Jarros de Almas - Capítulo 5

Olhando fixo para a frente, sentindo o corpo ter calafrios incômodos, a Haruno ficou um pouco mais ereta quando a pessoa atrás de sí inclinou o corpo um pouco para a frente e passando o braço ao lado de dela, pegou um drink de cima da mesa e a mão tornou a voltar trazendo a bebida.

Como se tivesse tomado um choque de realidade, ela girou o corpo rapidamente e se deparou com os mesmos olhos negros que tinha visto antes. Ele estava com o corpo quase colado ao seu e levava o drink aos lábios. Ela viu o pomo de Adão dele subir e descer enquanto apreciava a bebida, mas os olhos dele continuavam nela. A Haruno também não tirava os olhos dele e percebeu seus cabelos tão negros quanto seus olhos e o pouco que pôde ver do rosto (parcialmente coberto pelo capuz), era um rapaz muito bonito.

Ele baixou o drink e passou a língua lentamente pelos lábios enquanto analisava o rosto dela. O homem respirou fundo e então fechou os olhos brevemente. Instantaneamente, era como se ela tivesse sido liberada das amarras que nem sabia existir.

- Poderia me dar licença, por favor? – pediu gentil e ficou feliz por sua voz não vacilar. Mesmo seu corpo ainda apresentando aquele estranho formigamento.

- Claro. – ele continuava a olhando e não moveu um músculo se quer para sair do lugar. Enquanto isso, ela o olhava com as sobrancelhas erguidas esperando ele se afastar.

- Poderia se afastar? – resolveu ser mais clara.

Ele não respondeu. Nem se moveu. Continuava olhando-a nos olhos enquanto parecia querer lhe falar algo com o olhar. Ela estreitou os olhos na direção dele tentando entender o que o cara queria, mas os olhos dele continuavam a mirá-la de um jeito decidido.

- Sakura?

Ao ouvir seu nome, ela desviou os olhos para além dos olhos negros e se deparou com outros olhos negros, porém mais suaves. Kakashi olhava para as costas do homem à sua frente e depois para ela com o cenho franzido.

- Está tudo bem?

- Ah... sim. – sorri, dando uma rápida olhada no homem misterioso a sua frente, e os olhos dele continuavam fitando-a intensamente.

- É que você demorou. – O Hatake ainda olhava de um para o outro – Fiquei preocupado.

- Estou bem. – sorri para o prateado, tranquilizando-o.

A rosada faz menção de caminhar, isso faz o moreno inclinar o corpo para o lado, dando passagem para ela. Ao passar por ele, sentiu um perfume bom e único vindo dele. Quando chegou ao lado do Hatake, o prateado passou a mão pelas costas dela, guiando-a de volta para o luau, mas enquanto caminhava, ela deu uma olhada discreta para trás e seus olhos chocaram com os olhos negros do moreno que agora estava escorado na mesa com uma mão cruzada no peito e a outra levava o drink aos lábios novamente.

Balançou a cabeça e voltou a olhar para frente e viu que estava próximo aos amigos. Eles sorriam, porém, os olhos caíram sobre ela e o Hatake. O sorriso da Ino foi de orelha a orelha, já a Hinata ficou um pouco séria e o Gaara lhe lançou um olhar de advertência. Ela mordeu o lábio e fez que não com a cabeça para os amigos que compreenderam que não estava rolando nada entre eles. Quando se aproximaram do pequeno grupo, o Hatake soltou suas costas e colocou as mãos nos bolsos da calça e ela pode finalmente beber um pouco de sua água.

- Cara, eu juro a vocês que eu nunca, em toda a minha vida, quero perder um luau! – os olhos azuis da Yamanaka brilharam.

- Não só você, loira. – Alerto – Acho que ninguém aqui quer...

- Falando nisso, semana que vem tem o festival das flores. – Hinata lembra – Bom para você, não é Kakashi?

- Sim. Sim. – ele sorri e mexe o corpo de um jeito animado – Mas também é um desafio. As encomendas aumentam muito.

- A culpa é totalmente sua. – a rosada sorri, bebendo mais um pouco – Quem manda ter as melhores flores de Mykonos? – sorri marota.

- Não tenho culpa coisa nenhuma. – olha com o cenho franzido.

- Claro que tem! – vira pra ele, colocando uma mão na cintura – Você é dono da melhor plantação de Mykonos!

- Eu não tenho culpa se as flores gostam de minhas mãos. – dá de ombros.

- Uhum... acho que você tem alguma fórmula secreta.  – Hinata brinca.

- Mas é realmente bom você estar preparado, Kakashi, o festival das flores não é um festival sem as flores. – Gaara alerta.

- Estou ciente. – o prateado sorri enquanto olha ao redor – Vai começar outra roda. Vamos?

Concordamos e seguimos para a grande roda novamente, mas dessa vez estavam todos sentados. A ordem era praticamente a mesma da rodinha anterior e por esse motivo o Kakashi ficou novamente ao meu lado. Sentei com as pernas cruzadas e coloquei o coco em meu colo. Ao meu lado estava a Hinata. Os carinhas com violão começam a dedilhar uma música e as pessoas começam a entrar no ritmo até que eu passo os olhos pela roda e vejo à uns 200° de mim, o cara dos olhos negros. Ele estava sentado também e seus olhos continuavam em mim.

Um arrepio percorreu minha espinha e eu desviei os olhos dele, bebendo um pouco da água. Me mexi incômoda e voltei minha atenção para um dos carinhas que estava com o violão.

Verdadeira miragem do meu dia-a-dia
Naufraguei nesse mar
Me salvei no seu coração

Uma estrela me guia pra ter alegria
Na rota desse amor
Navego essa paixão

Começamos a cantar animados, a luz estava no alto do céu e a luz das tochas tremeluziam de acordo com o vento no local. Fecho os olhos sentindo a tranquilidade que apenas os luaus de Mykonos proporcionavam.

No vai-e-vem eu vou, felicidade amor
Vem me dar calor
Amanhecer a te amar
Beija-me como nunca fui beijada por ninguém
Toca-me como a peça preciosa de cristal
Ama-me com a força desse amor total

Abro os olhos novamente e olho ao redor, me deparando com os olhos negros mais uma vez. Ele continuava me olhando de um jeito determinado. Respiro fundo me sentindo incomodada com aquilo. Que cara mais esquisito! Sem falar no capuz que continuava escondendo parte de seu rosto. Sua postura era relaxada, porém determinada.

- Por que aquele cara não para de te olhar? – Escuto um murmuro bem próximo e olho para o lado vendo os olhos do Kakashi no cara.

- Não sei.

- Não foi ele que estava lá perto da mesa? Você o conhece? – me olha com o cenho franzido.

- Foi ele sim, mas eu não o conheço.

- Ele te machucou, ofendeu...?

- Não, não. – sorrio, tentando acalmá-lo – Na verdade eu só pedi “licença” e ele disse que eu podia passar.

- Cara estranho... – resmunga e olha para o homem e depois me olha novamente – Tudo bem. – sorri e passa o dedo indicador por minha bochecha – Se você diz, eu acredito.

- Estou falando a verdade.- Sorrio e volto a olhar para o carinha com o violão.

Diz que sou seu menino
Diz que sou seu carnaval
Junto a sua vida com o meu amor
Não tenho saída, sou seu, sou
Só quero estar contigo e ter você aqui
Junto a sua vida com o meu amor
Não tenho saída, sou sua, sou
Só quero estar contigo e ter você aqui

O luau seguiu do jeito que estava. Depois das várias músicas, continuamos comendo e bebendo, até que por fim ele chegou ao fim e decidimos voltar para casa caminhando pela beirada da praia. As ondas estavam agitadas e estavam avançando um pouco além do seu limite, mas nada de assustador. Começamos a subir das ladeiras e a Hinata foi a primeira a ser deixada em casa. O Gaara seguiu com a Ino e o Kakashi se prontificou em me levar até em casa porque ele disse que ficou desconfiado com o tal carinha do luau.

Seguíamos lado a lado pelas ladeiras de pedras, calados, cada um preso em seus pensamentos. As ruas estavam pouco movimentadas, sem muita coisa para se apreciar e quando finamente chegamos na porta da minha casa (uma casa de primeiro andar, branca, com uma varanda no andar de cima onde ficava meu quarto. A varanda era decorada com algumas flores – todas elas colhidas pelo próprio Hatake- e muito bem cuidadas – por mim).

- É aqui que eu lhe deixo. – informa com as mãos nos bolsos, olhando para a porta azul de madeira de minha casa.

- Agradeço sua preocupação, Kakashi. Realmente não precisava.

- Claro que precisava. Não podia te deixar vir sozinha com um cara esquisito como aquele de olho em você.

- Exagero seu. Já falei que ele não fez e praticamente não falou nada. – reviro os olhos – Mas não adianta não é, você nunca vai deixar dessa sua preocupação.

- Não mesmo. – Sorri.

Ficamos em silêncio um tempo até que um rapaz passa pela rua em uma bicicleta e nos deixa um “boa noite”. Tanto eu quanto o Hatake seguimos o garoto com os olhos até ele dobrar na esquina e então voltamos a nos olharmos novamente. Os olhos dele agora eram mais escuros e brilhantes. Vejo-o dar um passo à frente e uma mão sua vai para meu rosto e ele acaricia o local com o polegar. Outro passo e então estamos juntos. Eu podia sentir o coração de palpitar dentro do peito e eu também sentia o meu dar leves batidas descompassadas, mas eu não podia deixar isso continuar. Não mesmo.

- Boa noite, Kakashi. – sussurro, desviando o olhar do dele.

- Boa... – pigarreia e dá um beijo em minha testa – Se cuida. – se afasta.

- Você também.

Sorrio vendo-o começar a caminhar pela rua. Com as mãos nos bolsos e olhando para a rua a sua frente, ele seguia tranquilo e quando estava chegando na esquina, virou o corpo levemente em minha direção e eu acenei um “tchau” com a mão recebendo um aceno de cabeça de volta.

Com um suspiro, entro em casa trancando a porta logo em seguida. O interior de minha moradia estava escuro, não sendo pela iluminação da lua que adentrava pelas janelas de vidro que eram cobertas por cortinas brancas. Subi as escadas de madeira que davam acesso ao primeiro andar e ao passar pela porta do quarto dos meus padrinhos ví que a luz estava desligada. Segui para meu quarto, entrei e fechei a porta. Sentei na beirada da cama e tirei minha rasteirinha. Minha cabeça estava agitada, descontrolada e confusa. Eu precisava dormir.

~ > Continua