Pelotão 28 - Capítulo Trinta e Seis


Um dia e meio. Esse era o tempo que havia passado desde a morte do Uzumaki. Sakura estava sentada no chão da cela improvisada enquanto abraçava as pernas, com a cabeça apoiada nos joelhos e as lágrimas banhavam seu rosto. Chovia muito, o tempo estava frio e naquela cela úmida, tudo o que ela queria era o corpo quente do Capitão aquecendo o seu.


Como a saudade era sufocante.


Fungou sentindo a barriga roncar. Não havia comido nada nas últimas 48 horas e agora, além da dor no peito, sentia dor no estomago. Levou uma mão ao bolso da calça e retirou a dog tag de lá. Os olhos verdes percorreram o objeto metálico e com o polegar, ela acariciou o sobrenome Uzumaki de forma lenta.


- Eu sei que você me entende. - sussurrou - Você jamais aceitaria que o Sasuke fosse. - olha pro teto e respira fundo, sentindo a garganta fechar. Como doía saber que não iria mais ouvir a voz dele, sentir o toque dele, ou até mesmo, vê-lo. Sakura fechou os olhos e uma lágrima escorreu pesada por sua bochecha. Ela encostou a cabeça na parede fria e suspirou - Eu sinto tanto sua falta. Eu queria tanto poder ter ajudado... 


Ainda de olhos fechados, ouviu passos pelo corredor e com sutileza, enxugou o rosto molhado. Os olhos verdes foram para as grades bem a tempo de vê um soldado de aproximar. Ele a olhou de cima a baixo e com um muxoxo, pegou o molho de chaves e começou a destravar a cela.


- Doutora, levante-se, o major solicita sua presença.


- Minha? - franziu o cenho e com certo esforço, ficou de pé. Sentia-se exausta.


- Sim. - abriu a cela.


Com lentidão ela caminhou na direção do homem e quando chegou na grade, ele ergueu uma mão, mostrando as algemas. Sakura revirou os olhos e estendeu os braços. Ela mal conseguia caminhar, imagine correr ou tentar algo contra alguém? o homem a algemou e a guiou pelos corredores seguindo para a sala de estratégias, a mesma onde ela havia ouvido Naruto falar pelo rádio uma última vez. Por onde passava, recebia olhares, mas nada daquilo a afetava. Havia tomado sua decisão e não se arrependia, seria profissional até o fim. Olhou para a porta a frente e sentiu uma frieza na barriga. Aquela sala trazia péssimas lembranças.


O soldado abriu a porta e ela suspirou antes de entrar. Jiraya estava sentado em uma cadeira num canto enquanto Kakashi estava do outro lado da mesa com um semblante preocupado. Os homens olharam para ela e com um aceno de Jiraya o soldado se retirou da sala. A médica permaneceu próximo a porta encarando os homens. O semblante de ambos era indecifrável, mas não aparentava dor e sim cansaço. Sakura sabia que havia algo de errado. Arredia, preferiu se manter próximo a porta, não que isso fosse mudar algo, mas ainda assim, se sentia mais segura daquele jeito.


- Doutora. Serei direto. - o major passou a língua entre os lábios e indicou o rádio sobre a mesa - Precisamos de seus serviços.


Sakura permaneceu em silêncio esperando que ele continuasse, mas quando viu que ele não iria falar mais nada, suspirou e inclinou a cabeça para o lado.


- Pensei que estava presa. - respondeu baixo por causa da falta de água e comida.


- Ainda está, mas infelizmente há um procedimento que Lee não é capaz de realizar e pelas informações dele, a senhorita é especialista no assunto.


- Hun... - engoliu em seco e sentiu a garganta queimar. Precisava de água. Respirou fundo e olhou para o Hatake, o mesmo a olhava com os cenhos franzidos. Kakashi não concordava com a ideia de deixar a médica presa, mas não podia contestar o major - O que acha disso, Tenente?


- Eu? - piscou, sem jeito.


- Sim... - ergueu brevemente os punhos, mostrando as algemas e suspirou - Acha que deve confiar em uma prisioneira?


- Bom... - ele olhou para o major que olhava para ele e depois olhou para a médica - Acredito que a senhorita é a única que pode ajudar no momento. Prisioneira ou não.


- Entendo... - arqueou as sobrancelhas e ficou um tempo em silêncio, analisando os homens. Depois de longos segundos, ela deu de ombros - Tudo bem, mas tenho algumas condições...


- Você não tem condição nenhuma. É nossa prisioneira! - Jiraya a cortou.


- Sim, sou, mas também sou muito importante nesse momento, visto que provavelmente o senhor teve que pisar no próprio orgulho para assumir que precisa de mim e se fez isso é porque é uma situação urgente, ou seja, o senhor precisa de mim mais do que é capaz de assumir e como o poder está em minhas mãos nesse momento, ou o senhor aceita minhas condições ou eu não poderei ajudar.


Os homens ficaram em silêncio. Sakura era inteligente e astuta demais. Ela sabia que era importante naquele momento e usaria isso à seu favor. E ela estava certa, naquele momento, Jiraya seria capaz de qualquer coisa para ter a colaboração da médica. Ele relutou, pensou em recusar, mas não podia. Não conseguiria. Com um muxoxo e depois um resmungo, ele pigarreou de cara feia e fez um gesto com a mão.


- Quais são suas condições? - fechou a cara - Não peça para ser liberta, porque não vamos lhe libertar. Também não pergunte nada sobre o paciente.


- Não se preocupe, major, não pretendo sair da minha cela, muito menos saber quem é o pobre coitado. - deu um sorriso de canto - Qualquer lugar é melhor do que o inferno que é a frente no campo de batalha. - passou a língua entre os lábios e sentiu a pele ressecada - Mas eu quero água, comida e o direito de tomar um banho. - deu de ombros - Uma dama não merece ficar tanto tempo nessas condições. - indicou a roupa ainda suja por conta do tempo que havia ficado no posto.


Jiraya olhou feio para ela ponderando negar e simplesmente ameaçá-la com uma arma, mas não tinha tempo. Precisava dela naquele momento com toda a urgência do mundo. Com isso em mente, ele soltou um palavrão baixo e meneou a cabeça de forma positiva.


- Tudo bem, vou pedir para que lhe tragam água e comida. Você ajuda o Lee e depois vai para sua cabana, toma seu banho, mas logo em seguida vai voltar para cá.


- Ok. - arqueou uma sobrancelha e suspirou. Caminhou até próximo aos homens e puxou uma cadeira, sentando. Ergue as mãos e puxou o rádio para junto de si, apertou o botão e ouviu o "bip" - Lee?


Ela aguardou e enquanto isso, o major ordenou que o soldado fosse buscar a comida e água da médica. Um bip foi ouvido e logo em seguida a voz do médico através do rádio.


- Doutora Haruno! - ele parecia aliviado - Como é bom ouvir sua voz!


- Também estou feliz em estar falando com você... Qual o problema?


- A situação é gravíssima, doutora. - suspirou - O paciente está com uma hemorragia acentuada, mutilação, fraturas... mas o que mais me preocupa é a bala que adentrou na clavícula esquerda, atravessou o músculo subclávio e transpassou a primeira costela, mas eu não consigo encontrar o fragmento.


- Entendo... - suspirou e mordiscou o lábio inferior, ela olhava para o rádio como se pudesse vê o paciente - Qual o caminho percorrido?


- Diagonal. 


- Hun... - o soldado chegou com a comida e água e a primeira coisa que ela fez foi dá um grande gole na água, passou a língua entre os lábios e repousou a garrafa sobre a mesa - Por onde você está procurando?


- Pela entrada do projétil. - respirou fundo.


- Não fez nenhuma incisão? - franziu o cenho.


- Não. Ele está com os batimentos fracos. Mesmo com a hemorragia controlada.


- Me deixe pensar...


Sakura encostou as costas na cadeira e fechou os olhos enquanto pensava. A entrada havia sido na clavícula, percorrido um caminho em sentido diagonal, livrando assim o coração, mas poderia estar no pulmão ou no fígado. Se fosse no fígado seria uma forma de explicar a hemorragia acelerada e os batimentos fracos. Lee não havia mencionado nenhum problema com a respiração. Abriu os olhos e respirou fundo.


- Lee, faça uma incisão de 2 centímetros entre a sexta e a sétima costela ao lado direito e depois adentre o dedo à cima do fígado e veja se encontra.


- Certo... - um silêncio se fez enquanto Lee fazia a incisão. Ele deixou o rádio em comunicação direta, ou seja, nem ele nem a médica precisariam ficar apertando botão - Incisão feita... - mais um silêncio - Estou procurando...


- Veja à cima do fígado.


- Hun... - ela ouviu um muxoxo - Que estranho... - mais um silêncio e então outro muxoxo.


- O que há de errado? - franziu o cenho, encarando o rádio.


- É que... o fígado está curto.


- Curto!? - inclinou a cabeça.


- Sim... Qual a probabilidade disso acontecer?


- Se ele for um doador recente apenas... - ela olha pro tenente e pro major - Há algum soldado que tenha feito cirurgia recente?


- Não. - responderam juntos e preocupados.


- Sakura... - a voz de Lee soou preocupada - Temos outro problema...


- Qual? - passou a língua entre os lábios.


- Estou sentindo a pulsação do coração forte demais. - ele pigarreou.


Sakura piscou desorientada. Como assim o fígado estava curto e a pulsação estava forte? Não era possível! Franziu tanto o cenho que as sobrancelhas se uniram. Ela encostou as costas na cadeira enquanto pensava. Não era pra ele estar sentindo a pulsação tão forte, muito menos o fígado estar curto. Aquela era uma situação atípica, era um fato, mas o que levaria a ter acontecido? 


- Sakura? - a voz de Lee soou nervosa - O que eu faço?


- Me deixe pensar... - levou o polegar até a boca e o mordeu, pensando. A bala havia entrado do lado esquerdo e percorrido até o lado direito, podendo estar no fígado ou no pulmão, mas com a incisão, Lee alegava o fígado estar curto e a pulsação forte... Com o cérebro trabalhando à mil por hora, Sakura começou a vê em sua mente a anatomia humana, todo o corpo por dentro, tentando compreender o que estava acontecendo, mas nada se encaixava. Num momento automático, seu cérebro foi reconstruindo o corpo humano, modificando algumas coisas aqui e ali e quando ela compreendeu, sua cabeça estalou. Não podia ser! Com os olhos esbugalhados, a médica olhou para o major que a olhava preocupada e no mesmo instante ela piscou desorientada, sentindo o coração pulsar forte enquanto uma onda de pânico tomava conta de si - Lee, pare agora mesmo!


- M-mas...


- Lee! - inclinou o corpo e segurou o rádio com urgência - Me escute, eu quero que você retire seus dedos com o maior cuidado possível e depois feche a incisão, está me ouvindo?


- O que está... - Jiraya tentou argumentar, bravo.


- Lee... - cortou o major - Faça o que estou falando. - ela estava ofegante, as mãos estavam suando e os olhos encheram de lágrimas. Sakura soltou o rádio e olhou para o major com os olhos estreitos enquanto desligava o rádio - Ele está vivo. - sussurrou.


Jiraya e Kakashi se entreolharam, desorientados. O major estufou o peito e pigarreou, tentando parecer tranquilo.


- Não sei do que está falando...


- Rs... - deu um sorriso sem graça, com raiva e com os olhos marejados ainda mais - Não minta pra mim! É o Naruto! - ela levantou e passou as mãos pelos cabelos - Meu Deus!


- Não é o Nar...


- É ELE SIM! - gritou, girando nos calcanhares e deixando algumas lágrimas escorrerem - É o Naruto que está nas mãos do Lee! Meu Deus! - ela estava assustada e acabou passando as mãos no rosto, desesperada - Quase matei ele... Ele podia ter morrido... Ele está vivo... - enquanto balbuciava, sua voz ia perdendo o tom.


- Como pode ter tanta certeza? - perguntou, perdido, trocando olhares com Kakashi que apenas assistia a tudo abismado.


- Por isso. - pegou a dog tag que estava no bolso e mostrou ao mais velho. À baixo do nome de Naruto havia uma cruz com a escrita "Órgãos Invertidos". Sakura respirou fundo enquanto recuperava a voz - Porque o Naruto é o único que tem Situs inversus totalis.


Jiraya fitou a corrente e engoliu em seco. Ela havia visto aquilo, mas não podia ter certeza, não é? Não tinha como ela saber que apenas ele possuía a anomalia. Não mesmo. Num último ato de esperança, o Major ergueu o queixo enquanto tentava manter a voz o mais firme possível.


- Pode haver outros.


- Não me tire por idiota, Major! - sorriu nasalado, olhando para o homem com os olhos estreitos - Eu sei a probabilidade de haver alguém com o Situs e também sei que o exército não permitiria tão facilmente algo desse tipo... Sem falar que o senhor está aflito, nervoso, tentando me dar a menor quantidade de informação possível... 


- Que diferença faz? - pigarreou - Você só precisa guiar o Lee.


- FAZ DIFERENÇA SIM! - pisca, brava - Com uma condição dessa, um erro bobo pode matá-lo! O Lee nunca atendeu nenhum paciente com essas condições e o Senhor quer que eu guie uma operação nessas condições!? - esbraveja - ISSO É ASSASSINATO!


- BAIXE SEU TOM DE VOZ, DOUTORA! - o major levantou e deu um tapa na mesa - A SENHORITA VAI GUIAR O LEE!


- Raaaa, então o senhor quer que eu guie o Lee? Tudo bem! - pega o rádio com raiva e ativa a ligação direta - Lee, o Uzumaki é portador da situs inversus totalis e o major quer que eu guie a operação por telefone... então me responda, você está pronto para isso e para ser o culpado por matar esse homem!? - soltou furiosa, olhando nos olhos do major.


- C-c-como você s-sabe? - sussurrou - E... situs inversus totalis? - suspirou - Puta que pariu!


- Pois é... - a médica arqueou as sobrancelhas para o major - Vamos lá, Lee, pegue o bisturi.


- O quê!? - a voz dele saiu num fio, desesperada - Vocês estão querendo matar o Capitão?


- "Vocês"? Não, mas o major disse que vai ser feito assim. - ela encarou o major com desaforo - Pelo jeito, ele não se importa muito com o afilhado.


Jiraya encarou Sakura com raiva. Aquela médica era desaforada demais e não respeitava ninguém. Ele havia dito pra ser feita a cirurgia e ela deveria ser feita ou seu afilhado iria morrer, mas tanto Sakura como Lee se negavam aquilo. O homem respirou fundo e olhou para Kakashi que estava tão surpreso que só fazia observar. O tenente respirou fundo e levantou, caminhando até a médica.


- Doutora, não há nenhuma forma de fazê-lo? - tentou amenizar o clima.


- Vocês estão achando que o corpo humano é algum tipo de jogo? - estreitou os olhos e apontou do tenente pro major - Vocês estão me mandando brincar com uma bomba... Nesse momento, o Naruto é como um campo minado. Um deslize e BUM! - ela olha pro major - Um erro numa incisão de um milímetro e BUM! - ela respira fundo e aponta pro rádio - E nesse momento é o Lee quem está bem em cima desse campo minado sem saber para onde ir... 


Os dois homens se entreolharam em silêncio. Kakashi sabia que ela tinha razão. A situação era complicada demais para se arriscar. ele respirou fundo e virou na direção de Jiraya.


- Major... 


Jiraya ficou encarando o tenente. Não queria admitir, mas teria que ceder a médica. Por mais que odiasse, ela era a única que podia salvar seu afilhado naquele momento. A situação de Naruto era muito séria, Lee já havia informado, mas ele pensou que desse para resolver daquele jeito. Estava enganado. Com um suspirar profundo, ele volta os olhos para a médica.


- O que a doutora sugere?


- Que me leve até ele.



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