Jarros de Almas - Capítulo 10

Eu sabia que a Theá não seria uma mulher feia, porém, nunca imaginei que ela seria tudo aquilo que é. Assim que encontrei a mulher de cabelos róseos, não imaginei que ela seria meu alvo, mas agora tudo faz sentido. Aquela beleza não tem como pertencer a uma humana normal. Agora, enquanto me arrumo para a festa de hoje a noite, e tendo a certeza de que ela vai estar presente, sinto minhas entranhas se contorcem em uma antecipação angustiante. Certamente tê-la será prazeroso demais, porém, ela não vai facilitar… E isso não será nenhum problema.

Termino de colocar a máscara e pego o chapéu preto, colocando-o sobre minha cabeça. Uma ótima fantasia ao meu ver. Saio do quarto e sigo pela pensão dando de cara com o loiro que costumava ficar na recepção. Ele estava vestido de Capitão América. Que peculiar.

- Boa noite! - acena animado.

- Boa. - faço um cumprimento com a cabeça.

- Espero que curta a festa. Na minha opinião são as melhores. – sorri animado enquanto coloca algumas chaves no gancho.

- Certamente.

Com mais um aceno de cabeça, saio da pensão e começo a caminhar pelas ruas de Mykonos vendo muitas pessoas fantasiadas indo para a tal rave. Durante todo o caminho, tentei me manter o mais discreto possível e estava até conseguindo, não sendo por uma adorável jovem que passou por mim e seu perfume apimentado chegou até minhas narinas. Ergo os olhos para vê-la e percebi que a mesma – que caminhava a alguns passos de mim- mantinha os olhos negros em minha figura. Claro que eu não iria perder essa oportunidade. Uma alma nova para minha coleção, e seria bom, afinal, todas as minhas coletas estavam fora de Mykonos e eu preciso de uma coleta aqui.

Gravo bem o cheiro dela em minha mente, fazendo uma nota de procura-la no final da festa para poder me alimentar. Vejo mais à frente o local onde estava acontecendo a rave e apresso os passos para chegar logo lá.

O local era escuro, com várias luzes e música alta. Como todas festas do tipo. Muitas pessoas já bebiam e dançavam afoitas então não precisei me preocupar em me ocultar. Provavelmente poucas alí seriam capazes de lembrar de mim amanhã. Pego um drink misturado com conhaque e bebo metade em um só gole. A bebida desce quente por minha garganta e faz meus sentidos ficarem mais alertas. Fecho os olhos e respiro fundo sentindo várias fragrâncias, mas uma em especial se destaca e eu abro os olhos caminhando por entre as pessoas atrás do cheiro.

Paro na mesma hora em que vejo a dona da fragrância do outro lado da pista de dança atracada à um cara de cabelos prateados. Reconheço como sendo o mesmo da taberna. Viro todo meu drink de uma vez só sem tirar os olhos da cena. Ele a beijava com vontade enquanto ela correspondia na mesma intensidade e eu senti, na ponta de minha língua, a vontade de estar no lugar dele.

Quando essa Theá estivesse em minhas mãos, certamente eu mataria toda minha sede, antes de tomar sua alma. E sim, eu vou tomar cada mísero milímetro dela com toda a sede que tenho dentro de mim e até agora não foi saciada.

Ela finalmente para de beijar o cara e vira. Os olhos verdes, protegidos pelo tecido que cobria seus olhos, parecem passear pelo salão e então ela me vê. Percebo na mesma hora sua postura mudar e acabo tendo vontade de sorrir. Enquanto ela me olha séria, ajeito meu chapéu em minha cabeça e então dou as costas em um convite silencioso para que ela me acompanhasse. Enquanto caminho por entre as pessoas, não olho para trás para ter certeza de que ela me seguia, afinal, sua presença se fazia presente o tempo todo atrás de mim.

Sigo para trás do palco do DJ e quando chego lá, ela chega logo em seguida. Agora olhando-a de perto, percebi o quão perigosa ela é. E tentadora também. Um sorriso involuntário escapou e eu acabei passando a língua entre os lábios para poder conter a água na boca que, de tê-la alí, tão perto, estava me dando.

Durante toda nossa conversa, ela se mostrou bem controlada, apesar de ser, visivelmente, inexperiente nos assuntos sobrenaturais. O que me deixou fascinado. A Theá era fascinante em todas as questões e se mostrou bem ousada também. Decidi jogar um pouco com ela e a mesma não recuou perante minhas investidas. Me aproximo dela e deslizo meus dedos por sua pele e isso me causa um arrepio mesmo eu estando com luvas.

Ela vira e eu acabo deslizando meus dedos até seu queixo e estar tão perto dela, me fez sentir o mais profundo desejo que se pode sentir. Era quase doloroso estar assim com a rosada. Ela era, definitivamente, perigosa demais para qualquer sanidade. Enquanto seus olhos me fitavam determinados, desferi minha atenção para uma mecha de seus cabelos tentando me controlar. Ela segura minha mão e eu tive que fechar os olhos ao sentir seu toque que mesmo protegido pela luva, me queimava miseravelmente.

Abro os olhos vendo-a deslizar a ponta dos dedos por meu braço deixando um rastro de um fogo tão infernal quando o meu destino. Os dedos param em meu queixo e acabo olhando em seus olhos percebendo que o verde cristalino se tornara tão intenso que quase se confundiam com negro.

- Esteja preparado para perder.

Ela pronuncia a última frase de nossa conversa e se afasta, me deixando com uma chama dentro de mim que lutava para consumir a jovem à minha frente. Ela sobe o xale para a cabeça e protege os olhos com o mesmo, me dando as costas e indo embora.

Ao tê-la longe de mim, sou capaz de sentir o Kakos se eriçar em minha corrente sanguínea tão tentador que precisei fechar os olhos e estalar por três vezes meu pescoço para poder manter o controle. Certamente a Theá é tentadora. Mas, certamente, ela não sabe o poder que tem. Como também não sabe o poder que tenho. Porque eu até iria me consumir no fogo dela, mas não queimaria sozinho.

Ela iria queimar junto comigo.

~> Continua