Projeto Ampulheta - Capítulo 33

Estava analisando meu prazo para a máquina: Um ano. Era o tempo que eu tinha para mostrar algum avanço. Depois que o Naruto deletou os dados da máquina, criamos um sistema de implantação temporário, algo que poderia ser programado e desprogramado com facilidade, dando a entender que avançávamos enquanto apenas regredíamos. Um plano ousado, mas com um ótimo resultado já que toda vez que os investidores vinham fazer testes, mostrávamos que tínhamos avançado, mas que de alguma forma a máquina insistia em não funcionar.


No fim das contas, acredito que seremos despedidos e eu sinto muito, afinal, todos amamos nossos trabalhos, mas tanto eu como o Naruto quanto a Ino decidimos criar nosso próprio negócio e agora estamos elaborando nossa própria empresa de aparelhos futuristas que possam facilitar a vida das pessoas. Temos um ano para sermos demitidos e também um ano para embargar nosso negócio: Arriscado, mas satisfatório.

Em contra partida, meo desânimo só fazia aumentar. Desde que o Uchiha tinha ido embora tudo ao meu redor pareceu não ser meu. Minha casa não era mais minha. Meu trabalho não era mais meu. Minha vida não era mais minha. De alguma forma, ele havia entrado dentro de mim, no lugar mais profundo que se pode ir, tinha se instalado e de repente. Puft! Foi embora. Arrancando quem eu sou. Agora, olhando para a máquina em minha frente, eu sinto uma dor que não sei exatamente explicar. Olho para ela com a esperança de que ele saia de lá e diga: Senhorita Haruno, voltei!

Mas eu sei que ele não vai voltar.

A máquina havia sido desativada.

A programação excluída.

Os sensores trocados.


Era difícil estar em casa e não tê-lo, afinal, aquela havia se tornado sua casa também. O lugar em frente a porta de vidro era como um lugar sagrado, onde eu ficava horas e horas olhando, imaginando ele ali parado, com as mãos no bolso da calça moletom, olhando para a chuva que caía e ao me ouvir chegar, virar com um sorriso nos lábios e estender uma mão em minha direção. Estendo minha mão para ele, mas tudo o que alcanço é o vazio. Seu quarto continuava intocável, bem como suas roupas e sua cartola junto com a carta. Todas as noites antes de dormir, eu entro lá e me deito na cama apenas para ficar ali, sentindo a presença dele, tentando absorver qualquer mínimo detalhe do Uchiha, tentando fazer minha mente acreditar que tudo aquilo não foi ilusão.

Engulo seco o bolo que se formava em minha garganta tentando espantar as lágrimas que se formavam em meus olhos. Deus, como eu o amava! Como eu sentia sua falta. Falta de seu cheiro, de seu toque, de seus cuidados... Sentia falta de suas chatices... De simplesmente tudo que ele era. Sinto uma tontura chata e apoio as mãos na mesa de controle respirando fundo. Essa porcaria de TPM que toda vez que está pra chegar me deixa assim. Solto um resmungo e passo as mãos nos cabelos.

- Outra tontura? – escuto a Ino ao meu lado.

- É... bem que eu poderia só sentir cólicas, não é?

- Ai não seria você. – Naruto sorri – Quantas vezes já te socorri desde que te conheci?

- 400? 500? – a loira arqueia as sobrancelhas e sorri

- Idiotas! – resmungo e fico ereta – Vou ter que dar uma saída. Vou aproveitar o almoço pra fazer a revisão do DIU.

- Trás algo gostoso para comermos? – Ino pisca.

- Eu também quero! – Naruto estava sentado em frente à máquina, mexendo em uns fios... Não sei pra quê.

- Tá.

Saio da cúpula e vou até a sala técnica, pego minha bolsa, dou instruções ao Konohamaru e a Tenten, retiro o jaleco e saio do laboratório. Caminhando pelo corredor, chamo o elevador e quando o mesmo chega, entro e vou para o estacionamento. Aqui, dentro dele, lembro de como o Uchiha ficava assustado e acabo sorrindo. Só ele mesmo para ter medo de elevador. Assim que chego no estacionamento, vou até o bebê, o abro, entro, ligo e dou partida.


A clinica onde fazia a manutenção do DIU ficava no shopping o que era bom, pois, depois da revisão acho que vou comprar umas coisas. Roupas novas e tudo o mais. Uma tarde de compras era tudo o que precisava antes de voltar para a T.T. Sem falar que precisava também comprar alguns presentes para o bebê da Hinata.


Quando chego no shopping, estaciono e sigo para a clinica, por sorte, a consulta era marcada e faltava apenas uma pessoa para chegar minha vez. Vou até o balcão, dou meu nome e sento no sofá confortável de couro negro, cruzo as pernas e fico olhando ao redor. Aquela clínica ali era bem conhecida. Lembro da primeira vez que vim aqui colocar meu DIU, o nervosismo que foi, mas agora, não conseguia viver sem ele. Era perfeito! Mágico!


Depois de meia hora, escuto a recepcionista chamar meu nome e me indicar a sala de ultrassom. Pego minha bolsa, agradeço e sigo pelo corredor até chegar na sala, dou duas batidas na porta e ela é aberta. Uma mulher alta de cabelos castanhos e sorriso amigável me olha com as sobrancelhas erguidas.


- Senhorita Haruno! Entre, por favor. - dá um passo para o lado e me permite entrar.


- Oi... - coloco minha bolsa em um balcão.


- Sempre pontual, hein. - arruma a cama.


- Pois é. Não dá pra vacilar, minha vida é agitada demais.


- Imagino... Deite-se aqui, por favor.


- Obrigada.

Deito na cama e abro a calça, depois subo a camisa, puxo meus cabelos para o lado e pego meu celular esperando ela começar. A técnica prepara todo o aparelho e começa a digitar meus dados no computador enquanto eu foco apenas em falar com a Ino e o Naruto dando instruções para a programação da máquina, afinal, mesmo fora da T.T. eu trabalhava, foi assim que consegui resistir todo esse tempo longe do Sasuke. Me ocupando de trabalho até não aguentar mais.

Enquanto mexia no celular, observava a técnica passar o gel em meu ventre e depois apoiar a máquina fazendo a ultra. Fiquei verificando os e-mails vendo que amanhã teria uma reunião com a Grande Cúpula. Vejo que a técnica estava levando tempo demais, e só quando baixo o celular, percebo que a máquina estava um pouco à cima de onde deveria estar. Levanto os olhos para a mulher e ela olhava atenta para o monitor, o cenho franzido, os lábios crispados.

- Algum problema?

- Ah… - me olha rápido - Seu DIU está fora do lugar.

- Ah que merda! - resmungo - Vou ter que recolocar essa porcaria de novo.

- Hun… Acho que não. - ela me olha com os lábios franzidos - Na verdade… vai ter que retirar.

- Por quê? - franzi o cenho.

- Por conta disso.

Ela aperta um botãozinho na mesa de controle e pressiona a máquina um pouco mais em meu ventre e então uma batida rápida, descompassada e ao mesmo tempo ritmada invade o ambiente. Meus olhos sobem para o monitor e no espaço vazio que deveria ser meu útero, há uma manchinha minúscula, branca. Aquela imagem, junto ao som ritmado que invadia a sala fizeram meus ouvidos zumbirem e minha boca ficou seca na mesma hora, minhas mãos suaram e começara a tremer tanto que soltei o celular que caiu na cama onde eu estava.

Aquilo não podia ser o que eu imagino que seja, não é?

- Parabéns, Senhorita Haruno. A Senhorita está grávida de… - ela analisa a imagem e me abre um sorriso enorme - Oito semanas.

Olho espantada para a mulher.

Grávida…

Oito semanas…


Grávida…

Um filho…

Grávida…

Oito semanas…

Grávida...

Minha mente paralisa e depois volta a trabalhar rápido. Oito semanas… O Uchiha passou um mês lá em casa. A última vez que transei com o Kabuto foi três semanas antes do Uchiha aparecer… Com o Kabuto sempre foi com camisinha... Faz um mês e três semanas que o Sasuke foi embora… Com o Sasuke nunca rolou camisinha, então…

PUTA QUE PARIU!

Não pode ser.


Não pode ser...


Não pode ser...

Com um resmungo, enfio a cabeça no travesseiro e solto um gemido baixo enquanto fecho os olhos. Na mesma hora, minha garganta fecha e meu peito aperta. Que porcaria! O sonho dele havia se realizado. Ele iria ser pai. Teria um filho… No século errado, com a mulher errada…

- Parabéns, Senhor Uchiha. - sussurro sentindo uma lágrima escorrer pelo canto do meu olho.