Reencontros - Capítulo 18



O ar frio chicoteou os cabelos róseos que balançaram violentos no inicio, mas depois se acalmaram. Olhou ao redor vendo o bairro. O prédio não era tão alto, mas dava uma vista legal do campus. O local estava calmo, a maioria dos alunos estavam com seus familiares e apenas poucos loucos - como eles - preferiram ficar e curtir com os amigos. Ela caminhou até o para peito e apoiou os ante braços no para peito, respirando fundo. A música de fundo era calma, relaxante e ela agradeceu mentalmente por isso.


Sabia que em poucos minutos um novo ano começaria, mas qual a expectativa que ela tinha? Geralmente as pessoas faziam promessas de final de ano, mas ela não tinha nenhuma. Não queria prometer e não poder cumprir. Estava cansada de promessas nunca realizadas. Levou a lata até os lábios e deu um pequeno gole. A bebida parecia amarga e por isso, decidiu deixar a latinha de lado. Inclinou o corpo para frente e apoiou o queixo nas mãos, fechou os olhos e se permitiu ser embalada pelo vento que batia contra seu rosto. Era reconfortante.


Respirou fundo enquanto o som suave da música relaxava os músculos dela. Creed - Lullaby. No mesmo instante em que os acordes começaram, ela sentiu um bolo se formar em sua garganta. Quem colocava aquele tipo de música para tocar em uma festa de final de ano? E logo essa música! A música que seu pai cantava para si todas as noites antes de dormir quando pequena.


Abriu os olhos e contemplou a escuridão com suas luzes brilhantes. "Apenas dê amor a tudo". Tudo bem... era uma frase bonita para se falar, mas como fazer isso?


Passou uma mão no rosto enxugando algumas lágrimas. Como sentia falta dele. Como queria poder voltar no tempo e falar para ele não lhe apoiar. Para ele ficar em casa ou até mesmo não ter esquecido o livro... Tudo o que queria era poder voltar no tempo e evitar que seu pai morresse por sua causa.


Estava tão imersa nos próprios pensamentos que nem ouviu quando a porta foi aberta e fechada. Também não ouviu os passos na varanda. Só quando uma pessoa parou ao seu lado que ela percebeu não estar sozinha e ao olhar para o lado, encontrou as esferas negras olhando-a. No mesmo instante, ela virou o rosto e disfarçadamente limpou qualquer resquício de lágrima.


Mas era tarde demais.


Ele já tinha visto o suficiente para saber que ela não estava bem, mas sabia respeitar isso. Apoiou uma mão no para peito enquanto a outra segurava um copo e ficou olhando para frente também, perdido nos próprios pensamentos, como por exemplo, ela ser sua irmã. Não conseguia aceitar isso, não conseguia compreender. Não era certo. Não era justo, porque todas as vezes que ele olhava para ela, enxergava apenas a mulher que amava e não uma irmã. Seu coração não agia como um irmão. Seu corpo não agia como um irmão. Seu cérebro não agia como um irmão. Tudo nele pedia por ela como mulher... Como sua mulher...


Ela voltou a olhar para frente enquanto o tempo passava. Lado a lado, contemplando o silêncio, eles permaneceram presos nos próprios pensamentos, levando a mente para um estado de cansaço emocional altíssimo. Mas ainda assim, estarem ali, juntos, era como se as forças se esvaíssem e se renovassem de forma automática. A música de fundo mudou para All Of Me - John Legend. Ela fechou os olhos e deu um pequeno sorriso de canto. Amava aquela música e nem compreendia o motivo.


- Me falaram que você não dança mais. - a voz dele soou baixa ao seu lado e ela abriu os olhos, mas permaneceu olhando para frente.


- É... - suspirou - Acho que... desaprendi.


- Hun... - apoiou o copo no para peito e dobrou as mangas da camisa até a altura dos cotovelos, deu um passo para o lado e estendeu uma mão para ela - Vem... Eu te ensino.


Ao ouvir aquilo ela olhou para o lado e o viu ali, parado, com uma mão estendida para si olhando-a pacientemente. Ele parecia tranquilo, os olhos piscavam calmos, o peito subia e descia de forma controlada, como se tudo estivesse bem. Não havia o medo da rejeição, não havia zoação, não havia insistência... Apenas ele lhe devolvendo algo que ela o havia dado. Ela olhou para a mão dele estendida e respirou fundo. Fazia tanto tempo que não dançava a dois. Para ser mais específica, desde a formatura não dançava a dois, porque lhe parecia errado, incerto. De forma automática, ela viu a mão subir lentamente e pousar sobre a dele com certo constrangimento. Os olhos verdes subiram para os negros e ele deu um pequeno, quase imperceptível sorriso e segurou sua mão com ternura. 


Com cuidado, o Uchiha a puxou para junto de si e ela foi. Estava no automático, sentia a mão dormente. Por que estava indo dançar com ele? Não entendia. Sua mente mandava ela se afastar, mas o corpo não obedecia. Sentiu quando a outra mão dele a envolveu com delicadeza e ele apoiou-a em suas costas. Quando os corpos se colaram, ela respirou profundamente sentindo o cheiro dele.


Ainda era o mesmo.


Discretamente, ela subiu a mão até o ombro dele e a repousou ali. Ele começou guiando a dança: um passo para um lado e um passo para o outro. Lento. Suave. Sutil. Discreto. Os olhos não se deixaram em nenhum momento e nem queriam. Dançavam perdidos, embalados pela música que falava tanto para eles. 


Desarmados.


Sozinhos.


Feridos.


Depois de tanto tempo, eles finalmente mostravam ali o que não queriam mostrar: O sentimento.


Dizem os sábios que os olhos transparecem a alma e era isso o que acontecia naquele momento. A revelação era grande. Tão grande que o contato visual apenas foi cortado quando o barulho de fogos de artifício cortou a música, tirando-os do transe em que estavam. Ambos olharam para cima e viram o show de luzes no céu, iluminando a noite. A dança não parou, mas eles permaneceram olhando para o céu, admirados. Era um belo show. A queima de fogos aconteceu por alguns minutos e em nenhum momento eles se separaram ou pararam de dançar. Não havia motivos para isso.


Quando o show acabou, eles baixaram o olhar novamente apenas para encontrarem o olhar do outro. Ele deslizou a mão pelas costas dela em um carinho suave, quase não a tocava e ela agradeceu mentalmente por isso. A forma como ele a tocava era tão igual e ao mesmo tempo tão diferente... Como se estivesse redescobrindo a forma de lhe tocar, o que de certa forma era estranho... Já que ele sabia fazer isso muito bem.


Ela se permitiu baixar o olhar e olhou para o peito dele. Tão convidativo, tão quente, tão... natural... Instintivamente, a Haruno apoiou a cabeça no peito dele e no mesmo instante pensou em se afastar, mas ele deu um beijo suave na têmpora dela e depois apoiou o queixo no topo da cabeça dela. O suspiro de ambos foi alto.


E então houve a paz.


Não era justo se sentir assim. Não era certo. Não era humano. Não era bonito... Mas ainda assim se sentia, como se dois anos e meio não tivesse passado. Como se ainda estivessem no salão do baile de formatura com ele acariciando a base de sua coluna com o polegar da mesma forma que fazia agora. Com o queixo dele apoiado sobre o topo de sua cabeça, exatamente como agora. Com a mão dele segurando a sua com propriedade e suavidade... Exatamente como agora.


A incógnita era grande.



Maior ainda, era a estranha sensação de paz e tortura que rondavam seu peito. Erguendo a cabeça, ela o olhou nos olhos com receio, afinal, não queria mostrar o quanto estava abalada, mas ao encontrar os ônix, ela percebeu que ele também estava, e mais... ele estava desarmado, se mostrando, então não haveria problemas ela também se mostrar... Não naquele momento.



- Por quê? - sussurrou baixo. Não precisou explicar... ele sabia bem o que aquela pergunta significava.



- Bear... - sussurrou e acariciou levemente o rosto dela - São tantos os motivos.



- Não. - balançou a cabeça - Tem que haver um. - franziu o cenho - Tem que ter um motivo especifico.



Ele respirou fundo. Havia sim... Medo... Era o verdadeiro motivo para ter ido embora. Para ter abandonado-a. Quebrado seu coração. Para das inicio a catástrofe que se instalou na vida de ambos... Para colocá-la nos braços do Yahiko... E para colocá-lo nos braços da bebida...



Apenas o medo...



- Me desculpe. - continuou sussurrando e acariciando o rosto dela enquanto os olhos tremiam diante dos verdes - Por favor, me perdoe por...


- SASU...KE! - a porta foi escancarada com força e um Naruto eufórico adentrou no terraço mas ao olhar para os amigos, paralisou - Desculpa.


- Não! - a Haruno se afastou rápido do Uchiha e passou as mãos no vestido de forma constrangida. Não queria ter sido pega daquele jeito. - Já terminados por aqui. Pode ficar a vontade.


Caminhou na direção do loiro e o abraçou rápido.


- Feliz ano novo, Sah. - deu um beijo na bochecha dela.


- Obrigada. Para você também.


Eles ficaram em silêncio vendo a Haruno passar pela porta e quando estavam apenas os dois sozinhos, o loiro suspirou e olhou para o amigo. Sasuke parecia com raiva, mas o loiro também estava. Descobrir que a Sakura era a suposta irmã do Sasuke havia mexido muito consigo. Ainda lembrava do surto que teve no hospital e de como enlouqueceu, chegando a arrancar fios loiros da cabeça enquanto puxava os cabelos e caminhava de um lado para o outro.


- Cara, me desculpa, mas eu não podia deixar você se levar pelo sentimento... Sasuke, ela é sua irmã! - sussurrou e soltou um gemido baixo.


- Suposta! - cortou e olhou para o lado - E... de qualquer forma... eu consegui descobrir duas coisas.


- Duas coisas? - franziu o cenho.


- Sim... - respirou fundo - A primeira é que eu a amo mais do que imaginei... Tudo o que eu sentia ha dois anos e meio atrás só... triplicou.


- Tá. Isso eu já sabia. - revirou os olhos - E a segunda?


- É que ela me odeia... na mesma proporção em que me ama. - deu um pequeno sorriso de canto.


- Você sabe que ela te odeia muito, não é?


- Sei.


- Meu pai... Isso vai da merda! - soltou um gemido baixo e caminhou até a varanda, apoiou as mãos e inclinou o corpo - Essa porra toda... Ela ser sua irmã... Meu Deus! - resmungou.


- Para de ficar repetindo isso, cara! - coçou a cabeça - Depois de dois anos e meio eu estou me sentindo feliz e você vem cortar meu barato?


- Foi mal, cara, mas estou sendo realista.


- Esse seu realismo... - parou de falar quando ouviu o telefone tocar. Ergueu o dedo indicador para o amigo e pegou o celular, atendendo-o - Alô?... Sim, é ele... Como? ... - franziu o cenho - O que... ?- olhou para Naruto e começou a ofegar.


- Cara, o que houve? - sussurrou, preocupado.


- Não! - passou uma mão nos cabelos e sentou na cadeira que estava próximo de si - Não! Não!


-Sasuke! - Naruto se aproximou dele enquanto via o amigo derrubar o celular no chão e levar ambas as mãos ao peito, ofegando - SASUKE! - gritou.


O Uchiha parecia não ouvir. Ele apenas apertava o peito e ofegava. Sua boca havia ficado dormente, suas extremidades também. Seu ouvido zumbia. Seu corpo tremia. Ele não conseguia pensar. Não conseguia falar. Tudo o que sentia era dor e falta de ar. Naruto se inclinou na frente dele no mesmo instante em que os amigos apareciam na porta, pois, haviam ouvido o grito do loiro.



- Sasuke, se acalma cara. – segura o amigo pelos ombros- Tenta...




- Ele vai ter uma taquicardia, Naruto! – em questão de segundos, a Haruno empurrou o loiro para o lado e segurou o rosto do Uchiha entre as mãos afastando os fios do rosto dele - Sasuke, olha pra mim… vamos Sasuke, olhe pra mim - mas ele não olhava. Os olhos esbugalhados estavam perdidos enquanto ele ofegava e apertava ainda mais a camisa na altura do peito. Ela inclinou o corpo e ficou com o rosto próximo ao dele, afastou a mão dele do peito e apoiou a própria mão no peito dele e pressionou fazendo-o arfar - Olhe pra mim, Sasuke. Controle-se. Eu tô aqui. - a voz dela era calma. Ela precisava se manter calma para acalmá-lo. - Sasuke, está tudo bem… Olha pra mim. - pediu baixo e pressionou o peito dele novamente. - Não vá, Sasuke... Fique aqui... Olhe pra mim, vamos. - pediu baixo e como se finalmente entendesse, os olhos do Uchiha se voltaram para ela, focando-a. A Haruno soltou o peito dele e segurou no rosto dele com ambas as mãos - Calma… vai ficar tudo bem. Vai ficar tudo bem. - Continuava falando suave e ele parecia entendê-la.



- Ele… ele parece mais calmo. - a voz da Hinata soou em algum lugar atrás da Haruno.


- Sasuke… - o chamou baixo e passou as mãos pelo rosto dele limpando o suor e afastando os fios negros novamente - Respira com calma. Está tudo bem agora. Eu tô aqui, tô com você… Você me entende? - Os olhos verdes miravam os negros com determinação e por um momento os olhos negros tremularam e o moreno balançou a cabeça de forma positiva apenas uma vez e lentamente. - Ótimo… Olha… - desceu uma mão do rosto dele e segurou a mão dele com força, queria que ele sentisse que ela estava lá, a respiração do moreno era pesada e ofegante - Eu preciso que você se acalme, eu quero te ajudar, mas preciso que você se ajude também. Tudo bem? - mais uma vez ele balançou a cabeça levemente - Bom, Sasuke. Muito bom. Agora respira com calma, eu tô aqui. - sussurrou - Estou com você.



Enquanto esperava ele se acalmar, não tirou os olhos dos deles, não tirou a mão do rosto dele, nem afrouxou o aperto da mão em nenhum momento. Sabia que aquilo devia estar sendo horrível para ele, não compreendia o que ele tinha ouvido ao telefone, mas para deixá-lo daquele jeito, deveria ser algo muito grave. Durante todo o tempo que se passava, os amigos deles ficaram lá, ansiosos, esperando, sem desgrudar os olhos deles. Sakura era uma estudante de medicina muito competente, e o Uchiha sentia-se confiante com ela, afinal, ele ainda enxergava nela a paz. Os segundos se arrastavam e eles permaneceram do mesmo jeito. Pouco a pouco a respiração dele foi voltando ao normal, porém, seus olhos foram ficando marejados. Ele fechou a boca tornando os lábios e finas linhas e ela viu ele engolir seco, o cenho franziu e ele respirou fundo e lento.


- O que houve? - perguntou baixo vendo-o respirar fundo novamente.


- M-meu pai… - sussurrou só para ela com a voz falha. - Meu… pai… - franziu o cenho novamente para ela como se perguntasse o motivo daquilo ter acontecido.



Ela não precisou de mais nada. O modo como ele lhe olhava era de puro questionamento e dor… E ela se viu alí, se viu nos olhos dele. A mesma coisa que ela tinha passado. A mesma dor. O mesmo desespero. A mesma perda. A Haruno suspirou pesado e soltou a mão e o rosto dele, mas em vez de se afastar, ela ficou de pé e o abraçou. O abraçou forte enquanto ele enterrava o rosto entre os seios dela, próximo ao estômago e abafava um soluço engasgado. As mãos do moreno rodearam a cintura da Haruno puxando-a para sí, segurando na camisa dela com força, sem querer largá-la. Queria poder resistir ao que estava sentindo, mas como? Como poderia resistir ao vazio que ameaçava tomar conta dele?



Enterrou ainda mais o rosto nela e respirou fundo. Precisava se controlar, precisava ser forte… Uma mão dela lhe fez um carinho suave nas costas e a outra foi para os fios negros. Ele sentiu ela acariciar seus cabelos e por um momento, ele se sentiu salvo. Era como se ela pudesse afastar toda a dor que ele estava sentindo, como se fosse seu único porto seguro, então se agarrou ainda mais nela e fechou os olhos forte. Só queria poder resistir. Queria poder ser forte. Queria poder levantar a cabeça e ser quem deveria ser, mas como? Como poderia fingir ser forte quando acabara de saber:


Seu pai estava morto.









Comentários

  1. EITA PORRAAAAAAAAAAAA
    EITA PORRAAAAAAAAAAAA
    AAAAAAAAAAAAHHHHHHH SURTANDOOOOOO SOCORROOOOOOOOOO
    Consigo nem comentar 🙊
    AAAAAAAAAAAAHHHHHHH MEU PAI AMADOOOOOO
    BRUNA POSTA LOGOOOOOO OUTRO CAPÍTULO
    NAO VOU AGUENTA
    AAAAAAAAAAAAHHHHHHH SOCORROOOOOOOOO

    ResponderExcluir
  2. Aiiiii, meu coração está chorando pelo Sasuke e pela Sakura!!! Temos visto quase tudo pela visão da Sakura e, por isso, temos vontade de dar uns tapas no Uchiha as vezes... mas a vida dele tem sido um buraco negro. O Sasuke tem passado por muita coisa... e a única luz da vida dele, é a Sakura... eles não podem ser irmãos!!!!

    Foi tão lindo eles dançando... o Sasuke perecebendo que a Sakura o odeia e o ama na mesma intensidade... e tão doloroso quando a Sakura reconheceu aquele olhar de tristeza...

    Continuaaaaaaaaaaaaaaa

    Bella

    ResponderExcluir
  3. Autora-chan , esaa fic maravilhosa amo muito , e em especial amei o cap , pq você desenvolve com calma os sentimentos de ambos , mas eu vum aqui para pedir pra vc afualizar gypsh filha do fogo (não lembro se é assim que escreve ) mas é a que a sakura é cigana , eu amo dms aquela fic
    Bjs
    Acompanho você aqui e no spirit
    XOXO

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Fugitivos - Capitulo Quinze

Fugitivos - Capitulo Onze

Fugitivos - Capitulo Treze