Pelotão 28 - Capítulo Quarenta e Um
Sem dúvida aquele era o dia mais exaustivo de sua vida. Havia passado horas na cirurgia de Naruto, além de ter que aguentar as gracinhas de Sasori e o fato de ficar ligada a cada segundo no que ele fazia, mas no fim, Naruto estava bem. Ajustava o soro dele, sentindo os olhos pesarem. Já fazia algumas horas que não pregava o olho e toda a tensão a deixava ainda mais cansada.
Com um enorme suspiro, passou a mão pelos fios loiros, agora, raspados do lado esquerdo e deu um sorriso nasalado. Naruto parecia tão cansado. Estava muito pálido e certamente, fraco, mas seu peito subia e descia tranquilo. Graças a Deus não precisava mais do respirador, o que já deixava a médica bem feliz com isso.
Após a cirurgia, Sasori havia se retirado, alegando que precisava descansar, o que Sakura agradeceu piamente, afinal, não aguentava ficar olhando para a cara daquele aborto em forma de gente.
Sentou na beirada da cama e com cuidado, segurou na mão do Uzumaki, acariciando o dorso.
- Você vai ficar bem. - falou baixo. Já era madrugada e o posto estava praticamente vazio, não sendo por dois enfermeiros e meia dúzia de pacientes. Sakura sorriu, inclinando a cabeça para o lado - Você é forte. Vai sair dessa sem nenhuma lesão. Tenho certeza disso.
Piscou os olhos verdes com ternura, observando o rosto bem esculpido com cuidado. Deslizou a mão pelo braço forte do Capitão até chegar no ombro onde fez um afago. Sakura sorriu novamente, lembrando-se de como era estar nos braços do loiro. Com calma, desceu a mão para a mão dele e entrelaçou os dedos com sutileza.
- Não se preocupe, Capitão... Eu vou cuidar de você até que esteja pronto para assumir seu posto. - sua voz era pouco mais que um sussurro - Ninguém vai te machucar, por isso, recupere-se com tranquilidade.
- Podemos dividir essa tarefa. - a voz masculina que soou a fez se sobressaltar em um susto.
Sakura olhou para trás, vendo Sasuke se aproximar com um sorriso nos lábios.
- Meu Deus, Capitão. Quase me matou de susto. - levou uma mão ao peito.
- Me desculpe, Doutora, não era minha intensão. - com as mãos nos bolsos, ele se aproximou do outro lado da cama, olhando para o amigo por longos segundos até que suspirou de forma pesada - Como ele está?
- Bem. - sorriu, voltando os olhos para o loiro - Naruto vai sobreviver e vai ficar bem.
- Sei que sim. - meneou a cabeça e voltou a ficar em silêncio.
Eles ficaram em silêncio por longos minutos, cada um em seu próprio mundo. A única coisa que se ouvia era o barulho dos grilos do lado de fora do posto, até que Sakura suspirou e Sasuke a olhou. Sakura era uma mulher muito bonita e forte. Era pequena, tinha uma aparência frágil, mas tudo o que ouvira e o que havia presenciado dela, lhe fora suficiente para saber que ela era uma das pessoas mais corajosas, fortes e determinadas daquele acampamento.
Seu amigo tinha sorte em tê-la ao lado.
Mas havia algo em Sakura que a encobria. Os ombros dela estavam arriados, os olhos com olheiras grosseiras, certamente estava mais magra, além de estar levemente descabelada. E ele suspeitava que aquela fisionomia não era apenas pelo Uzumaki.
- Então... - começou de forma relaxada - Vai me contar sobre o Sasori ou vou ter que adivinhar?
Sakura congelou. A mão que acariciava a mão de Naruto parou e ela olhou para o Uchiha de forma lenta, ficando alguns segundos encarando-o em completo silêncio.
- Já sei que aconteceu algo e que não foi bom. Só não sei o que exatamente. - ele suspirou, dando de ombros ainda com as mãos nos bolsos da calça - Então?
Ela baixou os olhos verdes e olhou para o Uzumaki desacordado. Aquele assunto era tão pesado, tão dolorido para si. Respirou fundo, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha enquanto pigarreava. Não adiantava fingir que não. Sabia que Sasuke havia percebido e que, assim como Naruto, ele não deixaria aquele assunto de lado, principalmente estando Naruto desacordado, Sasuke se sentia responsável por ela. Conhecia bem aquela amizade entre eles.
- Tudo bem... - sussurrou, voltando os olhos para ele - Sasori foi meu namorado
- Continue. - estimulou.
- Bom... - pigarreou, voltando os olhos para Naruto. Ficaria mais fácil de falar se estivesse olhando para o Uzumaki - Namoramos por três anos... Três longos anos... - suspirou - No início, o Sasori era um principe encantado, sabe? Do tipo que te leva flores no trabalho, te leva para jantar e faz juras de amor infinito... Até que o monstro começa a se revelar...
- Ele te bateu. - Aquilo não foi uma pergunta.
Sakura sorriu nasalado, relembrando daquela época. A época que não foi nada boa para si. Ela ainda olhava para Naruto, agarrando-se a sua realidade. Sasori não podia mais fazer nenhum mal para si. Nunca mais.
- Devo dizer que as agressões físicas foram poucas, mas as psicológicas não... - parou de acariciar o dorso da mão do loiro, voltando os olhos para o Uchiha - Sabe, Sasuke... Marcas físicas se vão com o tempo, mas as psicológicas ficam pro resto da vida.
- O que ele te fez exatamente? - cruzou os braços, encostando o quadril na beirada da cama, ficando mais perto dela.
- Hun... - desviou o olhar para além dele, lembrando do passado. Sua feição era neutra, mas sua voz estava levemente trêmula, deixando claro que ela fazia esforço para permanecer inalterada - Com um ano e meio de namoro veio o primeiro grito. Por ciúmes de um colega de trabalho. Depois veio a primeira humilhação... Minha aparência era demais, ele dizia. - voltou os olhos para os negros - Segundo o Sasori, eu estava muito vulgar. E quando digo vulgar, estou me referindo a um vestido dois dedos a cima dos joelhos com metade das costas nuas.
- Babaca. - ele resmungou.
- No início isso não me afetou tanto. Pensei que era porque ele estava cuidado de mim... Até que ele me mandou tirar o batom vermelho que eu usava. - deu de ombros - Claro que, quando tudo isso começou a acontecer, eu não reconhecia a diferença entre cuidado e abuso... - suspirou - Até que com dois anos de namoro, veio o primeiro tapa. - ficou em silêncio, olhando para o nada até que sorriu nasalado, mas sem ter nenhuma graça. Ela voltou a acariciar a mão de Naruto, arrumando o cobertor dele com a mão livre - Um colega de plantão havia mandado flores de presente de aniversário na minha sala no hospital, mas para meu completo azar, havia virado costume do Sasori me levar e me buscar no hospital, e claro, ele viu as flores.
Sasuke fechou os olhos e respirou fundo. Estava se controlando para não ir atrás de Sasori naquele mesmo momento.
- Prossiga. - pediu baixo. Sakura não o viu fechar as mãos em punho, até porque, os olhos dela estavam no rosto do loiro.
- Dois meses depois, veio o segundo tapa e a quebra do meu celular. - deu de ombros - Eu estava fazendo especialização na época e um colega de turma tinha me mandado mensagem marcando de me encontrar no laboratório de anatomia para fazermos um trabalho, mas Sasori insistiu que aquilo era uma espécie de código e que laboratório de anatomia era o nome fantasia para motel. - suspirou, dando de ombros - Eu me senti tão, tão culpada... - engoliu em seco, fungando. Não havia percebido, mas os olhos estavam cheios de lágrimas - Acreditava que havia merecido aquele tapa porque, eu era uma mulher comprometida... não deveria estar com amizades com homens, não é? - voltou os olhos para ele.
- Não. - respondeu sem pestanejar, vendo as lágrimas acumularem nos cantos dos olhos verdes - Comprometida ou não, você tem o direito de ter amizades com quem quiser, Sakura.
- Eu sei. - meneou a cabeça, sorrindo - Hoje eu sei disso, mas não naquela época. - deu de ombros - Eu estava apaixonada por ele e simplesmente aceitava tudo, mas então, comecei a me sentir estranha com o Sasori... - franziu o cenho - O sexo havia se tornado pesado, violento... - desviou o olhar - Eu não entendia muito bem, mas de repente, aquele homem carinhoso me machucava durante a transa até que num determinado dia, ele me machucou de verdade. - automaticamente, Sakura soltou a mão do loiro e segurou o pulso esquerdo, acariciando-o - Ele havia segurado meu pulso com tanta força que causou uma lesão no meu tendão... Passei meses na fisioterapia e atrasei seis meses minha especialização na cirurgia.
- Filho da puta. - sussurrou, arrancando a atenção dela para si. Sakura o olhou de forma séria, analisando o que o moreno havia falado, mas Sasuke não recuou.
- É... acho que é exatamente isso o que ele é. - pensou por alguns segundos e suspirou, cruzando os braços. Estava tentando se proteger das lembranças - Eu fiquei tão desesperada, porque... qualquer lesão em um tendão poderia colocar meu sonho de cirurgiã por água a baixo... - olhou para ele - Como operar sem ter estabilidade nas mãos?
Mas Sasuke não respondeu. As mãos estavam fechadas em punhos dentro dos bolsos da calça enquanto ele permanecia com os olhos negros fixos nela. Sakura voltou a olhar o soro de Naruto, vendo que estava muito rápido. Ajustou-o.
- Então comecei a rejeita-lo... Sabia que não seria seguro arriscar, principalmente com o punho daquele jeito e então, as coisas ficaram mais complicadas, porque ele tentava forçar algo e eu sempre fugia dele... Até que com três anos e um mês de namoro, ele tentou forçar o sexo novamente. Rejeitei, claro, então ele me segurou pelo pescoço com força. - franziu o cenho, levando uma mão ao pescoço inconscientemente, respirando fundo - Pensei que fosse morrer ali, mas por sorte, consegui empurra-lo para longe e corri para a casa de uma amiga. - pausou para poder respirar. Algumas lágrimas caíram grosas e ela as enxugou rápido, fungando e erguendo o queixo - Nesse dia, percebi quem ele era e então resolvi acabar com a vida dele. Fiz exame de corpo de delito, prestei queixa, fiz tudo certinho... Foi um choque para todos, principalmente para a mãe dele que ao saber quem o filho era, infartou... Eu fiquei tão desesperada e me sentindo culpada por ter causado isso na mulher que retirei a queixa dele.
- Você... - balbuciou.
- É... - fungou e olhou para ele, sorrindo com ironia - Eu retirei a queixa contra esse filho da mãe, desgraçado.
- Sakura... - passou as mãos nos cabelos.
- Claro que eu consegui uma medida protetiva contra ele, mas no nosso país, uma medida protetiva não serve de nada! - bufou, passando as mãos nos cabelos - Então ele veio me procurar dias depois, alegando que estava arrependido e bla, bla, bla.
- E você voltou... - murmurou.
- Quê!? - olhou espantada para ele - Não! Claro que não! - balançou a cabeça - Eu tinha aberto meus olhos e o expulsei de casa com uma faca. - deu de ombros - Ele não queria sair, então joguei três facas nele, pena que nenhuma pegou. - suspirou - Depois disso, ele ficou me enfernizando, até que consegui uma medida protetiva mais séria, e também, acabei conhecendo um delegado e um juíz que viraram meus amigos.
- E é isso o que mantém ele longe. - concluiu.
- Sim... - sorriu - Mesmo depois de dois anos do ocorrido, posso reabrir minha queixa contra ele a qualquer momento com validação instantânea, e o Sasori pode ser tudo, menos burro... Ele ama a profissão dele, não arriscaria perder o prestígio que tem.
- Você deveria acabar com ele. - resmungou.
- Deveria, mas isso o faria perceber que não tem nada a perder, não é? - voltou os olhos para ele - Sabe o percentual de mulheres que morrem porque seus companheiros não tem nada a perder, matando-as? Sabe quantas mulheres a medida protetiva impede de morrer? - arqueou as sobrancelhas - Essas leis não favorecem nenhuma mulher, não salvam nenhuma mulher, Sasuke! O sistema é uma merda! Porque na hora que o Sasori desejar se aproximar de mim, ele o vai fazer sem medo, porque não tem NADA que me proteja dele a não ser um pedaço de papel que sinceramente, não faz diferença alguma, prova disso, que ele está aqui, não é? Pertinho de mim. Sem nenhuma restrição... Então sim, mantenho essas provas a sete chaves, porque se ele tentar qualquer merda, eu acabo com ele.
Sasuke ficou em silêncio absorvendo aquelas palavras. Os olhos de Sakura estavam vermelhos, mas ela não havia derrubado mais nenhuma lágrima fora as anteriores. Agora, os olhos verdes eram puro ódio.
- E hoje, se ele fizer qualquer merda comigo, esses meus amigos vão destruir a vida dele. E isso tem me mantido em segurança por dois longos anos. Tanto é, que essa é a primeira vez que o vejo depois de todo esse tempo.
- Ele pode tentar algo mesmo assim. - resmungou, respirando lentamente. Estava com ódio - Se ele enlouquecer, pode tentar qualquer merda.
- Pode... mas me protejo como consigo. Minha casa é cheia de câmeras, meu telefone é grampeado, possuo câmera no meu carro e sou vizinha de dois policiais. - deu de ombros - E não vá pensando que ele se livrou de tudo. - balançou a cabeça - Ele não pode sair do país, seu telefone também é grampeado, existem câmeras em um raio de 300 metros em torno de sua casa, sem falar que ele perdeu o emprego no hospital em que trabalhava, pois, era perto do meu.
- E isso basta? - arqueou as sobrancelhas.
- Não, não basta, mas no momento, é o suficiente para mantê-lo longe. - respirou fundo.
Ele ficou em silêncio, olhando-a por longos segundos até que respirou fundo, pigarreando.
- Vá descansar. Tome um banho. Ficarei aqui com o Naruto e vou colocar um soldado de guarda em sua cabana...
- Não se preocupe com isso. - sorriu, colocando as mãos nos bolsos do jaleco - Não tenho medo dele.
- Não? - franziu o cenho.
- Não mais.
- Ele pode tentar algo...
- Que tente. - deu de ombros - Da próxima vez que ele levantar a mão para mim, eu mato ele.
- Mata? - Sasuke a olhou espantado. Sakura possuia um olhar duro.
- Se o Sasori não tem nada a perder, eu também não tenho. - deu de ombros, respirando fundo - Uma mulher machucada pode demorar muito para se levantar, mas quando ela o faz, dificilmente cai novamente. - o encarou, erguendo o queixo - E eu nunca fui muito boa com quedas...
- Matando-o, você poderia perder sua carreira, além de ir presa. - alertou, mas a voz dele não era de sensura, mas sim, de curiosidade. Saber que Sakura tinha aquela sede do sangue do neurologista o deixava até orgulhoso.
- Legítima defesa. - deu de ombros, retirando o jaleco e colocando-o sobre uma cadeira, levando as mãos sobre a cabeça, espreguiçando-se - Já te disse que tenho meus contatos. - baixou os braços e começou a caminhar em direção a saída, mas não sem antes falar - Já te disse que não tenho medo dele. Se o Sasori tentar algo, eu acabo com ele!
E então se foi.
Sasuke sorriu, balançando a cabeça e encarando Naruto. O silêncio se fez presente enquanto ele pensava. Refletiu sobre toda a história que Sakura havia lhe contado e então, meneou a cabeça de forma positiva, puxando a cadeira onde estava o jaleco e sentando nela, dando um tapinha suave na perna do amigo.
- Eu acho que você não concordaria com Sakura sujando as mãos, não é? - fez bico, encostando as costas na cadeira e cruzando os braços - Que tipo de amigo eu seria se deixasse a mulher do meu amigo resolver tudo? - inclinou a cabeça para o lado, estalando a língua no céu da boca - Acho que... talvez... o neurologista esteja precisando de um conselheiro... - olhou ao redor - Você está vendo algum psicólogo, aqui, Naruto? - ficou de pé, voltando os olhos para o amigo desacordado - Olha só que pena... não temos. - suspirou dramaticamente - Mas você mesmo sempre disse que eu sou um ótimo conselheiro, não é? - sorriu de canto dando tapinhas no ombro do amigo - Vou precisar te deixar sozinho por alguns minutos, cara... Preciso de uma consulta neurológica urgente... - e com um enorme sorriso nos lábios, Sasuke caminhou em direção a saída do posto.
Do lado de fora, ele viu alguns soldados conversando aleatórios. Pensou em ignorar isso, mas preferiu não vacilar, por isso, girou o corpo na direção deles.
- 38? 41? - chamou os dois soldados que olharam para ele e no mesmo instantes, aproximaram-se.
- Sim, senhor? - fizeram continência.
- 38, quero que fique de guarda no leito do Capitão Uzumaki. - encarou o soldado - Quero seus dois olhos nele. Não desgrude os olhos, não vá para lugar nenhum, não respire até que eu volte, entendeu?
- Sim, senhor! - o soldado fez outra continência e saiu correndo.
- Ótimo... - voltou os olhos pra o outro - 41, vá para a barraca da Doutora Haruno. Fique de guarda lá até segunda ordem minha. Se aquele neurologista se aproximar, interceda-o e o traga até mim. - se aproximou do soldado, encarando-o com profundidade - Se ele insistir, meta uma bala no meio da cabeça dele, fui claro?
- S-sim, senhor! - o soldado confirmou, esbugalhando os olhos e então saiu correndo.
Satisfeito, Sasuke colocou as mãos nos bolsos da calça, voltando sua caminhada rumo os alojamentos. Precisada bater um papinho com aquele médico.
Isso msm, fecha com a cara desse ridículo colorido!
ResponderExcluirPelo amor de Deus, quando o Naruto vai acordar? Pfvr que ele não fique com nenhuma sequela