Reencontros - Capítulo 11

O local era uma tipica pousada de beira de estrada, algo bem simplório, mas sutilmente confortável. Analisou rapidamente a fachada achando aquele lugar interessante. Desligou o carro e desceu do mesmo, vendo o Uchiha descer com certa dificuldade. Os olhos negros - e meio avermelhados - passearam pela fachada também e ele resmungou algo para si mesmo, como um tipico bêbado faz quando quer brigar e não tem ninguém pra fazer isso.


Ela viu ele cambalear até a entrada do local e parou, olhando para trás, esperando-a. Com um muxoxo, ela seguiu até ele, entrando os dois no local. A recepção era um museu antigo, com poltronas antigas, um lustre no alto que parecia nem ser usado, um balcão que servia como recepção com uma mulher de meia idade atrás dele, que contemplava os visitantes por trás do óculos de meia lua.


- Bom dia. - cumprimentou, puxando a barra da camisa que vestia, tentando alinha-la ao corpo.


- Bom... Dia... - o moreno caminhou até a mesma e apoiou as mãos no balcão - Um quarto... Por favor. - ele estava carrancudo, sujo, fedendo a bebida e com o equilíbrio bastante afetado.


- Desculpe, mas... - ela olhou para a Haruno de um jeito desconfiado.


- Não se preocupe, ele não vai arrumar nenhuma confusão. - caminhou até o balcão e lançou o melhor sorriso para a mulher.


- É que já tivemos problemas com bêbados. - olhou rápido para o moreno - Um enorme prejuízo...


- Tks! - passou uma mão nos cabelos negros.


- Tudo bem... - suspirou - Eu me responsabilizo por esse idiota. - Enfiou a mão no bolso do short e retirou a CNH de lá, colocou sobre o balcão - Pode fazer o cadastro no meu nome.


- Por sua conta em risco. - a mulher deu de ombros pegando a documentação da Haruno e preenchendo a ficha - Quarto 3. - informou pegando as chaves num mostruário atrás de si e entregando para a Haruno.


Com um aceno de cabeça, a Haruno pegou a chave e seguiu na direção da estada de madeira que dava acesso ao primeiro andar. Olhou por cima do ombro e viu os olhos negros a olhando enquanto ele caminhava, seguindo-a. Teve duvidas se ele conseguiria subir as escadas, mas viu as mãos dele segurarem o corre mão com firmeza, então se despreocupou. Seguiu pelo corredor com piso de madeira polida e parou no quarto com a numeração na porta. Colocou a chave na fechadura e girou, abrindo-a.


A primeira coisa que viu foi o guarda roupas antigo, de madeira envernizada. Ao lado dele uma janela fechada com uma enorme cortina pesada, florida. Em frente ao guarda roupas havia uma cama de casal de madeira, com uma colcha florida e aparentemente quentinha, dos dois lados da cama haviam criado mudo e abajur, na parede alguns quadros, próximo a um dos abajus havia uma poltrona, ao lado da poltrona uma mesinha com um abajur em cima e ao lado da mesinha havia outra poltrona. Próximo a janela havia uma porta que dava acesso ao banheiro e só. Era um quarto simples, pequeno e confortável. Ao menos a Haruno achou.


Entrou e ouviu o moreno entrar e fechar a porta. Ela caminhou até a janela e abriu as cortinas, permitindo um pouco do sol da manhã entrar no lugar enquanto ele caminhou pelo quarto até a cama, onde sentou na beirada e ficou olhando para ela. A jovem ficou observando a estrada por onde haviam vindo e com um suspiro alto, virou, encontrando os olhos negros em si.


- Quê? - franziu o cenho.


- Nada. - resmungou, levantando. - Vou tomar um banho.


- É bom mesmo. - franziu o nariz, caminhando para a poltrona e sentando - A inhaca tá chegando aqui.


- Não tenho culpa se você não tomou banho hoje. - abriu a porta do banheiro, entrando.


- Vá se foder, Uchiha! - reclamou vendo-o fechar a porta - Seu Porco!


Ouviu uma risada dele e revirou os olhos. Idiota! Idiota! Idiota! Aquele homem era chato, implicante e insuportável. Piorava quando estava bêbado. Com um revirar de olhos, pegou o celular no bolso do short e destravou o mesmo, vendo algumas mensagens. A primeira era do Naruto.


"Onde ele estava? Sakura, estamos todos preocupados com esse filho da mãe irresponsável. Não deixa ele só, por favor. Se ele quiser sumir novamente me avisa que vou ai arrancar as bolas dele. "


A segunda também era do loiro.


"Ah! Obrigado por tudo, Sakura. Não tenho palavras para agradecer. "


A terceira também era dele.


"P.s.: Te amo! "


A quarta era da Tenten.


"Encontrou o Uchiha!!! Tô no chão!!! Como você fez isso??? "


A quinta era da Hinata e da Ino.


"Estamos infinitamente agradecidas. Apesar de idiota, ele é nosso amigo também. Te amamos sua vaca. 
Hina x Ino "


A sexta do Gaara.


" Obrigado por ter encontrado o idiota. Eu sabia que você o encontraria. "


Estava tão distraída que nem ouviu o chuveiro ser ligado e um tempo depois desligado. Só voltou a realidade quando ouviu o barulho da porta abrindo. Ergueu os olhos e acabou ficando sem ar. Ele saía do banheiro com uma toalha enrolada na cintura e enxugando os cabelos com outra toalha enquanto mantinha os olhos fechados. A Haruno passeou os olhos de forma lenta pelo abdome desnudo dele, vendo as gotículas de água dançarem pela pele morena, seguindo para baixo, para baixo, até se perderem na toalha. Engolindo seco, ela obrigou os olhos a deixarem o corpo dele, mas era impossível. Por mais que sua razão falasse: TIRA O OLHO AGORA! Sua emoção falava: OLHA SÓ MAIS UM POUQUINHO. TUDO ISSO JÁ FOI SEU!


Com muito controle, ela voltou a olhar para o celular fingindo desinteresse, mas todo seu corpo esquentava pedindo por mais uma olhadinha. Não podia. Simplesmente não podia olhar.


- O Dobe já te atentou muito? - ouviu a voz baixa dele e ergueu os olhos. Ele estava parado próximo a cama com a toalha que enxugava os cabelos em volta do pescoço, com as mãos na cintura.


- Só o Naruto sendo o Naruto. - resmungou passando a língua entre os lábios e olhando para o lado. Como ele podia agir tão naturalmente daquele jeito?


- Hun... - suspirou e caminhou até o criado mudo pegando o controle e ligando o ar - Se importa?


- Não. - deu de ombros, abrindo uma rede social qualquer.


- Tudo bem... - tirou a toalha do pescoço e a jogou na poltrona vazia, levantou a colcha e deitou na cama puxando a colcha para cima de si, se cobrindo - Vou dormir um pouco... Tem algum problema?


- Nenhum, Uchiha. - fez voz de tédio - Dorme ae. - olhou rápido para ele apontando pro celular - Vou estudar.


- Tá legal. - franziu o cenho enquanto a olhava de um jeito perdido. Com um meneio de cabeça, ele enfiou a mão embaixo da colcha e quando a tirou, trouxe a toalha junto, jogando-a sobre a poltrona.


- O que porra é isso!!!? - esbravejou vendo ele jogar a única coisa que cobria sua nudez.


- Não vou dormir enrolado numa toalha molhada, Sakura. - respirou fundo se aconchegando na cama - E minhas roupas estão sujas.


-E vai ficar pelado!? - estava nervosa. Não tinha psicológico suficiente para ficar no mesmo quarto com ele pelado.


- Estou escondido. - murmurou já fechando os olhos - Não se preocupe.


- Aaaah claro... Muita diferença faz. - reclamou.


- Vai estar aqui quando eu acordar? - sua voz saiu baixa.


- Tenho escolhas? - resmungou.


O Uchiha não respondeu e em pouco tempo ela pode ouvir a respiração tranquila dele. Com um gemido baixo e longo a Haruno fechou os olhos sentindo o corpo doer. Como podia estar ali? Como se deixou levar pela situação daquele idiota? Aquilo estava acabando consigo e ela sabia que só sairia mais magoada dali. Sabia que ele iria pisar em si quando tivesse a chance porque era isso que ele fazia, era esse o dom dele, e como uma bela idiota, ela estava permitindo ele brincar consigo novamente.


Permaneceu com os olhos por um tempo enquanto respirava de um jeito lento, tentando fazer os neurônios entrarem no eixo. Voltou a abrir os olhos e olhou para a cama. O moreno dormia coberto até metade do abdome, uma das mãos embaixo da cabeça enquanto a outra repousava sobre a barriga. Estava deitado com a barriga para cima, os cabelos molhados caídos sobre o travesseiro davam a ele um ar até angelical. O corpo grande ocupava mais da metade da cama por causa do jeito esparramado que ele estava deitado. A Haruno ficou observando-o por um bom tempo, analisando as mudanças que o tempo havia feito nele, como a barba, os cabelos maiores, as linhas em torno dos olhos, os ombros mais largos.


Mordiscou o lábio inferior quando um arrepio percorreu o corpo se perguntando se ele ainda era tão quente como antes, se seu corpo era agradável ao toque ou até mesmo se o cheiro dele continuava o mesmo. Estava sentada na poltrona que ficava aos pés da cama, o celular em uma das mãos parecia não existir. Tudo o que ela fazia era olhar para ele dormindo. Não conseguia acreditar que ele havia destruído sua vida daquele jeito, que ele tinha pego tudo o que ela tinha lhe dado e jogado no lixo. Não conseguia entender ou até mesmo aceitar tudo o que havia acontecido. Como em uma hora ele era o cara perfeito, o namorado perfeito, o amigo perfeito e em outro era a pessoa que ela mais odiava no mundo?


Como se seu corpo tivesse vida própria, ela levantou da poltrona e seguiu até a lateral da cama, observando o peito dele subir e descer tranquilo com alguns pelos desenhando toda a carne. Engolindo seco, sua mão levantou no automático, sem o consentimento dela e foi até próximo a cabeça dele. Seu dedo indicador tocou suavemente numa mecha do cabelo masculino, tirando a pequena mecha da testa dele, afastando a mesma para trás. Sim, o cabelo continuava macio. Ainda com o dedo indicador, ela tocou na têmpora dele sutilmente, sentindo o calor naquela região. Ele ainda era quente. Do mesmo jeito que ela lembrava.


- Sakura... - ele sussurrou.


Com um ofego assustado, ela se afastou dele rápido e acabou batendo a parte de trás das pernas na poltrona do canto e caiu sentada na mesma, levando as mãos à boca para abafar o grito que ameaçou sair. Seu coração pulsava acelerado enquanto sua respiração estava ofegante. Assustada, trêmula, nervosa, olhou para ele vendo que o mesmo permanecia com os olhos fechados, dormindo tranquilamente. Demorou alguns segundos para que ela realmente acreditasse que ele ainda dormia.


- Sakura... - ele sussurrou novamente, dessa vez, se remexendo na cama.


Abismada, ela percebeu que ele estava chamando por si. Ele estava sonhando com ela. Aquilo era demais. Era emoção demais para a Haruno aguentar e enquanto seus olhos enchiam de lágrimas devido ao fato de vê-lo chamar por vi, devido ao fato de ter cedido a curiosidade, a saudade, ao sentimento, ela respirou fundo e permaneceu com uma mão na boca, abafando o primeiro ofego que veio junto com algumas lágrimas que escorreram silenciosas. Com a mão tremendo, a Haruno pegou o telefone que havia caído na poltrona, pegou a chave do quarto e saiu do mesmo. 


Fechou a porta às costas e apoiou as costas na mesma, enquanto se curvava para frente e chorava copiosamente, sentindo os olhos queimarem e seu rosto ser lavado. Idiota. Burra. Idiota. Burra. Era tudo o que vinha em sua mente enquanto a culpa começava a corroer, enquanto a dor que ele havia lhe causado bombardeava sua cabeça e seu coração sem pena alguma. Não podia ficar ali, precisava sair de perto dele nem que fosse por um tempo. Ergueu a cabeça e a encostou na porta, respirando fundo enquanto começava a controlar o choro.


Pouco a pouco, as lágrimas foram parando até que não restava mais nenhuma. Respirando fundo, a jovem Haruno pigarreou e passou as mãos no rosto, limpando-o, depois pegou o celular e começou a procurar um contato na agenda enquanto começava a caminhar e descia as escadas que davam para a recepção. A Senhora que havia recebido a eles olhou para a Haruno com questionamento.


- Sakura! - a voz de Naruto alcançou o ouvido da jovem - Como ele está?


- Dormindo. - respondeu baixo indo até o balcão - Naruto, preciso de um favor.


- Qualquer coisa.


- Preciso de uma muda de roupa pra ele. Me encontra na avenida 3. Na praça da liberdade.


- Chego em dez minutos.


- Valeu. - desligou e olhou para a mulher - Vou sair rapidinho. Ele ficou dormindo, se me procurar, fala que fui buscar uma roupa pra ele e já volto, tá?


- Certo. - a mulher olhou para a Haruno de um jeito amigável - Ele tem sorte de ter uma namorada como você. - sorriu.


- Aquele traste não é meu namorado. - reclamou, olhando estranho para a mulher.


- Pensei que fosse... - fez uma cara triste - Ele olha pra você como se fosse.


- Ele estava bêbado. - deu um sorriso forçado - E eu devo estar louca... Enfim, volto já. Obrigada.


Sem esperar a mulher falar mais nada, a Haruno simplesmente caminha até o carro, entra no mesmo e arranca de lá seguindo para o local onde havia combinado com Naruto de o encontrar. Sentia que aquele dia iria demorar para acabar e aquilo estava acabando consigo. Talvez Naruto pudesse voltar para a pousada, buscar o Uchiha, mas havia um pequeno problema: Ela havia se responsabilizado por ele mediante a pousada, e ainda tinha seu documento, que estava lá. Que ótimo, se fosse parada numa blitz estava muito, muito fodida.