Pub - Drink 5


Obs: O capítulo possui música, para ouvi-la é só clicar no nome dela quando a mesma aparecer.




O despertador tocou sua velha melodia calma e estendida. Os olhos negros abriram preguiçosamente e com um espreguiçar, o moreno levantou, desligou o despertador, calçou o chinelo de dedo e caminhou pelo quarto, pegou uma camiseta que estava pendurada e vestiu calmamente. Coçando a barba, pegou o celular e viu que tinha recebido alguns e-mails e telefonemas. Verificou se algum era importante e viu que poderiam ser tratados depois, por isso, jogou o celular sobre o criado mudo e saiu do quarto. A cada cômodo que passava, a iluminação automática ligava e quando saia do cômodo, a luz desligava.



Quando chegou na sala, caminhou até a enorme janela e abriu uma cortina, recebendo os raios de sol. Estreitou os olhos para a iluminação natural e fechou os olhos respirando fundo. Abriu os olhos e contemplou à cidade abaixo de sí. Gostava da visão que a altura lhe proporcionava e por isso, seguiu até a cozinha bem organizada com suas cores em preto e prata. Colocou um refil de café na máquina e voltou para a sala, passando pelo corredor e entrando no quarto. Seguiu até o banheiro e tomou um banho demorado, foi para o quarto, vestiu sua cueca, vestiu a calça social, pegou a camisa social branca, vestiu também, pegou uma gravata e colocou em cima da cama junto com o paletó e foi para a cozinha. Desligou a máquina de café e colocou o líquido escuro dentro de uma caneca e tomou sem açúcar.



Foi até a sala e pegou o jornal que estava dentro da caixinha de correios, sentou no sofá e tomando seu café, folheou as páginas de forma automática, afinal, não havia nada de interessante.



Assim que terminou sua rotina matinal de café amargo, jornal, e leitura de e-mails, vestiu a gravata, pegou o paletó, a pasta, carteira, chaves do carro e saiu do apartamento seguindo para o estacionamento, ligou o carro e dirigiu pelas ruas do centro da Inglaterra, rumo ao seu trabalho.



Quinze minutos foi o tempo exato que levou para chegar no grande prédio e estacionar. Seguiu pelo hall, entrou no elevador ajeitando a gravata e quando as portas abriram no trigésimo terceiro andar, ele viu alguns olhos se voltarem para sí. Sua secretária, Mei, já lhe sorria animada... talvez fosse a única alí que sorrisse com sinceridade. Com um suspiro, seguiu até a própria sala e ao entrar, jogou a pasta na mesa, sentou e ligou o computador para mais um dia de trabalho.

- - 



Estava tão concentrado que nem tinha percebido a hora do almoço passar, mas também não sentira fome. Os relatórios estavam todos prontos, mas precisavam ser analisados e graças aos céus o sobrinho havia se pré-disposto a ajudá-lo. Uma pilha de documentos estava posta sobre à mesa enquanto ele analisava documentos dentro de uma pasta. Estava tão perdido nas análises, que só percebeu que o celular tocada no nono toque. Com um suspiro, atendeu de forma automática, ainda com os olhos no papel.



- Alô?



- Madara! - a voz suave do outro lado o fez tirar os olhos do papel por uns segundos.



- Sim, Kurenai? - apoiou o celular entre o ombro e a orelha e passou a página do documento.



- Oi... liguei só para saber que horas você chega aqui. - ele ouviu o barulho de algo caindo - Ah, caramba... - murmurou.



- Está tudo bem?



- Sim, foi só o rímel que caiu... Estou me maquiando.



- Chegar ai para o que exatamente? - ele viu que um dos gráficos havia sofrido uma queda brusca e decidiu analisar aquilo mais à fundo.



- Como para o que, Madara? Hoje é o jantar de noivado do meu primo, lembra?



- Ah, sim... - murmurou fechando os olhos apertados. Sabia que a noiva não iria gostar nem um pouco da resposta dele - Na verdade, Kurenai, até sabia, mas não vai dar para ir...



- Como não!? - ouviu o barulho de uma cadeira - Madara!



- Estou cheio de trabalho aqui, o Itachi está vindo me ajudar. - pegou um marca-texto e fez um círculo em uma parte do relatório.



- MADARA! - a ouviu gritar. Fechou os olhos imaginando o show que ela daria - VOCÊ DISSE QUE...



- Que iria pensar. Eu não prometi nada, Kurenai! - respirou fundo tentando manter a paciência.



- MAS EU CONFIRMEI SUA PRESENÇA! - ela estava realmente dando um show.



- Porque quis... Eu te falei que não tinha certeza. - solta a pasta em cima da mesa e massageia a têmpora - Você que confirmou. Eu não.



- Você não pode fazer isso. Você simplesmente ignora minha família...



- Meu Deus, é seu primo de terceiro grau! - levanta estressando e começa a caminhar pela sala - Você só viu o cara umas três vezes na vida! - passou uma mão pelos cabelos enquanto com a outra, segurava o celular - Quanto desespero! É só um jantar!



- DE NOIVADO! - ela bufou - Você pode não dar importância para isso, Madara, mas existem pessoas que dão!



- Aaaah, não... Kurenai, não começa. - murmurou cansado daquela velha ladainha.



- Não começa? Não vou começar! - ouviu uma porta batendo - Não vou entrar no nosso relacionamento extensivo! Não vou falar de você ter levado três anos para me pedir em casamento. Não vou entrar no nosso noivado de DOIS ANOS sem previsão para casamento. Não vou! TCHAU, MADARA UCHIHA!



- NÃO... - ela desligou o celular - ... desliga na minha cara... - resmungou entre dentes com raiva - Porra!



- Problemas? - ouviu uma voz e ao olhar pela porta, viu o sobrinho mais velho com a cabeça para dentro da sala - Posso?



- Pode. - jogou o celular em cima da mesa e afrouxou a gravata - É só a Kurenai dando show.



- Qual o motivo dessa vez? - entrou e fechou a porta.



- Jantar de noivado do primo... - suspira - Ela confirmou minha presença... Mas olha pra isso, Itachi. - apontou para a mesa - Eu não vou conseguir me concentrar em um jantar de noivado do primo de terceiro grau que a Kurenai só viu três vezes na vida.



- Vish. - o sobrinho coçou a nuca e suspirou - E provavelmente, fez questão de jogar na sua cara o "noivado prolongado".



- Pois é. - deixou o corpo cair sobre a cadeira - Eu não entendo essa agonia dela em casar. - pega a pasta e volta a folhear - Estamos juntos. Estamos noivos... Qual o problema em esperar um pouco?



- O problema é que ela é uma figura pública que está noiva ha dois anos, que o noivo ainda não marcou a data do casamento... Sem falar que o tempo está passando... Não que a Kurenai, seja velha, mas a idade chega para todo mundo.



"Velha"



A menção da simples palavra fez os pensamentos do Uchiha mais velho voarem para o dia anterior, no parque, onde uma menina o chamou de velho... Por algum motivo, um calafrio percorreu a espinha dele, e o mesmo se remexeu desconfortável na cadeira. Achou melhor ignorar o que o sobrinho falou e focar no trabalho, falando para o mais novo, fazer o mesmo, mas foi impossível. Depois do que pareceu uma eternidade, o Uchiha mais velho só pensava nessa palavra. Da forma como a garota falou dava a entender que ele era um idoso...



Involuntariamente, começou a pensar se estava realmente ficando "velho demais". Talvez o Kurenai estivesse percebendo isso também e, assustada, quisesse aproveitar a "melhor idade" dele. Será mesmo que era isso? Será que aquela garota do pub havia dito aquilo como um aviso, ou estava apenas querendo lhe tirar a paz? Começou a batucar a caneta na pasta enquanto tentava desvendar o verdadeiro sentido daquela palavra para as três pessoas: Itachi, Kurenai e a menina.



- O que foi, tio? – a voz do sobrinho chegou aos ouvidos do mais velho que o olhou – Algum problema?


- Não... – franziu o cenho e ficou em silêncio por alguns segundos – Itachi?


- Sim? – o sobrinho arqueou as sobrancelhas, olhando-o rapidamente.


- Você me acha velho? – fez uma pequena careta de dúvida.


- Depende... - abaixou a pasta e ficou olhando o tio - Para o que, exatamente?


- Sei lá... - soltou a caneta e encostou as costas na cadeira - Só... sou velho?


- Olha, tio... - ele encostou as costas na cadeira também coçou o queixo analisando o tio - Acho que não... Tipo, maduro sim, mas velho? - analisou o Uchiha - Nããão... Por quê?


- Hun... Por nada. - murmurou.



Mas não era nada... Não saia da sua cabeça aquela palavra "velhote". Porque aquela menina havia o chamado assim? Tudo bem que ela era uma adolescente, mas chamá-lo de velhote... Franziu o cenho enquanto pegava a caneta de volta, mas sua mente trabalhava à todo o vapor... Não era dado a ego grande, nem nada disso, apesar de sua família ostentar beleza, ele não ligava para esse tipo de coisa, também não era nenhum modelo, mas tinha ciência de sua boa forma e aparência, afinal, sempre foi o tipo de homem que cuida da saúde e sempre praticou exercícios. Talvez estivesse mesmo entrando na "melhor idade", mas... 39 anos era pra tanto? Não! Sabia que não!


Soltou um muxoxo de forma inconsciente, e nem percebeu que fazia careta, mas o sobrinho sim, esse analisava o tio achando-o esquisito. Afinal, que bicho havia mordido o Uchiha mais velho?



- - 


A noite já tinha caído quando os Uchihas terminaram o trabalho. Estavam cansados, mas satisfeitos. Finalmente o trabalho havia sido analisado, os erros encontrados e agora só faltava ajustar tudo. O mais novo foi embora, dizendo que tudo o que queria era um banho e cama enquanto o mais velho, não conseguia tirar da cabeça aquela discussão interna. Não teria paz enquanto não soubesse... Estava ficando louco!



Pegou o celular a fim de saber se o jantar ainda estava acontecendo, discou o número da noiva, chamou uma, duas três... Ele ligou quatro vezes, mas Kurenai não atendia... Na última, ela rejeitou a ligação na maior cara de pau... Ele não gostou nem um pouco. Jogou a cabeça para trás e "rugiu" com raiva querendo quebrar algo. Fechou os olhos pensando o que faria da sua vida, mas mais uma vez, a palavra "velhote" veio à cabeça e ele teve uma ideia.



Decidido, desligou o notebook, pegou a pasta, jogou o paletó por cima do ombro e saiu da sala vendo que o escritório estava praticamente vazio. Quando chegou no carro, jogou o paletó no banco do carona junto com a pasta e olhou as horas no relógio de pulso: 22:03. Ligou o carro e arrancou do prédio, seguindo rumo ao subúrbio da Inglaterra... Achava engraçado que até uma semana atrás, não sabia da existência daquele lugar onde se localizava o Pub, e hoje, estava indo lá pela terceira vez. As luzes da cidade passavam por sí de forma aleatória, e só quando estacionou o carro na ruela, viu que estava realmente louco... Até de forma inconsciente, aquela palavra o atormentava. Ajustou a gravata no automático, saiu do carro, ativou o alarme e seguiu para a entrada protegida pela porta de madeira surrada, com seu letreiro brilhante e antigo. Algumas pessoas estavam do lado de fora, e assim que entrou, uma batida conhecida dominou o ambiente... Parecia até ironia da vida, afinal, aquela música falava consigo.



I want to know what love is - Foreingner



Fez careta com a letra da música e olhou ao redor. O pub estava mais cheio que da última vez. Ainda passando os olhos pelo local, procurou uma cabeleira que se destacasse no meio das pessoas e não foi dificil. Ela estava perto da jukebox, atendendo a um grupo de rapazes que pareciam animados. O Uchiha viu que haviam dois banquinhos vazio no canto do balcão e foi para lá que ele seguiu. Sentou e apoiou o antebraço no balcão, esperando. Estava distraído e nem percebeu quando a jovem chegou silenciosamente por trás dele e sentou no banco ao lado.



- Iaê da deprê! - cumprimentou animada.



- Olá, menina. - a olhou rapidamente. Ela vestia o uniforme: Saia, camisa, suspensório, gravata borboleta, sapatos pretos, mas os cabelos estavam em uma trança lateral.



- Então, veio encher a cara novamente? - abriu um sorriso enorme enquanto ficava de costas para o balcão e apoiava os cotovelos na madeira, ficou olhando a movimentação do pub e balançando os pés que estavam suspensos por causa do banco alto.



- Não... - pigarreou - Só... Passeando.



- Ah! - o olhou e deu uma piscadela marota - Sei bem... Então, o que vai ser hoje?



- Não vou beber. - olhou para frente, vendo na parede oposta à sí, onde ficavam as bebidas, que a parede das prateleiras era coberta por um espelho e ele via o próprio reflexo nele, e também as costas da garota que olhava para sí.



- Xiiii... Desencana, cara. - deu um soquinho no braço dele. Os olhos negros foram para a garota rapidamente - Você tá com a maior cara de defunto... Eu hein... - fez cara de assustada.



- Só cansado... - a olhou pelo canto do olho. A menina mastigava um chiclete distraída e acenava para algumas pessoas.



- Vulcão? - o olhou depois de um tempo.



- Não. - suspirou derrotado... Não tinha jeito, afinal - Algo mais leve.



- Temaaaa... - chamou a loira que estava atendendo no meio do balcão - Trás um Whisky para o velhote aqui. - virou para ele - Agora fala, qual o problema da vez?



- Hun... - inclinou levemente o corpo sobre o balcão - O que fazer quando alguém exige muito de você e não entende seu lado?



- Fácil... Manda se foder ! - faz uma bola com o chiclete e estoura.



- Como!? - a olhou espantado. A menina só podia ser doida.



- Saindo um Whisky! - Temari coloca o copo em frente ao homem e sai.


- Obrigado... - dá um gole.


- Amor... O foda-se é um palavrão libertador que te desestressa e te coloca no eixo. Um foda-se bem mandado dá até sono.  - o olhou sorrindo.



- Tudo para você é zoação?



- Basicamente. - deu de ombros. - A vida está ai para nos foder, então precisamos aproveitar e gozar junto. - deu um sorriso de canto - Você precisa zoar um pouco mais dela.




- Você não conhece a realidade do mundo, menina. - murmurou girando o líquido dentro do copo.


- Ráaaa... ai é que você se engana, benzinho... Você que não conhece a realidade do mundo.

- Não? - arqueou as sobrancelhas, debochado.

- Já precisou pegar busão lotado? - ele balançou a cabeça de forma negativa- Já precisou contar moedas para comprar um sanduba? - mais uma vez ele balançou a cabeça- Já teve que ir para uma balada mixuruca? Ou precisou mudar de programa porque o planejado era caro demais? Já arrumou um namoradinho pobretão ou foi para um motel de quinta e levou chifre dois dias depois?

- Nã...



- Já comprou roupa em brechó? – apoiou as mãos no balcão se inclinando para ele em um desafio claro – Já teve que voltar para casa a pé porque não tinha dinheiro para passagem, ou teve que morrer de estudar para passar em uma universidade pública? Já precisou de um hospital público ?– ele balbuciou – Não. Não e não! – bateu as mãos na mesa com um sorriso vitorioso – Viu, é você quem não conhece a realidade do mundo.


- Tá! - revirou os olhos suspirando - Talvez eu não conheça esse tipo de coisa, mas tenho mais idade, sem falar que conheço pessoas perigosas.


- Iiiih... perigo? Velhote, eu rio na cara do perigo. - ela dá a volta no balcão - Sabe o Patinha? - o olhou rápido - Siiim, o traficante... Ah! E o Azeitona? Vish, esse quase me matou uma vez... Conheço todos... Toda a galera da pesada!


- Então você é envolvida com essa "galera da pesada"... - coçou o queixo- O que você fez para ele querer te matar?


- Eu queria um pouco de drogas grátis e ele me negou, então chamei ele de mesquinho filho da puta e arrombado. - murmurou com desgosto.


- Você só pode ser maluca... ou talvez seja um problema de caráter... ou até mesmo educação... – inclinou a cabeça para o lado- Se você tivesse ido para um colégio interno...

- Eu fui. – arqueou as sobrancelhas – Para dois: Um interno e um colégio de freiras... E fui expulsa dos dois. – deu de ombros e começou a limpar o balcão.

- Você o quê!? – piscou abobalhado.

- Ah... Coisa besta... Tempestade num copo d’água… - fez outra bola de chiclete e estourou- No internato, fui pega colocando bombinhas nas privadas. Tomei uma suspensão e só de raiva coloquei bombas rojão no banheiro dos professores. – continuou limpando o balcão.

- E... E o de freiras? – ele estava, no mínimo, chocado.

- Fui pega dando uns amassos em um coroinha. – deu de ombros. Escutou o barulho de algo quebrando e quando ergueu a cabeça, viu que ele a olhava com os olhos esbugalhados, a mão parada no ar e o copo que ele segurava estilhaçado no chão.


- Aaaaah não, cara... Você tem parkinson? - fez careta - Ai, agora vou ter que limpar tudo!


- D-desculpe... - murmurou ainda atordoado. Que tipo de diabo era aquela menina?


- Deixa pra lá. - suspirou e deu a volta no balcão, se abaixou ao lado dele e começou a recolher os cacos do copo.


- Eu te ajudo... - se abaixou também para ajudá-la.


- Não precisa. - o olhou divertida - Isso acontece direto.


- De forma alguma. - ele afastou as mãos dela do vidro - Não quero que se machuque por minha causa.


- Prrr... - deu um tapinha na mão dele e voltou a recolher os cacos - Eu não vou me machucar por su... Ai porra! - reclamou quando viu o sangue escorrer pelo dedo.


- Ai... viu... - ralhou olhando-a feio - Teimosa! Eu falei! - ela o fuzilou com o olhar, mas ele ignorou, pegou a mão dela e aproximou o rosto - Me deixa ver isso... Não foi profundo.


- Claro que não. Foi só um cortinho de nada. - olhou para o dedo que ainda era analisado por ele. - Sem falar que foi culpa sua, você que me distraiu, conversando.


- Minha culpa!? - a olhou com censura - Você precisa cuidar para não infeccionar. - Olhou ao redor vendo que as pessoas simplesmente ignoravam eles. Olhou para cima, mas o balcão era alto e não tinha como pegar um guardanapo. Com um suspiro, ele retirou a gravata e começou a enrolar no dedo dela - Acho que vai servir.


- Ei. Ei. Ei. O que pensa que está fazendo? -tentou puxar a mão, mas ele segurava-a pelo pulso com uma mão enquanto a outra enrolava o dedo - Cara, foi só um cortinho de nada.


- Um cortinho de nada causado por mim, segundo você mesma falou. - deu um nó para fixar a gravata. Os olhos negros se voltaram para os verdes que estavam abismados - Vocês tem caixa de primeiros socorros ai?


- Agora só falta você ligar para a ambulância. - revirou os olhos em derrota - Temos sim...


- Ótimo! - ele começou a recolher os cacos com mais rapidez e quando terminou, levantou, deixou os cacos em uma única mão e estendeu a outra mão para ela - Vem, eu te ajudo.


- Sei levantar sozinha. - murmurou, mas segurou na mão dele e levantou - Valeu.


- Onde posso jogar isso? - olhou ao redor procurando um lugar seguro.


- Vem. - suspirou cansada. Gaara a mataria por estar levando um cliente alí, mas ela não tinha condições de levar os cacos sozinha, afinal, uma mão dela estava parecendo um pescoço todo engravatado e a outra mão era pequena para comportar todos os cacos.


Ela passou por entre algumas pessoas e ele a seguiu em silêncio. Passaram pela portinhola do balcão e seguiram para a parte interna do mesmo, indo para a cozinha. Ao chegar lá, os olhos de dois cozinheiros fora para o casal, e Ino, que estava conversando com um deles, arqueou as sobrancelhas em um questionamento divertido, que foi totalmente ignorado pela Haruno.


A jovem continuou caminhando até que chegaram no fundão da cozinha e ela abriu uma segunda porta, dando com os fundos do pub. A garota seguiu até um latão de lixo, mas quando ia abri-lo, o mais velho se apressou e abriu a tampa, jogando os cacos alí dentro.


- Eu poderia abrir, sabia?


- Não... - bateu uma mão na outra, limpando-a - Não quero que você pegue uma infecção por minha causa. - dobrou as mangas da camisa social até os cotovelos - Primeiros socorros?


- Você não vai desistir, não é? - estreitou os olhos.


- Não, menina... Agora onde fica a caixinha?


- Lá dentro. - deu as costas e começou a caminhar sendo seguida por ele.


Mais uma vez, os dois ficaram sob os olhos azuis e atentos da Yamanaka que parecia estar se divertindo com aquela de brincadeira de "siga o mestre". A Haruno passou por uma outra porta e ele viu que aquilo parecia ser o escritório, que estava vazio no momento. Ela seguiu até um armário, abriu o mesmo e pegou uma caixa vermelha e branca entregando para o moreno que destravou e abriu, vendo vários itens de primeiros socorros alí. 


- Vamos vê isso... - pegou a mão da Haruno e desenrolou a gravata vendo-a melada de sangue. O corte não tinha sido profundo, mas aquela garota parecia estar sofrendo uma hemorragia... Seria possível alguém sangrar tanto com um corte tão pequeno? - Você sangra bastante.


- Todos falam isso. - deu de ombros.


- Algum problema de saúde? - A olhou rápido enquanto pegava uma gaze, álcool 70% e começava a limpar o corte.


- Não... Aii. - fez careta quando o álcool tocou no corte - Só sangro muito quando me corto... - deu de ombros.


- Hun...- ele limpava o corte com delicadeza, o cenho franzido, concentrado. O modo como fazia aquela tarefa mostrava que além de dedicado, ele parecia familiarizado com a ação.


- Já se cortou muito? - não conseguiu conter a curiosidade.


- Por que a pergunta? - a olhou rápido enquanto pegava outra gaze e limpava um pouco mais o corte.


- Só curiosidade... Você parece fazer isso quase todo dia. - deu de ombros, vendo-o pegar um band-aid e envolver o corte.


- Não. - deu um sorriso nasalado - É que tenho sobrinhos... Dois... - analisou o curativo e a olhou quando terminou - E sobrinhos se machucam bastante.


- Você não tem filhos? - arqueou as sobrancelhas vendo que ele havia feito um ótimo trabalho com o corte.


- Ainda não. - guardou o restante do material na caixinha e jogou as gazes usadas no lixeiro.


- Sorte sua. - ficou olhando ele guardar a caixa no armário - Crianças são... absurdas.


- Não acho. - cruzou os braços e encostou o quadril na mesa de madeira gasta.


- Elas só fazem merda, vomitam, fazem cocô exageradamente, choram, gritam, comem compulsivamente, mentem, choram ainda mais... mais cocô! - se estremeceu - Aaargh!


- Quando terror. - sorriu olhando-a divertido - São só crianças, afinal. 


- Fale por você. - deu de ombros. Aproveitou e sentou na mesa ao lado dele. O homem a olhou de canto e acabou sorrindo. Quase uma gargalhada. Uma risada rouca e profunda, que a fez olhar desconfiada- Que foi?


- Nada demais. - respirou fundo enquanto sorria - Só você com medo de crianças... Isso é tão adolescente.


- Isso é muito adulto, baby. - virou o corpo levemente na direção dele, enquanto o mesmo balançava a cabeça exibindo um pequeno sorriso - Apenas idosos gostam de crianças.


- Apenas pessoas resolvidas gostam de crianças. - a corrigiu - E tudo bem, um dia você vai ser mãe e vai saber do que estou falando.


- Nem vem! - desceu rápido da mesa, balançando as mãos em desespero - Joga praga pra outro, hein. - fez sinal da cruz - Não vem me jogar urucubaca não!


- Jogar oque!? - começou a segui-la quando ela saiu do escritório, passando pela cozinha e voltando para o bar.


- Urucubaca! - se encostou no balcão enquanto ele dava a volta e sentava no banquinho. - Praga... essas coisas.


- Ah... - ele olhou para as mãos e viu o relógio de pulso. Soltou um resmungo ao ver que estava tarde e que amanhã acordaria cedo - Nossa!


- Quê? - arqueou as sobrancelhas e se inclinou um pouco para olhar o que ele estava olhando - Que foi?


- Você deveria ser menos curiosa. - ralhou quando viu que ela estava praticamente deitada por cima do braço dele.


- Não, obrigada... Agora fala, o que você tá vendo que eu não tô? - o olhou com os olhos brilhando... Realmente, aquela menina era muito curiosa.


- A hora, menina. - virou o braço para que ela olhasse - Já está tarde.

- Iiiiiih, o velhote tem hora pra voltar pro asilo? - arqueou as sobrancelhas, divertida.


- Você deveria ser mais educada. - franziu o cenho e levantou pegando a carteira - Eu cuidei de você.


- Não fez mais que sua obrigação! - cruzou os braços.


- Como? - a olhou rápido pegando uma nota e colocando em cima do balcão.


- Ué, me cortei por sua causa, lembra? - pegou a nota e colocou na gaveta do caixa.


- Minha causa? - guardou a carteira.


- Sim. Você ficou conversando comigo. Me distraiu. - mostrou o dedo com curativo - Será que consigo entrar no INSS por causa disso? - mordiscou o lábio inferior, indecisa.


- Acho que não. - murmurou e acabou olhando para a boca dela. Era pequena, redonda e ficava perfeita naquele batom vermelho sangue que ela usava. Ele pigarreou enquanto desviava o olhar - Vou indo antes que você me acuse de algo mais.


- Tipo... Cobrar indenização? - sorriu de forma brincalhona.


- Boa noite, menina. - deu as costas vendo que sim, ela seria bem capaz.


- Boa noite, velhote! - falou alto vendo-o acenar por cima do ombro.


Assim que chegou no carro, ele começou a dirigir rumo ao centro da cidade. As ruas estavam mais tranquilas por conta do horário e ele nem percebeu que já estava chegando em casa. Só quando estava em frente ao portão do prédio que se deu conta de como estava leve, tranquilo... e até mesmo que um pequeno sorriso desenhava sua boca. De alguma forma, a ida ao pub o fez bem... Ele até chegou a sorrir! Pesando bem, seu dia "infernal" havia dado uma melhorada considerável. Não sabia se pela bebida, ou pela conversa. Uma coisa tinha certeza: Aquele lugar era "mágico".









Comentários

  1. Amei!!!! Um foda-se é realmente libertador e achoo que tem alguém que vai se libertar e outra que vai ficar muito puta com chute que vai levar kkkkk. Já quero mais tio Mad.

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  2. Um FODA-SE bem grande para a Kurenai kkkkkkkkkk
    Mais tbm né por nada não, mais acho q tio Mad está enrolando ela kkkkkkkkkk
    Aí já qro outro capítulo viado!!!!
    😍❤️💘

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  3. Nem sabe ainda o quão mais mágico vai ficar.

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