Projeto Ampulheta - Capitulo 29

Todos os olhos estavam em mim. O silêncio era palpável, o ar era sufocante. Ninguém parecia acreditar no que acabara de ouvir. "A máquina está pronta". Aquilo era uma sentença. Senti as pernas fraquejarem e precisei apoiar as mãos na mesa para não cair. Sabia que uma hora o Uchiha iria embora. Sabia que seria em breve, mas estar com a máquina pronta tornava tudo real. Pela primeira vez senti, de fato, a ausência dele começar a surgir antes mesmo de ele partir.


- Sakura. - ao ouvir meu nome, pisquei algumas vezes e vi o Gaara se aproximando - Você precisa sentar.


- E-eu... - balbuciei.


- Você tá pálida, Sakura. - Ino se adiantou e me segurou pelos cotovelos - Sente.


- Tá... - murmurei. Minhas pernas estavam dormentes, minhas mãos estavam dormentes. Minha boca estava dormente.


- Aqui, vem. - Gaara me ajudou a sentar - Levanta a cabeça e respira.


- Caramba. - Naruto sussurrou passando as mãos nos cabelos - Eu nem tinha percebido que já tínhamos avançado tanto.


- Ninguém tinha, Naruto. - Hinata acariciou o braço do marido.


- Meu Deus. - ele sussurrou com o olhar perdido.


- Saky... Não precisa ser tão rápido, não é? - tentou me animar.


- Pior que sim, Ino. - Naruto se aproximou - O Kabuto anda rondando.


- Ai porra. - Gaara murmura. - Cara, tem que ter um jeito, não é?


- Não. - meus olhos embaçam - O Kabuto está querendo fazer testes ha muito tempo... Se ele sismar, vamos acabar perdendo todo o trabalho, e o Sasuke não poderá voltar para o passado nem tão cedo.


- Então... - Hinata não conseguiu terminar a frase.


- ... O Uchiha partirá amanhã. - Mas o Naruto conseguiu.


Olhei para o Naruto lentamente. Ele estava certo, o Gaara estava certo. Por mais que eu desejasse que ele ficasse, não poderia arriscar sua vida, afinal, ele tinha uma vida, ele tinha uma familia, ele tinha pessoas esperando-o e meu Deus! Deveriam estar todos loucos. Eu não podia ser egoísta e estragar tudo. Quando veio para cá, o Sasuke tinha planos, estava escolhendo uma esposa, ele sonha em ter filhos, ama a sobrinha e o irmão. Tem trabalho por lá... Mas... como não ser egoísta? Como não querer que ele fique nem que seja um pouco mais? É errado querer sentir o que sinto quando estou com ele? É errado viver o que andamos vivendo?


Tudo bem que uma hora a brincadeira vai ter que acabar, mas serei tão julgada por desejar ter só mais um pouco dele antes que tudo acabe de vez? Acho que não. Porém, mesmo desejando tanto, não posso destruir a vida dele. O Uchiha já sofrerá demais quando voltar para sua época. Terá que conviver com toda a diferença novamente, sem falar que o futuro está todo arriscado por conta de sua vinda para o século XXI.


Uma vez, antes de "cair na gandaia", meu pai me falou algo que nunca esqueci: Um dia, Sakura, você saberá como é querer estar com alguém e não poder. Um dia você saberá o que é amar e não ser amada. Um dia você saberá como é desejar algo e não poder ter porque a vida não é como você deseja menina, você não pode sair por ai se aventurando, fazendo o que bem deseja... As consequências vem, e quando elas chegarem, vai cair sobre você com toda a força que você exerce agora. Então tome cuidado, meu amor, para que elas não te destruam.


E bem... as consequências estão ai. Brinquei com o tempo, brinquei com as pessoas, brinquei com os sentimentos, e agora. Estou sendo devastada, destruída, arruinada por isso.


- - 

Não consegui ficar no trabalho até o final do expediente e pouco depois do almoço, voltei para casa. Nesse momento, estou parada dentro do carro, olhando a fachada de minha moradia. Ele está lá. Fazendo algo, me esperando, sabendo que uma hora eu vou chegar... E eu estou aqui sabendo que essa será a última vez que vou abrir a porta de minha casa e vou vê-lo. Abro a porta do carro permitindo que a brisa que vem do pequeno bosque adentre meus pulmões. Era difícil respirar. Havia um bolo preso em minha garganta que dificultava minha fala, meu raciocínio, minha respiração... Pesava meu peito e me desnorteava. Puxei o ar lenta e profundamente, peguei minha bolsa e sai do carro indo em direção a porta.



Ao fechar a porta às minhas costas, ví a cabeleira negra surgir na porta de vidro. Seus olhos brilharam quando me encontraram e em questão de segundos, ele estava em minha frente, passando os braços em torno de minha cintura e tomando meus lábios em um beijo rápido, mas saudoso. Suas mãos passearam por minha cintura até estarem em minhas costas enquanto tudo o que eu fazia era ficar paralisada. Sua boca deixou a minha e ele dirigiu sua atenção para minha nuca, onde depositou um beijo casto.


- Chegou cedo. - sussurrou. Respirou fundo inalando meu cheiro, me apertando contra sí. - Que bom. - sorriu - Teremos mais tempo.


"Mais tempo".


Era tudo o que não tínhamos. Larguei a bolsa no chão e ergui minhas mãos segurando nas laterais de sua camisa na altura da cintura e afundei o rosto em seu peito, sentindo aquele bolo que estava em minha garganta começar a se desfazer em forma de lágrimas. Elas escorriam rapidamente enquanto o bolo parecia crescer e derreter, depois crescer e derreter novamente. Em segundos, todo meu corpo tremia de acordo com meu choro e foi quando ele percebeu que eu não estava bem. 


- Sakura? - me chamou baixo. Eu queria responder, mas quando abri a boca para falar, um soluço alto saiu - Ei... Sakura... - afasta levemente o corpo do meu, segurando meu rosto entre as mãos e olhando para mim - Meu Deus... O que houve com você?


Olhei para ele. Nos olhos negros que me encaravam preocupados, e a dor só aumentou. Balancei a cabeça de forma negativa, querendo dizer que não havia acontecido nada, mas por mais que eu quisesse falar aquilo, todo meu corpo dizia o contrário. O olhar dele vasculhou meu rosto de forma rápida e ele me puxou para sí, me prendendo em seus braços, me ninando.


- Por favor, me diga o que houve. - beijou o topo de minha cabeça - Lhe machucaram? - fiz que não com a cabeça afundando o rosto contra seu peito. Senti ele acariciar minhas costas com suavidade - Eu... Eu fiz algo indevido? - Balancei a cabeça novamente. Como ele pode pensar que fez "algo indevido"? - Então me fale... Você está me deixando preocupado... - beijou novamente minha cabeça enquanto balançava levemente o corpo de um lado para o outro, como se estivesse me ninando - Diga-me, o que lhe causa tanto desespero?


Balancei a cabeça novamente, abraçando-o ainda mais forte. O cheiro dele era tão bom. O calor dele era perfeito. O modo como nosso abraço se encaixava era confortável. Tudo nele me levava para um lugar tranquilo, para um lugar de paz... Mas estava acabando. Logo ele iria embora e seria apenas eu... E minha enorme casa... Minha vida vazia... sozinha... sem ele.


- O que tanto lhe atormenta ? - murmurou afagando meus cabelos. - Por favor, Minha Sakura, me deixe ajudá-la...


- Você... - solucei afundando ainda mais o rosto contra seu peito - Vai partir...


- Sim, eu vou. - murmurou beijando o topo de minha cabeça - Mas por enquanto...


- Amanhã. - sentencio, calando-o.