Pelotão 28 - Capítulo Vinte e Quatro



Não teve tempo para pensar. Não teve tempo para sentir. Não teve tempo para cuidar de si mesma. Assim que chegou no que antes era a ala médica, ficou sem ação. Metade dos soldados que antes estavam ali, agora estavam mortos. O Capitão paralisou ao lado dela sentindo uma raiva enorme tomar conta de seu corpo. Aqueles desgraçados haviam levado uma grande quantidade de soldados. Os corpos estavam espalhados por todos os lados.


- Filhos da puta! - sussurrou o Capitão enquanto tomava a frente e fazia uma checagem rápida de quem havia sobrevivido e de quem havia morrido.


- Meu... Deus... - ela sussurrou caminhando por entre os sobreviventes vendo muitos deles em estado crítico.


- Doutora. - um soldado gemeu de dor enquanto sua perna, baleada, estava manchada de sangue.


- Doutora! - um outro chamou enquanto tentava levantar, mas estava baleado no abdome.


- Sakura! - ouviu seu nome ser chamado e olhou para o lado vendo Kiba pressionando um ferimento de um outro soldado que estava muito mal.


Como se voltasse para a realidade, ela correu na direção dele, examinando o ferimento. Aquele soldado estava com três tiros. Sem pensar muito, ela correu até a mesa médica, pegou os materiais necessários e voltou para onde eles estavam. O ombro latejou quando ela precisou ergueu o tronco do homem. Sentiu o ombro arder, sentiu uma pontada e a força foi embora, por sorte, Kiba ajudava com o soldado e segurou o mesmo, mas o Capitão olhou de lado para a Doutora achando estranho e ela apenas meneou a cabeça, concentrada.


Começou os primeiros socorros rapidamente e um por um, ela ia atendendo os soldados. Depois de meia hora estava exausta. Seu ombro doía tanto que ela não conseguia se concentrar no que fazia. Cinco soldados morreram em suas mãos, enquanto fazia procedimento de primeiros socorros. Sentia-se inútil. Sentia-se inferior. Sentia-se péssima. Em toda a sua vida, nunca se sentiu tão incapaz como naquele momento, vendo aquelas vidas escorregando por entre os dedos.


- Doutora! - ouviu um grito e ao olhar para trás, viu um soldado ao lado de outro. Ele estava vomitando sangue.


A médica correu na direção deles e a boca ficou seca quando ela viu que era o 013. O mesmo soldado que havia protegido ela embaixo da cama. Aquele a quem o Capitão Uzumaki confiou a sua vida.


- Deixe-me vê. - pediu afastando o soldado e analisando o 013.


Ele estava muito mal. Havia levado dois tiros no abdome e pelo que ela percebeu, os ferimentos eram graves. Ele abriu a boca e mais sangue saiu. A cabeça do homem tombou pra trás e ele sufocou. A médica o colocou de lado e ele tossiu sangue. Ela o deitou e tentou estancar o sangue do abdome dele, mas era em vão. Sentiu o abdome do homem rígido, o que significava uma hemorragia interna. Ele já não tinha mais forças. Seus olhos estavam esbugalhados, mas sua íris não focavam em nada.


Ele puxou o ar com força, tentando fazer o mesmo entrar, mas isso só o fez engasgar novamente enquanto mais sangue saia pelos ferimentos do abdome. Ele não iria resistir, ela sabia disso, mas ainda assim insistia em mantê-lo vivo. Pegou uma anestesia e aplicou sobre o local, tentando aliviar a dor. Começou a procurar pela bala, mas não encontrava, parecia que ela havia simplesmente sumido.


- Doutora! - alguém chamou em algum lugar.


O soldado segurou no braço dela, olhando para ela. Pela primeira vez, ele parecia ter ciência do que iria acontecer consigo. Sabia que não resistiria, por isso, apertou o braço dela em um pedido silencioso. O cenho franzido, a boca aberta enquanto uma respiração sôfrega ainda era tentada. Ela olhou para ele vendo os olhos ficarem opacos. 


- Não. - murmurou balançando a cabeça e sentindo os olhos embaçarem. Ele não podia morrer. Não podia! - Não. Não. Não...


- Doutora? - outra pessoa chamou, mas ela apenas queria ficar concentrada.


- SILÊNCIO! - gritou para seja lá quem estava chamando-a. Precisava se concentrar. - Você não vai morrer... Não... vai...


O soldado a olhou com o cenho ainda mais franzido. Ela não iria desistir? Ele abriu a boca para pedir que ela parasse, mas em vez de voz, a única coisa que saiu foi um sangue espesso, vívido... um jato tão forte que acabou melando o jaleco da médica, desde o colo até a barriga e ela acabou paralisando. Ergueu minimamente os olhos bem a tempo de vê o soldado tombar a cabeça para trás e fechar os olhos, entregando-se a escuridão.


Ela ficou olhando para ele, com as mãos paralisadas, enquanto o sangue dele escorria pelo jaleco dela. Os olhos da médica tremeram enquanto ela desviava o olhar do soldado e olhava para as próprias mãos. O vermelho predominava sua pele nua. Nem se quer havia colocado as luvas e agora via o resultado nas mãos.


Sangue.


O sangue dos soldados que havia salvado, mas principalmente daqueles que haviam morrido.


O 013 estava morto.


O homem que salvou sua vida.


Aquele que ela não conseguiu salvar.


Ele havia feito o papel dele, salvando-a, mas ela...


Ela falhou com ele.


Sentindo o peito pesar. Sufocado, a médica levantou devagar, olhando para as mãos. Deu um passo para trás. Depois outro. Depois outro. Olhou ao redor e viu todos olhando-a, como se desejassem saber o que ela iria fazer. A maioria olhava para ela esperando por ajuda. Ela sabia disso. Sabia que eles necessitavam dela, mas o que ela podia fazer? Já não era mais tão competente assim. Já não sabia mais o que deveria fazer. Primeiro era análise e socorro, ou socorro e análise?


Tinha medo de tentá-los ajudar e acabar matando mais deles.


Os olhos verdes embaçaram e ela piscou rápido tentando melhorar a visão, mas a única coisa que conseguiu foi fazer com que lágrimas escorressem. Ela ofegou caminhando para trás enquanto via o mundo fechar a sua volta. Não era justo. Todos estavam exigindo de si aquilo que ela não podia dar. Não era justo. Eles queriam que ela os salvasse, mas ela não conseguia. Não era justo. Ela estava com o ombro baleado e nem assim teve a oportunidade de cuidar do próprio ferimento. Não era justo. Ela não era Deus. Outro ofego veio e ela levou uma mão à boca para conter a angústia que começava a tomar conta do peito e viu quando o Capitão Inuzuka levantou de junto de um soldado e deu um passo na direção dela.


- Meu... Deus... - a médica sussurrou tapando a boca quando outro ofego veio.


- Doutora... - o Capitão sussurrou.


- Ai meu Deus. - sussurrou caminhando para trás, olhando para as mãos ensanguentadas - Ai meu Deus. Ai meu Deus!

- Doutora, se acalme, por favor. - Inuzuka levantou as mãos em frente ao corpo, tentando acalmá-la - Respire.


- NÃO! - apontou para ele - NÃO SE APROXIME… - olhou para as mãos e para os outros. Tantos feridos, tantas pessoas dependendo de sí-  Eu… Ai meu Deus!... Eu não… Consigo... - as lágrimas já banhavam o rosto dela, as roupas sujas de sangue, os cabelos desgrenhados, o ombro latejando.

- Calma, Doutora… Só queremos ajudá-la. Mantenha a calma. - Kiba estava desesperado, como todos alí. Se a única médica enlouquecesse, estavam perdidos.

- NÃO SE APROXIME DE MIM! - gritou com ele esbarrando as costas na parede. Levou as mãos aos cabelos, melando-os de sangue. As pupilas estavam dilatadas, a boca formigava, as pernas ameaçavam fraquejar, os ouvidos zumbiam. Estava ficando louca… Louca e impotente.

- Sai da frente. - ouviu-se um murmuro e todos os olhos se voltaram para o loiro que atravessava o local, dando um leve encontrão no ombro de Kiba enquanto caminhava na direção dela, determinado.

- NÃO SE APROXIME, UZUMAKI- apoiou as mãos nas paredes, tentando fugir dele - FIQUE AI MESMO! - Mas ele não a ouvia, apenas caminhava olhando-a nos olhos de um jeito firme - FIQUE AI!

- Hun… - resmungou e quando a alcançou, rodeou os braços em torno dela, puxando-a para sí.

- ME SOLTA! ME SOLTA! - começou a se debater enquanto socava o peito dele, manchando-o de sangue, ficando ainda mais descabelada. Todas as células de seu corpo doía, tudo nela doía.

- Xiiiiu. - sussurrou apertando-a ainda mais contra sí. Os socos dela não o feriam, os gritos dela não o afetavam, simplesmente nada do que ela fazia o iria fazer desistir nem se afastar. - Está tudo bem.

- NÃO… ME SOLTA… ME… SOLTA… - continuou socando o peito dele, mas pouco a pouco, ia parando, perdendo as forças, perdendo a fé. Estava esgotada, destruída, sem saber de mais nada. - Me... Solta… Por… favor… - a voz dela ia morrendo aos poucos.

- Tudo bem… - sussurrou afagando as costas dela com uma mão enquanto a outra permanecia em volta da cintura, mantendo-a de pé. Presa em sí. Sustentando-a. - Está tudo bem, agora. 


- Não... - choramingou.


- Estou aqui... Tudo bem... - continuo sussurrando.


Os socos dela foram parando, parando, até que por fim restou apenas os soluços altos e angustiantes de seu choro. As pernas fraquejaram, mas ele a manteve de pé naquele abraço firme. Envergonhada, escondeu o rosto no peito dele, deixando que as lágrimas molhassem o casaco camuflado. As mãos agarraram o tecido grosso do casaco, prendendo-se a ele, querendo permanecer lúcida, como se ele a mantesse na terra. O som de seu choro ecoava pelo ambiente de forma angustiante e por conta disso, os soldados saíram do local, deixando-os à vontade, naquele momento tão íntimo. Aqueles que não conseguiam caminhar, apenas viraram o rosto, dando privacidade aos dois.

Todo o corpo miúdo dela sacolejava conforme os soluços invadiam as paredes destroçadas, as mãos dela apertavam com força o casaco dele, as pernas à todo momento perdiam as forças, mas tudo o que ela fazia era afundar o rosto cada vez mais contra o peito dele, querendo proteger-se daquele terror em que havia sido jogada. Sentia o peso de toda responsabilidade sobre os ombros, sentia como doía tudo o que via e ouvia, sentia-se culpada pela morte daqueles homens, fraca por não poder cumprir o seu único papel alí. Era a responsável pela vida dos soldados em uma guerra tão devastadora que a sufocava.

E Deus, como ela estava cansada.


Sentiu quando o Uzumaki se moveu e então um braço dele passou por baixo de sua perna, erguendo-a e ela não fez nenhum esforço para impedir. Se permitiu ser erguida por ele e envolveu os braços em torno do pescoço do loiro, afundando o rosto contra a curva do pescoço dele. Enquanto ele caminhava, ela apenas se permitia esmorecer nos braços daquele que no momento lhe representava o conforto e segurança que ela precisava. Sentiu a mão dele que estava em suas costas fazer um carinho suave e com um suspiro, ela se permitiu fechar os olhos e se deixar levar pelo cansaço. 





Comentários

  1. CARACAAAAA 😱
    CARACAAAAA 😱
    CARACAAAAA 😱
    SANGUUEEEEEEEEE 🍿😍
    MUITOOOOOOOO SANGUUEEEEEEEEE 🍿😍
    AMEEEEIIIIII 🍿😍
    Eita que esse capítulo foi foda, coitada da Sasa esse sentimento de fracasso não vai ser fácil de superar, mais creio que Narutim e os outros soldados vão ajudar ela, e ela vai erguer a cabeça e superar isso... Voltar com tudo❣️
    E teremos mais SANGUEEEEEEEE 😍
    Ansiosa pelo próximo capítulo amore❣️

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