Reencontros - Capítulo 37

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Estavam dentro do carro há mais de meia hora e quando finalmente o Uchiha reconheceu o caminho que estavam tomando, ele não quis acreditar. Espantado, olhou para a Haruno que havia colocado um óculos de sol no rosto e trazia um sorriso cínico na cara.

Ela não estava indo para onde ele achava, não é?

Surpreso, o moreno olhou para frente quando ela girou o volante para a esquerda e a sua frente, no final da rua, ele viu o enorme e saudoso prédio. Seu coração palpitou e um sorriso enorme desenhou os lábios masculinos. Por que ela o havia levado ali? Assistiu ela estacionar o carro no estacionamento quase vazio e quando a Haruno pegou uma sacola e saltou do carro, ele fez o mesmo. Os olhos negros contemplaram o prédio de forma saudosa, ele estava nostálgico. Seu coração palpitava tanto que ele sentia que iria sair do peito a qualquer momento.

Estava muito feliz!

Olhou para a jovem que o olhava contente. Ela havia retirado os óculos de sol e estava encostada no capô do carro, com os braços cruzados e a cabeça inclinada.

- Por que você me trouxe aqui? - perguntou baixo, voltando a olhar a fachada do prédio.

- Acho que você estava precisando lembrar de quem você é, Uchiha.

- Me trazendo aqui!? - voltou a olhar para ela.

- Não exatamente aqui. - desencostou do carro e começou a caminhar indo na direção da entrada do local - Vem...

- Mas...

- Vem logo! - gritou por cima do ombro.

O moreno olhou mais uma vez para a fachada do local. Era a escola em que havia estudado o ensino médio. A escola em que havia conhecido a Haruno. A escola em que praticara luta por três anos. A escola em que na noite do baile, a abandonou... Nunca imaginou voltar ali. Apressando os passos, seguiu a jovem para dentro do local.

Passaram pelo porteiro e o homem - alguém que ele não conhecia - perguntou quem eles eram e Sakura falou algo que o Uchiha não compreendeu, mas que o porteiro sim, e no mesmo instante, ele permitiu a entrada dos dois. Caminharam lado a lado pelo hall do colégio, haviam poucos alunos ali. Eles seguiram pelo local e tanto Sakura quanto Sasuke olhavam tudo ao redor.

- Caramba... - a Haruno sussurrou - Nunca imaginei que sentiria tanta saudade daqui.

- Nem eu. - sussurrou de volta - Também nunca imaginei voltar aqui. - suspirou quando dobrou em um corredor que dava acesso ao refeitório - Como você conseguiu autorização?

- Tenho meus contatos, Uchiha. - virou para ele e deu uma piscadela, cruzou as mãos nas costas e virou para ele - Lembrei que hoje é dia dos professores. Feriado. Então pensei em vir.

- Caramba. - sussurrou e sorriu.

Estava extremamente contente. Nunca imaginou que sentiria tanta falta do ensino médio como havia sentido e estar ali só aumentou essa saudade. Era muito feliz naquela época, quase não tinha problemas, tinha seu pai, seus amigos dando bobeira e o melhor, tinha ELA consigo.

Quando chegaram na cantina, ele analisou tudo. As mesas tudo arrumadas, bandeijas, pratos, talheres, copos... No seu tempo aquilo não ficava arrumadinho daquele jeito não. Lembrou de algo e gargalhou alto.

- O que foi? - perguntou, parando de caminhar e olhando para ele.

- Lembra quando o Kiba ficou puto com o Sai? - coça a barba e gargalha mais - A cara que o Sai fez foi hilária.

- Não teve nada de hilário. - cruzou os braços e fez bico - O Kiba era um ignorante.

- Ele só era exagerado. - defendeu o amigo.

- Aham... E você nem se fala né... "Enquanto você brinca de dançar e ser amiguinho"... e o Naruto!? " Nós lutamos e pegamos mulheres." - bufou alto - Tenha piedade!

- Não mentimos! - cruza os braços e passa por ela, seguindo para a porta de saída - O Sai era ridículo.

- Aham... "Irmão"... - gargalha e passa por ele - Eu lembro de vocês terem ficado bem amiguinhos depois do dançando na rua.

- Ele tinha seus defeitos, mas era gente boa. - dá de ombros.

- E gostoso. - murmura.

- Gostoso!? - para de caminhar - Tá doida, mulher!?

- Doida nada. - para de caminhar e vira para ele - O Sai era o maior gostoso sim. E tinha pegada.

- Como assim "tinha pegada", Dona Sakura? - cruza os braços.

- Tendo pegada, ué. - dá de ombros e volta a caminhar, seguindo na direção do corredor das oficinas - Só existe um jeito de ter pegada.

- Eu quero acreditar que não estou pensando no que estou pensando. - resmungou, mas seguiu ela.

- O problema é que você pensa demais, baby. - fez um gesto com a mão - Por isso está cheio de cabelos brancos.

Espantado, o Uchiha pegou o celular e ativou a câmera frontal olhando para os cabelos. Os fios continuavam negros. Ouviu ela gargalhar alto e rosnou. A Haruno estava zoando com sua cara e ele havia caído direitinho. Guardou o celular e continuou caminhando. Sakura parou em frente a porta da oficina de luta e virou para ele. Sasuke engoliu em seco quando viu ela parando e sentindo a ponta dos dedos formigarem, ele se aproximou e parou em frente a porta.

- Nostálgico? - perguntou baixo.

- Meu Deus... - sussurrou - Eu fui tão feliz aqui.

- Quanto "tão feliz"? - perguntou baixo.

- Mais do que posso descrever. - olhou para ela e sorriu de forma contida - Tive momentos perfeitos aqui...

- Que bom. Isso significa que te trazer aqui foi um tiro certeiro. - balança o corpo.

- Mais do que pode imaginar. - responde baixo e sorri.

- Bom... Então que tal você entrar? - indica a porta.

- Está aberto!? - olha para a fechadura, espantado.

- Por que não vê se a porta abre? - bate levemente no ombro dele.

O moreno olha desconfiado para ela, mas mantinha um sorriso nos lábios. A verdade é que ele não queria acreditar que estavam ali, os dois, passeando por aqueles corredores, em frente aquela porta. Ergueu a mão e viu que a mesma tremia. Estava ansioso, nervoso, gelado. Respirou fundo, prendeu o fôlego e meneou a cabeça, voltando a olhar para a maçaneta. Com um pigarro, segura o objeto e gira, empurrando levemente a porta que mediante a pequena força, e abre e revela o interior do local.

Quando a porta abre, Sasuke prende o fôlego. Seus olhos negros esbugalham e ele se segura para não chorar. Não conseguia acreditar no que via. Não podia ser possível. Não mesmo. Abriu e fechou a boca várias vezes tentando formular algo, mas não conseguia. Sua garganta fechou e ele precisou respirar fundo pela boca várias vezes. Ali na sua frente estava toda - ou grande parte dela - oficina de luta de quando estudava ali. Naruto, Gaara, Kiba... Até mesmo Kakashi... Ao todo, uns 10 homens estavam ali sorrindo, com luvas nas mãos, outros sem luvas, mas com ataduras, Naruto e Deidara estavam em cima do tatame, certamente estavam no meio de uma luta quando a porta fora aberta e no mesmo instante pararam. Todos olhavam para ele.

- Você não fez isso. - sussurrou, com a voz embargada.

- Vai lá, bonitão... - deu um esbarrão no ombro dele e sorriu, entregando a sacola que trazia nas mãos - Luvas... Estão todos te esperando.

- Como... - olhou para o par de luvas dentro da sacola, olhou para ela e respirou fundo - Como conseguiu... Isso?

- Tenho meu charme. - deu uma piscadela - Sou capaz de vender um avião que passa voando pelo céu.

- Você é terrível. - sussurrou e abriu um sorriso de orelha a orelha, balançando a cabeça - E não colabora em nada.

- Terrível eu concordo, mas não colaborar? Não entendi, Uchiha. - cruzou os braços.

- Você quer que eu te supere, mas faz isso. - abre os braços e começa a caminhar para dentro do local - Como faz pra diminuir um sentimento desse jeito?

A pergunta dele fica no ar. Sakura o vê se juntando aos outros e respira fundo, cruzando os braços. Ela vê o Uchiha abraçando os amigos e sorrindo como fazia no ensino médio. Foi impossível não sorrir também. No fim, ela também havia relembrado de quem ela era.

- Bom... - suspira, falando sozinha - Me faço a mesma pergunta há três anos.

Entrou na oficina de luta e caminhou para um cantinho. Sentou num banquinho, cruzou as pernas e braços e ficou olhando. Sasuke estava animado, abraçou os amigos e o abraço mais demorado foram em Kakashi. Sakura sabia que fazia muito tempo que eles não se viam. Com satisfação, observou o moreno retirar o par de luvas de dentro da sacola e procurar por ela pelo local. Quando os olhos negros encontraram os verdes, ele ergueu o par de luvas e murmurou um "obrigado".


Sorrindo, a jovem deu um tapinha no ar. Naruto se aproximou de Sasuke e entregou uma mochila de costas ao moreno que se dirigiu para um cantinho da oficina e foi trocar de roupa. Estava distraída, olhando ao redor que nem viu quando o loiro e o ruivo se aproximaram dela. Só quando cada um sentou de um lado dela que a jovem arqueou as sobrancelhas, olhando de um para o outro.


- Sakura... - Gaara começou.


- Não agradeça. - o cortou.


- Precisamos. - Naruto suspirou - Sabemos que estar perto dele ainda te machuca...


- Muito. - suspirou.


- Mas ainda assim você o está ajudando. - Gaara faz uma careta - Eu não compreendo.


- Sabe o que é, Gaara... - pigarreou e olhou para frente, vendo o moreno voltar vestido com uma regata e uma bermuda - Um dia, há três anos atrás, eu disse a ele que estaria aqui para sempre. Eu disse que sempre seria sua amiga e por mais que isso me doa, o que eu jurei, eu vou cumprir até o fim. 

- Posso estar sendo egoísta, Sakura, mas eu não tenho como te agradecer... - Naruto pega na mão dela e sorri - Só você poderia salvá-lo.

- Acho que a frase correta é: Só eu não tenho medo de levar um "não". - sorri amigável e dá uns tapinhas na mão do Uzumaki. Olha para Gaara e sorri - Agora vão lá, façam ele lembrar de como é levar uns sopapos bons.


- Pode deixar. - o Sabaku levanta e meneia a cabeça - O primeiro soco vai ser meu.


- Essa eu quero vê. - Naruto levanta e eles caminham juntos.


Sorrindo de forma descontraída, Sakura pega o celular e começa a mexer nele, respondendo algumas mensagens, olhando as redes sociais. Vez ou outra, olhava para os meninos e os viam lutando, gargalhando, rolando... Pareciam crianças. Isso fazia ela rir também. Viu quando Kakashi ensinou a eles algumas sequências de golpes novas e os garotos repetiam animados. Viu que Sasuke parecia outro cara, aquele mesmo do ensino médio, sem aquele tanto de problemas pesando sobre os ombros. Nem mesmo o cabelo comprido e a barba grande o cobriu. Era fácil enxergar aquele adolescente que aproveitava todas as oportunidades para paquerá-la. E como se lesse a mente dela, ele olhou na direção da Haruno e lhe lançou um sorriso charmoso, enquanto dava uma piscadela. Sakura, balançou a cabeça, mas acabou correspondendo ao riso. Estava tão animada quanto eles.


Em determinado momento, percebeu que eles estavam tão distraídos que resolveu ir dar uma volta, por isso, levantou e saiu da oficina de luta discretamente. Olhou para o outro lado do corredor e viu o local onde fora feliz. A oficina de dança. Como sentia falta de dançar... Não podia negar, nem ela era a mesma pessoa daquela época. Com um suspiro atravessou o corredor, segurou na maçaneta e com lentidão, girou-a, abrindo a porta e encarando a sala vazia. O local continuava exatamente igual. A barra de ferro, o espelho, as paredes, os móveis ao fundo... Engoliu em seco para vê se o bolo que se formou na garganta descia e entrou.


A oficina de dança estava escura, apenas com a luz do dia adentrando pela brecha da porta que ela acabara de abrir. O salto com o piso de madeira fez um toc-toc ecoar pelo local. Sakura caminhou até a barra de ferro que ficava junto ao espelho e deslizou a ponta dos dedos pelo metal frio. Ergueu os olhos e encarou o próprio reflexo no espelho. Era um reflexo tão diferente daquele que costumava vê ali. Viu através do reflexo o aparelho de som, o sofá e mais ao fundo algumas fotos. Fechou os olhos e imaginou uma música qualquer. Não sabe o motivo, mas começou a cantarolar "el beso del final". Ainda de olhos fechados e cantarolando, Sakura começou a balançar o quadril de forma tímida. Seus pés iam e vinham em um conjunto de passos mal dados, algo quase inexistente. 


- Acho que não sou o único que estava precisando disso. - escuta a voz vir de algum lugar atrás de sí, mas não precisou virar para saber quem era.


- Acho que não... - sussurrou, abrindo os olhos e olhando para as mãos ainda na barra de ferro - Acredito que estávamos todos precisando disso.


- Acho que sim... 


Sasuke caminhou para dentro do local e por estar descalço, quase não se ouvia ele caminhar, a única coisa que dava pra ouvir, era o peso dele sobre a madeira, algo suave, mas que deixava claro uma presença. Sakura virou para o lado e o viu parar ao seu lado também. O Uchiha encarou o próprio reflexo no espelho e fez careta. Sakura sorriu. Ele realmente estava horrível daquele jeito.


- É... Acho que você estava correta. - murmurou e balançou a cabeça, olhando para ela.


- Eu sempre estou, Uchiha. - deu de ombros e soltou a barra de ferro, girou nos calcanhares e encostou o cóxi na barra de ferro, ficando de costas para o espelho e de frente para a sala - Eu sinto tanta falta daqui.


- Imagino que sim. - respirou fundo e ficou olhando-a de perfil. Sakura havia crescido tanto... Por Deus, como ela podia ter se tornado ainda mais linda do que era? Era possível ela ouvir como o coração dele estava batendo naquele momento? Porque ele era perfeitamente capaz de ouvir cada batida que seu coração dava dentro do peito... Será que ela conseguia sentir o que ele estava sentindo? Esperava que não, porque se ela fosse capaz de ouvir ou sentir, o plano dele em ir com calma estava perdido... Ela iria se assustar tamanha a necessidade que ele tinha dela - Crescemos, não é?


- Odeio a vida adulta. - resmunga fazendo bico.


- Que tal relembrar um pouquinho a adolescência? - perguntou arqueando as sobrancelhas.


- Hun? - a Haruno olha para ele com o cenho franzido - O que você tem em mente, Uchiha?


Em silêncio, Sasuke apenas estende uma mão para Sakura. Insegura, ela olha para a mão dele tentada entre aceitar e negar.