Reencontros - Capítulo 28

Não havia como descrever o que estavam sentindo. Era complicado, dolorido, cruel, angustiante... Todos os sentimentos guardados haviam sido colocados para fora. Ele a manteve em seus braços por muito tempo enquanto ela se desfazia em lágrimas. Sentia-se na obrigação de se manter firme para sustentar a ela e assim se manteve. Quando a jovem não tinha mais lágrimas, o moreno a pegou no colo e a deitou na cama. Não demorou muito e ela adormeceu. Era pouco mais de oito da noite quando ele deitou ao lado dela e adormeceu.


Estava exausto.

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Estava frio. Com um muxoxo, ele abriu os olhos e se espreguiçou percebendo onde estava. De inicio ficou confuso, até que o dia anterior surgiu em sua mente e ele suspirou. Olhou ao redor novamente percebendo a ausência da Haruno. Em silêncio, tentou escutar algo no banheiro, mas viu a porta entreaberta e silêncio. Para onde ela havia ido? 


Afastou o cobertor, levantou e só para garantir, olhou dentro do banheiro vendo o cômodo vazio. Aproveitou e foi até a mochila, pegando-a e levando-a para o banheiro onde fez a higiene matinal. Depois de banho tomado e dentes escovados, saiu do banheiro, jogou a mochila sobre a poltrona e saiu do quarto. O corredor estava vazio. Continuou caminhando e desceu as escadas de madeira, encontrando no hall vazio. Caminhou por um corredorzinho que tinha um leve cheiro de velho e ao chegar no segundo cômodo, viu a Haruno conversando com a Senhorinha. Elas estavam conversando tão distraídas que nem notaram a presença do moreno. Ele observou por um tempo as duas arrumando uma mesa com algumas comidas como: torradas, bolo, frutas, pãezinhos, bolacha, queijo, presunto, ovos mexidos...


- Bom dia. - cumprimentou baixo e as duas olharam para ele.


- Bom dia, meu jovem. - a mulher cumprimentou animada.


- Bom dia. - a Haruno cumprimentou mais tímida.


Calmamente, o Uchiha caminhou até as duas e ao se aproximar, respirou fundo sentindo o cheiro de café. Arqueou uma sobrancelha e meneou a cabeça de forma positiva.


- Vou deixar vocês sozinhos. - a mulher fez uma reverência - Licença...


- Não vai nos acompanhar? - ele arqueou as sobrancelhas, afinal, a mesa possuía bastante comida.


- Ah não... Eu como cedinho, meu filho. - ela dá um sorriso gentil para ele - Podem ficar a vontade.


- Obrigada pela comida. - a Haruno sorriu gentil também.


Em silêncio, os dois sentam à mesa e começam a se servir. O silêncio era constrangedor, esmagador, por isso, enquanto bebericava o chá que estava tomando, ela ergueu os olhos verdes para o moreno e o encontrou encarando a si. Quase que ela se engasga, mas pigarreou e respirou profundamente.


- Dormiu bem? - perguntou baixo.


- Sim e você? - bebeu um pouco de café.


- Uhum. - pegou uma fatia de bolo e suspirou - Ainda faltam duas horas para sair o resultado.


- Eu sei. - murmurou e olhou para o lado, admirando a vista que a janela proporcionava. Era uma espécie de jardim que a pousada tinha - O que vamos fazer nesse meio tempo?


- Eu não sei. - murmurou também e começou a comer.


Ficaram um bom tempo em silêncio, comendo. Era inevitável não pensar na conversa do dia anterior. Ele queria muito saber o que ela pensava a respeito e mais, até onde a conversa havia afetado a ela e ela queria muito saber a mesma coisa. Não conseguia mais odiá-lo. Todo aquele sentimento explosivo de ódio e rancor não havia mais, mas ainda sentia mágoa... Toda a dor que sentiu por ele e por causa dele não tinha como sair, sumir ou ser esquecido, por isso, não era capaz de perdoá-lo.


Ainda não.


Sentia os olhos negros em si e por isso, preferia ignorar. Era estranho estarem daquele jeito, mas de alguma forma, era reconfortante, afinal, com quem mais poderiam compartilhar o que estavam sentindo? Apenas eles dois compartilhavam sentimentos, medos e problemas iguais... Por mais que odiasse admitir, ele era o único que poderia falar "eu te entendo" e que realmente entendia. Cansada, suspirou enquanto comia uma fatia de queijo.


Depois do café, ficaram conversando trivialidades com a Senhorinha e quando finalmente chegou a hora, eles foram para o quarto, se arrumaram, pagaram a estadia e pegaram a estrada. Estavam tão nervosos que nem perceberam quando chegaram na clínica. Ficaram parados no estacionamento por um bom tempo tomando coragem. Em silêncio, eles se olharam e menearam a cabeça de forma positiva.


Era hora de acabar com tudo aquilo de uma vez por todas!


Ainda em silêncio, eles saíram do carro. O moreno deu a volta no veículo e ofereceu uma mão para a rosada que com um suspiro, segurou na mão dele e ele entrelaçou os dedos nos dela, voltando a caminhar os dois, lado a lado.  Abriu a porta para ela passar e assim que o fez, entrou logo atrás dela. Ainda de mãos dadas, dirigiram-se até o balcão e ele informou o nome dos dois. A recepcionista pediu para eles esperarem um momento enquanto ela procurava o resultado no sistema. Aguardando, ele apertou levemente a mão da Haruno e ela apertou sua mão de volta.


A recepcionista voltou os olhos para ele enquanto a impressora trabalhava. A mulher pegou o papel, dobrou e colocou dentro de um envelope, entregando a Haruno logo em seguida. Eles agradeceram e voltaram para o carro. Entraram no veículo, mas ele não deu partida. Os olhos verdes estavam no envelope, esbugalhados. As mãos tremiam, ela estava ofegante, hiperventilava. Ouviu um pigarreio ao seu lado e quando ergueu os olhos para o lado, encontrou os olhos negros em si.


- Quer que eu abra? - perguntou baixo.


Ela apenas meneou a cabeça e virou levemente o corpo na direção do Uchiha, estendendo o envelope para ele. Com um pigarreio, o moreno pegou o envelope e abriu o mesmo, retirando o papel de lá. Ele respirou profundamente e desdobrou o papel. Os olhos negros foram para a Haruno e depois voltaram para o envelope novamente. O ar dentro do carro parecia não correr, as janelas e para brisa estavam embaçados mediante a hiperventilação dos dois. Passando a língua entre os lábios, ele começa a ler.


- Vamos lá... - respirou pela boca - Em material genético (DNA) extraído de amostras biológicas dos examinados, identificamos loci em análise de STR. Em cada vinte loci examinados, dezessete não eram proveniente do mesmo pai ou mãe... - franzi o cenho - Eu não tô entendendo nada. - resmunga.


- Mas eu tô... Meu Deus! - ela sussurrou, abrindo um pequeno sorriso enquanto os olhos começavam a marejar. - Meu Deus!


Ele a olha por um momento e continua lendo.


- A partir das frequências desses locis, reconhecidas em Análise STR, verifica-se que o índice de paternidade acumulado é de 1.086.902.664.840.06. Concluímos, portanto, que Sasuke Uchiha não é irmão biológico de Sakura Haruno. Puta que pariu! - ele fala alto, baixando o papel e olhando para a Haruno que já tinha um sorriso enorme no rosto enquanto as lágrimas escorriam - EU DISSE!


- NÃO SOMOS IRMÃOS! - ela grita se jogando na direção dele. - Não somos. Não somos, Sasuke!


- Não! - sorrindo, ele a segura nos braços, abraçando-a com força e sorrindo. Estava tão aliviado que nem conseguia pensar direito. Mas



A jovem estava afoita, jogada nos braços do moreno, chorando, sorrindo, quicando em seu colo, tremendo... Estava tão feliz que não conseguia falar nada. Ele, por sua vez, também não falava nada, apenas sorria e correspondia ao abraço, enquanto distribuía beijos pela bochecha dela. Animados, leves, tranquilos, nem perceberam a situação em que estavam: Ela sentada no colo dele enquanto ele a mantinha em seus braços com uma mão rodeando sua cintura e a outra suas costas, como costumavam fazer quando ainda namoravam.


Era tão confortável e certo que nem se importaram.


Os olhos verdes derrubavam lágrimas exuberantes. Pela primeira vez naqueles dias, ela se sentia extremamente feliz e como prova disso, o abraçou com força, afundando o nariz na curva do pescoço dele. Aquela era uma ação pensada e prova disso, foi a tensão que se instalou no moreno. Ele ficou paralisado, permitindo-a encaixar-se em si. A respiração dela foi se acalmando, acalmando, até que ficaram em um completo silêncio. Ambos sentindo a pulsação do coração do outro sob o peito.


- Obrigada. - Sussurrou baixo - Obrigada, Sasuke.


- Não há...


- Há sim. - sussurrou contra a pele do pescoço dele e o moreno se arrepiou com aquilo, mas não demonstrou qualquer coisa. Apenas ficou acariciando as costas dela. Estava aliviado pelo resultado do exame - Você não me permitiu enlouquecer... Você me ajudou a ficar aqui... E... eu sei que você queria ter enlouquecido.


- Enlouqueci quando descobri. - beija o ombro dela com ternura e a jovem fecha os olhos. Ambos não viam as reações no rosto do outro por estarem com os rostos escondidos: Ela no pescoço dele e ele nos cabelos dela - Não seria justo fazê-lo agora e deixar você sozinha nessa.


- Ainda assim, obrigada. - sussurrou.


Ele apenas meneou a cabeça e afundou o nariz nos cabelos róseos. Respirando profundamente, sentiu o coração relaxar, os músculos relaxarem e por um mísero segundo, se permitiu aproveitar da sensação que era ter a jovem Haruno em seus braços novamente. 


Um longo tempo se passou com eles daquele jeito. Quando finalmente a tarde começava a avançar, decidiram que estava na hora de voltar à vida normalmente. Estavam cansados. Com mais leveza, ele dirigiu rumo ao dormitório feminino e ao parar no estacionamento, olhou para o prédio. Era igual ao que ele morava, mas parecia mais confortável, menos quente naquele horário do dia. Com um suspiro, se virou para a Haruno e viu que ela também olhava para o prédio.


Timidamente, os olhos verdes encontraram os negros e ela deu um leve sorriso. Sentia-se relaxada pela primeira vez em muito tempo. E, de forma engraçada, estar com ele não era tão sufocante como havia sido há alguns dias. Aquilo fez ela suspirar e ele arqueou as sobrancelhas curioso, afinal, eles ainda estavam olho no olho. A jovem deu de ombros e ele balançou a cabeça com certa diversão. Com cuidado, esticou a mão e segurou na mão dela, entrelaçando os dedos com carinho.


- Então... Como nós ficamos? - fez a pergunta de um milhão de dólares.  


- Eu ainda não sei. - foi sincera. Ela mordiscou o lábio inferior em confusão e olhou para as mãos entrelaçadas - Preciso digerir tudo. As informações que você me passou, tudo o que aconteceu nesses dois dias... Minha vida... - passou a língua entre os lábios e olhou nos olhos dele - Sem falar que você ainda tem um longo caminho a percorrer... Ainda tem seu irmão.


- Eu sei. - suspirou e com o polegar, ficou brincando com os dedos dela - Mas... você compreende o motivo de ter te deixado, Sakura? - franziu o cenho, nervoso - Você realmente compreende porque eu fiz o que fiz?


Ela balançou a cabeça de forma positiva.


- Compreendo sim. - deu de ombros e abriu um pequeno sorriso - Mas me dá um tempo para poder digerir tudo... Minha vida depois que você foi embora, foi... - suspira - Me dá um tempo... Só um tempo.


- Todo o tempo do mundo. - sorriu. Incrivelmente, ele abre um sorriso enorme enquanto respira profundamente de forma aliviada. Nos olhos verdes não havia mais aquele ódio que ele estava acostumado a vê. Havia medo, insegurança, mas não ódio. - Então... Amigos?


- Hun... Colegas. - abre um sorriso aliviado, balançando a mão.


- Já é um bom começo. - com tranquilidade, ele puxa a mão dela em sua direção e beija a palma da mão feminina - Até mais, Sakura.


- Até, Sasuke.


Puxando delicadamente a mão, ela abre a porta do carro, pega a mochila, sai e fecha a porta. Caminha na direção do dormitório e ao chegar na porta, olha para trás e ele acena, sendo correspondido. De forma engraçada, a Haruno caminha pelo prédio, seguindo para as escadas, cantarolando. Saber que não era irmã dele e saber o real motivo de ele ter ido embora a deixava leve. Não havia o perdoado em 100%, mas agora conseguia compreender de certa forma. Não sabia até onde aquilo iria afetar aos dois e ela também não tinha planos para voltar para ele. Mantinha suas ideias da mesma forma e não se envolver amorosamente com ele era uma das ideias que permanecia firme.


Poderia ser amiga dele um dia. UM DIA. Mas no momento, ser colega já estava de bom tamanho, porque isso não implicava ter conviver todos os dias com ele, mas sim, tolerar de forma tranquila quando estivessem no mesmo ambiente. E isso é um avanço dos grandes... Para ambos.

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- Então... vocês agora são amigos? - Tenten perguntou, com a boca cheia.


- Colegas. - corrigiu, bebendo um pouco do chá.


- Caramba. - suspirou e abriu um sorriso enorme - Eu fico extremamente feliz em saber que vocês finalmente se acertaram... Tipo... Foi necessário uma merda do caralho, mas ainda assim, tudo ficou bem no final.


- É... - suspira - Só é estranho estar "de boa" com ele, entende? - estreita os olhos e depois dá de ombros - Acho que me acostumei a odiá-lo.


- Desacostuma, baby! - come um pedaço generoso de bolo - Mas que história pesada a dele hein... Vê a mãe morrer assim... - suspira - Coitado.


- Pois é... E ainda tem o Itachi. - suspira e olha para a janela, mordiscando o lábio inferior.


- Hun... - Tenten estreita os olhos para a amiga, analisando-a - O que se passa por essa cabecinha? 


- Pensando na minha mãe. - murmura e olha para a caneca entre as mãos. A fumaça que saía, indicando o líquido quente e reconfortante, os desenhos aleatórios na caneca... - Por que ela faz tudo isso?


- Não sei, Sah. - suspira e coloca o prato vazio sobre o colchão e vai até a cama da amiga e senta ao lado dela - Sempre achei sua mãe meio louca, mas acredito que isso está além de loucura.


- Chega a ser cruel. - estreita os olhos e olha para a amiga - Ela poderia ter simplesmente contado a verdade e não ter mentido e nos torturado como fez.


- É... - sussurra - Mas... o que você pretende, agora?


- Ainda estou pensando sobre. - dá de ombros e beberica um pouco do chá - Acho que... Vou focar mais nos estudos, no estágio e tudo o mais... Deixar as coisas fluírem, sabe? - suspira e olha para a amiga - Tocar a vida.


- Acho uma boa. - Tenten sorriu e passou um braço sobre os ombros da amiga, dando-lhe um beijo na bochecha - E fico feliz por isso.


- Obrigada. - sorri e deita a cabeça no ombro da amiga - Agora me conta... E o Neji? Nunca mais o vi e estou te achando estranha.


- Cara, eu tô muito confusa com ele. - resmunga - O Neji simplesmente sumiu faz uns dias e tudo o que recebo dele são mensagens e algumas ligações curtas.


- Quê!? - ergueu a cabeça para poder olhar para a amiga.


- Pois é. - murmura e mordisca o lábio inferior com insegurança enquanto os olhos ficam marejados - Acho que... ele...


- Hãn? - esbugalha os olhos - De jeito nenhum! - coloca a caneca sobre o criado mudo e vira para a amiga - Ele te ama demais.


- Amor não significa fidelidade. - faz bico enquanto os olhos embaçam.


- Ten. - segura as mãos da amiga - Eu conheço o Neji faz muito, muito tempo e sei que ele nunca, jamais, e hipótese alguma, iria te trair...


- Você acha mesmo? - faz careta e funga.


- Claro! - respira fundo - Olha, se algum dia ele deixasse de te amar, com certeza ele acabaria o namoro antes de cometer uma traição.


- Tomara. - baixa a cabeça.


- Ai sua boba! - sorri e abraça a amiga, acariciando-lhe as costas - Não se preocupa com isso. Procura saber o motivo de ele estar distante. Vai vê é algum problema pessoal, no trabalho ou até na faculdade... Você vai vê, não é nada demais.


- Tomara. - sussurrou, fungando.