Pelotão 28 - Capítulo Quarenta e Sete

 

Não sabia bem quanto tempo ficou daquele jeito tentando se recuperar, mas tinha certeza que era bastante tempo. Ouviu passos próximos e levantou a cabeça, sentindo-a latejar. Gaara caminhava em sua direção com o cenho franzido. Estava visivelmente preocupado. Não o julgava. Ela mesma não sabia como descrever o estado mental em que estava, mas sabia que precisava ser forte a qualquer custo. Fraquejar não era uma opção.

- Como está? - ele perguntou assim que parou a sua frente.

- Minha cabeça dói. - resmungou, levando a mão até a lateral da mesma, respirando fundo - E você? Sua cabeça estava sangrando bastante. Deixe-me olhar. - começou a ficar de pé, mas Gaara ergueu uma mão, impedindo-a.

- Não se preocupe. Já estancou. - virou a cabeça para que ela pudesse olhar o curativo feito na lateral da mesma - Viu?

- Gaara, eu que sou a médica. - ralhou, sorrindo em seguida - Me deixe olhar isso.

- Você é teimosa! - resmungou, ajoelhando-se na frente dela.

- Deveria estar acostumado com isso. - rebateu, sorrindo.

O ruivo apenas revirou os olhos e ela começou a tirar o curativo. O corte era de profundidade média, mas havia parado de sangrar, o que era uma boa coisa. Analisou direito e viu que não era nada grave. Precisava apenas de alguns cuidados para não infeccionar. Tornou a colocar o curativo de volta e sorriu para o Sabaku.

- É, vocês fizeram um bom trabalho.

- Eu disse. - revirou os olhos, mas sorriu logo em seguida - Está anoitecendo. Daqui a pouco, Kiba chegará aqui para te levar até o próximo ponto.

- Que animador. - murmurou, tornando a sentar.

- É... Lá, não será fácil, Sakura. - se remexeu, desviando brevemente o olhar - A frente onde o Kiba está é a mais perigosa, então não se descuide.

- Não irei. - meneou a cabeça com determinação - Prometi ao Naruto que voltaria viva.

- Céus, ele está louco. - passou uma mão nos cabelos.

- Eu entendo. - sussurrou, baixando a cabeça - Fiquei louca quando ele veio para cá. A frente nunca é fácil e bem... ele quase morreu, não foi?

- O Uzumaki é um touro brabo, Doutora. - brincou e ela ergueu os olhos para ele - Acho que se alguém arrancar o coração dele do peito, aquele cabeça dura ainda vai levantar, pegar o coração de volta, dá umas boas porradas no infeliz e depois colocará o coração de volta ao peito.

Ela sorriu e em meio a gargalhada da médica, uma enorme explosão se fez ouvir. Automaticamente, Sakura se encolheu e o Capitão entrou em alerta, ficando de pé, pegando a arma que trazia no coldre da coxa, caminhando rapidamente para fora do local onde ela estava.

Sakura ficou ali atenta a qualquer coisa, até que Gaara retornou coberto de poeira e com uma cara de confusão. Ele tossia e estendeu uma mão para ela.

- Vamos, não podemos mais ficar aqui. Kiba já está no ponto combinado.

Sem falar nada, a médica segurou na mão do Capitão e o seguiu para fora daquele local. Sakura apenas corria enquanto tiros e mais tiros ecoavam por todo o ambiente. Não prestou muita atenção para onde estavam indo. Ela apenas ia.

Explosões ecoavam acima de sua cabeça e ela tentava não sentir medo, o que era em vão, claro.

Em determinado momento, apenas fechou os olhos e tropeçou nos próprios pés, mas então sentiu o corpo chocar contra algo firme e abriu rapidamente os olhos, percebendo ser as costas de Gaara. Olhou ao redor, vendo que estavam dentro de um outro prédio e em frente a eles, estava Kiba.

O Capitão estava parado do outro lado do local que era um espaço aberto com várias divisórias. Atrás dele, mais cinco homens faziam a guarda do moreno.

- Está entregue, doutora. - Gaara informou, olhando-a por cima do ombro - Lhe desejo toda a sorte do mundo.

- Obrigada. - respirou fundo, mordiscando o lábio, nervosa.

- Cuida dela, Inuzuka.

- Cuidarei com minha própria vida. - Kiba sorriu.

Gaara apenas olhou para Sakura e fez um sinal com a mão indicando que ela deveria seguir, e assim a médica o fez. Ela simplesmente correu na direção de Kiba e quando se aproximou, ele estendeu a mão, segurando-a e a puxando para trás de si.

- Seja bem-vinda, doutora.

- Obrigada, eu acho.

- É sempre uma honra. - meneou a cabeça e então olhou para os homens - Vamos, temos um longo caminho para percorrer. - ele olhou para Sakura novamente - Fique sempre colada a mim, tudo bem?

- Uhum. - meneou a cabeça de forma positiva.

- Não se preocupe, doutora, sou como um escudo impenetrável! - deu uma piscadela e ela sorriu.

E assim seguiram.

O tempo passou enquanto eles corriam, atiravam e se esquivavam. Sakura já sentia todos os músculos doerem enquanto tentava sobreviver. Kiba fazia tudo com maestria e familiaridade. Ele realmente sabia o que estava fazendo. A noite já começava a cair quando pararam próximo a uma floresta e se esconderam por trás de uma enorme rocha.

Sentaram apenas alguns minutos para poder beber água e repassar o plano de escoltamento. Estavam perto da base onde Sakura trabalharia.

Seguiram a caminhada trocando vários tiros. Enfrentando os homens do exército rival. Kiba tinha razão: ele era um escudo.

Sakura ficou o tempo todo às costas dele e setia como se o Inuzuka fosse uma muralha na qual ela se protegia sem problema nenhum. Kiba sabia exatamente o que estava fazendo. Aquilo aquietou um pouco o coração da Haruno.

Quando já estava tudo escuro, finalmente puderam respirar um pouco aliviados. Em menos de quinze minutos estariam seguros. Já sorriam felizes por terem chegado ali com segurança e sem nenhuma perda quando ouviram barulhos próximos. Em alerta, formaram um círculo para tentar se proteger de qualquer investida naquela floresta, mas acabaram sendo pegos de surpresa quando vários homens os cercaram.

Naquele momento, a médica sentiu o mundo sair debaixo de seus pés. Vários fuzis apontados para todos e de todos os lados. Os soldados de Kiba sendo encurralados enquanto o círculo formado por eles diminuía consideravelmente. 

Sakura colou o corpo às costas do Capitão e sentiu quando ele respirou profundamente.

- Doutora. - chamou baixinho, apenas para ela ouvir. Ele arrumou o fuzil que usava e suspirou - Me desculpe por falhar nessa missão.

- Kiba...

Sakura viu quando todos os soldados de Kiba arrumaram o fuzil e então tudo aconteceu.

Uma enxurrada de tiros se fez ouvir. Tudo o que Sakura fez foi fechar os olhos e levar as mãos aos ouvidos enquanto aquele barulho insuportável tomava conta do ambiente. Foram poucos minutos que pareceram uma eternidade e quando tudo se calou, ela ficou com medo. 

Silêncio.

Um silêncio tão ensurdecedor que chegava a doer.

Ela estava com medo. Teve tanto medo de abrir os olhos e enxergar tudo que sentiu um bolo se formar na garganta. Apesar de esperar a dor, a Haruno não sentiu absolutamente nada, o que significava que ela não tinha sido atingida.

O medo tomou conta dela ao pensar nas únicas duas opções existentes: Ou a equipe de Kiba havia dado conta dos outros soldados, ou, eles haviam acabado com o pelotão de Kiba.

E dado pela situação e quantidade de homens, ela tinha quase certeza que a segunda opção era a correta.

O bolo aumentou na garganta ameaçou sair, mas Sakura engoliu em seco, tentando-o manter ali. Queria ser forte, queria se manter firme para seja lá o que tivesse acontecido.

Com pânico, abriu os olhos lentamente, vendo que não havia um soldado da equipe de Kiba de pé. Nem mesmo Kiba.

Apenas ela. Sakura era a única que não estava ferida.

Transtornada, ouviu um gemido baixo vindo de seus pés e ao olhar para baixo, encontrou Kiba com uma mão sobre o abdome e a outra sobre o peito enquanto sangue escorria de sua boca. Automaticamente, Sakura se abaixou, pegando o homem nos braços enquanto tentava, em vão, conter o sangramento do peito dele com a própria mão.

- Kiba... Kiba, por favor... - pediu desesperada enquanto os olhos enchiam de lágrimas.

- D-doutora... - falou baixo.

- Shiii, fique calado. - estava desesperada. Nunca, em toda a vida, havia sentido aquilo. Era puro pânico - Você vai ficar bem.

Ele apenas riu. E tossiu sangue.

Kiba tentou erguer a cabeça para olhar ao redor, enquanto os homens do exército rival fechava ainda mais o círculo em volta deles.

- Filhos da p-puta... - Kiba sussurrou e então olhou para Sakura - Fuja.

- Não... - balançou a cabeça, soluçando um choro em seguida. As lágrimas dela escorriam rápidas - Não vou te deixar.

- Se...se sal-ve. - ele engasgou novamente e mais sangue escorreu por entre os dedos da médica.

- Não... - balançou a cabeça, se ajeitando enquanto arrumava Kiba no próprio colo – Não vou te abandonar.

- Teimosa. - ele sussurrou, fazendo uma careta de dor.

Os homens do outro exército começaram a rir de forma debochada, vendo toda aquela situação. A médica olhou para os homens com ódio. Estava com ódio mortal.

Sentiu quando Kiba se debateu levemente e ao olhar para o moreno, viu que ele estava entrando em choque.

- Fique comigo. - pediu aflita.

- O Uzu-Uzumaki tinha razão. - murmurou.

- Não fale... Não se esforce. - pediu, pressionando ainda mais a mão no ferimento.

- Eu vejo... - tossiu engasgado com o próprio sangue - Eu vejo o universo daqui.

- Não seja tolo. - fechou brevemente os olhos, fazendo as lágrimas pingarem no rosto dele.

- Seus olhos... - ergueu a mão com dificuldade, tocando no rosto dela. Automaticamente Sakura abriu os olhos - São como... - tossiu e um pouco de sangue espirrou na roupa dela - São como estrelas... - puxou o ar com força - Milhares delas.

- Kiba... - sussurrou. Sakura estava sentindo tanta dor no peito que não tinha palavras para descrever. Kiba dava os últimos suspiros em seus braços, sendo levado pouco a pouco pela morte.

- Não deixe... - fez careta e respirou fundo, levando a mão ao peito com dor - Não deixe, Sakura... Você é... é uma constelação. Fuja...

- Não fale bobagens. - pediu, pressionando ainda mais a mão contra o ferimento - Você vai ficar bem.

A mão dela já estava banhada pelo sangue vivo. Os soluços tomavam conta do ambiente enquanto os soldados do país rival se deleitavam com a cena do Capitão morrendo nos braços da médica. Eles realmente estavam se divertindo e até sorriam, mas nem Sakura nem Kiba ouviam. Eles estavam perdidos um no outro, buscando forças um no outro.

- Te cha-chamarei de... Sirius. - sussurrou, tossindo em seguida.

- Sirius? - perguntou baixo. Não entendia nada de astrologia.

- A mais brilhante. - respirou fundo, ofegante - Você é a mais brilh...

O tiro cortou a fala do capitão. O sangue espirrou para todos os lados sujando a médica completamente, desde a roupa até o rosto. Sakura paralisou. Os olhos ficaram esbugalhados e ela parou de respirar... A cabeça de Kiba tombava para trás enquanto a Haruno encarava o buraco feito bem no meio da testa dele.

O corpo dele desfaleceu em seus braços enquanto ela ficava simplesmente paralisada. Todo o corpo tremia, até as lágrimas pararam de cair.

Os olhos castanhos esbugalhados do Capitão, olhavam para o nada, perdendo lentamente o brilho.

Ela permaneceu paralisada enquanto o sangue de Kiba escorria da bochecha feminina e caia sobre o corpo desfalecido. Sakura era uma estátua.

Estava tão perdida no próprio sentimento de vazio que não percebeu quando um soldado se aproximou de si e sem nenhuma delicadeza, a segurou pelos cabelos e a puxou para cima. Sakura gritou de susto e pela dor de ser suspensa pelos cabelos.

Os homens gargalharam mais.

- Você é nossa, doutora. - o homem que a sustentava informou, esnobe.

Sakura se debateu e ele envolveu ainda mais os cabelos dela, aproximando-a de si. Sakura girou encarando os olhos azuis do homem. Aquele azul era pálido, frio, como um gelo derretido e sem graça. Sentindo o bolo que havia na garganta retornar goela abaixo, Sakura desviou o olhar para baixo e viu algo que a fez sentir ainda mais ódio.

Naquele milésimo de segundo, a conversa que havia tido com Naruto veio à mente:

- (...)Preste bastante atenção, independente de qualquer coisa SEJA FORTE. - apertou as mãos dela, olhando-a com profundidade - Não desmorone, não caia, não desista. Se encontrar com o inimigo, olhe nos olhos dele e o mate!

- Naruto, eu sou médica! - esbugalhou os olhos.

- Pra casa do caralho seu juramento, Sakura! - franziu o cenho ainda mais, respirando fundo - Se aqueles filhos da puta te pegarem, eles vão foder com sua vida, então não fraqueje. Mate na primeira oportunidade. Entendeu?

Sim, ela havia entendido.

E sim, ela seria forte. Por ela, por Naruto e por Kiba.

Sem pensar muito, ela enfiou a mão na cintura do homem e puxou a arma de lá.

A ação foi tão rápida que o soldado não teve tempo de reação e tudo o que seguiu foi o estouro e então Sakura caiu por cima de Kiba em um baque surdo. A arma que ela havia pego caiu afastada e o soldado tombou pra trás, morto.

A Haruno havia acertado um tiro bem em cima do coração do homem.

Rapidamente, os outros soldados começaram a xingar a médica, apontando os fuzis para ela, mas um homem gritou algo e todos os outros baixaram as armas. Ela abraçou Kiba com força e então se afastou dele, respirando fundo.

O homem que gritou, aproximou-se da Haruno de forma lenta, cautelosa e ameaçadora, fazendo ela o olhar acuada no chão. Os cabelos róseos estavam bagunçados e alguns fios tomavam conta do rosto da Haruno.

O soldado parou em frente a ela e se abaixou lentamente. Ele analisou o soldado morto e então respirou fundo, tornando a olhar nos olhos da médica. O homem sorriu e segurou o queixo de Sakura com força, fazendo-a fazer uma careta de dor. Ele percorreu o olhar pelo rosto feminino e então meneou a cabeça de forma positiva.

- Você acabou de matar um homem meu. - a voz dele era baixa, tranquila e falsamente inocente - Isso é tão preocupante... para você, é claro!

Sakura não respondeu, em vez disso, cuspiu na cara do homem que fechou os olhos e trincou o maxilar. Ele respirou profundamente e soltou o queixo da médica. Quando ela pensou que ele ia se afastar, o tapa veio com tanta força que ela tombou, caindo no chão de terra da floresta.

O gosto ferroso veio à boca e ela sentiu a lateral da face queimar.

- Vadia! - resmungou - Estava aqui pensando se deveria te matar ou não, mas analisando a situação, acho que você é alguém importante. - o homem começou, passando o punho no rosto, limpando o cuspe de Sakura - Principalmente porque esse otário aqui falou o nome do Uzumaki...

Ao ouvir o nome de Naruto, Sakura ficou tensa.

- Me pergunto o motivo dele ter falado aquilo... - o soldado continuou e então sorriu, inclinando a cabeça para o lado - Acho que você é mais valiosa do que realmente parece, não é, doutora?

- Vai se foder! - rebateu, olhando para o homem com ódio.

O soldado apenas gargalhou e fez um sinal com a mão para outro soldado. O homem se aproximou de Sakura e a segurou pelo braço, colocando-a de pé. Eles começaram a caminhar pela floresta praticamente arrastando Sakura, que tudo o que pode fazer, foi olhar para trás e vê todos os soldados de Kiba mortos. E Kiba morto ao centro.


Notas Finais:

Querem chorar? Podem chorar. E pra ajudar, ainda vou deixar o link com a música que ouvi escrevendo o capítulo. Preparem o lencinho, porque a música é triste.

É só clicar aqui: Música Tema do Capítulo


Comentários

  1. Você não sabe a minha felicidade em ver que tinha um cap novo!!

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