Gypsy - Fagulha 4

Levou cinco minutos para subir todos os degraus de entrada do palácio. Caminhava um passo atrás do árabe que a escolhera como sua. Estava encantada com toda a estrutura, admirando cada mísero centímetro daquele belíssimo lugar. Só voltou a realidade quando pararam de caminhar. Viu que estavam em uma espécie de pátio aberto, com uma fonte enorme que jorrava uma água límpida. A construção magnifica, junto com as pessoas ali faziam a jovem cigana sentir-se deslocada. Viu quando o grupo cigano também parou e todos foram colocados lado a lado, mas ela não, ela havia sido colocada mais para o lado, próximo a um dos arcos que davam acesso ao interior do grande palácio.


Os árabes soltaram as bolsas ali no chão e logo apareceram criados de todos os lados para recolher aquilo. Ela observava tudo com curiosidade e medo enquanto olhava para a Hinata e a via meio encolhida ao lado de Shino. O rapaz estava colado à morena enquanto mantinha os olhos na jovem de cabelos róseos. Queria poder ajudá-los, mas não tinha como fazer nada. Não sabia o que aconteceria com eles. Tudo o que se passava na sua cabeça era que ela fora escolhida por aquele moreno misterioso e a escolha dele só a levava para um fim: harém.


- Precisamos comemorar essa noite. - o que a havia perseguido informou retirando a túnica do rosto.


- Vamos comemorar. Sempre comemoramos. - o moreno retira a túnica também e a jovem prende a respiração por um tempo. Ele era mal, mas era incrivelmente bonito. - Onde estão meus irmãos? - olha ao redor.


- Voltou cedo. - ouviu uma voz atrás de si e virou rápido vendo dois homens se aproximarem. Eles eram muito parecidos e tão bonitos quanto o anterior. Um possuía os cabelos bagunçados, apontando para todos os lados já o outro tinha cabeços espetados. O de cabelos bagunçados olhou para a jovem de cima a baixo duas vezes sem nenhum pudor - Vejo que trouxe presentes.


- Sim. - ouviu o outro responder, mas não olhou para ele. Estava mais concentrada na forma como o moreno de cabelos bagunçados olhava para si. Sentia-se extremamente constrangida por estar sendo analisada tão descaradamente.


- Eu gostei dessa aqui. - tocou no lenço que cobria o rosto da jovem e ela automaticamente deu um passo para trás, puxando o lenço dos dedos dele - Olha... Temperamental.


- Indisponível, irmãozinho. - o que havia escolhido ela murmurou.


- Não aprendeu nada com nosso papá, irmão? - olhou rápido para o irmão e voltou os olhos para a jovem - Onde um come, dois comem... - olhou para o de cabelos espetados - Ou no nosso caso, três.


- Não me inclua em seus jogos de sedução, Sasuke. - o de cabelos espetados olhou para a jovem analisando-a, mas logo voltou os olhos para o mais velho - Mas você também não colabora, não é?


- Vocês deveriam deixar de aproveitar de minha boa vontade e começar a investir no de vocês. - olhou ao redor - Mas bem... Vamos aos negócios. Trouxe algumas famílias de Rom's, mas não queria ter a responsabilidade sobre eles só para mim.


Os dois homens passaram pela jovem e seguiram até o meio do pátio onde pararam e ficaram ao lado do outro analisando os ciganos. Ela se sentia péssima por seus familiares. Não queria que eles estivessem passando por isso, não mesmo. Sabia qual era seu destino, sabia que era terrível, mas pensar que seus familiares iriam passar pelo mesmo ou por coisa pior a deixava muito mal. Viu quando os olhos negros de Hinata cruzou com os seus e ali só tinha medo. Temeu pela amiga, temeu pelo Shino que estava pronto para enfrentar qualquer batalha, temeu pelos outros que pareciam nervosos por não poderem defender os seus.


- Dizem que as Rom cozinham muito bem. - um dos árabes que haviam ido ao deserto falou.


- E os Rom são ótimas mãos de obra. Podemos dividi-los assim. - outro lembrou.


- É uma boa ideia. - o de cabelos bagunçados falou, sério - Podemos dividir entre os homens e o palácio.


- Quero apenas um homem... estou em desfalque. - o de cabelos espetados murmurou.


- Ótimo. Shisui, escolha o homem que você quer... Eu escolhi aquela Rom. - aponta para a jovem que ter sido apontada, estreitou os olhos para ele - Sasuke, o que vai querer?


- Hun... - coçou a barba enquanto olhava ao redor - Dois homens. A mineração precisa de mão de obra.


- Bom... Três mulheres vão para a cozinha e o restante, vocês podem fazer a divisão. - indicou os árabes.


Ouve uma confusão enquanto cada um era escolhido. Os ciganos tentavam fugir, se soltar ou até mesmo brigar, mas no fim das contas não teve jeito, cada um havia sido separado do outro. Viu quando o homem que a tinha perseguido segurou na corda que prendia as mãos de Hinata e Shino puxou a morena para si, mas o árabe a puxou também e quando Shino puxou a jovem de volta, um outro árabe envolveu o pescoço do cigano puxando-o para trás, fazendo-o soltar Hinata. A jovem debatia-se tentando se soltar a ajudar o amigo, mas o árabe a puxava com força fazendo-a cambalear. Mediante aquilo, a jovem Haruno não pensou, apenas correu na direção deles e por estar solta, pulou nas costas do árabe e envolveu o pescoço dele, apertando-o.


- CORRE HINATA! - gritou enquanto batia na cabeça do homem que debatendo-se, conseguiu fazer a jovem soltar seu pescoço e a derrubou no chão. Hinata conseguiu correr, mas ao chegar próximo a saída, outro árabe a segurou.


- ROM DESGRAÇADA! - gritou virando e olhando-a com raiva. Ele a olhava com sangue nos olhos. - VOCÊ VAI SER PUNIDA POR ISSO!


- NÃO! NÃO TOQUE NELA! - Shino se debatia ao mesmo tempo em que era mobilizado - ME SOLTA!


- SOLTEM ELES! SOLTEM ELES! - um cigano mais velho gritava tentando se soltar também, mas recebeu um soco na boca.


- CALADO, ROM IMUNDO! - o árabe que o tinha pego gritou.


A confusão generalizada deixava todos agoniados. Os ciganos debatiam-se mediante aquela situação e os árabes estavam com raiva. O árabe que havia escolhido Hinata aproximou-se da Haruno e ao olhá-la no chão, caída, sentiu mais raiva ainda. Ela era ousada, havia dado trabalho desde a captura. Viu num canto um chicote que havia usado para os cavalos e sem pensar muito, caminhou até o mesmo, o pegou e voltou para a jovem cigana que ao ver o objeto de couro na mão dele, esbugalhou os olhos. O tempo pareceu parar para todos os ciganos. Shino ainda debatia-se, Hinata tentava se solta, mas sabia que era em vão. O árabe ergueu a mão pronto para açoitar a jovem, e ela levantou um braço para tentar (em vão) defender-se da chicotada, mas quando a mão do homem baixou, uma voz soou alta o suficiente para fazê-lo parar a ação antes que o chicote tocasse na jovem.


- Tawaquf! (Pare!) - O tempo parou. Até o vento pareceu congelar. O árabe mantinha a mão parada no meio do caminho e seus olhos voaram para algum ponto atrás da jovem, já ela, olhou para trás vendo o moreno que a havia escolhido caminhar lentamente na direção deles. Seus olhos negros estavam estreitos e escuros. Algo sombrio se passava ali.


- Senhor... - o árabe começou, mas o moreno o cortou.


- Samat! (Calado!) - Parou ao lado da jovem. Ela olhava para ele num misto de medo e gratidão. Seu peito subia e descia rápido enquanto via seu "dono" estender uma mão para ela. Com medo, mas não tendo escolhas, a jovem segurou na mão do homem que a levantou sem muito esforço. Ela ficou de pé ao seu lado e respirou aliviada quando ele soltou sua mão e voltou a caminhar até o outro, parando em sua frente - O que eu falei sobre esta Rom?


- Que era sua, Senhor. - baixou a mão do chicote, engolindo seco.


- Que era minha... - repetiu baixo - Você entende isso? Entende o que isso significa? - ela não via o rosto do moreno, mas ele falava baixo e lento de um jeito perigoso. Todos os presentes olhavam a cena assustados. Até mesmo os irmãos do homem estavam inseguros.


- S-Sim, Senhor... Mas essa escrava me... - começou justificando-se, mas foi cortado novamente.


- Essa cigana ME pertence! - sua voz subiu 5 decibéis e o árabe deu um passo para trás - Eu não lhe dei autorização para chegar perto dela... Nenhuma das mulheres sob os meus cuidados foram maltratadas e nãos será essa cigana que vai ser. - deu um passo para frente e o outro deu um passo para trás - Portanto, eu lhe proíbo de fazer qualquer coisa a ela. Isso significa que se você chegar perto, falar, respirar, olhar ou pensar nela, você vai estar me desobedecendo e portanto, me traindo... e você sabe o que faço com quem me trai, não sabe? - se inclinou levemente na direção do árabe que esbugalhou os olhos.


- S-Sim, meu Senhor. - murmurou.


- Ótimo. - sussurrou e olhou ao redor - Tsunade?


- Sim? - uma mulher alta de cabelos loiros apareceu ao lado do homem. Ela parecia ter uns quarenta anos, mas muito bem conservada.


- Leve a Rom para junto das outras meninas. - ele olhava para a mulher, mas mantinha o corpo virado para o árabe - Cuide para que ela esteja bem acomodada e peça para que a Ino a instrua sobre quem ela será de agora em diante.


- Sim, Senhor. - fez uma mesura curta.


- Obrigado, Tsunade.


A mulher caminhou na direção da Rom e a segurou suavemente pelo cotovelo levando-a para dentro do palácio. A jovem cigana olhou para trás tentando vê seus parentes, mas tudo que viu foram os árabes indo embora enquanto os três irmãos seguiam na direção oposta dela, conversando baixo e rápido. Sua visão foi cortada quando ao passar por uma bela soleira de madeira, uma porta pesada, também de madeira, fechou, impedindo que ela visse mais. A jovem voltou a olhar para frente e soltou um suspiro triste quando contemplou o amplo corredor à sua frente. Ali começaria sua nova vida.




Notas Finais: