Projeto Ampulheta - Capítulo 32

Estava sentada dentro da cúpula. Já não conseguia mais pensar em nada. Apenas a dor no peito que a sufocava à todo momento. Já fazia mais de três horas que ele tinha ido embora e ainda assim não conseguia fazer nada além de olhar para a máquina que o havia levado embora. Hinata e Gaara já haviam ido para seus respectivos setores, restando ela, Naruto e Ino. Tenten e Konohamaru estavam dentro da sala técnica e para explicar o ar triste da médica, Ino inventou a morte de um amigo muito próximo.

Ouviram quando a porta foi aberta e olharam por cima do ombro vendo Kabuto entrar e logo de cara ele percebeu que havia alguma coisa errada. Sinalizou para entrar na cúpula e Ino foi até lá e abriu a porta de vidro. Quando entrou, ele olhou fixamente para a Haruno e viu os olhos vermelhos dela, com um suspiro, ele caminhou até a mesma e parou à sua frente.


- O que houve? - perguntou baixo.


- Nada demais. - sussurrou, olhando-o.


- Sakura, você é uma mulher muito forte e está chorando... O que houve?


A Haruno abriu a boca para falar, mas não conseguiu, pois, a voz embargou e um bolo subiu à sua garganta. Ela fechou os olhos e respirou fundo.


- Um amigo muito próximo morreu. - Ino contornou a situação.


- Ah! - ele balbuciou e voltou a olhar para a Haruno - Eu... Sinto muito.


- Obrigada. - murmurou e passou as mãos no rosto, ficando de pé - O que... Deseja, Kabuto?


- Eu... - pigarreou, estava constrangido, afinal, aquele era um momento delicado - Os investidores estão vindo aqui em meia hora. Eles querem fazer um teste na máquina.


- Na... máquina? - perguntou franzindo o cenho.


- Sim. - olhou ao redor e pigarreou - Eu sinto muito por seu amigo. - meneou a cabeça - Esteja pronta. Eles vão lhe encher de perguntas.


- Tudo bem. - murmurou e respirou fundo - Obrigada por vir avisar.


Com um meneio de cabeça, ele sai da sala deixando um clima ainda mais pesado. Tanto o Uzumaki quanto a Yamanaka olhavam para a Haruno esperando alguma ação. Os investidores estavam vindo e isso significava problema. A mulher olhou para os amigos, depois para a máquina e voltou a olhar para os amigos. Mordiscando o lábio inferior, ela caminhou até a máquina e deslizou a ponta dos dedos pela mesma, lembrando-se do motivo de ter mandado o Uchiha de volta.


Ele estava seguro agora.


E ela não iria colocá-lo em risco.


Nunca mais.


- Ino? - chamou baixo.


- Sim. - caminhou até ela.


- Zere a máquina.


- Sakura... - Ino começou mas foi cortada pelo loiro.


- ... Zerar a máquina vai nos levar ao zero.


- Eu sei. - suspirou e tirou a mão da máquina - Não quero rastros de qualquer dado correto.

- Mas isso... - Ino não conseguia formular uma frase completa.


- Não há o que discutir. - ela respirou fundo e começou a caminhar na direção da porta - Apague tudo. 


Os dois loiros ficaram olhando a amiga e chefe sair da cúpula. Eles estavam no mínimo espantados. depois de alguns segundos, os dois se entreolharam e respiraram fundo. Ino franziu o cenho e Naruto balançou a cabeça.


- Cara... eu não consigo fazer isso... - Ino olhou para a máquina e voltou a olhar para o loiro - A Sakura tá sofrendo e zerar a máquina vai... - respirou fundo.


- Deixe que eu faço isso. - murmurou caminhando até a mesa de controle de dentro da cúpula.


- Mas o Sasuke... - balbuciou.


- Está seguro agora. - ele puxou a cadeira e sentou - Não há o que fazer Ino. Ele foi embora e não vai mais voltar... É melhor aceitar. - Desbloqueou o computador e abriu a programação da máquina - Temos pouco tempo.


A loira balançou a cabeça discordando. Não podia ser verdade. A amiga estava sofrendo demais, não era justo. Zerando a máquina, tudo seria apagado, isso significava que nunca mais ele poderia vir. Sem querer acreditar, Ino saiu da sala à passos pesados. Precisava tomar alguma coisa para acalmar os nervos, aquele dia estava sendo difícil demais, sem falar que ainda tinha a visita dos investidores. Coitada da Haruno, estava tendo o pior dia da sua vida.

~ 1798 ~

Ele olhou ao redor e respirou fundo. O cheiro de grama molhada e ar puro adentrou seus pulmões de um jeito acolhedor, causando no Uchiha uma sensação de paz. Respirando profundamente, ele começou a caminhar pela grama, seguindo a margem do rio. Olhava ao redor sentindo-se saudoso, havia estado um tempo fora e mesmo assim tudo parecia tão igual. Caminhou no automático por aproximadamente quinze minutos até que avistou o casarão antigo. Ele estava do mesmo jeito, belo, imponente, magnífico. Ao se aproximar um pouco mais, avistou a bela menina que corria próximo à escada com sua boneca, com seu vestido esvoaçante e seus cabelos negros, cacheados balançando afoitos. Sentindo o peito explodir em saudades, deu um pequeno sorriso de canto quando a menina olhou para o lado e o viu. Chocada, assustada, feliz.


- TIO SASUKE!


O grito agudo dela alcançou os ouvidos dele que no mesmo instante abriu os braços pronto para receber a garotinha que corria em sua direção já com os braços abertos. Quando o alcançou, ela se jogou nos braços dele e ele a ergueu, acolhendo-a em seus braços e rodopiando, afundando o nariz no pescoço da menina sentindo o cheirinho doce dela. Sentindo a saudade chocar-se contra o peito de um jeito violento. Como estava saudoso. 


- Mei... - sussurrou abraçando-a ainda mais forte. - Minha princesinha.


- Mei sentiu falta de Tio Sasuke. - choramingou afastando a cabeça para poder olhá-lo nos olhos e estranhou ele estar vestido de forma tão formal. Havia o tio ido para alguma festa? Ou compromisso importante? Algo faltava no Tio...Com os olhos estreitos ela o analisou minunciosamente e quando percebeu o que estava faltando nele arqueou as sobrancelhas - Tio, onde está sua cartola?


A cartola...


A sua adorada cartola...


 - Está no céu, minha princesa. - sussurrou enquanto um sorriso triste desenhava seus lábios.




                                                               ~ 2017~

Fechou à porta as costas e caminhou pela escada de forma automática. Como estava cansada. Destruída. Fora de si. Nunca imaginou que estaria daquele jeito e como era ruim...

Com um suspiro, ela caminhou pela sala e lizou as luzes da casa até que viu sobre a mesa algo que fez seu coração despencar numa queda tão brusca que ela ofegou: Sobre a mesa estava uma cartola. Em câmera lenta, ela caminhou até a cartola e colocou a bolsa sobre a cadeira, pegou a cartola com cuidado e viu que embaixo dela havia um papel dobrado. Lentamente, a Haruno levou a cartola até o nariz e respirou fundo, sentindo o cheiro dele ali, fazendo seus olhos encherem de lágrimas. Com cuidado ela colocou a cartola na mesa novamente e pegou o papel, desdobrando-o e tamanha foi sua surpresa ao ver que era uma carta. Uma carta escrita por alguém que possuía uma letra belissimamente desenhada e cuidadosamente montada.


Com um respirar profundo, ela caminhou até o sofá e sentou. Fechou os olhos e permaneceu assim por alguns segundos tentando fazer o coração acalmar até que começou a ler.

" Minha doce Sakura,

Lhe escrevo essas palavras sabendo que elas vão lhe corroer, mas eu jamais poderia deixar de dizê-las para você. Antes de qualquer coisa, preciso descrever em palavras aquilo o que não tive coragem de proferir.

Neste momento, enquanto você dorme naquela que foi minha cama por um mês, lhe observo respirar tranquila enquanto é embalada por um sono suave. Você não sabe, Minha Sakura, mas essa é a noite mais feliz de minha vida, mas também a mais triste. Descobri hoje como é amar com o corpo, com os olhos, com a boca, com as mãos... Descobri, Minha Doce Sakura, como é amar alguém de um jeito tão profundo ao ponto de doer. Esta noite, Meu Amor, as estrelas estão brilhando tão intensas como se contemplassem o que fizemos à pouco tempo. E como foi lindo o que aconteceu. Cada momento ao seu lado ficará guardado em um lugar dentro de meu peito onde ninguém jamais alcançou e que será só seu. 


Sempre seu.

Saiba, Minha Bela, que neste momento a única coisa que sinto é medo. Medo de perdê-la, medo em saber que não a verei nunca mais, medo em saber que amanhã tudo estará de volta ao lugar, ou não... Não seria "nosso lugar" aquele ao qual pertencemos? Então como posso chamar de lar um lugar ao qual nunca pertenci? E não, não falo de um ano, uma casa, um lugar, mas sim de você, Meu Amor. Meu lugar é onde você está. Independente de onde seja, quando seja e com quem seja, desde você esteja... lá será meu lugar.


Saiba, Meu Amor, que sou eternamente grato por ter vindo para cá. Desde a primeira vez que lhe vi, naquele lugar tão estranho e assustador, eu lhe amei. Vi em seus olhos algo que nunca vi em nenhum outro: Minha Alma.


Minha Bela e Adorada Senhorita Haruno, não há no mundo nada comparado à você. Nem mesmo as vielas noturnas da bela Veneza. Lembra que lhe contei delas? Não menti em nenhum momento quando disse que jamais voltaria para lá. Não sem você. Lhe fiz um pedido antes de partir e por favor, o faça. Você é perfeita demais para ficar sozinha num mundo tão cruel. Por mais forte que você seja, Minha Sakura, você é frágil como uma pétala de uma bela rosa recém desabrochada, mas também tão linda e perfumada quanto.


Eu queria ser aquele que viverá para sempre ao seu lado, te vendo dormir todas as noites como estou fazendo agora, vendo a luz da lua refletir sobre seu corpo nu, como se pintasse uma bela paisagem sobre a bela tela que é você, mas infelizmente não serei. Infelizmente, Meu Amor, a vida nos colocou em um eclipse: algo passageiro, mas belo e inesquecível.


Mas ainda assim insisto em lhe chamar de minha.


Minha Sakura.


Minha Bela.


Minha Flor.


Meu Amor.


Minha Senhora.


Quão gratificante é saber que você existe. Que meu outro pedaço é real, que meu coração encontrou a paz mesmo que por pouco tempo. E quão bom foi esse curto momento. Tão rápido. Tão intenso. Tão magnificamente surreal, mas algo que só poderia existir se fosse você. Apenas com você. Saiba, Meu Amor, que por mais longe que eu esteja, que por mais absurdo que pareça, estarei sempre, a todo momento, pensando em você. Porque eu a amei desde o primeiro momento e continuei amando-a até o último.


Com tudo aquilo que sou;


Com tudo aquilo que restou;


Com tudo aquilo que ficou;


Para sempre seu,


Sasuke Uchiha. "