Jarros de Almas - Capitulo 1










~//~ 22 anos atrás ~//~




A mulher se contorcia em cima da mesa de pedra. Os gritos agudos eram ouvidos por todo o ambiente. Quatro homens estavam ali dentro e duas mulheres, a que gritava e uma que estava parada ao lado da mesa de pedra com um punhal nas mãos. Um homem branco como a morte e de cabelos negros como a noite, deslizou de encontro à mesa e prostrou-se ao lado da mesma. Dobrou os joelhos no chão e murmurou uma reza baixa.


Sua voz deslizava para fora da boca como um silvo de uma cobra e quanto mais rápido ele falava, mais a mulher em cima da mesa se contorcia. Algumas tochas que estavam chamuscando apagaram e logo tornaram a ascender sozinhas. Ele ficou de pé novamente.


A dor era palpável e aquela pobre criatura se contorcia sabendo que sua hora havia chegado e que em alguns instantes seu adorado bebê estaria para nascer, mas que ela não veria seu belo rosto.


O homem-cobra puxou levemente as mangas da grande capa que usava e apoiou as mãos em cima da barriga da mulher e em forma de oração, sua voz se elevou e junto com ela, os gritos da mulher deitada.


Ελάτε Κάκος (Venha Kakos)
Επιλεγμένη διαδρομή του είναι (Seu caminho traçado está)
Ελάτε σε μας (Venha para nós)
Ελάτε (Venha)


Retirou as mãos da barriga da pobre criatura que já não tinha nem mais forças para gritar e deu um passo para trás. A mulher que segurava o punhal se aproximou da mesa e com um único corte, abriu a barriga da outra de um canto à outro. O sangue que espirrou não pareceu abalar ninguém alí, nem mesmo quando a que tivera a barriga aberta parou de se contorcer.


O punhal foi colocado de lado e a única fêmea viva enterrou as mãos dentro do ventre aberto e retirou de lá o pequeno garotinho. Ela entregou o bebê ao homem-cobra. O silêncio dentro da cúpula era angustiante e nem mesmo o pequeno bebê que era erguido à cima da cabeça daquele que o segurava ousou chorar. Seus braços pequenos e rechonchudos apenas agitavam-se no ar junto com suas pernas.

- ένα αγόρι ( Um menino) - Pronunciou em Grego antigo.

ένα αγόρι  – Todos os outros dentro daquela sala repetem alto.

- Κάκος, θαρραλέος Κάκος (Kakos, corajoso Kakos) – Proferiu com seu silvo


Ele baixou novamente o menino e olhou para o rosto daquele garotinho. Os olhos abertos de um negro profundo e seus cabelos grudados pela testa deixavam claros que aquele garoto teria sucesso em suas ações. Girou o corpo e caminhou até um rapaz que aguardava em prontidão sua missão ser iniciada.


- Leve-o até a cidade de Delfos. O Oráculo o espera.


O rapaz pegou o garoto nos braços e o cobriu com a própria capa.


- Lembre-se. A profecia só será proferida apenas uma vez. Encontre-me no arco principal em dois dias.


E sem mais, o rapaz saiu caminhando à passos apressados pelos corredores. Tivera algumas dificuldades, aquele chão era cheio de pedras soltas e os corredores eram escuros, mas não tardou em encontrar a saída. Uma pedra maciça precisou ser empurrada e este quase deixou o precioso bebê cair, mas por sorte, não aconteceu.


Quando se esgueirou pela estreita abertura, deu de cara com as costas da estátua de Atena. Olhou-a de cima à baixo e então respirou fundo. Deu a volta na estátua e seguiu à passos rápidos pelo grande salão. O eco de seus sapatos sobre alguns pedregulhos ditavam o ritmo que seu coração batia no peito.


Tempo depois, chegou à Delfos e lá, foi procurar o Oráculo. Subiu a montanha de pedras perigosas e quando alcançou o templo, viu os três guardiões de pé, lado à lado.


Os guardiões nada disseram, apenas lhe deram às costas e caminharam para dentro do círculo de pedras que formavam uma cúpula. Os três sentaram lado à lado em pilares e o homem caminhou e colocou em cima de um altar de pedras, o pequeno menino.


Os guardiões olharam para a criança e então se entreolharam novamente e estenderam as mãos. O rapaz que carregava o bebê tirou seis moedas de ouro e depositou nas mãos dos guardiões e estes, após analisar o ganho, levantaram e caminharam para os enormes pilares que havia atrás de sí. Eles apoiaram as mãos nos pilares e o homem que havia estado com o bebê, passou pelos pilares e parou diante de uma mesa de pedra onde jazia uma jovem donzela de longos cabelos ruivos, pele alva e intocada.


Apoiou as mãos no final da mesa e então uma fumaça começou a consumir o local e encobrir parte da donzela que começou a mexer suavemente em cima da mesa. A fumaça ía rodeando-a, envolvendo-a e ela ia mexendo-se de acordo com a fumaça, era como se fizesse parte do elemento.


Seu pequeno e frágil corpo fora erguido pelo espectro e o longo tecido de seda escorregou de seu corpo revelando toda a sua nudez. Abriu os olhos, boca e braços em um grito mudo e então seu corpo caiu sobre a mesa com um baque surdo e a fumaça ficou ainda mais densa. O rapaz se aproximou da jovem.


- Pítia? - Ele a chamou.


Viu os belos olhos azuis lhe olharem sem vida e em um sussurro a voz doce e melodiosa saiu dos lábios rosados e nunca tocados:


Sob a lua mais alta. Após completar a vigésima segunda primavera,
O Kákos irá atrás da jovem Theá. Deverá roubar para sí
A alma tão desejada.
Sob a lua mais alta. Ainda sob a vigésima segunda primavera,
A bela Theá, tentará iludir o jovem Kákos.
Ela ganhando, trará esperança para o povo.
Ele ganhando, trará desgraça para o povo.
Theá será a peça principal da coleção.




Viu os olhos fecharem e então se afastou e olhou para os guardiões que retiraram as mãos dos pilares. O rapaz voltou a caminhar e quando se aproximou do pequeno altar e viu que a fumaça que envolvia o oráculo estava envolvendo o garoto. Estendeu as mãos e a fumaça abria espaço para sua pele.


Pegou o pequeno garotinho e o envolveu novamente em sua capa. Precisava levar o menino para um lugar seguro, até que em dois dias, sua missão terminaria no arco principal.



~//~ Dias atuais ~//~



Olhava aquele corpo caído em cima da cama, inerte. Mais uma para sua lista. Suas belas curvas à mostra e o pequeno filete de sangue que escorria por sua boca demonstrava um ato recém acontecido. A bela mulher de olhos e cabelos negros estava tão fadigada que apenas quando acordasse, saberia o que realmente aconteceu. Terminou de vestir a calça e depois o blusão. Deu as costas saindo do quarto. Caminhou pelo corredor do hotel e pegou o elevador. Com as mãos no bolso, suspirou, fechando os olhos. A lista só aumentava cada vez mais, e isso era bom e ruim ao mesmo tempo. Queria poder se controlar, guardar tudo o que tinha para ELA, mas era inevitável.


Assim que as portas do elevador se abrem, subiu o capuz para que cobrisse a cabeça e parte do seu rosto e caminhou tranquilamente pelo hall rumo a saída do hotel. Andava de cabeça baixa pelas ruas ainda tranquilas daquela manhã nublada. A cidade de Tessalônica é maravilhosa, muitas lendas rodam em torno da mesma. As pessoas costumam dizer que é tudo mentira. Idiotas. Mal sabem elas que por trás de toda lenda há um pouco de verdade. E no caso desse local, ele diria que há muitas verdades.


Continuou caminhando por mais vinte minutos, até que chegou na estação principal de metrô. Pegou um bilhete e ficou na plataforma esperando a condução. Não demora muito e logo um metrô para. Entrou calmamente e sentou em um canto mais afastado, puxando o capuz ainda mais para seu rosto. Fechou os olhos e respirou fundo. Nesse exato momento, sentiu a garganta arder e o peito fechar. 

Não. Agora não.

Tentou se controlar, mas era algo inevitável. Abriu os olhos novamente e os sentiu arder. Droga! Respirou fundo mais algumas vezes, inebriando-se ainda mais com o cheiro maravilhoso que chegava até as narinas. Ainda sobre a proteção do capuz, olhou de lado e viu uma bela moça, loira de olhos verdes lendo tranquilamente. A analisou rapidamente e se agradou do que viu.


Ao lado dela, estava outra moça muito parecida, ela cutuca o braço da amiga e discretamente aponta para o jovem. A garota do livro olha-o rapidamente e ele vê suas bochechas ficarem vermelhas. O cheiro fica ainda mais forte e ele já não conseguia mais resistir. Se encostou no apoio da cadeira em que estava e afastou um pouco o capuz, permitindo a moça ter uma visão de sí. Deu um pequeno sorriso de canto e ela faz o mesmo, desviando o olhar.


Bingo!


Todo o corpo dele tremeu só de pensar no sabor que essa garota deveria ter... e o melhor, o sabor que a alma dela deveria ter. Respirou fundo mais uma vez, inalando o cheiro. Abriu os olhos novamente, olhando-a. Ela o olhava vez ou outra e a cada vez ficava mais corada. Isso estava ficando muito interessante e ele sabia que em menos de um dia, estaria com essa garota totalmente entregue em seus braços.


 - Athenas, eu ainda estou à caminho, mas já estou te adorando!



Comentários

  1. Puts 😱😱😱 arrasou viado... perfeitooooo esse capítulo, ja o primeiro me deixou em êxtase... muito foda... Parabéns Bruna, cara vc me deixou sem palavras... Super Hiper Mega ansiosa pelo próximo capítulo

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  2. Incrível! Adorei a parte do ritual de nascimento.
    E a parte do oráculo foi ótima, me lembrou o filme 300 nessa parte.
    E esse desejo avassalador do Uchiha em!
    Adorei o capítulo <3

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  3. Uau!!!!! simplesmente perfeito!!Ansiosa pelo Próximo....

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