Pelotão 28 - Capítulo Nove

Acordou sentindo os músculos tensos. Havia ficado tempo demais no centro cirúrgico e dormido pouco tempo. Ainda deitada, olhou para o teto da tenda enquanto ouvia os caças sobrevoarem o céu. Fechou os olhos e respirou fundo desejando que os dias alí fossem mais suaves, mas sabia que era um desejo irrealizável. Estava numa guerra, quem ela queria enganar?

Ainda de olhos fechados, viu uma silhueta turva em sua mente, era alta e larga… Pouco a pouco a silhueta foi ganhando forma e cores e então ele estava diante dela, o Capitão Uzumaki. Vestia sua roupa camuflada, com toda sua presença marcante e sufocante, seus olhos azuis firmes e seu cenho franzido. Os olhos azuis estavam analíticos e até um pouco críticos, mas então a postura dele relaxou um pouco quando o mesmo fez a continência. Abriu os olhos rápidos assustada. Não deveria estar tendo pensamentos com aquele loiro alto, forte, rústico, bruto, seky…

PARE!

Balançou a cabeça e levantou rápido se despindo e indo até a banheira. Tomou um banho demorado no intuito de tirar tudo da mente e vestiu a roupa de sempre. Prendeu os cabelos em uma trança raíz, pegou os óculos e colocou. Assim que saiu da tenda, viu pouco movimento, os bonitões que todas as manhãs corriam alí perto não estavam correndo hoje, o que a deixou frustrada. Continuou caminhando na direção da tenda-refeitório e assim que entrou viu o motivo de tanta calmaria do lado de fora. A maior parte dos soldados estavam lá. Instintivamente olhou para o relógio no pulso e viu que era mais cedo do que costumava ir comer.

Pegou uma bandeja e colocou algumas frutas cortadas num prato, torrada e um bom café. Viu num canto a Kerollen acenar animada e com um sorriso, seguiu na direção da outra. Assim que se aproximou, colocou a bandeja na mesa e sentou de frente para a morena.

- Bom dia, delicinha. - cumprimentou a morena animada.

- Bom dia, Keeh. - pegou uma fatia de melão e começou a comer - Manda as boas.

- Nada demais, mas você hein… tá famosa.

- Eu? - franziu o cenho.

- Sim, salvou o gostoso Uchiha com perfeição.

- Não é pra tanto. Ele ainda está em risco.

- Ainda assim… - bebeu um pouco de café - Você foi pika na ação.

- Obrigada. - terminou o melão e pegou uma torrada- Mas e você, quando vai entrar em ação?

- Quando algum marmanjo fizer cagada. - suspirou - O Uzumaki não tira os olhos de você. - murmurou enquanto levava o copo à boca novamente.

- Uh? - pegou a torrada e comeu um pedaço dando uma olhada ao redor, viu ele a algumas mesas de onde ela estava. Ele a olhava descarado, então ela o olhou disfarçadamente e viu os olhos azuis intensos dele a fitando descaradamente - Acho que é gratidão.

- Gratidão do caralho essa hein… - deu um soquinho no ombro da médica - Eu bem que queria receber uma olhada de gratidão dessa. O cara tá tirando sua roupa com aqueles olhos azuis de coruja.

- Você está imaginando coisas. - resmungou tentando não olhar para ele.

- Amor, Kerollen Sakamoto imagina muito, mas aquele olhar alí não é imaginário coisa nenhuma… ele deve estar nesse exato momento imaginando se seus peitos cabem na mão dele. Mas veja, ele tem mãos grandes… - divagou.

A médica ia bebendo um pouco de café e engasgou, cuspiu um pouco do café para frente e quase acertou a amiga. Os olhos esbugalhados o rosto corado… ela pegou um guardanapo e começou a se limpar enquanto a outra só ria.

- Nunca mais fale isso! - resmungou olhando feito para a amiga.

- Agora vou ter que mentir? - deu um tapinha no ar- Corta essa! O cara é gostoso, você é gostosa, não vejo problemas nisso… A não ser que… - levou as mãos

à boca - AI MEU DEUS, VOCÊ É COMPROMETIDA! - acabou gritando atraindo a atenção de todos.

- Xiiiiiiiiiiiii… - praticamente se jogou por cima da mesa no intuito de calar a morena, mas já era tarde. Todo o burburinho do refeitório foi silenciado enquanto elas eram o centro das atenções. A mulher deixou o corpo “cair” no banco e soltou um gemido baixo - Ótimo, Keeh, agora estão todos nos olhando. - escondeu o rosto com as mãos.

- Ah… - olhou ao redor  -QUE É, HEIN? NUNCA VIRAM DUAS MULHERES FOFOCANDO NÃO!? - rapidamente, o burburinho retornou e ela sorriu satisfeita olhando para a mulher à sua frente - Pronto.

- Ai, Keeh… Você ainda me mata de vergonha. - resmungou enquanto passava uma mão nos cabelos.

- Deixa disso, eu não s… Ah! - deu um gritinho quando um ruivo chegou por trás dela e mordeu o ombro da morena - Cacete, Gaara!

- Iaê, delícia! - sorriu.

- Oi… Você quase me mata. - repreendeu fazendo bico e então olhou para a médica - Delicia, essa é a Saky-Gostosa-Médica-Fodedora-do-Naruto. - a apresentou para o ruivo.

- Oi. - sorriu enquanto sentava ao lado da Keeh. O.K. Ela tinha dito que o cara era “o ruivo mais gostoso”, mas isso está num nível acima de gostosura. Aquilo tudo não era de Deus… Não podia ser… Era pecado demais.

- Oi. - Ela tentava não cobiçar o homem da próxima, mas ficava difícil com aquela camisa bege, tão colada nos bíceps da criatura ameaçando estourar a costura.

- Saky, esse é o Gaara-tentação-da-minha-vida. - piscou de forma travessa.

- Iaê. – ele passou um braço por cima dos ombros dela – Então você é a destemida que rebaixou a testosterona do Uzumaki a... quase nada.

- Oi? – arqueou as sobrancelhas.

- Não se fala em mais nada além disso. – dá uma piscadela para a médica– Aposto que se você não fosse a protegida do Major, o Naruto mandava atirar um míssil na sua cabana.

- Protegida? – franziu o cenho.

- Aaaaah sim… O Major deixou bem claro que no posto você era a… como foi mesmo que ele falou? - coçou o queixo quadrado - Ah! “ Hierarquia maior. Que lá, é “Sim Senhora”... É a rainha e nós, meros súditos.”

- Ele… - piscou algumas vezes e então começou a rir devido ele ter repetido as exigências do dia em que foi recrutada- Não creio que ele realmente falou isso.

- Com todas as letras. - Kerollen completou. - Claro que o Narutinho ficou puto.

- Até errou um tiro, coisa que NUNCA aconteceu, só porque falaram seu nome no estande de tiros. - sorriu amarelo.

- Tô achando que isso é amor… ou muito ódio. - a morena olhou para o noivo e ele piscou charmoso - Ou muito tesão acumulado… Quanto tempo faz que o Naruto não afoga o ganço? - ergueu as sobrancelhas para o ruivo.

- Sei lá… Faz tanto tempo que já deve ter ficado virgem novamente. - soltou uma gargalhada alta e a Keeh o acompanhou. Claro que ela ficou constrangida, mas acabou sorrindo também. Pareciam três loucos, mas finalmente se controlaram. Foi inevitável não desviar os olhos na direção do loiro e receber de volta um olhar desconfiado. Ele sabia que estavam falando dele… de alguma forma, ele sabia. Ainda mais constrangida, ela pegou uma maçã cortada e começou a comer enquanto voltava a olhar para o casal à sua frente.

- Como vocês são exagerados.

- A Keeh sim, mas eu? Jamais, baby. Só estou sendo verdadeiro… O Naruto está aqui desde o início da guerra e não voltou nenhuma vez quando teve oportunidade… Talvez ele tenha dado uns pegas em uma ou duas por aqui mesmo, mas isso foi logo no início. - ele  estica as pernas de um jeito confortável  enquanto mexia rapidamente nos cabelos da noiva - Vai por mim, aquilo alí já tá com teia de aranha.

- Que… horror! - balança a cabeça enquanto a Keeh volta a gargalhar.

- Mas e você? - ele ergue as sobrancelhas.

- Eu oque? - termina a maçã.

- Com teia ou sem teia? - Keeh completa.

- Vocês… - pisca algumas vezes e sente as bochechas queimarem - Ok. Acho que já acabei meu café!

Eles continuaram sorrindo. Ela pegou a bandeja e rumou na direção da rampa onde eram depositadas as bandejas vazias, e assim o fez, depois de colocar a bandeja na rampa, rumou para fora do refeitório e começou a vagar pela base militar. Passou em frente ao Obaa e viu a porta de lona fechada. Continuou seguindo e achou interessante uma tenda aperta, cheia de mapas espalhados, pessoas falando em telefones, notebooks, soldados, e pessoas de hierarquia maior indo e vindo... Compreendeu que aquela era a base de comando.

Estreitou os olhos que mesmo protegidos pelas lentes escuras sofriam com a iluminação do sol e continuou caminhando, para sua imensa felicidade, viu mais à frente um grupo de soldados fazendo aquela adorada corridinha matinal e ela decidiu seguir no mesmo caminho para o qual eles estavam indo. Não que desejasse ficar olhando-os, longe disso, mas achou aquele caminho bem interessante... Talvez existisse algo alí, né? Vai que realmente existisse... Com um sorrisinho, seguiu na direção dos soldados, mas o sorrisinho morreu quando um outro soldado – bem gato – parou à sua frente e fez uma continência.

- Doutora Haruno!

- Você... Não precisa disso. – indicou a continência.

- Certo... – respirou aliviado – O Tenente Hatake está à sua procura.

- Ah... – fez uma careta, ela realmente queria conhecer o caminho percorrido pelos soldados. Soltou um suspiro frustrada, se bem que falar com o Hatake não seria de todo mal, afinal, ele era bem... delicinha. Um sorrisinho surgiu nos lábios feminino – Onde ele está?

- Na base, perto dos caças. – ele fez continência novamente – Permissão para me retirar, Senhora.

- Ah... – piscou confusa. Que formalidade era aquela? –Tá... Vai lá.

O soldado baixou as mãos na lateral do corpo e saiu tão rápido quanto havia aparecido. Ela deu a volta e caminhou pela rua central do acampamento seguindo para a base, a caminhada durou cinco minutos e assim que entrou, vários soldados fizeram continência, mas que porra era aquela que estava acontecendo? Envergonhada, baixou um pouco a cabeça e seguiu quase que no automático até a parte mais para o fundo da base e suspirou aliviada quando uma cabeleira prateada surgiu diante de seus olhos.

A agitação alí era rotina, observou. Vários soldados cuidavam dos caças, outros dos tanques, outros dos armamentos. Cada um ocupado em sua função. O tenente conversava com um soldado que não reconheceu, mas que ao vê-la se aproximar, fez um aceno em sua direção e o Tenente virou. Assim que a viu, ele abriu um sorriso e fez um breve aceno com a cabeça, se despediu do soldado e esperou que a Haruno se aproximasse.

- Doutora Haruno, bom dia! - com as mãos nas costas, ele parecia maior ainda.

- Bom dia, Tenente! – colocou as mãos no bolso da calça.

- Fiquei sabendo de seu feito com o Uchiha… Quero lhe parabenizar e agradecer. - ele sorriu brevemente - Foi realmente incrivel!

- Não foi nada. -suspirou - Pensei que fosse perdê-lo.

- Sua competência ecoa por essa base, Doutora. Estão realmente todos felizes com seus feitos em tão pouco tempo.

- Agradeço. – respondeu baixo – Mas... Por que eles...

- Respeito. – respondeu antes mesmo de ela terminar a pergunta – A senhorita conseguiu algo importante aqui, e estão todos concordando com isso. – deu um sorriso.

- Ah! – sentiu o rosto queimar e desviou os olhos. Maldito momento que fez isso, para sua total “tristeza” viu mais para o lado um local que deveria ser a academia, vários soldados estavam alí malhando, fazendo as mais variadas atividades e para o desespero da mulher, o Capitão Uzumaki estava lá.

- Pois bem, a chamei aqui para saber se a doutora tem alguma observação à fazer.

- N-não... – piscou voltando os olhos para o tenente – Não. – divagou voltando os olhos para o loiro.

- Que bom, andei pensando que talvez a dout...

A voz do tenente se perdeu em meio a algum lugar no sub consciente da médica, porque nesse momento, tudo o que ela fazia era olhar para o Capitão que estava fazendo barra. Os braços fortes erguidos, as mãos sustentando todo o peso daquele corpo enorme, os músculos sobressaltados ameaçando transformá-lo no Hulk. Deus! Até foi capaz de imaginar ele fazendo “raaaaaaaw” enquanto a roupa rasgava e ele se tornava selvagem. Involuntariamente soltou um gemido e sentiu um formigamento em seu baixo ventre.

- Doutora...? –ouviu uma voz longe. – Doutora!? – uma voz grave a chamou e ela piscou voltando para a realidade. O tenente a olhava com o cenho franzido.

- Ah... o-oi.?

- Está bem? A senhorita está gemendo... sente alguma dor?

- Eu? – a voz saiu num fio – Hun... Sim! Barriga. – colocou a mão na barriga – Uma dorzinha. Aiiii, aiiiii. – fez careta de dor.

- Tem que cuidar da senhorita também, não deve cuidar apenas dos outros.

- Farei... – sorriu agradecida – Mas o senhor ia dizendo...?

- Então, como eu ia dizendo, alguns soldados estão co...

Mais uma vez ela desviou os olhos e se perdeu. O Capitão erguia o corpo na barra, enquanto sua testa estava franzida, os lábios apertados em uma linha fina, os pés cruzados em baixo e os joelhos levemente dobrados. A camisa regata, branca, estava colada DEMAIS no abdome dele e ela conseguia vê detalhadamente cada lombadinha naquela preciosa barriga. Viu ele soltar a barra e girar os ombros largos enquanto outro soldado subia na barra. Ele retirou a camisa e a médica sentiu as pernas ficarem bambas. Engoliu seco quando ele usou a camisa para enxugar o rosto suado. O maldito jogou a regata num banquinho e colocou as mãos na cintura para olhar o soldado que fazia a barra.

- Doutora Haruno! – a voz do tenente alcançou os ouvidos da médica.

- Sim!? – se assustou – Estou entendendo tudo.

- Não parece... – inclinou a cabeça desconfiado.

- Estou sim... Pode continuar. – incentivou com um aceno de mão.

- Certo... Continuando... Também precisamos fazer alguns exames. Os que voltam do campo de bat...

Viu o loiro pular e segurar a barra com maestria. Ele começou a subir e descer o corpo enquanto seu rosto ficava vermelho devido o esforço físico. A médica viu uma gota de suor surgir na têmpora masculina e escorrer pelo rosto, queixo quadradíssimo, pescoço, peitoral, e droga... desceu percorrendo o abdome perfeitamente decorado com malditos pelinhos dourados. A gota continuou serpenteando pelos gominhos até que se perdeu no cós da cala moletom que ele usava.

Ela não queria, jurou que não queria olhar, mas estava difícil desviar os olhos. Talvez fosse algum problema ocular, não sabia, mas o fato é que enquanto o Capitão Uzumaki estava distraído em seu exercício, ela só conseguia olhar para seu abdome e os malditos pelinhos dourados que se perdiam na calça moletom que NÃO ERA PRA EXISTIR! O maldito formigamento veio novamente, dessa vez mais forte e ela estremeceu.

- ... E... Doutora? – ouvi uma voz chama-la e piscou algumas vezes olhando para o Tenente Hatake.

- Ah... Sim? – atordoada, tentava não voltar a olhar para os pelos dourados.

- Está me ouvindo? – franziu o cenho.

- Ah... sim.(?) – pigarreou.

- A Senhorita pareceu... distante.

- Imagina! – deu um tapinha no ar- Só estava fazendo um check-list do que tenho para fazer no posto médico.

- Doutora! - o tenente bufou - A senhorita não ouviu nada, não é!?

- Ah… - balbuciou e passou a lingua entre os lábios. Olhou rapidamente para a toalha que deslizava sobre os pelos dourados. - A culpa é do dourado. - sussurrou .

- Perdão? - franziu o cenho.

- Hun? - olhou para o tenente. Ele deve ta achando-a idiota - Meu peixinho… dourado. - arriscou uma desculpa.

- Pei...xinho? – inclinou a cabeça para frente- Quer saber... deixa pra lá. Eu acho melhor a senhorita ir cuidar dessa sua dor...

- Hun? – franziu o cenho – Que dor?

- A de... barriga. – respirou fundo e revirou os olhos na órbita – Esquece. Vamos só... esquece!

- É... melhor mesmo. – deu um sorriso constrangida e voltou a desviar os olhos, mas um calafrio percorreu a barriga dela quando os seus olhos se chocaram com os azuis. O Capitão a encarava de volta com o cenho franzido e a toalha parada na barriga... Ele estava secando o suor quando viu a médica e parou no meio da ação intrigado. Viu os olhos azuis irem para o Tenente e as sobrancelhas serem franzidas. Ele resmungou alguma coisa para sí mesmo. Os olhos azuis voltaram para ela novamente com curiosidade, e algo a mais... algo forte... mas impossível de ser compreendido já que ela estava um pouco distante. Engoliu seco e voltou os olhos para o Tenente – Acho que a dor está piorando. Preciso ir, Tenente. Precisa de algo mais? – fez careta.

- N-não... – ele estava visivelmente constrangido. – Obrigado por... ãn.. Obrigado. – Agradeceu por nada.

- Disponha.

Deu um sorriso e começou a caminhar, mas deu uma olhada de relance e viu os olhos azuis acompanharem seu trajeto. Ele continuava paralisado, olhando-a com aqueles olhos de águias, como se estivesse pronto para dar uma sentença.  Ela respirou fundo e seguiu para fora da base. Assim que foi atingida pelos raios de sol percebeu o quanto estava quente, sua camiseta bege estava suada e colada nas costas e barriga. Passou a mãos na testa limpando o suor e balançou a cabeça, mas que merda havia acontecido? Pigarreou e seguiu para o posto à passos rápidos.

~> Continua