Pelotão 28 - Capítulo Trinta e Oito




As horas avançavam e Sakura se mantinha concentrada em seu trabalho. Durante todo o tempo, os dois soldados se mantiveram do lado de fora do "quarto" em que Naruto estava e Lee ficou dentro, ajudando a Haruno a fazer o trabalho. Suada, com algumas manchas de sangue aqui e ali, o jaleco já todo sujo também, os materiais dispostos sobre uma bandeja que Lee ministraca com precisão... Sakura sabia que o trabalho seria difícil, mas não impossível e era esse pensamento que a motivava. Ela precisava conseguir de qualquer jeito.


Não sabia ao certo quantas horas haviam se passado, mas quando finalmente achou que estava bom, soltou um suspiro pesado e fechou os olhos por longos segundos, agradecendo aos céus pelo trabalho feito. Retirou as luvas e as jogou em um canto e então olhou para Lee. O médico parecia muito cansada e não estava tão diferente dela. Sakura estava destruída e não só física como emocionalmente também. Com um muxoxo, apoiou as mãos na cintura e incinou o corpo para trás o máximo que conseguiu, estalando as costas, depois coçou os olhos e então se virou para Lee.


- Obrigada pela ajuda, Lee. Você foi maravilhoso.


- De forma alguma. Eu não tenho palavras para explicar o quão incrivel você foi, Doutora. - ele olhou para Naruto que agora estava estável e devidamente enfaixado - Certamente um trabalho preciso... eu jamais conseguiria.


- Imagina. Você só não tinha conhecimento de causa. O que é normal. - olhou para Naruto e tocou a mão dele de leve - Agora é torcer para que ele se recupere.


- Ele vai. - sorriu de forma animadora - O Naruto é um cara forte, ele esteve lutando até agora. Não vai se deixar levar tão fácil assim não.


- Tomara. - murmurou e soltou a mão do loiro. Retirou o jaleco e seguiu para a saída da sala.


- E... quanto a bala alojada na cabeça? - não queria tocar no assunto, mas estava nervoso quano aquela perfuração.


- No momento, não mexerei nela. O Naruto já foi levado ao limite hoje. Amanhã, se ele continuar estável, verei o que posso fazer, mas eu não sou neurologista. - suspirou e parou na ante sala do bunker. Vários soldados a olhavam ali, curiosos.


Em silêncio, a médica preferiu seguir para o local indicado pelos soldados que faziam sua escolta. Era uma espécie de quarto 3x2, com um colchonete no chão e uma bacia com água. Suspirou ao vê a mochila que havia trazido em cima do colchonete. O soldado informou que havia comida dentro de uma sacola que ela só havia notado naquele momento, meneou a cabeça e o soldado saiu, trancando o quarto por fora. Olhou ao redor, analisando seu pequeno cubículo, com um cobogó pequeno para ventilação. Seu coração apertou, começou a ofegar, sentindo o ambiente ficar quente, e quente, e quente. 


Atordoada, retirou o blusão camuflado e depois a camiseta branca, ficando apenas de sutiã. O calor continuava, então ela retirou as botas, a calça e ficou de calcinha.


- Calma, Sakura. Calma. - repetia, parada no meio do quarto, sentindo o suor escorrer pela têmpora - Você está bem. Está tudo bem... - fechou os olhos com força - Concentre-se. Você consegue. - as mãos tremiam, o coração espancava a caixa torácica, o sangue corria rapidamente. 


A claustrofobia era algo ao qual ela já vivera muitas vezes, inclusive naquela guerra, mas naquele momento, tinha Naruto ao seu lado e pensar nele, de alguma forma, a fez ir acalmando aos poucos. Com agonia, caminhou até um cantinho do quarto e sentou no chão, abraçando as pernas, inclinou a cabeça para frente e apoiou a testa nos joelhos, balançando o corpo, tentando respirar lento.

Tentou se concentrar no sorriso dele, nos olhos dele, na voz lhe dizendo que estava tudo bem. Ela queria tanto tê-lo ali naquele momento. Sabia que com ele ao seu lado, aquela sensação de morte já teria ido emboa.

"- Entre e confie... Eu não vou te deixar, não vou te abandonar, não vou permitir que você fique presa... - suspirou - Estou aqui... te esperando do outro lado."


Lembrou da voz dele no rádio, igual da primeira vez em que esteve naquele inferno. Lembrou de como ele a recebeu do outro lado, e pouco a pouco, foi ficando calma, foi respirando de forma lenta, até que todo o desespero se esvaiu e tudo o que restou, foi apenas a dor de não tê-lo ali realmente, abraçando-a com afinco.

As lágrimas verteram fartas, doloridas e encolhida, naquele chão, ela acabou se entregando aí cansaço e ao sono.

------

- Doutora!?

Ouviu uma voz longe e batidas. De forma lenta, abriu os olhos e ao tentar se mover, sentiu dor por todo o corpo. Suspirou vendo que havia adormecido no chão, sentada, abraçada ao próprio corpo. As roupas sujas do dia anterior ainda estavam no chão enquanto ela jazia apenas com roupa íntima, os cabelos bagunçados e no rosto, rastros das lágrimas de outrora.

- Doutora Haruno? - mais batidas na porta.

- S-sim? - a voz falhou por causa do sono recente.

- Hora de acordar. O café está servido.

- Ok. - resmungou.

Ouviu um muxoxo do outro lado e então suspirou. Com gemidos, levantou do chão e se espreguiçou, sabendo que o dia seria difícil e doloroso, preferiu nao ficar de corpo mole. Foi até a mochila que havia trazido e retirou uma muda de roupa limpa, depois retirou a roupa íntima que vestia e foi até a bacia, se lavando da melhor maneira possível. Deu um jeito nos cabelos e os prendeu com um rabo de cavalo, depois se secou e vestiu a muda limpa. Suspirou. Estava minimamente apresentável. "Arrumou" tudo e saiu do quarto.

Viu alguns soldados caminhando aqui e ali e ao chegar na área onde havia mais soldados, viu Lee. Ele parecia animado, estava sentado em um canto e comia conversando com um soldado.

Timidamente, Sakura se aproximou de uma mesa e pegou um embrulho que julgou ser seu café da manhã e ao abrir, constatou um sanduíche. Pegou um copo com água e seguiu para onde Lee estava. Ao vê-la, ele sorriu abertamente.

- Bom dia, Doutora! 

- Bom dia, Lee. - sorriu e apontou o espaço vazio ao lado dele - Posso?

- Claro! - ele meneou a cabeça e olhou para o outro soldado - Konohamaru, conhece a Doutora Haruno?

- É um enorme prazer conhecê-la, Doutora. - o tal Konohamaru sorriu abertamente. Era um rapaz jovem e muito bonito.

- Imagina. - sorriu rapidamente - Sem formalidades, por favor. - suspirou e deu uma mordida no sanduíche.

- Imagina. O mano falava muito de você. - o soldado sorriu ainda mais aberto.

- Mano? - ela franziu o cenho.

- Ah, é... - Lee coçou a nuca, constrangido - O Konohamaru é afilhado do Jiraya junto com o Naruto. O Konohamaru e o Naruto chamam um ao outro de "mano".

- Ah! - ela estava surpresa. Olhou para o rapaz e sorriu novamente - Prazer em conhecê-lo.

- O prazer é todo meu. - ele comeu um pedaço do próprio sanduíche e suspirou - Obrigado por cuidar do mano. Ele vai ficar bom logo.

- Tomara. - suspirou, comendo lentamente.

- Não fique triste, Doutora. Ele vai ficar bom logo, você vai vê. - deu uma piscadela para ela - Aquele filho de uma mãe é forte igual um touro.

- Que Deus te ouça, Konohamaru. – sorriu.

Comeram em silêncio. Sakura preferiu se manter pensativa. Recebia olhares confusos e até julgadores dos soldados ali. O barulho das explosões e tiros não cessavam em momento nenhum e aquilo a deixava angustiada. Ela queria tanto a tranquilidade de sua cama, de sua casa, de seu lar.

Após terminar a refeição, seguiu para o local onde estava o Uzumaki. O soldado na porta a olhou de cima a baixo e ela arqueou as sobrancelhas em um questionamento mudo, mas ele não falou nada, guardou o que havia pensado para si. Ele abriu a porta permitindo que ela entrasse, e assim Sakura o fez. Ouviu a porta ser fechada as costas e suspirou novamente. Aquilo era tudo uma grande merda!

Voltou os olhos verdes para o Uzumaki e percorreu o olhar por todo o corpo dele. Naruto estava tão machucado. Seus olhos encheram de lágrimas ao imaginar a dor que ele havia e estava enfrentando. Engoliu em seco e caminhou na direção dele, depois puxou um banquinho e colocou ao lado do loiro, sentando e olhando-o mais de perto.

Delicadamente, passou a mão pelos fios loiros, ignorando a atadura que havia feito. Os dedos deslizaram delicados pela têmpora, depois maçã do rosto, nariz e lábios. Nem se deu conta de que lágrimas escorriam. A saudade era tão grande. Saudade dos beijos, dos toques marcantes, possessos, mas carinhosos, do brilho nos olhos azuis, do sorriso quase nunca dado, da voz... Sentia falta do calor que o corpo dele emanava em cada abraço, do conforto e proteção que sentia todas as vezes em que ele a rodeava com aqueles braços tão fortes e dizia que tudo ficaria bem.

Agora ali, deitado e desacordado, com aquele respirador ajudando a mantê-lo vivo, o corpo tão gelado mesmo naquele lugar tão quente... Ela se sentia sufocada. Queria poder tirar ele daquilo, acordá-lo e tirar todas as dores e feridas do loiro.

Constatou que sentia mais falta do que era considerado saudável. Percebeu que era mais dependente dele do que pensava.

O amava.

O choque da realidade a bateu com força, arrancando-lhe o ar e fazendo-a esbugalhar os olhos.

Mais lágrimas rolaram quentes e pesadas, lavando-lhe a alma em um sofrimento mudo.

Como ela queria estar vivendo outra realidade.

Enxugou o rosto e suspirou, analisou o Uzumaki meticulosamente vendo-o estável. Sorriu brevemente. Ele era realmente forte como um touro.

Trocou o soro que havia acabado e manobrou uma medicação venosa, depois limpou todos os ferimentos, trocou todo os curativos e o analisou um pouco mais.

Com cuidado, Sakura retirou a atadura da cabeça e analisou. Pegou uma lanterna e olhou o ferimento com maior afinco. Não se sentia segura para fazer uma cirurgia daquele porte. Ela não era neurocirurgiã. Tinha medo de fazer algo errado, por isso, analisou com todo o cuidado do mundo e se decidiu por não mexer na cabeça dele.

Ele parecia estar reagindo bem aos cuidados que ela havia feito, então restava apenas espera-lo estabilizar ainda mais e esperar para ver se ele acordava ou se dava para leva-lo para o posto. Lá teria mais condições de cuidar dele.

Distraída, assustou-se quando a porta fora aberta e Lee passou por ela. Ele estava sério, chateado até. Sakura franziu o cenho e abriu a boca para questionar qualquer coisa, mas o olhar que o médico lhe lançou, a alertava para se manter em silêncio.

- É o Major. – estendeu um comunicador que só agora ela havia notado.

Ela o olhou por longos segundos até pegar o aparelho comunicador. A Haruno respirou fundo algumas vezes e fez sinal para que o médico permanecesse e assim ele o fez. Caminhou até um canto do quarto e se escorou, cruzando os braços.

Sakura pigarreou e engoliu em seco, olhando para o aparelho e apertando o botão logo em seguida.

- Na escuta.

- Doutora. – a voz do Major se fez ouvir – Como está o Naruto?

- Estável. – não haviam motivos para serem cordiais.

- Preciso de mais detalhes. – ele parecia nervoso.

- Estabilizamos, retiramos os projéteis, exceto o da cabeça...

- Por quê!? – ele questionou, acusador.

- Porque não sou neuro, Major. Eu sou uma geral com algumas especialidades e estas não envolvem neuro, infelizmente! – rebateu com certa grosseria.

- Pensei que você fosse eficiente. – cutucou.

- Não questione minha eficiência. – estreitou os olhos para o comunicador como se visse o homem – É muito fácil para o senhor falar esse tipo de coisa quando a sua bunda está presa em uma cadeira, rodeada de soldados que vão arriscar a vida para lhe manter a salvo, mas o senhor não tem a mínima decência de vir para esse inferno, arriscar sua vida por qualquer um deles, muito menos pelo seu afilhado! – soltou num fôlego só – Estou fazendo o impossível para manter não só ao Naruto vivo, como todos os outros que atendi, e acredite, Major, se não fosse ela lealdade a minha profissão, eu já teria mandado tudo isso a merda.

Um silêncio se fez do outro lado. Lee, olhava para Sakura com os olhos esbugalhados. Ela havia enlouquecido? Só podia, não é?

O rádio chiou e um leve sorriso nasalado foi ouvido do outro lado. Sakura trocou olhares com Lee que estreitou os olhos sem entender nada.

- Sabe, Doutora Haruno... – a voz do Major era calma... até demais – Já coloquei minha bunda várias e várias vezes em risco por conta do meu país. Isso até antes de você nascer, mas se quer saber, admiro sua coragem de falar tamanha profanidade. – suspirou – Eu poderia manda-la prender ou até mesmo dar cabo de sua vida pela língua afiada, afinal, o Naruto já foi estabilizado, mas admiro sua coragem. – outro silêncio – Amanhã entrarei em contato novamente para saber se há possibilidade de transferir o Uzumaki para o posto. – ele deu um leve sorriso – Dispensada.

E sem falar mais nada, desligou.

Sakura sabia que aquilo significava que não haveria mais conversas até o dia seguinte. Ela olhou para Lee que estava de queixo caído.

Sakura não estava tão diferente.

- Eu juro, juro que se ele te matar, eu vou mandar fazer uma puta de uma lápide escrito: Aqui jaz a mulher mais corajosa que já existiu na terra.

- Não seja idiota, Lee... – suspirou – Ele não vai me matar.

- Como pode ter tanta certeza? – franziu o cenho, caminhando até ela e pegando o rádio.

- Porque ele sabe que eu darei a minha vida para salvar o Naruto. - olhou para o loiro e acariciou os fios dourados - E independente de qualquer coisa, o Major ama o Naruto.

- E ele não arriscaria perder o afilhado por mero orgulho. - concluiu.

- Exato. - suspirou, ainda acariciando os fios do Uzumaki - Veja que ele fez o que pedi, além de me mandar para cá... Não acha que ele quebrou o orgulho para adimitir que precisava de mim? - olhou para o médico.

- Caramba. Eu não tinha pensado nisso. - murmurou.

- O Major não é burro. - deu de ombros e suspirou, soltando os fios loiros - Só que eu também não sou.



Comentários

  1. Aiiiiii que saudades que estava dessa história.... triste o capitão nessas condições...nem imagino o desespero de todos os sentimentos da Sakura .... mas a Dra é arretada o bicha sagaz...... o major admira isso .... anciosa para o próximo ♡♡♡♡♡♡♡♡♡

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  2. Meu Deus... Sakura a mulher mais corajosa do mundo!
    Ansiosa para oq vai acontecer no próximo capítulo!

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  3. AAAAAAAHHHHHHH
    EU QUERO MAIS, PRECISO DE MAIS!!!
    Caralho Sakura!!! Isso ai menina, porra, quero ver esse Major se botar pra cima de ti!!!
    Mas é só eu que to pensando que na hora que o gostoso do Naruto acordar, VAI DAR TRETAAA!!!!!
    To amando muito!!! PLEASE NÃO DEMORA PRA POSTAR!!!
    Eu sou cardíaca!
    Beijos de Cereja e até breve flor!!

    P.S. - Que saudades que eu tive dessa história!! Obrigada por me envia-lá!
    🥰🥰

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