Pub - Drink 36


Havia chorado tudo o que conseguia. Agora, apenas permanecia deitada olhando para o teto do quarto enquanto não sabia mais o que fazer. Mais cedo, tinha recebido uma ligação da clínica informando que a situação havia piorado.
Sua mãe. Sua adorada mãe.
Fechou os olhos e fungou.
Sentia tanta dor no peito que não sabia mais o que fazer.
Pouco depois da morte de seu pai, sua mãe ficou muito mal. Ela vivia doente, até que começou a esquecer coisas simples como onde tinha colocado as chaves, o número do celular, o nome de algumas pessoas. Até que a coisa foi tomando proporções exageradas, até que ela foi diagnosticada com Alzheimer. Junto com o Alzheimer veio o Parkinson.
Sakura precisou trabalhar mais para pagar os remédios da mãe, mas ela só piorava. Até que um belo dia, saiu de casa e não voltou. A pobre Haruno quase morre de desespero atrás da mãe que foi encontrada dois dias depois numa praça totalmente perdida.
Com isso, as coisas mudaram. Sakura não vivia mais. Tudo na vida dela se resumia a trabalho e cuidar da mãe, porém, para uma jovem tão nova, aquela era uma situação demasiadamente pesada, principalmente porque as contas começaram a acumular.
Diante disso, o serviço social julgou que ela não era competente para cuidar da mãe e a levaram para uma casa de repouso.
Isso destruiu Sakura.
Lutou para retirar a mãe, mas tudo o que conseguiu foi que Mebuki saísse durante a noite para ir para casa e de dia voltava para a casa de repouso. Sakura conseguiu mais um trabalho nos finais de semana. Agora, conseguia comprar os remédios para sua mãe da forma correta, mas Mebuki era uma mulher de gênio forte. Vez ou outra tentava fugir ou arrumava briga com alguém e esse mal comportamento fez com que a casa de repouso começasse a repensar sobre a internação da mulher.
Como se nada disso bastasse, a doença piorou e Mebuki começou a entrar no estágio 3 do Alzheimer. Isso desesperou Sakura. A casa de repouso não podia mais continuar com sua mãe.
Ela chorou por dias, desesperada. Não sabia mais o que fazer e por mais que desejasse muito cuidar da mãe ela mesma, precisava trabalhar, caso contrário, morreriam de fome.
A casa de repouso ficou uma última vez com Mebuki e então, não havia mais saída. Sakura ficou em casa por três dias cuidando da mãe. Faltou ao trabalho. Perdeu um dos empregos que tinha. A comida começou a acabar.
Cuidava da mãe com todo o amor do mundo, se dedicava 100% a ela, mas quando chegava a noite e Mebuki dormia, Sakura se encolhia na cama e chorava a noite toda, até que dormia de exaustão para no outro dia acordar com os gritos da mãe alucinando, não reconhecendo onde estava.
E foi assim.
No terceiro dia, enquanto sua mãe dormia depois de tomar um calmante, Sakura tomou banho e foi para a cama, não sem antes trancar a porta do quarto de Mebuki para evitar que ela fugisse caso acordasse durante a noite. Deixou o corpo cair na cama e ligou o pequeno aparelho de TV que mostrada sua mãe dormindo na cama. Havia colocado uma câmera lá. Outro custo que não sabia como iria pagar.
Enquanto as lágrimas caíam pesadas, ela sentia o estomago roncar pela fome. Preferiu ignorar aquilo e pegou os livros que estavam num canto. Não era porque havia trancado a universidade que iria deixar de estudar.
Não conseguiu estudar por nem uma hora completa. O corpo cansado e fraco pediu seu tempo de descanço e ela dormiu por cima dos livros.
Acordou com os gritos da mãe pedindo socorro. Ela olhou pelo monitor e viu Mebuki de pé na cama, puxando os cabelos.
Correu até lá e destrancou a porta de forma rápida.
- Mãe, tô aqui. Ei... - correu até a beirada da cama e estendeu as mãos para a mãe.
Mebuki olhava para a filha de um jeito desconfiado, mas aos poucos, foi baixando as mãos dos cabelos até que lágrimas rolaram pelo rosto da mais velha.
- Eles estão aqui. - sussurrou.
Sakura viu pânico nos olhos da mãe e quis gritar, mas engoliu toda a dor e deu um pequeno sorriso, agitando as mãos.
- Eu vou mandar eles irem embora... Agora vem comigo, mãe. Vem. - sua voz era suave.
Em silêncio, a mulher segurou nas mãos da filha e desceu da cama, olhando para a mais nova e então lançou um pequeno sorriso.
- Você é tão linda, menina. Parece uma bonequinha.
As lágrimas rolaram sem autorização. Ela não aguentou segurar aquilo. Doía tanto vê sua mãe daquele jeito.
Por Deus, ela era só uma garota que havia ficado maior de idade ha pouco tempo.
- Obrigada... A senhora também é. - sorriu e acariciou o rosto da mãe, envolvendo-a nos braços - Está com fome?
- Um pouco. - a mulher respirou fundo e olhou para a porta - Tem pãozinho?
- Tem sim. - começou a guiar a mais velha para fora do quarto.
- Ah, eu vou querer!
Naquele dia, Sakura apenas almoçou.
Tudo era para a sua mãe e comida era algo que ela não se dava muito ao luxo. Mebuki precisava de tudo de acordo com seus tratamentos e Sakura se esforçava ao máximo para ser assim. E era, mas ela já não conseguia mais sustentar aquilo.
Precisava escolher: Ficar em casa para cuidar da mãe e ambas morrerem de fome/doença ou ela iria trabalhar e deixava Mebuki com alguém.
Aquela foi a decisão mais difícil de sua vida.
No mesmo dia, deixou a mãe com uma vizinha e foi até uma casa de repouso que havia ouvido falar. Era uma das melhores casas de repouso da cidade, mas era muito, muito cara. Porém, não havia saída: sua mãe precisava de cuidados.
Pesou tudo o que precisava fazer: Precisaria mudar de casa para uma mais barata, precisaria arrumar outro emprego, precisaria cortar todos os custos ao máximo possível. E com sorte, ainda poderia fazer alguns trabalhos por fora.
Isso seria o suficiente para conseguir manter sua mãe ali.
Fez toda a parte burocrática com Mebuki e dois dias depois, deixava sua mãe naquele lugar.
Mebuki amou o local de casa, gostou da decoração e do enorme jardim. O coração de Sakura aqueceu diante da felicidade da mãe.
Quando saiu dali, partiu atrás de emprego, conversou com Gaara para ficar integral todas as noites, explicou a situação e ele ajudou. Continuou procurando empregos durante o dia e conseguiu um que era de dois em dois dias.
Tudo bem, ela só dormiria a cada 72 horas, mas valeria a pena.
E assim começou sua jornada.
Ficou nesse ritmo por um ano e meio, até que seu corpo começou a cobrar os esforçou e ela foi parar no hospital.
Quatro dias internada e um decreto de regular seus horários.
Foi preciso largar o trabalho durante o dia, mas com a ajuda dos amigos, conseguiu trabalhos temporários com a fotografia, o que a ajudou a retomar os estudos.
Estava feliz.
Além de ter tido um aumento de Gaara.
O problema era o material didático para a universidade, mas fazendo trabalhos extras, ela conseguia comprar uns de segunda mão.
Sua mãe já estava no estágio 3 da doença e o médico a chamou dizendo que haviam descoberto um câncer em Mebuki. Sem chances de cura.
Seu mundo desabou.
Foi nesse tempo em que conheceu Madara.
Mas fora Ino, Gaara, Tenten e Neji, mais ninguém sabia de seus problemas.
A conta na casa de repouso aumentou. As despesas com Mebuki eram maiores, então ela precisou abrir mão de mais uma coisa: suas despesas.
Sair com os amigos já não era mais permitido. Roupas novas também não. Utensílios de beleza? Comprava dos mais baratos ou ganhava das meninas. Até suas refeições haviam ficado mais escasas.
Mas mesmo assim, não perdia o sorriso no rosto. Era uma pessoa positiva. Acreditava sempre no melhor, mas saber que sua mãe estava entrando no estágio final da doença havia acabado com ela.
Ninguém sabia das madrugadas que ela passava acordada chorando.
Ninguém sabia dos momentos em que ela fingia não querer algo apenas para não gastar.
Ninguém sabia das coisas que ela aguentava para manter a mãe ali.
Porém, nenhum dos seus esforços estavam fazendo efeito.
O aluguel atrasou, a conta na casa de repouso também.
Já não pagava o aluguel ha três meses e a clínica ha um mês.
Recebia as cobranças, prometia que iria pagar, mas já não sabia o que fazer. Lutava com todas as forças, mas não conseguia. Parece que remava, remava e morria na praia.
Com os pensamentos voando por suas dolorosas lembranças, ouviu batidas na porta. Ficou quieta, deitada, esperando a pessoa ir embora. Não estava bem para receber ninguém, mas a pessoa continuava batendo.
Soltou um gemido alto e passou as mãos nos cabelos, caminhando até a porta. Abriu a mesma num rompante e sentiu um misto de dor e ódio quando encontrou os olhos negros lhe mirando. Girou nos calcanhares fechando a porta, mas ele a segurou, impedindo-a de fechar. Sakura tentou empurrar, mas ele impediu.
- Vai embora! - rosnou.
- Precisamos conversar, Sakura.
- EU NÃO QUERO CONVERSAR COM VOCÊ! - gritou, empurrando mais.
- Eu não vou embora daqui até conversarmos! 
- QUE MERDA! - gritou novamente, soltando a porta e caminhando para dentro da sala.
Ele entrou e fechou a porta às costas. Olhou ao redor vendo a casa bagunçada e estranhou aquilo. Sakura ainda permanecia de costas com as mãos na cintura e a cabeça abaixada. Estava arrependido. Nunca, em toda a sua vida, havia sentido aquilo, mas se pudesse voltar no tempo, voltaria apenas para retirar aquelas malditas palavras porque elas foram proferidas num momento de medo e confusão dele de ser pego pelo sobrinho.
Mas elas haviam sido proferidas e ouvidas pela única pessoa que não as merecia.
- Sakura...
- Madara, por favor... só vai embora. - pediu ainda de costas.
- Eu preciso me explicar... me desculpar com você.
- Eu não quero suas desculpas! - girou nos calcanhares, olhando pra ele. Os olhos verdes estavam marejados enquanto a boca dela estava numa linha reta. Raiva e dor - Eu só quero ficar só.
- Eu preciso falar com você. Sakura, tudo aquilo que eu falei...
- É exatamente o que você pensa, e quer saber? Foda-se o que você pensa, eu só quero ficar sozinha.
- Não é o que eu penso exatamente, Sakura. Eu coloquei errado as palavras. Estava nervoso por ter o Itachi me pressionando daquele jeito. E-eu...
- Você falou merda. - respirou fundo. Já estava perdendo a paciência - Palavras quando ditas não podem ser retiradas.
- E eu me arrependo amargamente disso. - apontou baixo, sentindo o bolo se formar na garganta - Eu realmente me arrependo Sakura.
Ela ficou olhando para ele longos segundos. Conseguia sim ver arrependimento nos olhos dele. Ele realmente estava arrependido, mas ela estava magoada. 
Sakura estava destroçada com tudo o que vinha acontecendo e as coisas que ouviu sair da boca dele a fez ficar ainda pior. Precisava pirar. Sentia isso. Sentia que precisava deixar de ser tão forte, ao menos por alguns segundos e se Madara havia falado tudo aquilo de si, iria pelo menos, vomitar toda sua dor em cima dele.
Ele merecia sentir um pouco de remorso.
- Deixa eu te contar uma história, Madara... Era uma vez uma garotinha, essa garotinha era sonhadora, aventureira, nunca deu muita bola para a opinião dos outros. Um certo dia, ela conheceu um cara que mostrou para ela um mundo de aventuras e loucuras, uma atrás da outra... Ele a convidou para conhecer o mundo e ela aceitou. Essa garotinha tinha 14 anos quando isso aconteceu. Aos 16 anos ela voltou para casa e descobriu que logo após sua partida, seu pai havia caído na bebida, tornando-se um alcoólatra em potencial. Pouco depois de ter voltado para casa, a menina descobre que seu pai estava à beira da morte e pouco tempo depois ele morre, deixando a garotinha sozinha com sua mãe... E ela tinha apenas 17 anos quando isso aconteceu. Após a morte do pai, a mãe da garotinha caiu em uma depressão, definhando pouco a pouco, e claro que a garotinha se empenhou em tentar recuperar a mãe. Um certo dia, a garotinha acreditou que a mãe estava melhorando, pois, ela já não chorava pela morte do marido, nem ficava discutindo por pouca coisa... o que a pobre garotinha não sabia é que sua mãe estava desenvolvendo Alzheimer... Quando tinha 18 anos, a garotinha acordou e não encontrou sua mãe em casa. Ela ficou louca. Procurou em todos os lugares e dois dias depois de muita busca, encontrou a mãe em uma pracinha, suja, com fome, sem saber como voltar para casa. Naquele dia, a garotinha descobriu que sua mãe estava no estágio dois da doença.
- Sakura...
- Me deixa terminar. – ergueu uma mão, interrompendo-o – No outro dia, agentes sociais foram na casa da garotinha e levaram a mãe dela para uma clínica pública, alegando que a menina não tinha maturidade suficiente para cuidar da própria mãe... – sorri nasalado desviando os olhos dele, respira fundo e volta a olhar para o homem – Certo dia, a garotinha ficou sabendo que sua mãe não poderia continuar na casa de repouso, porque sua mãe dava "trabalho demais", então ela foi mandada de volta para casa. A garotinha sofreu muito, passou por situações que você não é capaz nem de sonhar. Ela cuidou da mãe o tempo que deu, mas então, a responsabilidade bateu ainda mais na porta: contas e mais contas. Ela começou a procurar um lugar melhor, uma clínica onde a mãe pudesse ficar e ser bem cuidada e ela encontrou. Uma ótima clínica, renomada, com bons cuidadores e médicos 24 horas. Era o lugar perfeito. Aos 19 anos, ela transferiu a mãe para a clínica, a mãe ficou feliz, mas infelizmente, a mulher já não sabia mais quem era, afinal, havia entrado no estágio três da doença. Aos 20 anos, a menina tinha uma mãe que não sabia quem ela era, havia assumido uma responsabilidade de manter a mãe naquele lugar, havia assumido a responsabilidade com a casa e com os estudos, mas a clínica era cara, muito cara, e por isso, a menina precisou trabalhar. E ela conseguiu um bons trabalhos. Seu salário pagava a clínica e dava pra manter a casa, mas aos poucos a doença da mãe foi avançando, avançando, os remédios foram ficando mais caros até que num determinado dia, descobriram que a mulher tinha um câncer incurável e a menina precisou arrumar outros empregos, porque havia prometido que não iria tirar a mãe daquele lugar onde ela era tratada tão bem. Hoje a menina tem 22 anos, tem uma mãe que não sabe o próprio nome, não sabe quem é a filha, trabalha em um pub à noite, trabalha durante o dia e finais de semana para poder pagar a clínica da mãe, estuda a tarde e ainda luta para ser feliz.
- Sakura, eu...
- Sabe o que é pior, Madara? É que algumas pessoas ainda tem a ousadia de dizer que essa garotinha não tem responsabilidade com nada, dizem que essa garotinha se mata de trabalhar e torra o dinheiro com besteira, dizem que essa garotinha não quer nada sério com a vida. – respira fundo e dá de ombros, engolindo o bolo que fechou sua garganta. Quando voltou a falar, sua voz era baixa, quase como um sussurro – Nem todo mundo tem a sorte de ter os pais vivos, ou de ter tido uma morte tranquila, ou até mesmo de ter nascido rico, mas me fala, Madara, me responde: Essa garotinha é tão miserável assim por tentar nos poucos minutos que têm para sí, ser infantil, normal ou até mesmo irresponsável? – arqueou as sobrancelhas – Eu acho que não. Porque essa garotinha sangra todos os dias, desde o momento em que acorda até o momento em que vai dormir, então é aceitável, ou ao menos eu acho aceitável, que essa garotinha em alguns raros momentos, coloque um band aid sobre a ferida, estancando o sangue por alguns minutos e se permitindo respirar sem nenhuma dor. Até que a realidade venha e arranque o curativo, fazendo-a sangrar novamente.
Ele engoliu em seco. Queria falar qualquer coisa, mas o que poderia falar? Aquela realidade era tão dura...
Se Sakura o tivesse batido, xingado ou espancado não teria doído tanto.
Nunca, em toda a sua vida, havia se sentido tão miserável. 
Respirou fundo tentando reunir qualquer dignidade que fosse, mas não encontrou.
- Vai embora, Madara. Por favor... - pediu num sussurro - Eu tô cansada demais para ficar aqui discutindo com você. - respirou fundo e deu as costas, caminhando para o quarto - Quando sair, bate a porta.
E então ela foi para o quarto.
Ele permaneceu ali no meio da sala.
Queria ir até ela e lhe consolar. Queria poder tirar toda a dor dela. Queria poder pegá-la nos braços e dizer que tudo iria ficar bem, mas como?
Não sabia o que fazer. Não sabia o que falar. No fim das contas, ele havia sido o monstro. Não merecia Sakura. Não merecia o perdão dela. Não merecia estar perto dela, porque diferente do que havia falado, o infantil e irresponsável havia sido ele.
De cabeça baixa, Madara se retirou no pequeno apartamento, batendo a porta ao sair.

Comentários

  1. Adorei a cara nova do blog ... curto muito essa história.... Adorei conhecer um pouco da vida dela ... sofrida e guerreira ... me enchi de orgulho dessa personagem batalhadora e bombástica.... amando 🤩🤩🤩🤩🥰😘

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    Respostas
    1. Obaaaa, obrigada, meu amor. A Sakura é realmente uma guerreira

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  2. Oi, tudo bem?
    A história Susano'o será publicada novamente? Eu queria ler.
    Você escre muito bem ♡♡

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  3. Amando e ansiosa para o próximo, ñ demorar pfvr

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  4. Aí minha rosada, quanta dor... É Madara melhor se retirar e pensar o que fazer para se redimir

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