Reencontros - Capítulo 27

Um bom tempo se passou e eles continuaram daquele jeito: lado a lado, ela com a cabeça no ombro dele e o braço dele por cima dos ombros dela, abraçando-a junto de si.


O silêncio era algo que eles apreciavam naquele momento.


Era palpável os sentimentos diversos que rondava a mente dos dois e de certa forma, eles queriam apenas permanecer daquele jeito. 


As horas foram passando. O moreno pediu algo para eles comerem e cada um se ocupou da melhor forma. Ele pegou o notebook e ficou fazendo coisas do trabalho enquanto ela pegou um livro e começou a estudar. Pediram almoço e a Senhorinha levou para eles no quarto. Os dois jovens comeram em silêncio, cada um em seu mundo. Vez ou outra trocavam algumas poucas sílabas, mas tudo voltava a se perder no silêncio.


O sol já começava a cair no horizonte quando o telefone do moreno tocou e ela ergueu os olhos apenas por costume e viu quando ele franziu o cenho e suspirou, atendendo logo em seguida: Era Gaara. O assunto parecia ser bem importante, visto que vez ou outra o moreno franzia o cenho e dava respostas curtas, prometendo analisar a situação. Com um muxoxo, desligou o celular e voltou a se concentrar no notebook. A jovem continuou olhando-o, tentando entender coisas que ela nunca havia compreendido e cansada de não ter respostas, resolveu quebrar o silêncio.


- Por que você me deixou, Sasuke? - perguntou baixo. Os olhos negros voaram para ela com certo alarme - A verdade... me diz a verdade, por favor.


- Sakura... - ele respirou profundamente e passou a língua entre os lábios, colocando o notebook de lado. Estava nervoso. Muito nervoso - O motivo, envolve uma história...


- Me conta. - pediu incisiva. Não queria enrolação, não queria mentirinhas nem desculpazinhas. Queria a verdade. Nua e crua.


Os olhos negros ficaram fitando os verdes por longos segundos. Era difícil e complicado para ele assumir aquilo em voz alta, mas já estava na hora de colocar tudo para fora. Ela merecia e ele também. Com um puxar de ar pela boca, ele olhou para as mãos de forma nervosa e depois voltou a olhar nos olhos verdes, assentindo.


- As pessoas sabem que minha mãe morreu, mas elas não sabem como... Nem você. - pigarreou. Ficou um tempo em silêncio olhando para as próprias mãos e ela esperou pacientemente, quando voltou a falar, a voz era pouco mais que um sussurro - Lembra quando você encontrou a arma no meu carro e eu te falei que estávamos recebendo ameaças? - ela meneou com a cabeça de forma positiva - Pois bem... Tudo aconteceu há dois anos e meio antes de namorarmos. Recebemos ligações, depois  bilhetes... tudo com ameaças, até que começamos a receber cartas com fotos. Fotos de todas as maneiras em dias diferentes e situações diferentes. Meu pai tentava descobrir quem era, mas não tomou as devidas precauções. - ele faz uma pausa e pigarreia. Era visível que a situação era difícil para ele - Então em um dia, minha mãe precisou sair de casa e eu a acompanhei até a porta. Vi ela entrar no carro preto, vi os portões abrirem e quando ela estava saindo, um carro parou ao lado do dela é como se o mundo começasse a passar em câmera lenta, eu vi o carro de minha mãe ser alvejado.


Ele parou para poder respirar. Era difícil lembrar daquele dia... Muito difícil. Sua garganta ainda fechava... sufocava, até... Ela levou uma mão à boca e piscou atordoada. Não conhecia a história por trás da morte da mãe dele, mas agora que sabia, sentia um peso no peito. Quando voltou a falar, a voz dele estava embargada e ele olhava para as mãos, revivendo aquele maldito dia.


- Ao todo foram 15 disparos... Eu corri na direção dela e vi o carro de onde vieram os tiros desaparecer na esquina. Desesperado, abri a porta do motorista... Ela ainda estava viva. - o moreno puxou o ar pela boca e ela viu as mãos dele tremerem. Com angústia os olhos negros encontraram os verdes - Ela ainda estava viva... - fechou os olhos e engolido em seco - Eu gritei por ajuda, mas não foi suficiente... Eu a abracei com força, tentando mantê-la viva, mas ela olhou dentro dos meus olhos, sorriu, acariciou meus cabelos e então... - ele parou e baixou a cabeça, balançando-a - Tinha muito sangue. Muitos furos. Muito tudo... - ele fungou e ergueu os olhos para ela. Os olhos negros estavam marejados - Então dois anos e meio depois voltamos a receber as ameaças. Primeiro as ligações, depois os bilhetes, o carro do meu pai foi atacado, mas era blindado, então... Tudo estava acontecendo exatamente como da última vez. Até que no dia do baile recebemos seis fotos. 


Ele paralisou e desviou o olhar. Todo o pânico voltando, causando náusea, dor, medo... Ele ainda não conseguia conviver com isso.


- O que tinha nas fotos? - perguntou baixo. 


Ele não respondeu. Apenas ergueu os olhos para ela e a Haruno compreendeu. Ela... Tinha ELA nas fotos. Com um ofego, a jovem levou as mãos à boca, desacreditada.


- Meu Deus! - sussurrou.


- Eram fotos no mesmo estilo, Sakura. Dias diferentes, situações diferentes... Comigo. Sozinha. Com as meninas. No colégio!... - balança a cabeça - Eu estava vendo tudo novamente, entende? - franziu o cenho e respirou fundo. Sua voz começava a ficar mais firme - Eu estava vendo toda a maldita história se repetir e eu sabia o final! Sakura, essa merda de vida me tirou a minha mãe e eu não podia permitir que ela me tirasse você também! - com brusquidão, ele levantou e colocou as mãos na cintura, dando as costas para ela - Eu não podia! - balança a cabeça - Então eu fui embora.


Um silêncio constrangedor se fez enquanto ambos tentavam amenizar as emoções. Ele de pé no meio do quarto e ela olhando para o nada, absorvendo aquilo. Muitas coisas não encaixavam, ele podia ter simplesmente falado a verdade e não ter fugido como fez...


- Por que não me contou? - perguntou baixo, olhando para ele.


- Pra quê? - sorriu nasalado e virou, olhou para ela - Para você dizer que não tinha medo, que ninguém iria te fazer mal e que estava tudo bem? - arqueou as sobrancelhas e balançou a cabeça - Não, obrigado! Eu não seria capaz de lutar contra seus argumentos, Sakura. Ir embora naquele baile custou mais do que força... Ouvir você dizer que me amava e não poder te agarrar, te beijar, dizer que eu sentia o mesmo e passar a noite toda te demonstrando isso de todas as formas possíveis foi... - ele para, respira pela boca e da um sorriso sem graça - Eu escolhi ter seu ódio a não ter sua vida... Tudo bem você me odiar, mas... Não te ter no mesmo mundo que o meu seria... - ele desvia o olhar e engole em seco. A Haruno fica paralisada, olhando para ele com o cenho franzido. Era tudo muito confuso e irreal. O moreno funga, passa a língua entre os lábios e dá de ombros. Os olhos negros encaram os verdes com profundidade e ele dá um sorriso triste - Eu te amei e nem sabia disso, até que num belo dia, eu percebi que tinha medo de tudo que te envolvesse... Tinha medo de tudo o que te machucasse... Eu tinha medo do que eu sentia porque eu sabia que se de alguma forma eu te fizesse sofrer, não me perdoaria nunca... - dessa vez ele fecha os olhos e respira fundo, voltando a abri-los e dá de ombros novamente, abrindo minimamente os braços - Não foi falta de amor, Bear... Nunca foi... Porque o que eu sentia naquela época, permaneceu, criou raiz, se tornou forte, maior, incontrolável... E continua aqui... A cada respirar meu é como se... - ele olha para o lado e franziu o cenho - Eu apenas não consigo dimensionar o quanto eu te amo, mas eu te amo. - volta a olhar para ela - E é fodidamente bom... Porra, é muito bom! 


Silêncio.


Eles permaneceram assim, um olhando para o outro.


Com cautela, ela levantou fazendo a cama ranger e com um respirar lento e altamente controlado, caminhou na direção dele, parando a menos de um metro. Erguendo o queixo para poder olhar nos olhos dele, a Haruno puxou o ar pela boca e franziu o cenho. Aquela era uma história sufocante, angustiante e que envolvia muita coisa... Era complexa demais.


- Por que demorou tanto para me contar? - franziu ainda mais o cenho - Porque não me procurou depois? Porque me permitiu te odiar tanto, Sasuke?


- Levou muito tempo para pegarmos as pessoas responsáveis. Exigi que meu pai colocasse seguranças em seu calo...


- Quê!? - inclinou a cabeça.


- Eu não ia me afastar e te deixar sozinha. De jeito nenhum! - balança a cabeça - Contratamos dois seguranças que estavam acompanhando você 24 horas.


- Meu Deus! - sussurra - Eu nunca... Percebi...


- E nem iria. Eles eram os melhores... - dá um passo à frente, aproximado-se ainda mais dela - Depois quando tudo se resolveu, já havia passado mais de um ano. Você estava com o maldito do Yahiko. Me odiava a ferro e fogo. Estava recomeçando sua vida e bem... Eu não tive coragem de chegar e pedir desculpas.


- Isso... - balança a cabeça e leva as mãos ao rosto, cobrindo-o - Você me magoou demais. - baixa as mãos e ele vê os olhos verdes marejados. - Você me fez te odiar com todas as minhas forças!


- Eu sei que magoei seu coração, Sakura, porém, tudo o que fiz foi por amor. Eu era só um garoto com medo! Não pode um garoto apaixonado errar? - bagunça os cabelos - Quando estamos diante do medo, e acredite eu estava com muito, muito medo, agimos sem pensar, desejamos apenas salvar aquilo que mais nos importa e veja, não seria você a melhor, maior e mais bonita parte de mim? - abriu os braços e suspirou - Serei realmente julgado e condenado apenas porque errei diante de você... e por você? - passa a língua entre os lábios e dá um sorriso nasalado - Acho que não...


Engolindo seco, ela deixa uma lágrima solitária escapar. Estava cansada mentalmente e não conseguia se armar contra ele. Todo o corpo doía diante daquele cansaço. Era complicado controlar qualquer emoção que sentia. Estava frágil, estava desarmada, estava cansada.


- E por que não? - perguntou num sussurro.


Em silêncio, ele levou ambas as mãos ao rosto dela é com os polegares, acariciou as bochechas, enxugando a lágrima que havia escorrido. Depois inclina o corpo e cola a testa na dela. Ambos respiram fundo e fecham os olhos. Era bom sentir o calor das mãos dele, era reconfortante, acolhedor... Para ele, trocá-la era como tocar as nuvens, acariciar as ondas do mar, era suave, macio, aconchegante... Quando voltou a falar, a voz era tão baixa que se não estivessem com as festas coladas, ela não o teria escutado.


- Simplesmente porque eu te amo...  e você também me ama.


Os olhos verdes tremularam e ela ofegou diante daquilo. Mais lágrimas escorreram e ele aproveitou os polegares nas bochechas para secar as lágrimas. Estavam tão perto, que ele sentia a respiração irregular dela e a dele não estava diferente. Ofegante, as mãos masculinas deslizaram para a parte de trás da nuca dela, emaranhando-se nos fios róseos enquanto ele aproximava ainda mais o rosto do dela. Sua boca formigava tanto que chegava a doer. Queria tomar os lábios dela com voracidade e carinho, mas sabia que não podia, por isso, puxou-a para si e colou o corpo ao dela em um abraço apertado, inclinando a cabeça e beijando a têmpora dela de forma demorada.


Sentiu as mãos femininas rodearem sua cintura, puxando-o para si e ele correspondeu ao abraço, descendo uma mão até as costas dela, afagando-a enquanto a outra mão puxava levemente os cabelos. Ele beijou a têmpora dela novamente e depois beijou o topo da cabeça quando ela apoiou a cabeça em seu peito, tentando controlar os tremores que assolavam o corpo miúdo, deixando o choro sair livremente.