Pelotão 28 - Capítulo 4




Não soube dizer se o que mais incomodou foram os barulhos dos jatinhos, tanques, tiros, as conversas aqui e alí, ou o que viveu até alí, mas quando finalmente pegou no sono já era tarde da noite. Muito tarde. Acordou sentindo todo seu corpo dolorido, seus olhos pesavam e sua cabeça estava dormente. Tateando sobre um dos caixotes que tinha ao lado da cama, pegou o relógio de pulso e viu que eram 8 horas da manhã. Começaria seu turno às 10 horas então aproveitou e fechou os olhos um pouco mais.

Ouviu gargalhadas alí perto e despertou em um pulo, praguejou baixo quando se enganchou no lençol e acabou caindo no chão da tenda. Passou uma mão pelos cabelos e com os olhos estreitos olhou ao redor tentando assimilar o que estava acontecendo. Esbugalhou os olhos ao lembrar onde estava e ao perceber que havia cochilado. Levantou rápido e pegou o relógio, suspirou aliviada ao perceber que havia cochilado apenas 45 minutos. Aproveitou que havia despertado por conta do susto, a Haruno arrumou rapidamente a cama. Foi até o segundo caixote e o abriu vendo alí sua farda de trabalho: calça camuflada (de cor clara), coturno bege, cinto bege, camisa branca e jaleco branco.

Colocou a roupa em cima da cama junto com um par de roupa intima e foi tomar um banho rápido. Assim que estava pronta, prendeu os cabelos em um rabo de cavalo no alto da cabeça, colocou o relógio no pulso, pegou os óculos de sol e saiu. A primeira coisa que sentiu foi o calor dos raios solares daquele lugar em sua pele clara e suave. Mesmo com os óculos, ela estreitou os olhos e olhou ao redor recebendo olhares aqui e alí. Percebeu que hoje estava mais movimentado que ontem. Um grupo de soldados conversavam animados duas tendas após a sua, eles a olharam com as sobrancelhas arqueadas e pelo jeito, as gargalhadas que ela ouvira mais cedo tinha partido deles.

Ignorou a piscadela marota de um deles e seguiu na direção oposta indo para onde o major havia dito que ficava a tenda do refeitório. Agradeceu ao chegar lá e perceber que estava praticamente vazia. Várias mesas enormes estavam dispostas alí, ela viu que as rampas onde deveriam ter comidas estavam praticamente vazias, mas não se importou muito. Pela manhã a Haruno quase não comia. Pegou uma bandeja, colocou um prato em cima, um copo e colocou uma maçã, duas torradas e encheu seu copo com café. Caminhou até uma das mesas e sentou afastada de um pequeno grupo. Comeu apenas observando e sendo observada. Ela era a carne nova, todos alí pareciam comentar sobre sí e ela odiava toda aquela atenção. Olhou para a bandeja e ainda faltava a maçã. Com um muxoxo, levantou, colocou a maçã no bolso largo da calça, pegou a bandeja e foi até a rampa onde deixou a bandeja alí e pegou o copo de café e saiu da tenda-refeitório tomando seu café.

Ouviu um barulho e olhou para cima bem a tempo de ver dois caças passarem à cima de sua cabeça. Ainda caminhando, ela girou o corpo na direção do galpão e viu que a agitação lá estava maior do que no dia anterior. Viu um grupo de soldados passarem correndo por entre dois acampamentos. Todos eles sem camisa, apenas com calças camufladas e coturnos e instintivamente a médica tombou a cabeça para o lado e mordeu o lábio inferior tentando fazer uma votação interna de qual seria o tanquinho mais interessante. Arqueou as sobrancelhas, girou o corpo novamente e continuou sua caminhada rumo ao hospital. Bebeu um pouco mais de seu café, afinal, precisava se concentrar em sua missão.

Ao adentrar a tenda do hospital a médica encontrou um cenário diferente do anterior, vários agentes já estavam alí. Os dois soldados do dia anterior (os amputados) ao verem a médica lhes dirigiram um pequeno sorriso que ela devolveu. Ela terminou o café e jogou o copo dentro de um cestinho de lixo no mesmo momento em que Doutor Lee se aproximava. Ele parecia menos cansado, com um pequeno sorriso nos lábios e as mãos dentro do bolso do jaleco.

- Bom dia, Doutora. – estendeu uma mão para ela.

- Bom dia, Doutor. – aperte brevemente sua mão.

- Deixe-me lhe apresentar sua equipe: – virou para o grupo de enfermeiros que estava alí – Ino, Tenten, Kabuto e Eva. Seus enfermeiros de auxílio.

- Olá. – sorriu amigável para os quatro que a olhavam curiosos, porém animados. - Fico feliz em conhecê-los.

- Também ficamos. - A loira chamada Ino informa.

- A equipe já foi informada sobre tudo o que o Major falou ontem. Também estão prontos para lhe passar qualquer informação necessária. Fomos informados que a primeira equipe de resgate vai estar chegando em 15 minutos. Os primeiros feridos da guerra estão bem debilitados. Terei que sair, mas deixarei minha equipe aqui.

- Obrigada… quantos são os feridos?

- Segundo nos foi informado, sete. - A morena, Eva, informou.

- Quantos são leves? - Segue caminhando por eles indo até o ponto onde ficava o material para emergência, vestiu o jaleco e pegou um par de luvas colocando no bolso do mesmo.

- Três. - O prateado chamado Kabuto informou - Os outros quatro estão gravemente feridos.

- Certo. - suspirou enquanto olhava ao redor vendo as macas vazias e apenas duas delas ocupadas. Continuo percorrendo os olhos pelo local e viu a maca do homem que ela havia dado o óbito vazia. Voltou os olhos para sua equipe. Todos já estavam prontos para o trabalho - Muito bem. Peço para que tudo o que vocês passaram por esses dias seja apagado. De agora em diante vamos trabalhar com o impossível. Vamos única e exclusivamente salvar vidas. Enquanto um coração bater e um cérebro funcionar nós vamos nos matar para salvar esses homens. Estão prontos para serem máquinas? - arqueou as sobrancelhas.

- Sim!  -responderam com um sorriso nos lábios.

- Ótimo!

Ela vira e olha a equipe pronta, apenas esperando seu comando. Até mesmo a equipe do Doutor Lee. Por um momento, lembrou de seus internos e soltou um suspiro imaginando se algum dia voltaria a vê-los. Os dois soldados que estavam acamados também olhavam para ela, mas com esperança. Quando uma pessoa chegava na base com o intuito de melhoria, todos acreditavam nisso, e ela não representava a melhoria, ela representava uma chance de vida. Ouviu o barulho do helicóptero e instintivamente olhou para cima. Seu estômago deu uma revirada, e um calafrio percorreu sua espinha e ela se sentiu em seu primeiro dia de interna. Mas ela não era interna.

- Todos na entrada, temos quatro pacientes graves. Quero que cada dupla se responsabilize por um soldado e façam as primeiras análises. Vamos tentar estabilizá-los. Fico com os outros três e depois de estabilizá-los vou ao encontro de vocês. Se por acaso seu paciente morrer antes de eu pôr os olhos nele, a culpa da morte será única e exclusivamente de vocês. - sua feição era séria, e os enfermeiros viram nos olhos da médica que ela falava sério.

- Doutora, mas e se não conseguirmos? - Tenten franziu o cenho - Vamos ficar com os quatro graves.

- Os quatro pacientes vão precisar de atendimento urgente, eles não podem esperar, os outros três podem. Vocês vão estabilizando os quatro enquanto me revezo nos outros três para poder ir ajudar vocês. - passou por eles vestindo as luvas - Portanto, não conseguir está fora de cogitação.

- Entendido. - Tenten respondeu.

Os nove seguiram para a entrada do posto e assim que a primeira maca entrou pelas portas de lona, ela entendeu o que “estado grave” significava na guerra. Engoliu seco desejando com todas as forças que a equipe fosse maior porque do jeito que estava, iriam realmente ter que ser máquinas. Viu a primeira dupla pegar o primeiro homem e eles começaram a trabalhar, depois mais um, mais um e assim, todos os enfermeiros estavam ocupados, até que chegaram seus três pacientes. Enquanto andava, ela analisava o primeiro. Estava com o braço direito baleado. Ela indicou onde deixá-lo e foi vê o segundo, este estava com uma perna baleada e o quadril também. Seguiu para o terceiro que tinha a lateral direita da cabeça sangrando. Enquanto acompanhava os pacientes, os paramédicos do resgate davam as informações.

- Coloque ele alí! - Olhou para os enfermeiros e viu eles concentrados em estabilizar os outros. Pegou sua lanterna e se aproximou do que tinha a cabeça sangrando - Deixe-me vê isso… - Começou a analisar a cabeça do homem. A lateral estava com um corte e um roxo também. Ele havia sido jogado devido uma explosão. A mesma não o atingiu, mas ele precisou se jogar para isso, o resultado foi a lateral da cabeça machucada. Levantou o dedo indicador em frente ao homem e movimentou de um lado para o outro - Siga meu dedo… Muito bom...

Pouco tempo depois ela já havia atendido seus três pacientes. Retirou a bala da perna, do quadril e do braço dos soldados, cuidou a cabeça do terceiro e foi quando ouviu o grito de uma enfermeira.

- DOUTORA! - ela já correu na direção de Eva. A enfermeira estava fazendo massagem no soldado enquanto o segundo enfermeiro tentava segurar o paciente que convulsionava na maca - ELE ENTROU EM CHOQUE!

Assim que a médica se aproximou, percebeu que o soldado tinha poucas chances. Ele tinha o braço direito dilacerado. A coxa direita tinha um corte que deixava o osso exposto sem falar no sangue que ele tinha perdido devido aos ferimentos. Com muita agilidade, ela pegou o torniquete e envolveu acima do corte na coxa para impedir que o sangue continuasse saindo, depois seguiu até o braço direito e viu que alí não havia muito o que fazer. Ele já estava muito pálido, convulsionava, sem falar que não respirava. Em cima do carrinho de apoio, pegou o desfibrilador e preparou.

- Afasta! - Os enfermeiros se afastaram e ela deu a primeira descarga, esperou e viu que não adiantou. Preparou o segundo e deu a descarga. O homem continuava do mesmo jeito. - Prepara uma adrenalina, também quero…

Não terminou de falar quando viu que o homem parou de convulsionar. Lentamente, colocou as pás do desfibrilador no carrinho e com um suspiro pesado se aproximou do soldado desacordado. O mundo pareceu parar quando ela pegou o estetoscópio e o colocou em cima do coração do homem. Havia parado. Fechou os olhos apertando-os e suspirou pesado. Levantou os olhos para os enfermeiros que estavam com ela e eles perceberam o que havia acontecido.

- Vão auxiliar os outros. - foi tudo o que ela disse.

Viu seus enfermeiros mudarem o semblante, mas mesmo assim correram para os outros feridos para ajudar. A jovem médica apenas pegou o cobertor que estava preparado para o soldado e o cobriu, lamentando pela morte do jovem homem que ela viu, na dog tag, ter apenas 25 anos.

- Hora da morte: 11:34 da manhã. - sussurrou.

Respirou fundo e determinou à sí mesma que havia perdido um, mas ainda restavam três e foi pensando neles que ela correu para o segundo paciente grave. Já de cara, percebeu que ele tinha poucas chances de vida, mas mesmo assim, iria lutar por ele, ou ao menos para que ele não sentisse tanta dor.

- Doutora, eu não sei o que fazer. - Tenten informou enquanto tentava estancar o sangramento no tórax do homem.

- Ele… ele não tem chances, não é? - o segundo enfermeiro lamentou enquanto aplicava algo no soro do soldado - O que vamos fazer, Doutora? - com o cenho franzido, ela viu que ele pedia por socorro.

- Não cabe a nós dizer se ele tem ou não chances. Primeiro de tudo vamos aliviar a dor desse homem. - se voltou para o terceiro enfermeiro que tinha ido ajudar - Prepare um anestésico. Quero também gaze e bolha de contenção.

- Mas… - Tenten tentou argumentar.

- Sem mais. Eu já disse que enquanto um coração bater e um cérebro funcionar nós vamos nos matar para salvar esses homens, e é o que vamos fazer! Quero a bolha de contenção. Agora!

Trocou as luvas rápido e quando se aproximou do homem, a bolha de contenção lhe foi entregue. Desembrulhou a bolha do plástico, prendeu em um lado do tórax do soldado e com a ajuda de Tenten envolveu nele. Viu na mesma hora o plástico ficar vermelho por conta do sangue. Pegou o sugador e puxou todo o ar de dentro da bolha, fazendo com que o plástico juntasse na pele do homem, evitando mais sangue de sair. Depois, bolhas de ar subiram em cima do plástico, elas tinham a função de manter a temperatura do corpo do paciente.

- Quero trabalhar na coagulação. Prepare 10ml para mim e aplique na veia central.

- Sim Senhora. - o segundo enfermeiro fez o que ela mandou.

- Vou entubá-lo. - os enfermeiros prepararam o material e então ela, em pouco tempo, entubou o paciente. - Tenten, não tire os olhos dele. Quero esse homem em vigilância. Assim que ele estabilizar, me avise… quero operá-lo assim que for seguro. - Pegou a prancheta dele e começou a anotar alguns laudos - Ministre o Nora caso ele entre em colapso. Também mude o soro dele para glicosado.

- Certo, Doutora! - com um aceno, a jovem enfermeira começou a preparar tudo.

Quando girou nos calcanhares, ela viu que os enfermeiros tentavam reanimar o terceiro homem. Se aproximou deles rapidamente e começou a verificar o caso, mas não teve muito tempo, o coração dele também não voltava, o que não seria novidade já que, ele tinha levado três tiros e dois deles acertaram a cabeça do homem. Com lamento, Kabuto cobriu o soldado. Já desesperada, ela seguiu até o quarto homem grave. Ele tinha vários hematomas no braço esquerdo, o pé esquerdo estava quebrado e seu quadril estava com um buraco de sete centímetros.

- A Artéria… - Ino entubava o homem enquanto Eva ministrava medicamentos no soro e o outro enfermeiro colocava gases no quadril.

- Droga. - murmurou e foi até carrinho, trocou rápido as luvas e voltou para o homem. Verificou a pressão dele enquanto ajudava o enfermeiro com as gases. - Quero um coagulante. Agora! - não demorou para lhe ser entregue e ela aplicar direto no quadril do homem.

- Hemorragia interna. - Ouviu Ino informar.

- Órgão? - perguntou sem tirar os olhos do quadril do homem.

- Pulmão esquerdo.

- Todos os traumas foram do lado esquerdo. - Eva falou rápido - Podem haver mais órgãos danificados

- Analise se há mais. - ordenou ainda sem olhar para a enfermeira.

- Ino, realize uma punção. Eva, quando terminar, ajude a Ino.

- Sim. - ambas disseram.

- Kabuto? - Em questão se segundos o enfermeiro estava ao lado dela - Vamos operar esse homem.

- Mas ele vai morrer. - indagou espantado.

- Se não fizermos nada, o que vai acontecer com ele? - levantou os olhos verdes para o enfermeiro.

- M-morrer.

- Então se ele vai morrer de todo jeito, que seja com nós dois tentando.

Com um aceno de cabeça, eles começaram a preparar tanto o homem como os materiais para a cirurgia. Os outros enfermeiros se juntaram a eles e a cirurgia teve início. Primeiro repararam os danos internos. Eles foram muito rápidos em tudo e a parte mais difícil foi restaurar a artéria, mas eles conseguiram. O que mais preocupava era a hemorragia que ele tinha tido, mas que também foi contida. Depois de quase quatro horas, o homem estava estável, seu quadril costurado, sua perna imobilizada e o braço envolvido em bandagens.

- Ele precisa de sangue. - pegou a dog tag e viu o fator RH - O negativo.

- Indo pegar. - Eva saiu correndo em direção aos fundos do posto e voltou tempo depois com o sangue - Aqui!

- Obrigada. - pegou o sangue e colocou um cateter.

A hora do almoço passou rápido e junto com ele, mais pacientes chegaram. Ela dividiu a equipe em três. A primeira equipe foi descansar, a segunda almoçar e a terceira ficou com ela. Um rodízio entre as três equipes foram feitas e ela nem viu quando a noite chegou. Poucas vezes tinha tido um dia tão corrido, mas estava disposta a só descansar quando finalmente todos os pacientes estivessem fora de perigo e ainda restavam dois pacientes graves. 



 ~> Continua




Notas Finais:


Modelo da roupa da Sakura para trabalhar no posto + jaleco.



Comentários

  1. Chorando de emoção aqui viado 😭😭😭😍😍😍
    Sem palavras p o q tô sentindo 😍😭
    Obrigadaaaaaaaa 😭😍😭😍
    #TheBest
    #NumberOne

    ResponderExcluir
  2. Incrível... Incrível... Incrível
    Aaaaaaaaaah
    Eu tô pirando aqui, é tanta adrenalina q eu nem sei descrever. Eu li esse capitulo voando cara. Quando vi ja tinha terminado.
    Eu quero maaaais.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk...

      Uma coisa atrás da outra né *-*

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  3. Bruna, essa fanfic é maravilhosa, eu tô apaixonada e n é pouco

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