Pelotão 28 - Capítulo Vinte e Cinco

Sentiu um aperto no peito e acordou assustada, puxando o ar com força. Ergueu o tronco, sentando em algo pouco macio, mas quente. Piscou os olhos várias vezes tentando focar em algo e tudo o que viu foi uma mochila jogada num canto em meio a penumbra do ambiente pouco iluminado. Ficou parada, olhando para a mochila tentando compreender o que havia acontecido e onde estava. Levou alguns segundos para que tudo o que passou surgir em sua mente como um flash, fazendo-a fechar os olhos brevemente.


O peito apertou e a boca ficou seca.


Sem querer, ela ergueu minimamente as mãos e baixou o olhar, vendo rasto de sangue ali. A quantidade exorbitante não mais existia, mas ainda assim, sua mão possuía pequenas manchas aqui e ali, como se alguém tivesse tentado limpar, mas com pouco sucesso. Ergueu a cabeça minimamente e mordiscou o lábio inferior sentindo os olhos embaçarem. Respirou fundo tentando conter uma nova onda de choro e fechou os olhos, fazendo uma prece baixinha.


- Sente-se melhor? 


Ouviu uma voz baixa atrás de si e acabou se assustando. Olhou para o lado e viu o Uzumaki próximo dela, num canto, sentado no chão enquanto a observava sereno. Ela abriu a boca e fechou algumas vezes vendo-o franzir o cenho sem entender. Ela voltou a olhar ao redor se dando conta de que estava no que supôs ser o quarto dele. Voltando os olhos para ele, ela meneou a cabeça de forma positiva. Ele vestia uma camisa verde musgo limpa, mas trazia no rosto algumas manchas de sangue.


- Quanto tempo dormi? - perguntou baixo.


- Hun... - olhou para o relógio no pulso - Quatro horas e cinco minutos.


- Entendo... - desviou os olhos dele e voltou a olhar para as próprias mãos - Eu não... não sei...


- O que deseja compreender, Sakura?


- O que aconteceu. - murmura e funga fechando os olhos.


- Não há explicações. - a voz dele era tranquila - Você apenas cedeu a pressão.


- Fui fraca. - sussurrou sentindo-se envergonhada - Falhei em meu único objetivo.


- Você não falhou. - alterou minimamente a voz - Ninguém é de ferro. Você apenas não aguentou tanta pressão. 


- Tantas pessoas aguentam.


- Alguém surta em algum momento.


Ela não respondeu e ele ficou em silêncio, respeitando o momento dela. A médica respirava de um jeito profundo e lento enquanto seu corpo pesava a cada segundo. Ela ainda não havia descansado. Pensou um tempo fazendo um cronograma em sua cabeça e imaginou ser aproximadamente uma da manhã. Ele a tinha visto acordar o que significava que ele estava acordado. Mesmo depois de tudo o que aconteceu. Mesmo depois de todo aquele tempo. Mesmo estando cansado.


- Você estava me protegendo. - murmurou olhando para as mãos - Enquanto você perdia seu tempo salvando minha vida, eles morriam... Isso não é justo.


- E o que seria justo para você? - murmurou de volta.


- Não sei. - sussurra dando de ombros e sente o ombro doer. Instintivamente, leva a mão até o ombro sentindo algo ali e ao olhar, vê um curativo improvisado, algo meio desleixado, mas visivelmente um curativo - Você...


- Sim. - ele foi até ela e se ajoelhou na frente da médica, ela ergueu os olhos para ele enquanto ele erguia uma mão e acariciava sua bochecha - Entenda, Sakura, minha missão aqui é te proteger acima de tudo. Infelizmente, fomos pegos desprevenidos e tudo o que eu queria nesse momento, era poder ter um inimigo em minhas mãos... Mas não tenho. - ela baixou a cabeça e ele segurou o queixo dela e ergue a cabeça da mesma fazendo-a olhar para ele - Tudo o que eu tenho nesse momento em minhas mãos é você. E eu não vou deixar que nenhum mal lhe aconteça.


- Você não pode me proteger de tudo. - sussurrou engolindo em seco.


- Não. - suspira - Infelizmente não, mas vou te proteger do que for possível. Seja de aliados, inimigos ou até de você mesma.


- Você não entende. - balançou a cabeça, afastando a mão dele com delicadeza - Eu não posso ser a prioridade aqui, Naruto. Ganhamos a guerra com bons soldados. - respira fundo - A cada esquina há um médico...


- Poucos com sua competência. - A corta e ela olha pra ele - E eu não quero qualquer médico aqui comigo. Isso aqui já é inferno demais para não tê-la, uma vez que aprendi a olhar para o lado e te enxergar.


Ela ficou em silêncio olhando nos olhos azuis. Ele falava a verdade. Ela conseguia enxergar isso, afinal, os olhos azuis eram transparentes demais. Ela viu ruguinhas nos cantos dos olhos dele e viu olheiras começarem a aparecer. Um vinco entre as sobrancelhas, os ombros arriados. O Capitão estava cansado. Muito cansado. Instintivamente, ela ergueu a mão do ombro bom e acariciou o rosto dele e o Capitão fechou os olhos ao sentir o toque suave dela em seu rosto, e como aquilo era bom... Era algo semelhante a paz em meio a guerra, em meio a tudo o que estava acontecendo.


- Você está cansado. - sussurrou.


- Não se preocupe comigo. - pediu baixo segurando a mão dela e levando a palma até os lábios, depositando um beijo casto ali e voltando a olhar para ela, sem soltar a mão - Preocupe-se apenas em descansar.


- Não me parece certo. - franziu o cenho e observou o rosto dele, cada traço ali deixava claro que ele estava esgotado - Você não é o super homem.


- Não... - ergueu uma sobrancelha - Eu sou loiro e tenho olhos azuis.


- Bobo. - sorriu diante da gracinha dele, mas logo ficou séria novamente enquanto respirava fundo - Você também precisa dormir.


- Depois de você. - indica o travesseiro camuflado que tinha em cima do colchonete.


- Hun... - suspira e olha para o travesseiro depois olha pra ele - Dorme comigo.


Ele fica olhando para ela por um tempo, tentando saber se o convite era literal ou não, mas ao constatar que era verdade, ele apenas pigarreia e desliza para o lado da médica, ajeita o travesseiro e deita levando-a junto. Ele ergue um braço e coloca embaixo da cabeça enquanto ela se aconchega ao lado dele, apoiando a cabeça no travesseiro, mas o Uzumaki a puxa para si, fazendo-a deitar praticamente sobre ele. Com certo constrangimento, a médica se aconchega um pouco mais no corpo grande, sentindo o calor confortável do corpo dele.


A mão livre dele fica fazendo um carinho suave nas costas da médica enquanto ela fecha os olhos e apoia a cabeça no peito dele, ouvindo as batidas gostosas do coração do Capitão. Ela passa o braço do ombro baleado pelo abdome dele, deixando o braço relaxado, já ele fecha os olhos e respira fundo, sentindo o corpo relaxar depois daquele dia tão estressante. Até aquele momento, não havia percebido o quão cansado estava, havia passado o dia todo no inferno, mas agora, deitado com ela em seus braços, sabendo que ela estava bem, ele sentia que estava realmente precisando daquilo, de um momento no céu.


No céu cor de rosa.