Jarros de Almas - Capítulo 11

Enquanto todos aproveitavam a festa, ela não conseguia mais se concentrar em nada que não fosse os olhos negros que estavam do outro lado da pista de dança escondidos sob a máscara branca e a aba do chapéu preto. A jovem sabia que ele não havia tirado os olhos dela em momento algum e como se aquilo a instigasse, a garota resolveu brincar um pouco. Segurou na borda do véu e o desceu da cabeça, usando-o como se fosse um companheiro para a dança e começou a dançar sensual, porém, no ritmo da batida que o DJ comandava.

Deixou-se ser levada pela batida. Mexia os quadris de um lado para o outro fazendo ondas com o corpo vez ou outra, viu os amigos a instigar com palmas e Kakashi sorrir de canto enquanto ela continuava dançando. Levantou os braços e deixou o véu em frente ao rosto. Cruzou as mãos em cima e jogou o véu para trás enquanto também tombava a cabeça para trás. Tudo ao seu redor parecia passar em câmera lenta. Aquele era o momento dela e sem nem se dar conta, a jovem de cabelos róseos estava exalando seu lado mais sensual. Ela nem sentia, mas seu lado deusa era quem a comandava.

As luzes se apagaram, os olhos verdes cintilaram no escuro em questionamento. Ela parou de dançar e olhou ao redor e ao virar se deparou com um par de olhos negros muito próximos de sí. Por impulso, deu um passo para trás e as luzes voltaram a acender. O apagão não durou menos de um minuto, mas foi tempo suficiente para fazer aqueles dois ficarem próximos novamente. Olho no olho, as luzes voltaram a apagar novamente e a jovem apenas via o brilho felino que os olhos negros emitiam na escuridão. Ela sabia que ele a enxergava, bem como ele também sabia que ela o enxergava. A música continuava alta e sensual, mas ela não dançava, sentia-se tentada a continuar olhando nos olhos negros e quando as luzes acenderam ela percebeu que ele estava mais perto do que seria necessário para estar segura. De alguma forma, o modo predador como ele agia a fazia sentir-se tentada a corresponder e foi nesse impulso que deu um passo à frente.

Ele também não ficou parado. Ao ver que a mulher deu o primeiro passo, ele também deu um passo na direção dela e quando os corpos estavam praticamente colados, segurou a cintura dela com ambas as mãos e ela subiu as mãos e as apoiou no peitoral dele. Mesmo sob a luva, ela conseguia sentir o calor que ele emanava e os pelos de seu corpo se eriçaram com a proximidade. Como se os corpos estivessem ligação, ela começou a mexer o quadril lentamente de um lado para o outro e ele acompanhou com as mãos. Enquanto dançavam, se envolviam num mundo só deles, como se tudo ao redor deixasse de existir ou simplesmente passasse em câmera lenta. A música quase não era mais ouvida, era apenas um ronronar suave de fundo que embalava a ambos naquela dança tão particular.

As mãos masculina apertaram a fina cintura da mulher enquanto ela jogou um pouco a cabeça para trás e fechou os olhos se deixando ser “guiada” por ele. Enquanto dançavam, ambos sentiam o corpo esquentar, os pelos arrepiarem e boca salivar em uma vontade até então desconhecida. O que exatamente acontecia entre eles apenas o homem sabia, porém, mesmo sem saber, a mulher sentia... e como aquilo era forte, magnético, quente… As mãos dele protegidas pela luva ainda lhe eram capazes de causar uma vontade enlouquecedora.

Já começava a se perguntar como seria sentir a pele dele tocando sua pele quando viu uma sombra surgir por trás do moreno e ao desviar os olhos dos dele, viu Kakashi olhando-a com o cenho franzido. Pela cara do prateado, ele não estava gostando nadinha do que estava vendo. Sentiu uma mão subir por sua coluna e ela voltou os olhos para o moreno que a olhava com um sorriso de canto.

- Algum problema? - perguntou baixo.

- Não. - respondeu baixo - Apenas observando…

- Sinto-me ofendido por tê-la em meus braços enquanto seu pensamento vai de encontro a outro.

- Não estou “em seus braços”. Estou apenas dançando com você.

- Olhe bem para nós dois, bela Sakura, você está, literalmente, em meus braços. - arqueou as sobrancelhas grossas e ela desceu o olhar pelos braços dele.

- Isso não quer dizer muita coisa… - voltou os olhos verdes para ele - Posso muito bem ter meus pensamentos em outro lugar enquanto estou com qualquer pessoa.

- Não comigo, minha cara. Não comigo.

- Não tenha tanta certeza.

- Tenho total. - a mão que estava nas costas a puxou mais para sí e ela acabou encostando os seios no peitoral dele. A boca masculina foi para a lateral da cabeça da jovem e ele sussurrou próximo ao seu ouvido -Sou capaz de fazê-la esquecer de tudo.

- Hun… - a lingua feminina passeou por entre os lábios de forma lenta enquanto ela processava tudo o que estava ouvindo - Não prometa coisas que não é capaz de realizar. - sorriu de canto ao afastar minimamente o rosto do dele.

- Sou um homem de palavra, bela Sakura, nunca lhe prometeria algo da qual não sou capaz de cumprir.

- Talvez… - deslizou a mão pelo peitoral dele e as subiu até os ombros largos onde apertou levemente como se massageasse - Então… Como faz para convencer as pobres donzelas que caem em suas meras promessas?

- Não sou capaz de demonstrar aqui. - murmura enquanto fecha os olhos sentindo os dedos finos e delicados lhe apertar o trapézio.

- E existe um lugar para você mostrar como faz para convencer? - continuou com a massagem.

- Claro. Em um quarto, com uma cama… Porque quando eu convenço, não perco tempo… nem a mulher quer perder.

Ela afastou ainda mais o rosto do dele para poder olhar dentro dos olhos negros que a encaravam sérios, porém quentes. Ele realmente a estava convidando para um teste de tudo ou nada, e ela queria… Ah, como ela queria. Só não sabia se realmente deveria apostar tudo, porque se no fim das contas fosse o nada, ela iria ficar muito, muito decepcionada.

Ainda na dúvida, resolveu dar de ombros e continuou dançando como se o que ele falou não a tivesse afetado, mas havia… e muito. Sentiu as mãos dele deslizarem novamente por suas costas até a cintura e quando segurou alí, a girou rápido fazendo-a dar as costas para sí. Ele grudou o peitoral nas costas dela e apoiou o queixo no ombro feminino. A jovem por sua vez, olhou-o por cima do ombro e segurou nos braços dele. Os corpos balançavam de um lado para o outro lentamente e quem os visse, imaginariam apenas que o Fantasma da Ópera e a Freira estavam curtindo o momento, mas na verdade estavam tentando convencer um ao outro sem nem sequer perceberem.

O que ninguém, nem eles mesmo sabiam era que naquela noite, todo o destino dos dois iria mudar. Que naquela noite uma decisão seria tomada e tudo teria um final inacreditável, até mesmo para eles. O que ninguém sabia era que pela primeira vez, na vida de ambos, as almas seriam levadas a um nível máximo. Que naquela noite, o Kákos e a Theá seriam por fim, revelados.

~> Continua