Pelotão 28 - Capítulo Doze

Noite em claro.

Era assim que havia passado a noite. Ouvindo os caças sobrevoarem, ouvindo sorrisos próximos, gritos de incentivo… Sua cabeça parecia que iria estourar. Levantou devagar, foi até o baú e pegou um analgésico, tomando-o. Procurou umas roupas e colocou numa mochila de costas que estava alí, depois pegou mais um par e colocou sobre a cama. Tirou a roupa e tomou um banho demorado, sabendo que outro daquele só dalí há um tempo, lavou bem os cabelos e quando terminou, se vestiu vagarosamente vendo que ainda tinha tempo. Fez uma trança lateral nos cabelos, colocou o relógio de pulso, pegou a mochila, conferiu todo o material. Tudo ok! Com um suspiro, ela saiu da cabana e caminhou em direção ao refeitório.

Haviam poucas pessoas alí, mas uma mesa estava toda ocupada com soldados fardados e ela viu entre eles, o Uzumaki. Eles tomavam café enquanto escutavam o que o loiro falavam. A médica pegou a bandeja, colocou algumas torradas, um café forte e seguiu em direção a uma mesa vazia e sentou lá. Começou a comer observando que pouco a pouco o refeitório ia ficando lotado, olhou ao redor e viu os olhos azuis fixos nela. Em vez de desviar os olhos como ele sempre fazia, meneou a cabeça de forma positiva e ela devolveu o gesto voltando a se concentrar em seu café. Já estava terminando quando três donzelas sentaram à sua frente e ela ergueu as sobrancelhas rosas.

- Bom dia, docinho. Nervosa? - Kerollen roubou uma torrada da bandeja da médica que deu um tapinha na mão da piloto. - Ai.

- Muito. - suspirou - Não estou preparada psicologicamente para isso.

- Ninguém está, Sakura. - Eva resmungou - Mas sua coragem é notável.

- É mesmo... Não sei se eu teria tanta coragem. - Tenten sorriu animada - Mas vai tranquila, o Uzumaki é um ótimo Capitão.

- Bota ótimo nisso. - Keeh murmurou sorrindo de canto - Você pode fingir um desmaio lá, já pensou? Cai nos braços dele!

- Arrê, Keeh. E eu lá tô pensando nisso! - revira os olhos.


- Porque é lenta. - Eva soltou - O Uzumaki é muito gostoso!


- Sem falar que te olha com uma fome danada! - Tenten o olhou de canto - Com aqueles olhos de águia... Delicinha ele, né? - olhou para Keeh.


- Ôh, se é! - se inclinou por cima da mesa em direção da médica - E deve ter um pênis lindinho!


A médica se engasgou e acabou cuspindo café pra tudo que foi lado. Os olhos esbugalhados, o rosto vermelho de vergonha e pelo engasgo, os olhos cheios de lágrimas enquanto ela tossia descontrolada. Eva tratou de dar tapinhas nas costas da médica, tentando ajudá-la, mas parecia fazer o efeito contrário. A coitada ficou um bom tempo tossindo descontrolada e acabou virando o centro das atenções de várias pessoas. Quando finalmente a tosse foi controlada, ela respirou fundo e enxugou o canto dos olhos enquanto pigarreava tentando aliviar a garganta. Já Keeh e Tenten tentavam limpar o café que foi cuspido nelas.


- Você acabou de cuspir em mim! - a piloto fez bico - Isso não é nem um pouco sexy, Dona Sakura!


- Não mesmo. Tô toda melecada. - Tenten choramingou.


- Culpa de Vocês! - esbravejou. Olhou para o lado e viu o pelotão levantando. Olhou para a entrada da tenda e viu o Tenente que meneou a cabeça, chamando-a - Acho que está na minha hora.


- Já? - Eva olhou para a entrada da tenda e suspirou - Boa sorte lá!


- Valeu.


- Se cuida, Sasa. Não deixa o Narutinho te matar, hein... ele é difícil, mas tem um coração enorme!


- Dificil eu já percebi, já o coração... - resmungou levantando.


- Vai vê. Ele é lindo por dentro e por fora. - Tenten sorriu - Vai com tudo lá!


- Tá bom... Nos vemos em breve...


Com um abraço, elas se despediram e a médica pegou a mochila, colocou sobre os ombros e saiu de lá indo em direção ao Tenente. Ele caminhava à frente sendo seguido pelo pelotão que estava bem alinhado. Era uma marcha linda, estavam todos focados em sua missão e ao chegarem no enorme galpão, a médica viu mais gente alí, desde outros soldados, oficiais e o Major que a olhava com um pequeno sorriso. O homem seguiu até a médica e parou à sua frente. Ele era bem alto, também bastante musculoso e apesar de seu rosto sério, trazia consigo um traço de diversão.


- Bom dia, Doutora.


- Bom dia, Major... Tenente. - meneou a cabeça quando o Tenente se aproximou.


- Doutora. - meneou a cabeça também - Fico feliz em saber que temos alguém tão corajoso por aqui.


- Apenas faço meu trabalho. - deu de ombro e ouviu passos atrás de sí, não precisou virar, pois, o sorriso do Major denunciou quem chegava.


- Uzumaki! Cuide da Senhorita Haruno, por favor.


- Cuidarei, Major... Tenente... - fez uma continência.


- Capitão... Vejo que o Pelotão 28 já está pronto. Não me surpreendo... Os tanques já estão prontos, os soldados já foram informados da chegada de vocês, mas eles estão no Bloco F.


- Droga. - murmurou.


- Eu sei, Naruto. - o major o olhou compreensivo - Doutora, por favor, colabore com o Capitão. O Bloco F não é nada fácil.


- Tudo bem. - sussurrou olhando rapidamente para o Capitão que estava sério. Muito sério.


- Sakura, o Bloco F é realmente complicado. - o Tenente a olhou preocupado - Os riscos são reais.


- Colaborarei. - mordiscou o lábio inferior nervosa.


- Capitão... - o major o chamou e eles trocaram olhares.


- Compreendido, Major! - ele olhou para a médica - Pronta, Doutora?


- Sim.


Era engraçado o modo como ele havia falado consigo, principalmente a forma como falou o "Doutora" era como se alí estivesse outro Naruto. Parecia que toda a tensão que eles vivenciaram esses dias, toda a implicância havia evaporado. Ela viu ele se despedir dos superiores e seguir até um tanque de guerra. Os soldados do pelotão estavam próximos aos tanques. Todos em fileira, incrivelmente organizados, com o armamento em mãos, o rosto pintado e com as mochilas aos pés deles. Ela caminhou ao lado do Capitão até próximo ao pelotão e quando o Capitão parou em frente ao pelotão, ela também parou.


- PELOTÃO 28? - o Uzumaki gritou.


- PRONTO PARA SERVIR, SENHOR! - todos os soldados responderam e a médica sentiu os pelos arrepiarem. O respeito entre eles era visível. O Uzumaki colocou as mãos para trás ergueu o queixo e olhou em silêncio para o pelotão por um momento.


- SENHORES, ESSA É A DOUTORA HARUNO. - ele falava alto para ser ouvido por todos. As pernas estavam levemente afastadas e ao pronunciar o nome da médica, ele a indicou com um aceno de mão - NOSSA MISSÃO É LEVÁ-LA EM SEGURANÇA ATÉ A INSTALAÇÃO NO BLOCO F. COMO OS SENHORES SABEM, ESSE É UM BLOCO FILHO DA PUTA. TODOS VOCÊS JÁ ESTIVERAM LÁ ENTÃO NÃO HÁ MOTIVOS PARA APRESENTAÇÕES, ESTOU CERTO?


- SIM SENHOR!


- MUITO BOM! - balançou a cabeça de forma positiva. A médica olhava tudo admirada, a forma como todos se portavam, como estavam determinados, e a seriedade na postura e voz do Capitão deixava claro que ele não estava para brincadeiras. - A DOUTORA PRECISA IR ATÉ LÁ E CUIDAR DE COMPANHEIROS NOSSOS, PARA ISSO, SE PRECISARMOS ATIRAR, VAMOS ATIRAR. SE PRECISARMOS LUTAR, VAMOS LUTAR E SE PRECISARMOS MORRER, VAMOS MORRER. DE ACORDO?


- SIM, SENHOR! - um calafrio percorreu a espinha da médica. Que parada era aquela de todos estarem fazendo um pacto de morte? Ela olhou para o Capitão com os olhos esbugalhados, mas ele não a olhava.


- MUITO BEM, SENHORES. VAMOS COMPLETAR ESSA MISSÃO COM SUCESSO. CONFIO CEGAMENTE EM CADA UM DE VOCÊS! CONFIO À VOCÊS MINHAS COSTAS E POR ISSO, ESTOU CONFIANDO A VIDA DA DOUTORA TAMBÉM. ALGUMA OBJEÇÃO?


- NÃO, SENHOR!


- ÓTIMO! JÁ QUE ESTAMOS PRONTOS, VAMOS PARA O CAMPO.


- MATAR OU MORRER. PELOTÃO 28 PRONTO PARA SERVIR, SENHOR!


E marchando, o pelotão começou a subir nos tanques de guerra que estavam dispostos alí. A médica sentiu um frio na barriga e olhava tudo espantada, tanto por admiração como por medo, só então percebeu que as mãos suavam. Engoliu em seco e olhou para o Capitão que a olhava com o cenho franzido. Os olhos azuis estavam escuros, algo que refletia perigo e determinação. Ele deu um passo na direção dela e olhou brevemente ao redor.


- Com medo? - perguntou baixo.


- Um pouco. - respondeu constrangida, não queria afirmar que estava sentindo medo, mas se ele estava alí para cuidar de sua vida, talvez merecesse saber a verdade - Não sabia que fariam um pacto de morte.


- Pacto de morte? - olhou para ela com uma sobrancelha erguida.


- Sim, seus homens juraram morrer se necessário.


- Sim, juraram. - ele olhou para o último tanque onde subiram três soldados - Mas eles não vão morrer. - olhou para ela - Ou vão?


- Não! - se apressou em afirmar algo que nem ela mesma acreditava - Eu... espero que não.


- Primeira regra, Doutora: No campo de batalha, você precisa confiar em seus companheiros. Meu pelotão agora é sua família. Eles vão cuidar da sua vida toda vez que for necessário, e a Senhorita, cuidará da deles caso seja?


- E-eu... - balbuciou. O Capitão a olhava tão intenso que ela chegou a pensar se era capaz de ele ler sua mente ou ver através de seu corpo. Com um respirar profundo, ela tomou fôlego e ergueu o queixo - Sim.


- Ótimo. - ele deu um passo para o lado deixando para ela o caminho até o tanque livre - Bem vinda ao Pelotão 28, Doutora.

Ela o olhou por um segundo e olhou para o tanque, seguiu até o mesmo e sentiu o Capitão à suas costas, as pernas estavam bambas, as mãos ainda suavam, mas ela começara a se sentir segura de alguma forma. Assim que chegou junto ao tanque, segurou no apoio da escada para subir, mas era um pouco alto e percebeu isso quando fez impulso e o pé não alcançou o primeiro degrau. Bufou frustrada e colocou as mãos na cintura analisando o tanque. Mais uma vez segurou no apoio da escada e fez impulso para subir, mas não alcançou o maldito degrau e quando os pés já iam tocando o chão, ela sentiu mãos firmes segurarem-na pela cintura e a suspenderem no ar, fazendo-a “caminhar” no nada e soltar um gritinho por ter sido pega de surpresa. As mãos da médica seguraram no corrimão do tanque e ela deu alguns passos para frente quando seus pés alcançaram o topo da escada. Olhou para trás com o cenho franzido no mesmo momento em que o Capitão Uzumaki tirava as mãos da cintura dela e segurava no apoio da escada para subir também.

~> Continua