Pelotão 28 - Capítulo Quarenta e Seis

 


Quando os primeiros raios de sol surgiram, Sakura levantou. Ainda era muito cedo, mas ela já ouvia a movimentação do lado de fora da cabana. Sabia o que a aguardava em algumas horas e por isso, havia dormido muito mal. A bolsa já estava pronta no canto e a roupa que iria vestir também estava separada, por isso, decidiu se arrumar logo para poder, pelo menos, tomar café da manhã com Naruto.

Falando no loiro, ele não havia recebido a notícia muito bem, é claro. Exigiu conversar com o padrinho - o que não foi atendido -, exigiu que Sakura não fosse - o que, obviamente, também não foi atendido -, também exigiu que fosse ele o Capitão que faria a guarda dela - prontamente negado. No fim, restou a Naruto ficar soltando todos os palavrões existentes dentro do posto médico enquanto Sakura tentava acalma-lo.

O que foi em vão.

Ainda de noite, Gaara foi até lá conversar com Naruto para tentar aliviar o coração do amigo e jurou defender Sakura com a própria vida. Naruto, por sua vez, fez milhares de ameaças ao Sabaku, alegando que se ela voltasse com um mínimo arranhão que fosse, arrancaria as bolas do Capitão fora.

Gaara engoliu em seco, porque sabia perfeitamente que o Uzumaki cumpriria a promessa sem nem pestanejar. Já havia visto aquele tipo de ameaça antes vindo de Naruto e por muito menos ele cumpriu. Não queria testar a palavra dele quando o assunto envolvia a médica.

Depois de estar pronta, Sakura foi até o refeitório e pegou o café da manhã, colocando-o em uma bandeja e depois seguiu para o posto médico. Queria poder se despedir do loiro com mais calma. Ao entrar no local, viu que ele estava praticamente vazio e Naruto estava deitado de forma séria, encarando o teto enquanto a bandeja permanecia intocada ao lado.

Respirou fundo e arrumou a postura, caminhando na direção do Capitão.

- Bom dia. - tentou soar animada, mas tudo o que recebeu dele foi um olhar sério - Vim tomar café com você.

- Estou sem fome. - murmurou, voltando a olhar para o teto.

- Não fique assim, Naruto. - bufou, revirando os olhos - Está agindo com infantilidade.

- Olha pra mim, Sakura. - olhou para ela - Olha a merda que eu tô. Todo fodido, mais costurado que um boneco. Tudo por causa dessa porra de linha de frente. - arrumou a postura, gesticulando em seguida - Acha que meu medo de você ir pra lá é infantilidade?

- Você sabe que não há outro jeito. - suspirou.

- Tem que ter. - esfregou o rosto - Tem que ter, porra! Eu... Eu não posso nem sonhar em te perder, entende? Eu não ligo de levar uma bala no meio a testa desde que você esteja segura e saber que você está indo para aquele inferno sem mim, me deixa... Aaaaargh!

- Naruto... - murmurou, aproximando-se dele e acariciando o rosto do loiro - Vai dar tudo certo.

- Você não tem como ter certeza, e sinceramente, Sakura, eu não quero contar com a sorte. - franziu o cenho, colocando a mão sobre a dela.

- Infelizmente, vai ter que acontecer. - suspirou, acariciando a bochecha dele - Tente não arrumar nenhuma confusão enquanto estou fora.

- Será difícil. Principalmente com você em risco o tempo todo sem que eu esteja por perto. - segurou a mão dela e beijou o dorso, respirando fundo - Por favor, Sakura, tome cuidado...

- Tomarei, prometo. - sorriu - Algum conselho?

- Bom... - respirou fundo - Conversei com o Gaara e fiz as devidas ameaças, então acredito que você não vá precisar se preocupar com muita coisa, mas veja, Sakura. - segurou a mão dela com mais força - Quero pedir para que você seja forte, Sakura. Muito mais do que você é, muito mais do que pensa que pode ser. Seja forte independente de qualquer coisa.

- Naruto... - sussurrou, sentindo-se mal pelas palavras dele.

- Deixe-me continuar, por favor. - estendeu a outra mão e no mesmo instante, ela apoiou a mão na dele - Estou com o coração apertado, Sakura. Preciso lhe instruir quanto à tudo, por isso. Preste bastante atenção, independente de qualquer coisa SEJA FORTE. - apertou as mãos dela, olhando-a com profundidade - Não desmorone, não caia, não desista. Se encontrar com o inimigo, olhe nos olhos dele e o mate!

- Naruto, eu sou médica! - esbugalhou os olhos.

- Pra casa do caralho seu juramento, Sakura! - franziu o cenho ainda mais, respirando fundo - Se aqueles filho da puta te pegarem, eles vão foder com sua vida, então não fraqueje. Mate na primeira oportunidade. Entendeu?

Ela ficou encarando ele por alguns segundos até que suspirou, concordando com a cabeça. Soltando um suspiro pesado, o Capitão a puxou para si, abraçando-a com força, enfiando o nariz na curva do pescoço dela, sorvendo todo o cheiro que podia. Agarrou-se a roupa dela, apertando-a contra si. Não conseguia acreditar que tinha ficado tanto tempo longe dela e agora, que poderiam finalmente ficar juntos, iriam se separa novamente.

Ouviram um barulho na entrada do posto e se afastaram, olhando naquela direção. Lá, estava Sasuke e Gaara. Eles olharam para Sakura e menearam a cabeça e depois olharam para Naruto. O loiro ficou em silêncio, mas meneou a cabeça para o ruivo que meneou a cabeça de volta.

- Bom... vou indo. - a Haruno suspirou, inclinando a cabeça e dando um selinho em Naruto.

- Estarei esperando ansioso. - passou a mão nos cabelos dela.

Sorrindo, Sakura se afastou do loiro, seguindo para a entrada da tenda. Assim que se aproximou, tanto Sasuke quanto Gaara cumprimentaram-na de forma séria e lado a lado, eles seguiram para onde ficavam os tanques.

Quando viu os tanques, retirou o sorriso do rosto. Sentia-se tão aflita que até o ar parecia pesar dentro dos pulmões. Era tão difícil para ela estar indo para a linha de frente. Odiava toda aquela situação.

Assim que se aproximaram dos tanques, ela viu Asuma e Jiraya se aproximarem. O Major olhou para Sakura por alguns segundos e respirou fundo.

- Doutora...

- Major...

- Espero que esteja pronta.

- Não tem como estar pronta para uma situação assim, Major, mas irei enfrentar isso como enfrentei tantos outros desafios que me apareceram.

- Bom... Muito bom.

- Espero que fique bem, doutora. - Asuma desejou.

- Obrigada, Tenente. - sorriu brevemente.

- Sakura, vamos? - Gaara chamou, subindo no tanque.

- Claro. - respirou fundo, se aproximando do tanque.

- Eu te ajudo. - Sasuke se aproximou, segurando-a pela cintura e a ajudando a subir no tanque. Ele olhou para ela com um pequeno sorriso - Se cuida.

- Obrigada, Capitão. - sorriu para ele, passando as mãos na calça para secar o suor - Cuide do Naruto.

- Cuidarei.

Sakura entrou no tanque com a ajuda de um soldado e, encostando as costas na lataria do transporte, fechou brevemente os olhos, respirando fundo. Manteve-se com os olhos fechados, mas estava atenta a todos os barulhos ao redor. Percebeu os soldados entrando no tanque, percebeu as armas e os mantimentos sendo colocados em um canto, percebeu quando a porta foi fechada e percebeu quando o tanque deu um solavanco, iniciando sua partida.

Então era aquilo, estava indo para o pior lugar que se poderia estar.

Tudo bem, precisava respirar fundo e ser forte.

Respirar fundo... Já havia feito tanto isso ainda naquela manhã que oxigênio não faltava dentro de si.

Decidiu tentar repassar os passos para melhores ações naquele ambiente: Calma, controle, conhecimento, experiência e força de vontade.

Tudo bem poderia fazer aquilo. Sabia que iria conseguir.

- Não se preocupe tanto. - ouviu a voz tranquila de Gaara e abriu os olhos, encontrando os olhos verdes em si - Vai dá tudo certo.

- É... assim espero. - deu um pequeno sorriso.

- Prometi ao Naruto que lhe protegeria. - meneou a cabeça e indicou os soldados ao redor - Todos eles vão morrer por você.

- Não quero que ninguém morra. - rebateu.

- É o objetivo. - sorriu, arrumando a arma no colo - Ainda quero viver muitos anos.

- A Kerollen me mataria se você morresse.

- A Kerollen mataria qualquer um. - deu de ombros, encostando a cabeça no tanque e fechando os olhos - Aquela mulher é difícil.

- Ela é incrível!

- Sim, ela é. - deu um pequeno sorriso ladino.

Sakura não precisava de muito. Sabia que Gaara era um homem discreto, diferente da noiva, porém, mesmo discreto, ele sabia bem demonstrar os sentimentos para com a piloto. A Haruno acabou sorrindo, imitando o gesto dele de encostar a cabeça no tanque e fechar os olhos. Preferia se colocar nos próprios pensamentos para não entrar em pânico.

Relembrou dos tempos de infância quando se aventurava pelo sítio da família. Lembrou uma vez, quando decidiu tomar banho em um rio e quase morreu afogada. Santo Deus, ainda podia sentir o queimor nos pulmões quando buscou o ar e tudo o que entrou foi água.

A sorte foi seu primo que a salvou daquele trágico fim. Mas mesmo com a lembrança ruim, Sakura se sentia feliz pela infância que teve. Aproveitou-a tão bem que não se lembrava de nenhum arrependimento.

O tempo foi passando e com ele, o terreno foi finaldo mais hostil, além de difícil para a manobra do tanque. Ela não se preocupou em contar o tempo, mas sabia que havia se passado, pelo menos, uma hora de viagem. Tornou a abrir os olhos quando o tanque parou em um solavanco e viu Gaara ficar de pé, ajustando o fuzil nas mãos. Ele arqueou as sobrancelhas para ela enquanto um soldado abria a escotilha do tanque e olhava ao redor.

- Tudo limpo, Capitão!

- Ótimo! - sorriu - Vamos, Doutora. Hora da ação.

Ela meneou a cabeça e, com a ajuda de Gaara, saiu do tanque.

Olhou ao redor tentando vê se reconhecia o local, mas era, definitivamente, um lugar novo. Ouviu vários tiros e explosões perto, por isso, assustou-se, mas logo voltou a realidade quando sentiu uma mão segurar a sua e lhe puxar. Olhou para a frente e viu Gaara puxando-a enquanto corria na direção de alguns escombros. Atrás dela, vinham outros soldados que também corriam e atiravam.

Sakura nem teve muito tempo para pensar quando sentiu uma bala passando de raspão bem ao lado da cabeça. Soltou um gritinho, assustada e segundos depois, estava jogada no chão com o corpo de Gaara sobre o dela, atirando para cima.

Por estar com o corpo de Gaara totalmente cobrindo o seu, ela não conseguia ver muita coisa, mas conseguia ouvir ele dando gritos de ordem. Algo como: atirem, vão para a esquerda, matem esses filhos da puta.

Tudo o que ela podia fazer era se manter o mais paralisada o possível enquanto aqueles homens faziam seu trabalho e cinco segundos depois, sentiu quando Gaara saiu de cima de si.

- Vamos, doutora. Tivemos uma ótima recepção!

E, olhando para cima, ela viu a mão dele estendida.

Gaara estava com o rosto levemente vermelho mediante o esforço que havia feito. Engolindo em seco, Sakura segurou na mão dele e o Sabaku a puxou para cima, ajudando-a a levantar. Depois disso, ele volta a puxar ela pelo local, correndo entre um prédio e outro. 

Uma bomba passou próximo a eles e bateu contra um prédio ao lado, causando um enorme estrondo. Nesse momento, Gaara só teve tempo de empurrar Sakura. A médica sentiu o corpo ser arremessado para frente e se chocar contra uma enorme parede rachada. A explosão afetou os sentidos dela no mesmo instante em que o ouvido começava a apitar.

- MEU DEUS! - gritou, levando as mãos aos ouvidos e fechando os olhos. Estava afetada, era um fato. Sentiu algo quente escorrer pelo rosto e, atordoada, levou a mão à cabeça, sentindo o líquido quente e viscoso. Não precisou de muito para saber que era sangue.

Abriu os olhos, vendo tudo embaçado. Sua visão estava turva tanto pelo impacto, quando pela explosão quanto pela confusão mental. Fechou os olhos com força, puxado o ar para dentro dos pulmões com dificuldade. Sentia-os pesados, percebeu.

Com relutância, ajoelhou-se no chão cheio de escombros e forçou a visão a se acostumar com o cenário. Viu dois corpos mais ao lado e no mesmo instante, sentiu um aperto no peito ao imaginar Gaara. Não! Ele não podia estar morto, não podia!

Tropeçando nos próprios pés, se aproximou dos dois corpos. Um deles era um soldado que ela tinha visto entrar no tanque que veio fazendo escolta. O outro era Gaara, de bruços. 

Mordeu o lábio inferior afim de segurar o choro.

- Não, Gaara, não. - balbuciava, sentindo as lágrimas já escorrerem pelo rosto. Ajoelhou-se ao lado dele, vendo que o capacete do Capitão estava caído ao lado do corpo e a cabeça dele sangrava. Com cuidado, tocou no corpo inerte e o girou - Gaara!

As lágrimas desceram com mais velocidade quando ele murmurou.

- Meu Deus! - balbuciou, fechando brevemente os olhos - Obrigada, Senhor! - fungou, deitando Gaara da melhor forma possível no chão, vendo ele piscar os olhos confuso - Sou eu, Sakura.

- Hun... - ele fechou os olhos apertados e então os abriu, encarando-a - S-sakura...

- Oi. - sorriu. Algumas gotas de sangue pingaram contra a bochecha do ruivo e ela ficou séria.

- Sangue... - tossiu, tentando se levantar - Você está... sangrando...

- Você também. - resmungou, ajudando-o a sentar.

- Merda. - respirou fundo, apoiando a mão no abdomem e olhando ao redor - Cadê meus homens?

- Não sei... Só tem ele... - indicou o que estava caído atrás.

Gaara olhou por sobre ela e viu o homem morto. Sakura percebeu o pesar no olhar do Sabaku quando ele balançou a cabeça e engoliu em seco. Em silêncio, o ruivo rastejou até o corpo do soldado, apoiando a mão no torax dele e falando alguma coisa baixinho, depois levou a mão até o pescoço do soldado e arrancou a dog-tag.

Sakura viu ele guardar a identificação do soldado no bolso da calça e depois voltar para onde ela estava.

- Vamos. Não podemos ficar aqui, estamos desprotegidos.

- Mas você...

- Apenas vamos, Sakura. - olhou ao redor novamente, apontando para uma construção a vinte metros - Ali você estará segura. Me siga.

Ela meneou a cabeça, vendo que muito sangue escorria da lateral da cabeça do ruivo. Com cuidado, rasgou um pedaço da camisa e se aproximou dele, envolvendo o tecido na cabeça do Capitão. Gaara esperou pacientemente e quando ela terminou, ele rasgou um pedaço da própria camisa e entregou a ela.

- A sua também está sangrando.

- Ah... Obrigada. - sorriu, colocando o tecido sobre o corte.

- Agora vamos.

E, abaixados, eles seguiram na direção do prédio que Gaara havia apontado. Sakura ficou muito feliz quando, cinco metros depois, encontrou o restante dos soldados de Gaara. O ruivo cumprimentou todos de maneira geral e juntos, eles seguiram para o prédio.

Assim que adentraram o edifício, desceram as enormes escadas de pedras e depois começaram a passear por túneis que a Haruno tentou ignorar ao máximo. Sua fobia lhe lembrava o tempo todo que ela iria ficar presa, mas sua consciência dizia que não, que ela não ficaria presa, que em pouco tempo estaria segura.

Aquele primeiro momento na linha de frente foi tão difícil para a jovem médica que, quando eles finalmente chegaram no local desejado, onde estavam os outros soldados, Sakura apenas sentou em um cantinho e abraçou os joelhos, colocando a cabeça entre as pernas, respirando fundo para controlar os tremores do corpo.



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