Reencontros - Capítulo 31

Longos minutos se passaram até que o Uchiha voltou, ainda possuía marcas aparentes de tinta, mas estava mais limpo. A mesma situação se aplicava a Haruno que as roupas ainda permaneciam manchadas e os cabelos de rosa estavam bege claro. Ao menos o grosso saiu. Os olhos se encontraram e ele pigarreou, caminhando na direção da Haruno enquanto respirava fundo com a boca fechada em linha.


- Eu vou dar uma saída pra comprar mais tinta, solvente e tíner. - coçou a parte de trás da nuca - Vamos precisar limpar isso aqui.


- Eu vou com você. - se prontificou, jogando a camisa dele sobre o balcão.


- Tem certeza? Você ainda não está limpa. - alertou baixo.


- Você não está tão diferente, Uchiha. - suspirou e arqueou as sobrancelhas - Acho que vou precisar tomar banho com tíner para poder ficar limpa.


- Sabe que vai ficar fedendo se fizer isso, não é? - franziu o cenho.


- Eu não fedo. - deu uma piscadela, passando por ele - No mínimo, vou ficar com um cheiro diferente.


- Ou seja: Fedendo. - murmurou e sorriu.


Ela ergueu o dedo do meio e ele acabou sorrindo ainda mais. Dando um passo para o lado, ele indicou que ela passasse e assim a Haruno fez. Foi impossível para ele não admirar a mulher que ela havia se tornado. Forte, determinada, mais linda, mais dona de si, incrivelmente destemida e igualmente cabeça dura. Sorriu de canto orgulhoso de quem ela havia se tornado. Conhecia toda a história dela desde quando fora embora, sabia de como ela sofreu com sua partida, de como sofreu com a morte do pai, com as acusações da mãe... com simplesmente tudo e ainda assim, ela deu a volta por cima.


Respirou fundo sabendo que ela era mais do que ele merecia, principalmente por estar tentando perdoá-lo depois de tudo. Observou ela caminhando pela sala e a seguiu, indo para o lado de fora da casa. Viu Naruto e Hinata conversando num canto e próximo estavam Tenten e Neji trocando carinhos. Sentiu o peito apertar por querer estar na mesma situação com ela, mas sabia que não tinha como. Não naquele momento. Não havia desistido dela, muito pelo contrário, iria esperar o momento certo para tentar qualquer coisa. Sabia que ela ainda estava muito ferida, seu coração ainda estava em pedaços e por isso, seria cauteloso. Iria esperar o tempo que fosse necessário, iria ser paciente, esperaria o tempo dela, seria o colega, depois amigo, e então, tentaria ser aquele paquerinha iniciante que faz gracinhas e estar sempre por perto e depois rezaria para que Deus ajudasse a ele nisso. Porque não havia no mundo outro motivo pelo qual ele orava.


Saiu da casa e a viu próximo aos carros, esperando-o. Ele caminhou até o carro de Gaara e abriu a porta para ela. Sorrindo, a Haruno entrou no banco do carona e agradeceu. Ele deu a volta, entrou e ligou o carro, dando partida. 


Dirigiu em silêncio pelas ruas procurando um armazém aberto e encontrou depois de quase quinze minutos. Já era perto de meio dia, o sol estava com tudo no céu. Esperou Sakura descer do carro e caminhar ao seu lado, armazém a dentro. Quando chegou lá dentro, pediu os materiais que precisava enquanto ela perambulava pelo local, observando tudo. Vez ou outra pegava alguma coisa, analisava e devolvia. 


Depois que pegou tudo o que achava necessário, pagou e ficou encostado no balcão esperando-a. Quando ela percebeu que ele estava demorando, foi até onde o moreno estava e quando o viu esperando-a, franziu o cenho, se aproximando.


- Pronto?


- Uhum. Vamos?


- Vamos.


- Eu tava aqui pensando. O que acha de irmos comer algo? - perguntou quando saíram do armazém e guardava as sacolas no banco traseiro do carro - Já é quase meio dia e eu acordei cedo por causa do Gaara. - fechou a porta traseira e olhou para a Haruno.


- Não precisa chamar duas vezes. - abriu a porta do motorista para ele.


- Não deveria ser eu a fazer isso? - perguntou entrando no carro e sentando.


- Estou tentando ser gentil já que você vai me alimentar. - fechou a porta, sorrindo. Deu a volta no carro e entrou no lado do carona, colocando o cinto em seguida.


- Interesseira. - resmungou, dando partida. 


A Haruno apenas sorriu, permitindo que ele a levasse para comer. Qual o problema nisso? Seres humanos precisam se alimentar, não é!? Não estranhou quando pegaram a estrada do centro da cidade e ele dirigiu rumo ao centro comercial. Ali ficavam os melhores restaurantes. Ficou observando as lojas, as pessoas, os carros. Fazia tempo que não ia para aqueles lados e os olhos verdes brilharam quando o moreno parou em frente a um fast food bastante movimentado. Era o mais badalado da cidade. Possuía os melhores sanduíches. 


Quando o moreno estacionou o carro, ela praticamente pulou porta a fora, ansiosa. Não podia negar que era uma amante de fast food. Ouviu a porta do carro bater e virou, vendo-o descer. A nudez dele já não incomodava tanto, a não ser quando ele estava perto demais e ela conseguia vê algumas sardas no peitoral dele. Nesses momentos, atormentava-se por lembrar de como gostava de contá-las de perto, de preferência quando estava deitada sobre o peito dele, sentindo o calor do corpo masculino enquanto um carinho suave lhe era feito nas costas ou nos cabelos.


Mordiscou o interior da bochecha e girou nos calcanhares, fechando os olhos com força, forçando sua mente a ir para longe. Sentiu algo esbarrar em seu ombro e abriu os olhos rapidamente, vendo-o passar por si e menear a cabeça, chamando-a. Com um muxoxo, a Haruno seguiu o moreno porta a dentro e logo eles escolhem uma mesa, sentando um de frente para o outro. Cada um pegou um cardápio que estava sobre a mesa e começaram a escolher em silêncio. Minutos se passam até que o Uchiha escolheu sua comida.

- Hambúrguer? - arqueou uma sobrancelha.


- Com tudo o que tenho direito. - deu uma piscadela.


- Então um combo? - inclinou a cabeça para o lado, olhando o cardápio.


- Do grande, por favor. - sorriu.


- Você continua não ligando pra suas pelancas. - murmurou e ergueu uma mão, chamando o garçom.


- Já lhe falei que não tenho pelancas... - apontou para o peito nu dele e balançou a cabeça de forma negativa- Agora você... Tks. Tks. Tks. O tempo não lhe tem sido generoso, Uchiha.


- O que quer dizer com isso, Dona Sakura? - franziu o cenho com certo incômodo.


- Você perdeu os gominhos, baby. - olha para as unhas de forma despreocupada.


Ele abre e fecha a boca várias vezes tentando protestar, mas quando vê o sorrisinho cínico dela, misturado com a chegada do garçom, o moreno estreita os olhos e com um muxoxo, resolve informar os pedidos. O homem anota tudo e sai, deixando-os a sós. Ela resolveu mexer no celular enquanto ele fez o mesmo, trocando mensagens com Gaara. O ruivo avisou que todos já estavam comendo e ele informou que haviam parado pra comer também. Gaara também informou que Ino precisou sair as presas para comprar uns itens para o quarto do bebê enquanto o restante estava lá, quase terminando seus afazeres. Provavelmente eles seriam os últimos a terminarem.


Quando os sanduíches finalmente chegaram, ambos começaram a comer, conversando trivialidades a respeito do dia, de como estavam na vida e também na faculdade. Em determinado momento, o clima ficou ainda mais ameno e eles pareciam velhos amigos matando o dia. Até que ela decidiu matar a curiosidade.


- E o Itachi? - bebeu um pouco do suco - Como está?


- Hun... - se remexeu desconfortável, limpando a boca e pigarreando. Ele estava incomodado com aquilo. Depositou o sanduíche na bandeja e esfregou as mãos - Muito puto com tudo. - suspirou - Até comigo.


- Por quê? - franziu o cenho.


- Porque segundo ele, era pra eu ter contado assim que descobri e não ter demorado tanto. Ele diz que eu traí a confiança dele. - murmura e bebe um pouco do refrigerante, pigarreando em seguida - Acho que ele tem razão, sabe?


- Não! Claro que não, seu idiota! - franzi o cenho e deposita o sanduíche na badeja também, olhando-o fixamente - Você tinha acabado de saber a história de seu pai, sua mãe, seu tio, minha mãe e de mim! Eram inúmeras coisas para você assimilar de uma vez só!


- É... mas eu contei pra você pouco depois. - apontou baixo.


- Você me contou porque foi comigo que você transou! - passa as mãos nos cabelos, fitando-o - Você não contou por outro motivo, mas sim por agonia, arrependimento, por medo de ter errado de um jeito sem perdão... Não por outro motivo.


- Contei porque não consegui a resposta sem sua ajuda. - suspirou e olhou para a bandeja - Ele poderia ter me ajudado.


- Sério isso, Sasuke? - franziu o cenho - Como é que você chega pro cara que a vida toda foi seu irmão e diz que na verdade ele é seu meio irmão, que a história por trás da vida dele é uma mentira?


Ele permanece em silêncio e com a cabeça baixa. Não sabia o que responder, por isso, começa a brincar com a alça da bandeja, buscando na mente uma resposta, mas não havia. Sem aguentar esperar, ela estende uma mão por cima da mesa e segura no braço dele, fazendo carinho no braço masculino com o polegar. Estasiado, ele sobe os olhos negros para ela e encontra os verdes brilhantes para si.


- Não se culpe por tanto. Ele está magoado, mas vai perdoá-lo. Você foi tão vítima nessa situação quanto ele, a única diferença é que ele não é quem pensava ser. - passa a língua entre os lábios e dá um pequeno sorriso - Vocês são muito ligados. O Itachi te ama... logo vai passar.


Em silêncio, Sasuke continua olhando para os olhos verdes deixando as palavras dela adentrarem sua mente e o carinho em seu braço, adentrar seu coração. Um pequeno sorriso surge nos lábios masculinos e ele suspira, permitindo-se entregar-se as palavras dela.


- Obrigado. - sussurra.


A Haruno apenas dá de ombros, recolhe a mão e volta a comer. Dessa vez, ambos permaneceram em silêncio, cada um em seu mundo. Daquele jeito, era até fácil para ela suportar ele.


Quando terminaram de comer, voltaram para o carro e consequentemente, para a casa de Ino e Gaara. Quando chegaram, notaram o clima mais leve. Gaara já pintava a parede e Ino cultivava um jardim suspenso na varanda. Quando a loira viu os dois chegando, olhou desconfiada, mas preferiu fingir que nada estava acontecendo e em silêncio, ambos voltaram para a cozinha. Com agilidade, começaram a retirar a tinta de cima do balcão, do chão e dos locais onde não deveria haver tinta na parede. Quando toda a limpeza foi feita, voltaram a ajeitar o plástico no chão e em sintonia, começaram a pintar a parede.


Horas se passaram sem que eles percebessem e quando finalmente terminaram de pintar a cozinha, se afastaram da mesma e lado a lado contemplaram o excelente trabalho que haviam feito. Satisfeitos, trocaram olhares orgulhosos e com gentileza, trocaram um aperto de mão. Foi só quando as mãos se desgrudaram que perceberam que já era noite e a casa estava silenciosa.


- Não está calmo demais? - ele perguntou baixo, olhando para o lado, desconfiado.


- Também estou achando. - alegou, baixo.


Em silêncio, Sasuke começou a caminhar pela cozinha seguindo na direção da sala e quando chegou na soleira da cozinha, viu os amigos reunidos em volta de uma mesa de centro, conversando baixo. Tanto a Haruno quanto o Uchiha perceberam que todos haviam tomado banho, forrado um tapete no chão e estavam ali, conversando trivialidades. Ao perceberem que eram observados, eles olharam para os dois parados e deram de ombros.


- O que estão fazendo parados ai? - Tenten perguntou franzindo o cenho - Vão logo tomar um banho e venham para cá.


- O que está acontecendo? - Sakura caminhou na direção deles, sem entender, vendo sua mochila de costas em cima do sofá.


- Eu e o Naruto fomos pegar roupas para todos. Combinamos de dormir aqui hoje, por isso, também trouxemos saco de dormir. - Hinata abre um sorriso enorme.


- Como? - Sasuke para ao lado da Haruno ainda sem compreender - Vocês tomaram uma decisão sem nos consultar?


- Ué, se não quiser é só ir, Sasuke. - Naruto deu de ombros - Mas vamos lá, cara... Como nos velhos tempos, han! - sorriu abertamente - Vamos deixar a merda da nossa vida de lado e vamos curtir como no ensino médio.


- Só fazíamos merda. Você lembra, não é? - cruzou os braços - Comida, cerveja, conversa idiota...


- Vamos fazer tudo isso hoje... menos a cerveja. - Gaara indicou umas caixas com refrigerante dentro - Abstinência geral!


- Temos escolha? - Sakura colocou as mãos na cintura e suspirou, vendo todos muito relaxados, determinados a ter uma noite divertida de recordação e muita conversa idiota.


- Até tem, bebê, mas vai perder toda a diversão. - Ino piscou animada - Pedimos pizza!


- Ok. - Sakura suspirou, jogando a cabeça para trás, depois pegou o celular e jogou sobre o sofá, pegou a mochila e inclinou a cabeça - Vocês jogam baixo... Pizza é jogo sujo.


- É ISSO AI, PERIKITA! - Tenten gritou, batendo palmas - O banheiro fica na terceira porta, a direita.


Sendo ovacionada, a Haruno se retirou da sala, indo tomar banho, já Sasuke sentou no braço do sofá e suspirou, estalando o pescoço. Neji pegou uma lata de refrigerante e jogou pra ele que pegou no ar e abriu a mesma, dando um generoso gole. Só então percebeu que estava com sede, cansado e precisava mesmo daquele momento de descontração. Não sabia o que faria da sua vida sem seus amigos... talvez ela fosse mais racional, mas seria menos divertida.


Eles voltaram a conversar sobre trivialidades como a faculdade, onde pretendiam trabalhar depois, sobre como decorar o quarto do bebê e até mesmo a lua de mel de Neji e Tenten quando ouviram um celular vibrar. Levaram segundos para perceber que era o celular da Haruno que vibrava em cima do sofá. Sem esperar, Hinata pegou o aparelho e olhou quem ligava.


- Yahiko. - murmurou, olhando ao redor.


- Me dá aqui! - Ino praticamente se jogou por cima de Naruto para pegar o celular e ao fazê-lo atendeu a chamada - Oi, gato... Ahan... É a Ino, amor... Ah sim! Não, não... A Sakura deu uma saidinha... Ahan... Peço sim, pode deixar... Recado anotado!... Quando ela voltar eu dou o recado... Beijo, amor... - e então desligou a chamada, fazendo bico.


- Por que você mentiu? - Neji esbugalhou os olhos - A Sakura tá lá dentro...


- Não precisamos do Yahiko atrapalhando nossa noite. - arqueou uma sobrancelha.


- Isso pode chateá-la. - Gaara informou, olhando desconfiado.


- Ela não precisa saber que ele ligou. - aperta em alguns atalhos e deleta a chamada recebida, depois coloca o celular virado para baixo e dá uma piscadela.


Olhares são trocados, mas todos permanecem em silêncio. Encarando a lata que possuía nas mãos, Sasuke suspirou baixo, deixando os pensamentos vagarem livres. Estava bem, era um fato, depois do desastre mais cedo, ele e Sakura pareciam estar em um momento de trégua e isso aquecia seu coração, mas saber que Yahiko tinha livre acesso a ela, o deixava em pedaços. Compreendia que ele havia jogado a mulher que amava nos braços do outro, mas ainda assim, era difícil não sentir dor. Saber que Sakura poderia encontrar o Uzumaki a qualquer momento e ter com ele momentos que ELE conhecia muito bem, destruía seu interior, porque mesmo se passando quase três anos, era impossível esquecer o quão linda ela ficava quando alcançava a plenitude da satisfação... ou até mesmo quando ela acordava e abria os olhos de forma sonolenta, com as bochechas coradas pelo sono e lhe dirigia seu melhor sorriso.


Era impossível esquecer.


Fechou brevemente os olhos e engoliu em seco, sentindo o peito apertar, mas abriu os olhos rapidamente quando ouviu passos no corredor e foi impossível o olhar não voar para lá, contemplando a Haruno caminhar de forma despreocupada, enquanto secava os cabelos com uma toalha e trazia uma feição tranquila, como se estivesse em paz e isso fez o coração dele ficar em paz também. Não podia mudar o passado, nem podia obrigar Yahiko a ficar longe dela, mas naquele momento, naquela noite, era ele quem estava ali, era ele quem iria rir ou até mesmo relembrar bons momentos com ela e com os amigos, então não havia com o que se preocupar. Iria aproveitar esse breve momento que a vida havia lhe dado para mostrar a ela o melhor de si. Para entregar pouco a pouco seu amor, com cuidado, com carinho, sem afobação nem violência. Compreendia que ela agora era uma felina arredia e por isso, ele precisava agir com cautela. Com esse intuito, dirigiu a ela um pequeno sorriso quando a mesma lhe lançou um olhar curioso por ele estar olhando-a por tanto tempo e tendo recebido um sorriso dele, ela acabou sorrindo, minimamente, mas ainda assim, sorriu.


E isso foi o bastante para fazê-lo pegar a própria mochila e seguir logo em seguida para o banheiro. Nada melhor do que começar de novo, começando por um bom banho.