Reencontros - Capítulo 59

Todos ficaram olhando para Mebuki enquanto ela parava em frente ao juíz. Os cabelos loiros estavam presos em um cóque perfeito. Nenhum fio escapava. Os olhos verdes estavam bem abertos, passando confiança. Ela pegou a papelada que trazia nas mãos e caminhou até o juíz, colocando os papéis sobre a mesa dele e então se virou para todos os presentes.

- Senhores, acredito que não se faz necessário explanar aqui o motivo de tal julgamento, afinal, meu colega fez questão de deixar tudo muito bem explicado no que diz respeito a intimidade e convivência entre Uzumaki e Haruno. - ela olhou para o promotor que deu um sorrisinho - Entretanto, quero apresentar aos senhores, uma versão diferente dos fatos. A versão que fala sobre traição, possessão, ciúmes incontroláveis, além do uso de drogas, envolvimento com pessoas erradas e por fim, estupro!

Um burburinho se fez presente. Mebuki queria chamar a atenção de todos para si e ela havia conseguido. O juíz franziu o cenho, curioso. O júri também. O promotor corrigiu a postura na cadeira.

Ela voltou os olhos verdes para o júri, mantendo uma postura inabalável.

- Começaremos pelo fato de que minha cliente teve sua vida intima exposta pela vítima, Yahiko Uzumaki. Enquanto esteve intimamente envolvida com ele, foi filmada sem concentimento e devo lhes assegurar, senhores, que nem toda mulher possui o feitiche de ser filmada, muito menos de ser exposta como Yahiko fez, enviando o vídeo não só para o atual namorado de Sakura, mas também para toda a universidade. - ela fez uma pausa dramática - Então, aqui já temos uma situação que se encaixa na lei 13.718/2018, artigo 218-C que envolve a divulgação de vídeo intimo. - Mebuki olhou para o promotor e deu um pequeno sorriso - Entretanto, senhores, minha cliente, usando da boa convivência que teve durante anos com o senhor Uzumaki, decidiu resolver isso sem o uso da lei. Foi procura-lo para tomar satisfações sim, afinal, quem gostaria de ter sua intimidade exposta?

Todos no local permaneciam calados. Mebuki estava em um palco e ela sabia bem como prender a atenção da platéia. Seus olhos firmes, os ombros eretos. Ninguém era capaz de interromper aquela mulher.

- Sakura jamais imaginou que encontraria Yahiko bêbado, porém, por ter uma convivência antiga com o mesmo, ela conhecia os níveis de alcoolismo dele, mas, havia algo mais. E no meio da calorosa discussão, foi quando Sakura percebeu que Yahiko não estava arrependido, então ela disse que iria denuncia-lo. - a mulher suspirou, olhando para Sakura que mantinha os olhos na mãe. Nunca havia visto Mebuki em um julgamento e estava impressionada - Foi no momento que decidiu ir embora que o maior inferno da vida dessa jovem teve início.

A voz pesada de Mebuki fez todos se remexerem. Sakura mordiscou o lábio porque sabia o que estava por vir. Suas mãos voltaram a tremer enquanto Mebuki voltava os olhos para o júri.

- Porém, senhores, não colocarei com minhas palavras o que se passou a seguir, mas sim, com as palavras da própria Sakura. Peço para que escutem o que virá a seguir... o relato de uma jovem que enfrentou um homem bêbado, possessivo e sob efeito de drogas ilícitas.

- Protesto! - o promotor ficou de pé - A senhora diz que o jovem Uzumaki estava sob o efeito de drogas, mas o rapaz não usava nenhum tipo de entorpecente.

- Tudo o que falo é com provas, excelentíssimo colega. Provas essas que estão nas mãos do meretíssimo.

O juíz olhou a papelada que Mebuki havia entregue e então meneou a cabeça..

- Protesto negado. - suspirou - Prossiga.

- Tenho aqui em minhas mãos, a gravação da primeira conversa que tive com a Senhorita Haruno assim que meus serviços foram solicitados. Apenas escutem.

E então ela retirou do bolso do blazer o gravador que havia usado no dia que tinha ido até a casa deles. Sakura esbugalhou os olhos. Não estava pronta para aquilo, para ouvir sua própria voz contando o terror que viveu, mas Mebuki jogava de todas as formas para ganhar e ela não tinha pisado naquele lugar para aperder.

Apertou o play.

- B-bom... – ouviu-se um pigarro. Era a voz de Sakura, baixa, trêmula, nervosa – Começamos a discutir, claro. Eu perguntava o tempo todo o motivo de ele ter feito aquilo, dizia que ele precisava crescer. Que iria denunciá-lo, e foi então que ele se descontrolou. Começou a me xingar, dizendo que era para eu estar com ele e não com o Sasuke... – ouviu-se um respirar profundo – Ele não aceitava o fato de eu ter voltado para o Sasuke.

- Idiota... – a voz de Sasuke surgiu como um murmúrio.

- Foi então que começaram os xingamentos mais pesados, até que eu não aguentei e dei um tapa no rosto dele.

- Apenas um tapa? – soou a voz de Mebuki.

- Sim... Eu não conseguia ter forças contra ele por mais que desejasse... No fim, acho que eu também tenho culpa nisso tudo, sabe?

- Você não tem culpa de nada, Sakura. – Sasuke murmurou.

- E ai... Bom, ele também me bateu. E-eu fiquei tão surpresa que não consegui ter uma reação imediata e então... – houve uma longa pausa no áudio, até que a voz dela voltou, uma voz embargada – Ele me empurrou na cama e começou a tentar tirar minha roupa, dizendo que eu ia prender que ele era muito melhor... Eu tentava me soltar, mas era tão... difícil. – ouviu-se um fungado, um soluço baixo, respiração descompassada, até que a voz de Sakura soou baixa, sendo cortada pelo choro que se fazia claro no áudio – E-eu não lembro muito bem...

- Do que você lembra?

- Acho que ela precisa de um tempo. – a voz preocupada do moreno surgiu.

- Ela precisa falar. – Mebuki continuou com a voz profissional.

- Ela não está em condições... Está tudo bem, Sakura... se acalme.

- Coloque para fora, Sakura... Relembre.

- Já chega, Mebuki! – a voz irritada de Sasuke se fez ouvir.

- Eu não sei... – o sussurro de Sakura ecoou pelo local – Eu só lembro que eu gritava.. “Não. Não. Para!"... E ele... ele falava algo, mas eu não lembro o que era, porque tudo se tornou escuro, como um borrão. Eu senti um queimor no meu rosto. 

Enquanto a voz no gravador tomava conta daquele local, a Sakura verdadeira, sentada na cadeira, olhava para as mãos, seu rosto banhado em lágrimas, seus lábios tremendo... Já Sasuke, mantinha as mãos fechadas em punho, estava ofegante. Que situação tão difícil ter que ouvir e ver Sakura ouvir aquilo. Era uma dor tão absurda que o sufocava.

- O que aconteceu? – a voz de Mebuki tornou a surgir – O que aconteceu, Sakura?

- É... confuso... – sussurrou – Eu não conseguia abrir os olhos. Eu não via, mas... era como se... se... eu apagasse e voltasse... e... – ouviu-se um silêncio e então engasgos, uma respiração ofegante e descompassada.

- Sakura! – a voz atormentada de Sasuke tomou conta do lugar. Ele estava desesperado – Respire, meu amor, por favor, respire.

- Acalme-se, Sakura... Vamos, Sakura, respire fundo! - era Mebuki quem pedia.

- Sakura!... Meu Deus, Sakura!

- Que merda, Sakura! – o xingamento de Mebuki soou e então ouviu-se passos – Respire, Sakura!... Vamos, respire, você já fez isso antes!... Vamos, Sakura Haruno, respire agora mesmo e se controle! – exigiu ainda mais.

- Ela não está respirando! 

- Merda! – Mebuki respirou fundo e então sua voz surgiu, levemente tremula – Hush my love now don’t you cry, everything will be all right. – ela cantarolava - Close your yeys and drift in dream, rest in peaceful sleep. – sua voz calou

Um longo tempo se passou.

- A música do papai. – a voz sussurrada de Sakura surgiu, baixa, como uma criança acuada..

- Ela sempre lhe acalmou... O que te desestabilizou?

- E-eu... “acordei” e... e... – um soluço alto foi ouvido sair do gravador – Eu o senti...

Na audiência, Sakura fechou os olhos e levou as mãos ao rosto. O choro a dominou e ela soluçou alto. Tentava segurar as lágrimas, mas a dor daquele dia voltou. Todos os presentes olharam para a menina que tremia sozinha, sentada naquela cadeira, revivendo o inferno que passou, ouvindo sua própria voz narrar o fatídico momento.

Sasuke ofegou, fez mensão de levantar, mas Gaara o segurou pelo braço. Os olhos do moreno estavam inundados e o bolo que havia se formado em sua garganta o sufocava. Ele tentou puxar o braço, precisava ir consolar Sakura, mas Gaara o segurou com mais força e balançou a cabeça.

Se ele fosse, poderia colocar tudo a perder.

- Como assim? – ouviram a voz de Sasuke – Eu não tô entendendo porra nenhuma!

- Então eu vi um troféu próximo a mim. – Sakura soltava num sussurro tão baixo e sofrido que se o todos os presentes não estivessem em silêncio, não seriam capaz de ouvir.

- Você pegou e o acertou. – Mebuki completou.

- É... – o sussurro escoou.

E então Mebuki desligou o gravador.

Um silêncio torrencial se apossou sobre todo o júri. Apenas o choro de Sakura era ouvido no local. Todos olhavam de Mebuki para Sakura. O relato era pesado, dolorído. Mebuki caminhou até próximo ao júri. Seus olhos verdes estavam levemente marejados. Ela engoliu em seco, erguendo o queixo e encarando cada um ali.

- Meu colega falou sobre a mãe que recebeu a notícia de assassinato do filho. - ela meneou a cabeça, fazendo uma pausa enquanto respirava fundo - E acredite, senhores, eu me compadeço da dor dessa mãe, mas pensem como fica uma mãe ouvindo que sua filha teve sua vida intíma exposta, que foi agredida e foi estuprada... - ela respirou fundo puxando o ar pela boca - Como mãe, devo lhes dizer que eu poderia simplesmente me desmanchar aqui e chorar as lamúrias de ter uma filha violada. Comemorar que foi o filho de outra não a minha, mas como advogada... - respirou fundo e secou uma lágrima com a mão, voltando os olhos para o juíz - Devo dizer que minha cliente agiu em legítima defesa. Enquanto era agredida e violada... Sakura agiu por instinto, lutando para se salvar das mãos de um monstro.

Todos permaneceram em silêncio. Nem mesmo o promotor havia se recuperado do audio. Mebuki dominava aquele lugar.

- É tudo o que tenho para apresentar, meteríssimo. - ela meneou a cabeça para o juíz.

Asuma pigarreou e meneou a cabeça para ela.

- Certo... diante dos fatos apresentados, chamaremos as testemunhas.

E então começaram as testemunhas. Primeiro as de acusação. Um amigo de Yahiko que contou sobre a relação dele com Sakura, como eles conviviam, sobre como o Yahiko falava dela. Outro amigo veio e contou sobre a festa, como foi. Contou que Yahiko saiu muito bêbado de lá, além de ter consumido droga. Essa foi a parte que mais chocou a todos. Ninguém consguia acreditar que o Uzumaki realmente usava substâncias ilícitas. Depois de ouvidos, foi a vez das testemunhas de defesa.

Era o amigo de Gaara. O que estava no quarto com ele quando começou a gritaria. O rapaz se encaminhou para o local indicado, jurou contar apenas a verdade e sob instrução, começou a contar. Disse que estava conversando com Gaara quando começaram as gritarias.

- (...) e então a gente saiu do quarto. - ele franziu o cenho, lembrando do dia - Olhei ao redor para saber de onde vinha a gritaria, mas então a porta do quarto do Yahiko foi aberta e a Sakura saiu de lá. Ela estava... atordoada. Ela estava descabelada, com a roupa rasgada, descalça, também tinha alguns hematomas... - olhou para Sakura e suspirou. Sakura não olhava para ele, ela mantinha os olhos nas mãos - Ela chorava descontrolada e então abraçou o Gaara, um amigo nosso em comum e começou a falar de forma desconexa que foi um acidente, que não queria, que tentou...

- O que aconteceu depois? - Mebuki estava em frente ao rapaz.

- A gente ligou para a polícia e para a ambulância, mas ela não parava de chorar, tremia muito... 

- Entendo. - Mebuki suspirou e olhou para o juíz - Não tenho mais nada para perguntar.

- Certo... - o juíz anotou algumas coisas e então olhou para o promotor - Alguma pergunta para fazer?

- Não, senhor. - o promotor estava visivelmente chateado. Precisava pensar em algo rápido.

- Tudo bem... - folheou alguns papéis - Então vamos chamar a segunda testemunha de defesa, senhor... Sasuke Uchiha.

Todos os olhos foram para o moreno que esbugalhou os olhos. Como assim ele iria depor? Olhou para o lado e Gaara deu de ombros tão confuso quanto.

- Senhor Uchiha? - o juíz o chamou novamente.

Sasuke levantou no automático e caminhou até lá sentindo-se dormente. Mebuki o havia colocado para depor e não tinha dito nada? Sentou no local indicado e teve a bíblia colocada a sua frente.

- Coloque sua mão sobre a bíblia sagrada, senhor Uchiha. - um homem pediu e Sasuke o fez - O senhor jura, diante de todos presentes e da palavra de Deus, falar apenas a verdade, nada mais que a verdade, assumindo a responsabilidade de suas palavras?

- Sim. - sussurrou, voltando os olhos para Sakura.

Sakura mostrava-se tão surpresa e assustada que os olhos verdes estavam esbugalhados enquanto as mãos estavam na boca. Ela jamais imaginou que Sasuke fosse depor. Mebuki se aproximou de Sasuke, olhando-o nos olhos com determinação.

- Senhor Uchiha... consta nos autos que o senhor possui uma desavença antiga com o Uzumaki.

- Sim. Desde o fundamental. - ele pigarreou para clarear a voz, ainda estava chocado.

- Por qual motivo?

- Bom... Yahiko importunava minha vida quando éramos mais jovens. Espalhou algumas piadas maldosas sobre mim.

- Algo que o senhor julgaria grave?

- Hoje em dia não. - deu de ombros.

- Entendo... e quanto a senhorita Haruno. Como o senhor se sentia quanto a relação deles dois?

Sasuke olhou para Sakura que olhou para ele. Ela estava com o cenho franzido, as mãos, agora apoiadas sobre a mesa, torciam-se nervosas.

- Não é nem um pouco agradável saber que a mulher que se ama esteve com outro, mas o que posso fazer quanto a isso? - voltou os olhos pra Mebuki - Ela era solteira, maior de idade e responsável por seus atos.

- Então estava tudo bem? - arqueou as sobrancelhas.

- Eu não diria que "tudo bem", mas era a vontade dela e eu sempre respeitei a vontade de Sakura independente de qualquer coisa.

- Certo... - Mebuki caminhou pelo local e então voltou os olhos para Sasuke - Conte-nos sobre o momento que o senhor recebeu o vídeo.

- Bom... - pigarreou - Não é nem um pouco agradável receber tal conteúdo. - puxou o ar pela boca - Acho que... não sou totalmente capaz de contar como me senti porque foi um misto de raiva e ciúmes muito grande.

- E o que aconteceu a seguir?

- Fui atrás dele. - deu de ombros - O encontrei e soquei sua cara.

- O senhor o agrediu? - arqueou as sobrancelhas. Não esperava que Sasuke confeçasse. Aquela confissão era um prato cheio para o promotor.

- Sim. - meneou com a cabeça - Como é que se controla quando um carinha espalha vídeos de sua namorada para todo mundo? - ele piscou, irritado - O Yahiko não era nenhuma criança. Ele agiu de forma pensada. Me descontrolei? Sim, mas nem mesmo meu descontrole justifica a covardia que ele fez com ela.

- Entendo... - Mebuki meneou a cabeça de forma positiva e suspirou - No momento do crime, onde o senhor se encontrava?

- Eu estava na lanchonete no centro da cidade com o Naruto. - olhou rapidamente para Naruto que estava num canto mais afastado com Hinata ao seu lado - Recebi uma ligação do Gaara informando o que havia acontecido... o Naruto dirigiu pra mim rumo a delegacia.

- Naruto Uzumaki, primo da vítima. - pontuou.

- Sim.

- Certo... - ela olhou para o juíz - Não tenho mais perguntas para fazer, meretíssimo.

- Tudo bem. - o homem suspirou e olhou para o promotor - O senhor promotor de acusação está com a palavra.

O promotor ficou de pé, ajustou a roupa e caminhou até Sasuke.

- Senhor Uchiha, primeiro gostaria de saber: Como anda seu alcolismo? - arqueou as sobrancelhas.

Sasuke encostou as costas na cadeira, surpreso. Como ele sabia sobre aquilo? Piscou várias vezes, confuso. Voltou os olhos para Mebuki e ela deu de ombros. Não havia muito o que fazer, Sasuke tinha confessado sua raiva com o Uzumaki.

- Não bebo mais. - murmurou, voltando os olhos para o homem.

- Não? - franziu o cenho - Posso saber o motivo?

- Faço tratamento para ansiedade. - inclinou a cabeça - Tomo remédios controlados que não podem ser administrados junto com o álcool.

- Entendo... e... essa ansiedade pode voltar em surtos?

- Como qualquer outro problema psicológico. - encarava o promotor nos olhos. O que aquele homem estava insinuando, que ele era um doido descontrolado?

- Compreendo... - o promotor virou para o júri e deu de ombros - Transtornos psicológicos que mediante situações de extremo estresse podem apresentar comportamentos violentos, como foi relatado pelo próprio.

- Eu não sou um louco varrido, se é isso que está insinuando! - Sasuke se exaltou.

O promotor o olhou por cima do ombro com as sobrancelhas arqueadas.

Sasuke percebeu que havia se descontrolado e estava parecendo ser exatamente aquilo que o homem insinuava. Respirou fundo se recompondo. Não podia perder o controle. Não podia cair no jogo sujo que aquele homem fazia. Engoliu em seco, respirando de forma lenta e controlada, colocando em prática um mantra interno.

Manter-se calmo.

Manter-se calmo.

O promotor voltou a caminhar, parando em frente a Sasuke novamente.

- É verdade, senhor Uchiha, que o senhor falou em alto e bom tom na delegacia que preferiria que o SENHOR tivesse dado cabo da vida do senhor Uzumaki com as próprias mãos?

Sasuke respirou fundo. Aquele homem o estava jogando contra a parede. Ele realmente queria acabar não só com Sakura, mas consigo também.

- Sim. - não iria ceder as ameaças psicológicas daquele promotor.

- Então, mediante a tragédia, o senhor assumiu uma postura violenta. - suspirou - Tão histórico de seu sobrenome.

Sasuke piscou incrédulo. Seria julgado pelo sobrenome, era isso mesmo? Encarou o promotor longos segundos, analisando-o meticulosamente. Havia prometido a Sakura que ela voltaria para casa e com isso em mente, não permitiria que o promotor o usasse para incriminá-la.

- Diga, senhor Uchiha, o que lhe resultou em tamanha violência? Afinal, sua namorada já havia dado cabo da vida do jovem Uzumaki.

Sasuke estreitou os olhos para o homem. Respirou fundo uma, duas, três vezes e então percebeu algo no promotor que o fez querer sorrir. Como uma máquina, a mente de Sasuke começou a trabalhar e quando ele abriu a boca, sabia que jogaria de volta o veneno que o promotor jogava contra si.

- Vejo, por sua aliança, que o senhor promotor é um homem casado...

- A pergunta não diz respeito a minha vida pessoal, meu jovem rapaz. - o homem aprumou os ombros.

- Concordo, mas estou apenas respondendo sua pergunta e como eu jurei falar a verdade, irei fazê-la usando analogias que facilite o entendimento de todos sobre meus motivos. Acredito que isso não seja proibido, certo? - olhou para o juíz.

- De forma alguma... - o juíz gesticulou com a mão - Prossiga.

- Obrigado. - voltou os olhos para o promotor - Pois é, o senhor, como um homem responsável por seu lar, amando sua esposa e cumprindo suas obrigações de marido perante juramento de matrimônio, faria qualquer coisa para defendê-la em um momento de perigo e foi o que fiz. Meus instintos apenas me levaram a querer proteger a mulher que amo das mãos do Uzumaki.

- Então desejou matá-lo... - completou, cruzando os braços.

- Sim, desejei... - olhou para todos presentes, para o júri e então voltou os olhos para o promotor - O senhor não sabe o quão dolorido é olhar para a mulher que se ama todo santo dia e vê que está quebrada. O senhor não sabe, senhor promotor, como é difícil não poder tocar na mulher que ama porque ela simplesmente o rejeita, não por medo de você, mas por ter medo de relembrar da sensação de sentir as mãos do homem que a torturou de maneira tão covarde. - Sasuke parou para respirar. Seus olhos estavam marejados. Ele não olhava para Sakura, o que era bom, porque Sakura chorava copiosamente. Ele estava desabafando... era tão dicífil carregar aquele fardo e ser forte - Não é o senhor que tem que conviver com os gritos, com os surtos, as noites de insônia, com as crises de choro, com a depressão e a falta de vontade de viver, então sim, senhor promotor, eu desejei ter o Uzumaki em minhas mãos, porque ele destruiu a vida da mulher que eu amo por puro capricho.

O promotor se manteve em silêncio. As palavras de Sasuke eram duras. Ele olhou rapidamente para o júri e viu eles cochichando. Aquele moleque o havia colocado em uma sinuca de bico. Pigarreou e voltou os olhos para Sasuke.

- Então, deixe-me lhe fazer uma pergunta informal, senhor Uchiha... - ele se aproximou de Sasuke com uma sobrancelha arqueada - Se isso é um fardo para o senhor, porque o continua carregando?

Todos os olhos se voltaram para Sasuke, inclusive os de Sakura. Claro que o moreno não esperava por aquela pergunta. Ele piscou algumas vezes e então olhou para Sakura. Ela estava com o cenho franzido, o rosto lavado em lágrimas, as mãos sobre a boca enquanto soluçava baixinho.

Ele a encarou por longos segundos e então deu um pequeno sorriso. Ninguém entendeu o motivo dele estar sorrindo, mas ele sorria para ela. Sakura mordiscou o lábio, sentida com aquele ato. De repente, Sasuke parecia um mar de calmaria e paz.

- Porque eu a amo, senhor promotor... - ele respirou fundo e deu de ombros - Olhe para ela... não há no mundo alguém com o coração igual ao dela. Nada se compara ao sorriso que ela possui. - o sorriso dele aumentou um pouco mais e Sakura sorriu minimamente - E se para ficar ao lado dela eu tiver que enfrentar todos os fantasmas para o resto da vida... então eu o farei. Porque eu jurei amá-la em qualquer situação e eu vou cumprir minha promessa até meu último suspiro.

Sakura abriu um sorriso ainda maior. Lágrimas voltaram a cair, mas dessa fez, era de felicidade... felicidade por ter Sasuke em sua vida, e da mesma forma que ele havia jurado ama-la, ela também o amaria pelo resto da vida e faria de tudo para colar cada caquinho quebrado, apenas para poder ser dele novamente. Apenas para poder vê-lo ter tudo de si outra vez, porque o Uchiha não merecia um pedaço, nem metade... ele merecia ter tudo. Absolutamente tudo.

- Mais alguma pergunta, senhor promotor? - o juíz quis saber.

- Nenhuma, meretíssimo. - resmungou.

- Certo... Entraremos em uma pausa de trinta minutos enquanto o júri decide a respeito da ré. - e com isso, ele bateu o martelo.




Notas Finais:

Gente, eu não sou nenhuma especialista no assunto, portanto, tentei relatar de acordo com o que sei e de forma que desse para todos entenderem.

Obrigada pela compreensão.