Pelotão 28 - Capítulo Dez

Não tardou para chegar no posto e ao entrar viu o ambiente mais agradável. Gargalhadas ecoavam pelo local enquanto alguns pacientes, antes em estado complicado de saúde, agora em ótimas condições, mas seus olhos caíram sobre o moreno que ainda estava entubado, desacordado, mas milagrosamente corado. A enfermeira Eva estava trocando o curativo que tinha no tórax dele. Caminhou até o leito do mesmo e parou ao lado da cama.

- Como ele está?

- Bem. - sorriu - Está com cor… Vê? - indicou o rosto do moreno.

- Sim… E eu não sei como ele conseguiu ser tão forte. - suspirou feliz. Pegou a prancheta e começou a analisar os avanços do moreno, viu que as taxas dele estavam controladas, a pressão, respiração e também a cirurgia que estava limpa e rosa - Ele realmente é muito forte.

- É sim. - sorriu orgulhosa enquanto terminava de colocar gaze em cima da cirurgia - Ele está lutando, Doutora.

- Está… Também, né… Com você paparicando desse jeito. - revirou os olhos.

- Não estou paparicando! - se defendeu colocando as mãos na cintura.

- Hun… - olhou para o moreno - AI MEU DEUS!

- O QUÊ!? - a enfermeira começou a passar as mãos no moreno verificando se havia algo de errado - O QUE FOI? DOUTORA!?

- Está sim! - cantarolou e depois gargalhou enquanto colocava a prancheta de volta no lugar e dava as costas.

- Isso não é justo! - Eva reclamou.

Balançou a cabeça e caminhou rumo os outros leitos, foi até o de um soldado que tinha amputado a perna e conversava animado com o Kabuto, Eles sorriam de algo e quando ela se aproximou, o soldado desviou o olhar, constrangido e o enfermeiro olhou para a médica. Um sorriso ainda maior surgiu e ele balançou a cabeça previamente.

- Bom dia, Doutora!

- Bom dia, Kabuto… Bom dia. - cumprimentou o soldado que a olhou piscando rápido. - Como estamos?

- Bom dia, Doutora. - o soldado pigarreou - Estou me sentindo bem… Muito bem na verdade.

- Que bom. E a perna? - se aproximou do canto do leito dele e segurou o lenço, levantando-o até pouco à cima da coxa do soldado.

- Dói, coça… - murmurou incomodado quando ela calçou um par de luvas e começou a analisar os pontos.

- Isso é normal, você ainda vai ficar muito tempo sentindo isso. - aproximou o rosto da perna dele e estreitou os olhos - Mas a cicatrização está ótima. - ficou ereta e olhou para o soldado sorrindo. Deu dois tapinhas na coxa dele - Pelo visto é algo comum essa “força” que vocês tem para se recuperar.

- Ér… - ele olhou nervoso para a mão dela em sua coxa e engoliu seco - A-a-acho que sim. - pigarreou novamente.

Ela colocou as mãos no bolso do jaleco e estreitou os olhos para o soldado. Ele se parecia tanto com o Uchiha da Eva. Pegou a prancheta novamente e viu o nome do paciente: Obito Uchiha. Colocou a prancheta no lugar e olhou para o soldado que tinha o rosto corado.

- Uchiha? - arqueou as sobrancelhas enquanto tirava as luvas e jogava na lixeira.

- S-sim. - balançou a cabeça e o Kabuto sorriu alto. - Cala a boca! - reclamou com o enfermeiro.

- Irmão? - indicou o moreno desacordado e ignorou as risadas do enfermeiro.

- Pri… - pigarreou novamente - Primo. Somos primos.

- Ah… - sorriu e deu de ombros - Familia militar… Genética abençoada. - murmurou.

- Como? - o Uchiha acordado arqueou as sobrancelhas.

- Oi? - ela se fez de maluca enquanto dava as costas - Descanse, Obito, você precisa de repouso… Kabuto!?

- Sim, Doutora? - o enfermeiro a seguiu.

- Preciso do histórico de todos os pacientes. Vejo que já estão bem melhor, então aqueles que puderem sair daqui, vão sair e ficar de repouso na base. - Olhou o soro de um soldado que dormia e viu que estava quase acabando - O Capitão Uchiha ficará mais um dia sob sedação... Se continuar respondendo, amanhã tiramos ele do remédio e seja o que Deus quiser... Cadê a Tenten?

- Tirou o dia de folga. Pediu para lhe avisar. O namorado dela voltou do campo de batalha ontem então ela pediu “um momento” com ele.

- “Um momento” . -murmurou e deu de ombros - Esse povo aqui só sabe fazer três coisas, pelo visto. - olhou para ele e sorriu indo em direção a outro paciente.

- O que seria? - perguntou, seguindo-a

- Matar, morrer ou namorar. - verificou a prancheta do paciente - Quero mudar a medicação dele. Mude o antibiótico para o anti-inflamatório… Olá. - sorriu para o rapaz deitado que olhava para a médica de um jeito estranho.

- Olá, Doutora.

- Sente-se bem? - Pegou o esfigmomanômetro do bolso do jaleco e aferiu a pressão do rapaz.

- Sim… Em poucos dias, vou poder voltar, não é?

- Você perdeu parte do ombro, rapaz. - franziu o cenho para ele - Acha mesmo que vou te mandar de volta?

- Sim. - ele tentou sentar com postura, mas o ombro ainda doía - O Capitão precisa de mim no campo de batalha.

- Pode ir esquecendo. - guardou o objeto e cruzou os braços - Você vai ficar em afastamento.

- Bobagem. Sou um touro! - Ele sentou e franziu o cenho para ela - Irei para o campo de batalha nem que para isso o Capitão me arranque daqui!

- Hun… - sorriu e olhou rápido para o Kabuto. Voltou os olhos para o soldado - E quem seria seu Capitão?

- Capitão Uzumaki. Pelotão 28. - falou todo orgulhoso.

- Aaaah! - arqueou as sobrancelhas reconhecendo toda aquela pomposidade. Tinha que ser do pelotão do tal douradinho. Se aproximou do soldado e murmurou - Então vamos vê quem põe mais medo, o Capitão ou eu. - levantou a mão e deu dois tapinhas no ombro ferido do soldado.

- Ai! - puxou o ombro para longe dela. - Você tá maluca!? Faz isso porque nunca viu o Capitão em batalha.

- E você nunca me viu com um bisturi na mão. - Se inclinou e segurou no ombro dele, estreitou os olhos enquanto sussurrava.

- Aiiii… - puxou mais o ombro e ela se afastou dele.

Com as sobrancelhas arqueadas a médica se distanciou do soldado e foi para a mesa médica reler os formulários. A tarde foi passando com calma enquanto a médica se desdobrava aqui e alí para por tudo em ordem e nem viu as horas passarem. Quando deu por sí, já era noite e estava cansada, mas satisfeita.

Estava sentindo os ombros pesados e só precisava relaxar, tudo que queria era um bom banho e uma boa massagem. Daria tudo para ir no spa que adora passar uma horinha sob as mãos das massagistas, mas bem, estava alí, na guerra, com o cuidado de todos os soldados feridos sobre os ombros. Era inegável e inevitável, tudo o que tinha ao seu dispor era uma “banheira” e algumas horas de sono.

Retirou o jaleco e o colocou sobre a cadeira. Soltou um suspiro alto e já seguia até a entrada do posto quando viu as portas se abrirem e a piloto passar por ela feito uma bala, com um sorriso de orelha à orelha. Assim que a viu, a morena acenou animada.

- Hey, delicia!

- Iaê, Kerollen.

- Vim te chamar. A galera tá se reunindo no bar para tomar uma. Vamos?

- Ai Keeh… Eu não sei, estou cansada demais…

- Iaê, gatinhas. - um braço rodeou o ombro da médica e quando ela olhou para o lado viu o Kabuto. - Qual a boa?

- Estou chamando a Saky para irmos ao bar, mas ela tá ai, se fazendo de “pobre coitada cansada demais para encher a cara”. - cruzou os braços. - A Eva eu até entendo... ela vai ficar "de olho" no Uchiha... Pensa que eu não sei que vai se aproveitar para ficar passando a mão nele... Mas você, Sakura, Não tem desculpas!

- Ah não, Doutora! - o enfermeiro começou a empurrá-la rumo a saída do posto enquanto a piloto sorria, vitoriosa - A Senhorita precisa comemorar o sucesso que anda tendo.

- Eu só quero um banho e descansar. - resmungou já do lado de fora do posto.

- Descanse quando morrer, quando encher a cara ou depois de uma boa noite de sexo. 

- Não quero sexo. - resmunguei enquanto me deixava ser guiada pelos dois - Estou focada no trabalho.

- Fala isso porque não provou dos belos pênis que temos por aqui. - Sakamoto cantarolou.

- Obrigado pelo elogio. - Kabuto soltou charmoso.

- Não estou falando de você, idiota. - zombou quando já estavam perto do bar.

- Ela me maltrata, mas me ama. - sussurrou para a Haruno.

A médica soltou uma gargalhada e viu que o local, mesmo do lado de fora, estava movimentado. Parte dos soldados que estavam em campo haviam voltado e outra equipe havia sido enviada. Os que tinham voltado estavam aproveitando e ao entrar, ela viu vários rostos desconhecidos, mas viu três bastante conhecidos: A Tenten junto de um moreno. O Gaara e o Uzumaki. Eles conversavam animados enquanto bebiam e quando o trio entrou no local, Tentem foi a primeira que os viu e anunciou a chegada para os outros.

Os olhos se voltaram para eles e a Sakamoto praticamente correu para os braços do noivo, tascando-lhe um beijo-desentupidor-de-pia. A médica e o enfermeiro seguiram para o mesmo local e se acomodaram nos banquinhos vagos em frente a mesa alga. Primeiro ela analisou o moreno junto a enfermeira: Olhos claros, cabelos negros e um pouco compridos. E o mais importante: Braços em volta da Mitzashi.

Agora entendia a enfermeira ter pedido o dia de folga

Danada!

- Boa noite, pessoas. - Kabuto cumprimentou.

- Boa noite, gente. - ela cumprimentou, tímida.

- Boa. - todos responderam.

- Sakura, esse é o Neji, Capitão do Pelotão 25. Neji essa é a Doutora Haruno.

- Doutora… - ele estendeu a mão por cima da mesa e ela apertou.

- Capitão… - soltou a mão dele enquanto sorria - Fico feliz em vê-lo inteiro.

- Eu também. - Tenten completou e todos riram.

- Então, como anda no posto? - Gaara quis saber enquanto levantava a mão chamando um garçom.

- Tudo muito bem. Estamos tendo grandes avanços. - respirou aliviada.

- A Doutora tem ótimas mãos. - Kabuto soltou arqueando as sobrancelhas.

- É mesmo? - Neji arqueou as sobrancelhas.

- É o que dizem. - Kabuto continuou.

- Bobagem. - resmungou constrangida e olhou para frente se deparando com o Uzumaki lhe olhando. Na verdade ele olhava para as mãos dela cruzadas sobre a mesa, na mesma hora, a médica retirou as mãos da mesa e cruzou os braços desviando os olhos.

- Mas e o campo? - Keeh perguntou ao Neji.

- Complicado. - suspirou tomando a atenção de todos. - Não há muitas opções… Fiz um relatório para o major. Ele não ficou nada feliz. - pegou o copo e bebeu.

- Muito em breve estarei voltando para o campo. - Gaara informou. O garçom chegou e ele pediu tequila para todos.

- É uma merda mesmo. - a médica resmungou e de um jeito discreto levantou os olhos e se deparou com aqueles olhos azuis mirando o liquido no próprio copo enquanto um vinco se formava em seu cenho. Ele estava distante.

- Quando isso vai acabar, hein? - Tenten suspirou de forma triste e bebeu de sua bebida. - Quantos ainda vão ter que morrer?

Sentiu um bolo se formar na garganta e teve que virar minha bebida para tentar engoli-lo. O fato de todos estarem pensativos deixava claro o sentimento, mas seus olhos não deixaram o Capitão Uzumaki. O modo como ele segurava o copo com força. Como sua testa estava vincada e como seus lábios estavam em uma linha fina.

Pouco a pouco o clima foi ficando mais leve e depois de algumas doses, todos já jogavam conversa fora e gargalhavam. Entrou no clima também e estava sentindo-se leve. Muito leve. Ria descontrolada da Keeh atazanando o Kabuto quando passeou os olhos pela mesa e se deparou com os olhos azuis fitando-a. Ele parecia intrigado, até distante, mas quando os olhos se encontraram, ele desviou o olhar.

- Vocês sabiam que a Sakura tem um crush? - Kabuto soltou.

- Hun? - ela olhou para ele confusa.

- Ah é? - Tenten arqueou as sobrancelhas - Em quem a doutora está de olho ?

- Não ela… o cara está de olho. - Kabuto alertou.

- Então não é crush, idiota. - Kerollen deu um tapa na cabeça do enfermeiro - Mas isso não é novidade. Só os cegos não enxergam a gostosura dela.

- Agora vamos falar sobre mim? - arqueou as sobrancelhas sentindo o rosto esquentar. Não sabia se pela bebida ou pelo constrangimento.

- Não tenho culpa se você é gostosa. Se eu fosse solteira te pegava. Por exemplo, o Narutinho é solteiro, você não concorda, loirinho? - Keeh questionou e todos os olhos se voltaram para o Uzumaki, o que foi um erro porque ele olhava tão fixo para a médica que não teve tempo de disfarçar e isso gerou num sorriso idiota da Keeh e o Gaara.

- Hun… - murmurou bebendo, desviando os olhos, com atraso, da médica.

- O Naruto não conta. Ele não repara em mulheres… agora quem é o admirador da Doutora? - Neji quis saber.

- O soldado Uchiha. - Kabuto cruzou os braços arqueando as sobrancelhas.

- QUÊ!!!?  - todos ficaram surpresos.

- Exato. Não pode vê-la que fica todo errado. - gargalha.

- Para com isso, Kabuto! - resmunguou afundando no banco.

- Para nada. O Obito é uma gracinha… meio novinho, mas altamente pegável. - encosta a cabeça no ombro do noivo - Então Sasa, vai pegar?

- Quê!? - ela engasgou com a bebida e levou uns tapinhas nas costas dados pela enfermeira - Eu não vou pegar ninguém!

- Uhum. - Kabuto murmurou, sorrindo.

- Garota, aproveita tudo isso que a vida te oferece. - Tenten abriu os bracos indicando os vários homens no local.

- Ah… - balbuciou e olhou ao redor. Muitos soldados estavam ali, mas os olhos dela caíram no loiro a sua frente que a olhava de um jeito curioso com os olhos estreitos - Não, obrigada.

- Ah… Sakura… - Gaara gemeu.

- Agora temos um Naruto versão feminina. - Neji zombou.

- Hyuuga… - o loiro resmungou em alerta.

- Só estou sendo franco.

- Vocês dois vão ser os únicos que não vão pegar ninguém. - Kabuto brincou.

- Talvez a Sakura goste de alta patente. - Gaara bebeu.

- Como assim? - Kerollen, curiosa, deu um sorriso matreiro. - Do que você sabe que eu não sei ?

- Nada demais… Sabe como é, né… -  brincou com a bebida - Umas fofocas aqui… outras ali… dizem que o Tenente anda elogiando bastante a medica.

- O Kakashi? - Tenten ficou de boca aberta.

- Ah, pelo amor de Deus! - resmungou a medica.

- Eu apoio! - Keeh levantou a mão.

- Você apoia todos. - Neji lembrou.

- Todos que são gostosos! - A piloto se defendeu.

- Eu vou embora! - anunciou.

- Sakura! - Kabuto resmungou.

- Você não pode ir tao cedo. - Neji pediu.

- Ficaaaa… - Tenten choramingou.

- Não. Amanhã tenho que cuidar dos meus pacientes. - sorriu em desculpa.

- Tudo bem… Vai com quem? - Gaara questionou.

- Para onde? - arqueou as sobrancelhas rosas.

- Você esta indo embora. - Kabuto lembrou - Vai sozinha?

- Eu acho que a Sasa não deveria voltar sozinha. - Arqueou as sobrancelhas enquanto mexia a bebida com o canudo.

- Imagina, eu tô ótima. Minha cabana é logo alí. - indicou enquanto terminava a bebida.

- Estamos em uma guerra, baby. Sabe-se lá o que se esperar… - apoiou o queixo na mão e suspirou - Seria bom se alguém forte e corajoso te acompanhasse… O Gaarinha até o faria, mas estamos indo também, não é? O Neji tem que levar a Tenten, e bem… o Kabuto é enfermeiro… - olhou para o noivo que confirmou com a cabeça.

- Exagero. - Levantou o deu um tapinha no ar.

- Sei não, mas imagina se algo acontece com a médica responsável pelo posto…? - balançou a cabeça de forma negativa - Quem iria concluir o tratamento dos soldados e do Capitão Uchiha?

- Quanto exagero, Keeh. Em cinco minutos chego na cabana.

- Só estou falando… Talvez alguém que seja corajoso e tudo o mais...

Deu de ombros e tomou um grande gole da bebida no mesmo momento em que o loiro se inclinava na direção da piloto e sussurrava discretamente para ela.

- Eu já entendi o recado, Sakamoto.

- Eu sabia que você não era um loiro burro. - sussurrou de volta dando um sorriso maquiavélico.

Ele a olha com os olhos estreitos e vira a tequila de uma vez só apoiando o copo com força na mesa enquanto levanta e veste com habilidade o blusão negro. Passa as costas da mão direita na boca limpando a gota da bebida que escorria pelo canto do lábio e olha para a Haruno.

- Eu acompanho a Doutora.

- Ah… - a médica olha rápido para ele enquanto pisca atordoada - N-não é necessário, Capitão…

- QUE MARAVILHA! - Kerollen bate palminhas animada - Agora sim vou ficar despreocupada. - girou o corpo no banquinho enquanto dava um tapinha no ombro largo do Uzumaki - Com o Narutinho, você vai estar totalmente segura, Sasa. - piscou.

- Realmente não precisa. - a médica tentou livrar o Uzumaki da tarefa.

- Concordo com a Keeh. Não é seguro. - o ruivo dava de ombros.

- Viu? - arqueou as sobrancelhas - O Narutinho tem braços fortes e é ó-ti-mo com os dedos… Seeeee precisar usar a pistola. - piscou inocente enquanto dava um sorriso enorme. - Cuida da nossa médica, loirinho.

- Hun… - resmungou e passou pela médica lançando um olhar que dizia “vamos logo!”.

- Ai Deus! - a Haruno foi até a Kerollen e deu um beijo na bochecha dela - Tchau gente. Até mais.

- Até! - os outros responderam.

Assim que saiu do bar, viu o Capitão a esperando do lado de fora com as mãos no bolso da calça olhando para frente. Ele estava sério e quando a viu, esperou ela se aproximar para começar a caminhar.  Lado a lado, eles caminhavam pelo acampamento em total silêncio, sendo apenas contemplados pelo céu escuro e pelos barulhos distantes de soldados, tiros, caminhões… todos os barulhos existentes em uma base militar.

Ousou olhá-lo pelo canto do olho e viu que ele olhava fixo para frente. Caminhando com postura, deixando claro a diferença de estatura entre ambos. Continuou a análise. Ele vestia a típica roupa de base (verde musgo sem muitos detalhe), mas com um blusão negro por cima. Ela ouviu um barulho e olhou para cima à tempo de ver os caças sobrevoarem o céu indo em direção do horizonte. Estavam indo para o campo. A médica sentiu o peito apertar com aquilo… Mais pessoas iriam morrer, mais pessoas iriam se ferir, tudo a troco de que? Acabou soltando um suspiro alto e pesado. Suspiro esse que não passou despercebido.

- Guarde seus suspiros, Doutora. - falou enquanto voltava a caminhar.

- Desculpe, mas são seres humanos. - rebateu, caminhando.

- São meus irmãos. - a olhou pelo canto do olho.

- Como pode ser tão alheio a tudo, Capitão? - questinou quando viu a tenda.

- Não sou. - murmurou.

- Não é o que parece. - devolveu e parou em frente a tenda.

- É que não é sua especialidade ler as pessoas, Doutra. - ele olhou para a tenda, para a rua e depois para ela. Meneou com a cabeça. - Boa noite.

- Boa… E... obrigada por me acompanhar. - subiu um degrau.

Ele não respondeu, apenas meneou a cabeça novamente e voltou a caminhar enquanto ela observava-o pelas costas. As mãos ainda no bolso, olhando sempre para frente. Era de fato um homem admirável, não só pela beleza, mas também pelo modo que se portava… Não sendo pela educação, o Capitão Uzumaki não era dado a um bom tratamento com as pessoas.

Soltou um suspiro pesado e subiu os outros degraus entrando na tenda e fechando-a logo em seguida. Tirou o blusão camuflado e o colocou sobre a cadeira. Tirou os coturnos, desafivelou o cinto, soltou os cabelos e massageou a nuca, cansada. Cada dia no acampamento era como 10 anos passados. Estava cansada, dolorida e agora intrigada.

“É que não é sua especialidade ler as pessoas, Doutra.”

Sabia que não era boa com leitura corporal, mas o que exatamente ele quis dizer com isso?

~> Continua