Pub - Drink 4

Se estou disposta?


Não.


Se estou animada?


Demais.


Aproveitei que é final de semana para colocar tudo em ordem, como a casa por exemplo, mas não consegui fazer muita coisa já que marquei as fotos do casal apaixonado para hoje. O dia está lindo, os pássaros estão cantando, a brisa é suave... tudo o que eles precisam. Prendo meus cabelos em um rabo de cavalo, visto uma camiseta folgada, cinza, uma calça preta com desenhos cinzas e um coturno. Dobro um pouco as mangas da camisa e me olho no espelho dando uma piscadela para meu reflexo.


Verifico minha câmera, pego as baterias extras, uma câmera extra, coloco tudo dentro da mochila de costas, pego meu celular e coloco no bolso traseiro da calça. Saio de casa animada, coloco os fones de ouvido e desço as escadas de duas em duas. Assim que passo pela portaria, encontro o Senhor Yamaka sentando em seu banquinho de madeira e próximo à ele, o Seu Juracir com um pequeno pacote nas mãos. Quando me viram, os dois abriram um sorriso amistoso.


- Bom dia, Senhores! - cumprimento animada.


- Bom dia, Senhorita Haruno. - Seu Yamaka cutucou o pequeno chapéu que usava.


- Senhorita, Haruno. Bom dia! - Seu Juracir me entregou o pacote e só então percebi que eram flores.


- Oh! Obrigada. - sorrindo, cheiro as flores. Orquídeas! - São lindas.


- Imagina, imaginei que gostaria... Se me dão licença. - ele faz uma breve mesura e começa a subir as escadas.


- Ai,ai... o Juracir não tem jeito. - o velhote no banco sorri.


- Eu gosto das flores, Seu Yamaka. - faço bico, mas acabo sorrindo - O Senhor guarda elas pra mim? Tô indo fazer umas fotos. Quando voltar, pego.


- Guardo sim. - ele pega as flores e coloca no balcão - Vou arrumar um lugar pra elas ficarem enquanto isso.


- Agradeço muito. - ajeito a bolsa nos ombros - Bom dia, novamente.


- Bom dia, menina!


Ele acena animado e eu saio de lá sorrindo. Receber flores do seu Juracir era como um bom presságio, algo do tipo: Seu dia hoje será maravilhoso. E claro que eu acreditei, né! Pego o busão assim que ele aparece e encontro lugar vago. Talvez vocês estejam me perguntando sobre falar tanto em "lugar vago", mas sinceramente, quem hoje em dia encontra lugar vago no busão e não comemora?


Assim que cheguei na entrada do parque ( algo mais parecido com bosque) encontrei o casal na entrada. Ele pareciam nervosos, ansiosos, agoniados... apaixonados! Acenei animada e expliquei rapidamente como seria. Tinha levado alguns ítens de decoração para as fotos. Me sentia bastante animada e disposta. Seguimos para dentro do parque que era uma espécie de jardim botânico público. Fomos até a beirada de um lago que havia e logo as fotos começaram a ser tiradas. Alguns ajustes, outras poses, troca de roupas, troca de acessórios... Seguimos para outra parte do parque, mais para o lado das flores, onde eles poderiam interagir da forma mais romântica possível.


Enquanto fotografava o casal, estava focada em minha função, captando os melhores ângulos, a melhor iluminação e deixando-os bem à vontade. Numa dessas fotos, ví através de minha lente, um homem sem camisa, fazendo flexão na grama. Estava sem camisa, com os cabelos presos em um cóque bagunçado. Baixei brevemente a câmera e o que ví fez um frio percorrer minha barriga. O velhote bonitão. Sim, o tal que havia aparecido no pub estava alí, com seus braços, costas, abdome, beleza e testosterona à mostra, destacando tudo a cada movimento que fazia de sobe e desce com os braços.


Engoli seco quando, concentrado, ele levou a mão esquerda para as costas e continuou sua flexão apenas com a mão direita. Os músculos se destacaram ainda mais. Depois ele trocou a mão e fez a mesma coisa. Tentei me concentrar nas fotos, mas estava complicado. Não dava para me concentrar já que ele havia levantado e estava ajeitando a calça que havia descido um pouco. Aproveitando que o casal estava distraído, peguei meu celular e tirei uma foto dele, já que o mesmo estava de costas. Sem pensar muito, resolvi mandar para a Ino.

Tentei não sorrir, mas foi involuntário. A Ino é mesmo maluca! Guardei o celular e olhei de relance para o homem que estava fazendo alongamento. Dei uma checada na hora e decidi dar um intervalo para o casal.


- Gente, vamos dar uma paradinha de cinco minutinhos, ta?


- Ok. - ambos responderam.


Agradeci e me concentrei em verificar as fotos. Passando uma por uma, deixei as que estavam com o foco melhor e excluí algumas que não estavam boas. Subi um pouco o olhar e acabei me assustando, o moreno estava me olhando... Na verdade, ele me encarava com a cabeça inclinada como se estivesse em duvida do que via. Provavelmente ele teve a certeza seja lá do que fosse, pois, começou a caminhar em minha direção. Arregalei os olhos e no automático, girei nos calcanhares.


Fiquei de costas fingindo que mexia na câmera, mas estava totalmente ciente dos passos pesados nas folhas secas. Fechei os olhos rezando para que fosse uma alma penada, mas pelo que já assisti nos filmes, elas não fazem esse tipo de barulho. Os passos continuaram e eu rezei para que se transformassem em correntes, gritos e sei lá mais oque que os fantasmas fazem. Em vez disso, os passos pararam e uma voz soou.


- Menina?



Puta que pariu! 


Respiro fundo e coloco um sorriso falso na cara enquanto viro lentamente e faço uma cara de espantada. Legal, ao menos ele tinha vestido o moletom... Ou tentado, já que o mesmo estava aberto, mostrando todas aquelas lombadas. Arqueei as sobrancelhas e abri a boca como se estivesse surpresa e então coloquei um "sorriso amigo" na cara.


- Oi! - inclino a cabeça - Que surpresa! 


- Pois é... - ele franzi o cenho e olha para a câmera em minhas mãos e depois para o casal mais ao lado - Fotos?


- Pois é. - dou de ombros - Trabalho é trabalho.


- E o pub? - ajeita o punho do blusão, distraído.


- É que eu tenho dois empregos... Tipo Julius Rock.


- Quem? - me olha com o cenho franzido.


- Deixa pra lá. - foco em olhar as fotos na câmera tentando fazer ele perceber que eu não queria conversar com ele, mas o sujeito permaneceu alí, como se fossemos amigos.

- Onde estão seus pais? - olhou ao redor.


"Na casa do caralho." Eu quis responder, mas em vez disso, inclinei a cabeça de um jeito inocente e dei um sorriso mais inocente ainda.


- Fugi de casa.



- Hun... - me olha dos pés a cabeça. Tentei imaginar se havia algo de errado com minha roupa, mas até que eu vestia algo "normal". Ele olha para o casal de forma analítica - Casamento?


- Pré... - suspiro - Coitados... tão novos.


- Qual o problema com casamentos? - me olha curioso.


- Quase todo problema do mundo.


- Você é de alguma organização contra o casamento? - cruza os braços.


- Sou do time: Solteiras sempre! - dou uma piscadela.


- Vai chegar uma hora que você vai cansar de ficar só.


- Eu não disse: só. Disse: solteira. - olho ao redor procurando um lugar para as próximas fotos - A propósito, qual a lógica de casar?


- Cumplicidade. Companheirismo. Estar com alguém que se gosta. Os momentos. Os sentimentos. As experiências...


- Você pode ter tudo isso com amigos. - olho rápido para ele.


- Não é a mesma coisa. - ele me olhava como se eu fosse louca.


- Pode não ser... mas se aproxima... Veja esses dois, tão apaixonados, sonhadores, acreditando que vão ser o casal mais feliz do mundo. - viro rápido para ele- Eu torço para que sejam, de verdade, mas prefiro não arriscar.


- Fala isso porque nunca teve ninguém com você. - arqueia uma sobrancelha.


- Há-há-há. Vai por mim, velhote. - dou um tapinha no ombro dele. Os olhos negros vão para minha mão como se fosse algo de outro mundo - Conheço mais desse mundo que você.


- Velhote? - me olha com as sobrancelhas erguidas quando começo a caminhar na direção do casal.


- Sim. - olho para ele por cima do ombro - E só para sua informação: Já tive alguém sim.


Vejo ele piscar algumas vezes e sigo até o casal os levando para o outro lado do parque. Olho por cima do ombro e vejo-o indo embora para a entrada do parque enquanto balançava a cabeça distraído. Acabo sorrindo com o encontro que tive com ele. Tudo bem, ele pode até ser um velhote que está fodido de prolemas, mas era o tipo de pessoa que dava pra conversar por dois minutos sem querer matar ou sem ficar com tédio, a propósito, era muito legal tirar o coroa do sério.


Continuei com minhas fotos durante toda a tarde e quando as fotos terminaram, as estrelas já estavam aparecendo. O casal ficou bastante feliz com as fotos e eu mais ainda ao perceber que quase não precisaria mexer nelas. O ambiente, a luz do dia, o astral deles fizeram com que as fotos saíssem perfeitas.


Cheguei em casa cansada, mas bastante satisfeita. Ao passar pela portaria, peguei minhas orquídeas e coloquei em um pequeno vaso. Coloquei a mochila em cima do sofá e fui até a geladeira, peguei um pouco de água e sentei no balcão da pia. Com um suspiro cansado, bebi metade da água de uma vez só e então olhei ao redor. É... eu gostava do jeito que era minha casa, gostava de estar sozinha, dessa paz... e bem, me sentia feliz com minhas amizades e meus casinhos de vez em quando.


Pego o celular que estava no bolso de minha calça e começo a fuçar as redes sociais. Faz tanto tempo que não dou uma boa olhada pela internet que me sentia até de outro mundo. Aproveito e tiro uma selfie para atualizar minha foto de perfil e quando estou postando vejo que a Ino havia enviado um link. Clico no link e a imagem que aparece me faz prender o fôlego.

Ok. Por hoje, já chega de telefone e redes sociais!