gentil possível.

- Boa noite, senhoritas.

- Boa noite. - elas responderam em unisson, sorrindo em seguida.

- Ér... Sakura Haruno mora aqui? - olhou para o prédio novamente.

- Haruno...? - uma franziu o cenho.

- É a novata. - a outra mastigava um chiclete e mexia nos cabelos - Ela está no terceiro andar, você é cliente dela?

- Cliente? - franziu o cenho.

- É, bonitão... Fiquei sabendo que a agenda dela está lotada hoje. - a terceira mulher respondeu - Parece que a menina tem talento.

Aquela informação fez o estomago do Uchiha revirar. Como assim "cliente" e "talento"? Aquilo não podia significar o que ele achava que significava, não é? No mesmo instante suas mãos começaram a suar e a bile lhe chegou à boca. Ele engoliu com dificuldade, buscando a voz do fundo da garganta, tentando não parecer abalado.

- Qual... o apartamento?

- Onze. - a primeira respondeu.

- Obrigado.

E sem falar mais nada, ele simplesmente passou pelas três mulheres, adentrando o prédio. Se por fora o lugar era degradante, por dentro era ainda pior. Fiação exposta, teto caindo em diversos lugares, além do cheiro forte de morfo. Madara franziu o nariz e procurou pela escada que dava acesso aos andares superiores e quando a encontrou, praticamente voou pelos degraus. Não foi difícil chegar no terceiro andar, mas foi quase impossível ignorar todos os indícios que tudo em volta dava, da vida que Sakura estava levando.

Um homem que passou abotoando a camisa, uma mulher que arrumava a saia e ao passar por ele, ofereceu um programa "gostosinho", além dos barulhos que ouvia quando passava em frente a um quarto. Era simplesmente repugnante aquilo.

Assim que chegou no terceiro andar, procurou pelo quarto de número onze e quando o encontrou, parou em frente a porta e respirou fundo uma, duas, três vezes. Engoliu em seco e quando ergueu a mão para bater na porta, percebeu que a mesma estava totalmente suada. Sentia-se nervoso ao extremo. Nunca tinha se sentido daquele jeito em toda a sua vida.

Limpou as mãos na calça e pigarreou, olhando rapidamente ao redor.

Apurou os ouvidos para vê se ouvia algo dentro do quarto, mas estava tudo tão silencioso que ele se questionou se tinha alguém lá dentro. Respirando fundo mais uma vez, deu três leves batidas na porta e esperou. Três minutos foi o tempo exato que se passou até que a porta abrisse e atrás dela, aparecesse uma Sakura totalmente diferente daquela que ele conhecia.

Os olhos verdes estavam esbugalhados pela surpresa, porém opacos. Olheiras debaixo deles, visivelmente mais magra com algumas marcas pelo pescoço e braços, vestia um vestidinho que mostrava mais do que era necessário, além do cabelo estar uma bagunça total. No lábio inferior havia um machucado que ele logo tentou ignorar para não imaginar como havia sido causado.

- O que... - ela balbuciou, piscando atordoada.

Madara não conseguiu responder. Ainda observava Sakura naquele estado e dentro de si, tudo o que existia desmoronava em ver aquela garota daquele jeito. Nunca havia imaginado que viria ela assim. Nunca imaginou que sua menina fosse se permitir se machucar tanto, porque ela, visivelmente, estava uma ruína também. 

Não havia um resquício de sorriso sequer.

- Posso... entrar? - perguntou baixo.

Ela olhou para ele por alguns segundos, depois piscou confusa, pigarreando.

- Você é cliente?

Ele queria muito perguntar se ela estava maluca ou havia batido com a cabeça, mas preferiu não começar com uma briga. Estava ali para pedir desculpas, e agora, para arrancar Sakura daquele lugar custe o que custasse.

- É a única forma de entrar? - a voz dele era baixa, contida.

- É. - ergueu o queixo, desafiando-o.

Madara meneou a cabeça, respirando fundo. Engolindo todo o orgulho e amargura, ele tentou se manter tranquilo.

- Então sim, eu sou.

Ela meneou a cabeça de volta e abriu um pouco mais a porta, colando a lateral do corpo no batente da porta e indicando uma janelinha no final do corredor.

- Você tem que pagar lá, primeiro.

Ele olhou para ela com os olhos levemente esbugalhados. Ele teria realmente que pagar!? Continuou olhando para ela por mais alguns segundos, até que em silêncio, seguiu até a janelinha e deu uma batida. No mesmo instante a janelinha fora aberta e uma mulher informou o valor do programa. Madara retirou o dinheiro da carteira e pagou.

- Meia hora. - a mulher respondeu no automático.

Meia hora?

Não. Não iria ficar ali por meia hora e Sakura não iria se vender. Não permitiria.

- Quero a noite toda. - foi enfático.

A mulher olhou para ele por longos segundos, analisando se o Uchiha estava realmente falando aquilo. No mesmo instante os olhos dela brilharam e ela deu um sorriso de canto, passando a língua entre os lábios.

- Sabe... a Haruno está sendo bem procurada...  Se quer a noite toda vai ter que pagar carinho por isso.

- Apenas diga quanto é.

Sabia que a mulher iria aplicar no preço, mas não se importava.

- Hun... - ela fez biquinho, inclinando a cabeça para o lado - Três paus.

Em silêncio, Madara suspirou, puxando o cartão do bolso e entregando a mulher que logo passou o valor, boquiaberta. Depois de pagar, ela desejou uma ótima noite para ele e fechou a janelinha. O moreno caminhou de volta para o quarto de Sakura e se surpreendeu ao ver que ela ainda estava do mesmo jeito que havia deixado. Quando o viu se aproximando, ela simplesmente entrou e deixou a porta aberta. 

Madara entrou e fechou a porta ás costas, observando o quarto.

Era pequeno, basicamente uma sala/cozinha/quarto e um banheiro. Era tão pequeno que ficava tudo muito amontoado em todos os cantos. O local era iluminado por uma única luz fraca que ficava oscilando. Viu Sakura caminhar até a cama e sentar na beirada dela, apoiando as mãos no colchão e cruzando os braços enquanto olhava para ele.

- Quanto tempo?

- Esqueça o tempo, Sakura. Vim aqui para conversarmos. - parou no meio do quarto, encarando-a.

- Não estou aqui para conversar, Madara. - fechou a cara - Não tenho todo o tempo...

- Você tem a noite toda livre, então vamos conversar, sim!

- Você...! - esbugalhou os olhos, abrindo a boca - Você comprou a noite toda?

- Acha que eu permitiria que você se vendesse novamente? - franziu o cenho, bufando em seguida - Francamente...

- Eu não sei o que...

- Eu vim pedir desculpas, Sakura. - a cortou e ela fechou a boca - Eu sei que fui um tremendo filho da puta com você. Eu sei que não deveria ter falado daquele jeito muito menos aquelas coisas, por isso estou aqui, para pedir perdão a você.

Sakura permaneceu em silêncio, observando o Uchiha. Queria muito mandar ele ir se foder, mas estava tão cansada que não tinha forças nem para protestar.

- Eu não entendo, Madara... - sussurrou, balançando a cabeça.

- Irá entender, mas primeiro, vá tomar um banho e troque de roupas, por favor. - fechou os olhos e apertou a ponte do nariz - Não suporto te ver assim.

Ela pensou em protestar, mas o que poderia fazer? No fim das contas, ele havia pago pela noite, então ela teria que fazer basicamente o que ele desejasse, por isso, apenas levantou, caminhando até o banheiro onde tomou um banho rápido, lavando os cabelos e saiu do banheiro apenas de toalha. Ao chegar no quarto, retirou a peça, ficando completamente nua na frente do Uchiha e ele, mesmo tentado, virou o rosto, evitando olhá-la daquele jeito.

Não se sentia no direito de invadir a privacidade dela.

Sakura escolheu uma calça moletom e uma camiseta, depois secou os fios róseos com a toalha e os penteou de forma despreocupada. Já que Madara havia comprado a noite toda e não desejava ter nada com ela, então iria ficar confortável e sem pressa. Quando terminou, tornou a sentar na beirada da cama, vendo que ele havia se acomodado no pequeno sofá de dois lugares no lugar que era nomeado por sala.

- Pronto. - abriu os braços - O que mais o senhor deseja?

- Pare de agir assim, por favor. - suspirou, encarando-a - Não quero que aja como um produto. Quero conversar com você, Sakura, do jeito que você é.

A Haruno meneou a cabeça de forma lenta enquanto o encarava. Com um respirar profundo, ela inclinou a cabeça para o lado, entendendo o que ele queria e por isso, sentindo-se cansada de tudo aquilo, ela resolveu acatar a vontade dele.

- Pois bem, Uchiha, vamos conversar do jeito que você quer.

- Ótimo...

- Já que vamos falar do jeito que você quer, então eu devo perguntar: o que porra você está fazendo aqui? E não me diga apenas que veio pedir desculpas, porque eu não quero suas desculpas...

- Você querendo ou não eu vou pedir. - A cortou.

Apesar de ela estar sentada na beirada da cama e ele no sofá, a distância entre eles era de dois metros. Ambos estavam com o corpo virado para o outro, visivelmente armados e prontos para qualquer embate.

- Eu sei de toda a merda que fiz e falei e você não merecia, Sakura. Eu sei perfeitamente disso e desde nossa última conversa eu venho tentando pensar numa forma de te pedir desculpas porque eu estou, perturbadoramente, arrependido.

- Você só está arrependido porque está me vendo aqui! - esbravejou.

- Estou arrependido porque fui injusto com você! - esbravejou de volta, ficando de pé - Eu estou realmente arrependido, Sakura. Você foi a única pessoa no mundo que foi 100% verdadeira comigo e eu não levei isso em consideração. Eu não tinha o menor direito de te julgar de qualquer forma, mas o fiz...

- É você o fez! - o cortou, ficando de pé também.

Os olhos verdes, antes opacos, agora estavam furiosos. Os lábios dela estavam crispados e as mãos se agitavam com violência. Sakura começava a colocar para fora tudo o que estava entalado até aquele momento. Tenha esse "tudo" a ver com ele ou não.

- O problema é esse, Uchiha! Você pensa que sabe de tudo, que pode tudo, mas pasme, meu querido, a vida não é seu parque de diversões e não, eu não vou simplesmente te perdoar pelo que você falou!

- Posso esperar por seu perdão o tempo que for necessário. - a voz dele ficou tranquila de repente. Madara respirou fundo, abrindo os braços - Eu faço o que for necessário para ter o seu perdão, Sakura e se isso for levar uma semana, um mês, um ano, eu espero... eu apenas espero. - engoliu em seco - Mas eu preciso lutar por ele. Eu vou implorar. Vou me ajoelhar. Me rastejar se for necessário.

- Por quê? - franziu o cenho. Sakura respirou fundo, fechando os olhos - Eu não estou em qualquer estado emocional para lutar contra qualquer coisa, Madara, estou cansada, destruída... Olha pra mim! - abriu os braços - Eu tô simplesmente desesperada, então por que você quer tanto lutar por isso?

Madara ficou calado, olhando-a por longos segundos. Sakura estava realmente um caos e ele sabia que não era só fisicamente. Havia algo mais em tudo aquilo. Ela não iria viver daquele jeito se realmente não houvesse um motivo. Ele só não sabia o motivo real, mas iria descobrir e iria resolver tudo aquilo. Não permitiria que Sakura se machucasse ainda mais, porque ela, visivelmente, estava se torturando.

- Porque eu te amo, menina. - respondeu baixo, passando a língua entre os lábios - Única e exclusivamente por isso.

Sakura esperava por qualquer resposta, menos aquela. Totalmente confusa, deu um passo para trás, esbugalhando os olhos. Madara havia dito que a amava? Era isso mesmo?

Ainda paralisada, viu quando ele se aproximou, tocando o rosto dela com uma mão de forma contida. Tinha medo de uma recusa dela, mas a Haruno estava tão paralisada que não conseguia pensar em absolutamente nada. Ela era apenas choque e nada mais.

- Por isso vou lutar e esperar por seu perdão, Sakura. - suspirou, acariciando a bochecha dela com o polegar - Porque eu fui um idiota, eu fui um imbecil, babaca.. fui! Mas eu te amo e não posso deixar de lutar por isso.

- Você ficou louco. - sussurrou, piscando confusa.

- Talvez. - sorriu minimamente - Mas não posso ignorar essa loucura. Não depois de finalmente compreender meus sentimentos.

- Você não pode falar tudo o que falou e chegar aqui dizendo que me ama como se não fosse nada!

- Eu sei, mas estou aqui, não estou?

Atordoada, Sakura balançou a cabeça e desviou dele, caminhado pela sala. Ela olhava para o chão enquanto a mente simplesmente nublava com toda aquela informação. Apesar de estar muito, muito magoada com ele, não teve como não ser atingida pela declaração do Uchiha. Nunca esperava ter o amor dele e por mais que desejasse mandar ele ir embora, o peito dela aqueceu de uma forma que a palavra simplesmente fugiu da boca.

Era humana, no fim das contas, e ter Madara ali, a fazia colocar os pés no chão e se sentir um pouco firme... segura, talvez...

Sakura sentiu os olhos queimarem e enquanto tentava segurar as lágrimas que já embaçavam sua visão, sentiu quando as mãos dele lhe seguraram nos ombros e a giraram com cautela. E ela se permitiu ficar de frente para ele, erguendo a cabeça para poder olhar nos olhos negros.

Assim que Madara viu as lágrimas acumuladas nas órbes verdes, sentiu o peito pesar e com um suspirar profundo, franziu o cenho, secando a primeira lágrima que escorreu pelo rosto dela com as costas do dedo indicador.

- O que aconteceu para você vir parar aqui?

- E-eu...

- Sem mentiras, menina. - tudo em Madara exalava ternura. A voz, o toque, o olhar... absolutamente tudo - Me diz o que houve, porque você não se colocaria em algo assim se não estivesse tão absurdamente desesperada.

Ela franziu o cenho, encarando-o por mais um tempo. Naquele momento, toda a carga emocional que vinha sentindo nos últimos dias pareceu tomar conta dela e tudo o que Sakura sentia era um enorme peso sobre os ombros e uma dor tão profunda que chegava a lhe roubar o ar. Não queria se abrir para ele, justamente para ele, mas não conseguia mais segurar aquela barra sozinha, precisava por pra fora de qualquer jeito e de alguma forma, Madara lhe trazia a segurança que ela precisava para fazê-lo.

- Minha mãe... - sussurrou - Ela... morreu...

Madara abriu e fechou a boca algumas vezes enquanto absorvia a notícia. Viu Sakura fechar os olhos e no mesmo momento, grossas lágrimas escorreram pelas bochechas dela. Num impulso, puxou a Haruno para os braços, envolvendo-a com carinho e ela apenas se permitiu ser abraçada. Os soluços dela ecoaram pelo quarto enquanto se agarrava a ele, chorando tudo aquilo que não havia chorado nos últimos dias.

Era tão doloroso que a sufocava e nem se deu conta de quanto tempo havia passado daquele jeito, agarrada a ele, molhando a camisa social dele com as lágrimas tão sofridas que ela despejava. Madara apenas permaneceu em silêncio, abraçando-a com força, acariciando as costas e beijando o cabelos molhados vez ou outra.

Depois de longos e dolorosos minutos, ele a segurou pelos ombros e a afastou, olhando-a nos olhos com o máximo de ternura que conseguia. Com calma, segurou o rosto de Sakura entre as mãos e secou as bochechas, porém, mais lágrimas escorreram.

- Quando foi isso?

- Faz... cinco dias. - fungou, ofegando em seguida.

- Oh, menina... - murmurou - Eu sinto muito. Sinto muito que tenha enfrentado tudo isso sozinha.

- Esse é o problema. - fechou os olhos e baixou a cabeça, escondendo o rosto entre as mãos - Nada foi enfrentado.

- Do que está falando, Sakura?

Ela não respondeu, em vez disso, deu as costas e começou a caminhar pela sala/quarto. Madara observava, mas ao perceber que ela não iria responder, foi até ela e segurou as mãos dela, retirando-as do rosto feminino e fazendo com que a Haruno o olhasse. Os olhos de Sakura estavam tão vermelhos pelas lágrimas que parecia que tinham esfregado pimentas. Ela balançou a cabeça em completa agonia.

- Minha mãe ainda não foi enterrada.

Comentários

  1. Como vc disse que eu ficaria chocada CHOCADA eu estou!!!
    Como assim a mãe não foi enterrada?
    É por isso que ela foi parar ali, para conseguir dinheiro? Oooo meus Sakura 🥺
    Faça alguma coisa Madara!!!

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  2. Eu acompanho essa fic desde o Spirit, precisa continuar, por favor!

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