Pub - Drink 38

 


Os acionistas falavam agitados, mas ele não conseguia prestar atenção em nada. Olhava para a enorme janela na parede oposta enquanto os pensamentos eram povoados por olhos verdes, cabelos róseos e um sorriso decepcionado.

Fazia alguns dias que não a via e desde então, tinha entrado em decadência. Não comia direito, não dormia nada, não conseguia trabalhar... Estava em completo estado de letargia. A culpa o corroía por dentro com tanta violência que andar de cabeça erguida era difícil. Todas as noites, dirigia até o Pub e ficava parado do outro lado da rua por horas, esperando vê-la, mas nunca a viu, então dirigia até estar em frente ao pequeno prédio onde ela morava, mas as luzes apagadas deixavam claro que a Haruno não estava em casa, então decepcionado, dirigia de volta para a própria casa e deitava na cama encarando o teto, sucumbindo ao próprio desânimo por ter sido tão cruel com a única pessoa que não merecia.

Durante esses dias, havia percebido que sentia mais a falta dela do que poderia descrever. O sorriso frouxo, os olhos intensos, os cabelos exóticos, o cheiro característico, o toque marcante e a voz suave e ousada. Sakura estava fazendo falta em sua essência e ele se amaldiçova por isso.

Decidiu que iria procurar por ela. Iria pedir seu perdão, se necessário, imploraria, ficaria de joelhos. Mas não desistiria de reconquista-la.

- Alguém tem algo para contestar? - ouviu a voz de um dos acionistas e retornou a realidade.

- Não. - a resposta foi geral.

Madara permaneceu em silêncio e percebeu que um silêncio se fez na sala também. Piscou confuso e só então entendeu que todos estavam olhando para ele. Pigarreando, o Uchiha meneou a cabeça e fechou o notebook, suspirando.

- Já que estamos de acordo, vamos encerrar por aqui.

E com isso, todos levantaram. Alguns ficaram no corredor conversando, outros já seguiram na direção do elevador enquanto ele abotoou o blazer e seguiu até a própria sala. Ao chegar lá, fechou a porta as costas e suspirou novamente, dessa vez, esfregando o rosto com ambas as mãos. Três minutos depois, ouviu uma batida na porta e com um resmungo, girou nos calcanhares, olhando para ela.

- Entra. - murmurou.

A porta foi aberta e Itachi apareceu, seguido de Sasuke. O mais novo fechou a porta, vendo o tio suspirar e esfregar a nuca, tenso.

- O que aconteceu, tio? - quis saber.

- Nada. - respondeu seco.

- "Nada" não, né? - Itachi resmungou, colocando as mãos nos bolsos da calça social - O senhor ficou a reunião toda olhando para o nada, quase não respondeu às perguntas...

- Só estou...

- Em qualquer lugar no mundo, menos aqui. - Sasuke completou, sorrindo em seguida - Qual é Madara, desde quando você fica tão disperso em uma reunião tão importante?

- Não é nada demais. - resmungou, caminhando até um pequeno armário e pegando um whisky, servindo um cowboy, depois virou de uma vez só.

- Não é nada demais, mas você está aí tomando um cowboy ao melhor estilo shot. - Sasuke suspirou, cruzando os braços - Ainda nos tirando por moleques, tio?

Madara encarou os sobrinhos, analisando cada um. Sim, ele os tirava por moleques sempre que tivesse vontade, afinal, trocou muitas fraldas dos dois, mas também sabia reconhecer que já eram homens formados. Muito bem formados. Suspirou frustrado por ser ele a estar recebendo os sobrinhos para ter conselho, mas bem, o que podia fazer? Os meninos tinham sua própria linha de raciocínio.

- É ela, não é? - Itachi perguntou baixo.

Sasuke olhou do tio para o irmão.

- "Ela" quem? - franziu o cenho.

Madara queria tanto negar...

- É... - respondeu baixo, servindo-se de outro cowboy, virando.

- É... mulher é foda. Destrói qualquer um. - Itachi suspirou, caminhando até o tio e tomando o copo dele, colocando-o sobre o armário e segurando o tio pelos ombros - Você precisa falar com ela, tio.

- "Ela" quem!? - Sasuke voltou a perguntar, vendo o tio suspirar.

- Eu sei. - resmungou. fechando brevemente os olhos - E eu vou.

- "Ela" quem, porra? - Sasuke perdeu a paciência, tomando a atenção do irmão e do tio para si. Abriu os braços, bufando - Vocês estão falando em código pra mim.

- Foi mal, maninho. - Itachi sorriu, tirando uma mão do ombro do tio - É que tem uma garota aí que tá atormentando o tio... Um casinho, sabe?

- "Casinho"? - esbugalhou os olhos e olhou para o tio - Desde quando Madara Uchiha tem "casinhos"?

- Não tenho. - resmungou, caminhando até o sofá e sentando em seguida. Olhou para Itachi com os olhos estreitos - A Sakura não é um casinho.

- Então se tornou sério? - Itachi arqueou as sobrancelhas.

- Por mais que eu queira negar, a Sakura é alguém especial e não posso continuar nisso. - esfregou o rosto - Não posso deixar que ela ache que não significa nada.

- Você vai ter que se esforçar, tio. Você fodeu com ela.

- Literal e figurado pelo que vejo. - Sasuke resmungou, suspirando - Na boa, pra você estar desse jeito, ela deve ser realmente muito importante, porque nunca te vi assim, tio.

- É... Enfiei os pés pelas mãos achando que a Sakura era só um passa tempo.

- Madara Uchiha está apaixonado. - Itachi sorriu - Descansa um pouco e depois vai procurar por ela.

- Não posso. Tenho que encontrá-la. - ia ficar de pé, mas Sasuke apoiou as mãos nos ombros do tio e o empurrou de volta para o sofá - Ei!

- O senhor não vai pra lugar nenhum depois de ter virado dois cowboy.

- É, tio. É melhor sossegar. Toma um café e deixa o efeito do álcool passar.

- Mas eu...

- Sem "mas", Madara Uchiha! - Sasuke apontou para o tio - Vou pedir para remarcar toda a sua agenda. Fica aí, descansa, toma um banho e depois vai atrás dessa tal Sakura.

- É, tio. - Itachi suspirou - Fica tranquilo que a gente assume tudo por hoje.

Madara quis protestar, mas já não estava conseguindo fazer muita coisa mesmo, então resolveu acatar o que os sobrinhos estavam falando.

Tomou um banho - ainda sob cuidado dos sobrinhos - e quando terminou, eles se retiraram, avisando a secretária para remarcar tudo. Madara simplesmente se jogou no sofá e ficou encarando o teto. Não havia bebido ao ponto de ficar embriagado, mas havia bebido o suficiente para se sentir mais leve. Sabia que não podia dirigir. Podia pedir um motorista? Podia, mas sabia bem como era quando estava com Sakura e não podia usar um motorista para isso.

Esperou algumas horas até que já não aguentava mais esperar, por isso, levantou passando as mãos nos cabelos, arrumando a roupa e caminhando até a mesa. Desligou tudo, pegou o celular, a carteira, as chaves e saiu da sala.

- Senhor Uchiha... - a secretária começou, mas ele levantou a mão, calando-a.

- Estou indo. - seguiu na direção do elevador.

- Mas seus sobrinhos... - balbuciou.

- Meus sobrinhos têm os problemas deles para resolver... E eu tenho os meus.

O elevador abriu e ele entrou, acionando o botão da garagem. A secretária ainda correu para tentar impedi-lo, mas as portas metálicas fecharam, deixando a mulher de pé, no meio do corredor, desesperada.

Dentro do elevador, Madara abotoava o blazer, esperando chegar no estacionamento e quando isso finalmente aconteceu, ele caminhou determinado na direção do carro. Olhou brevemente no relógio e viu que era quatro e treze da tarde. Suspirou, vendo que havia perdido muito tempo "descansando" da bebida. Bufou irritado. Sinceramente, sua consciência o estava matando e seu peito também.

Começava a achar que estava se tornando cardíaco.

Não tardou para entrar no carro e arrancar com ele, dirigindo pela cidade. Pensou no primeiro lugar que deveria ir e decidiu ir para a casa dela. O primeiro lugar seria lá, afinal, àquela hora, Sakura deveria estar se arrumando para ir trabalhar.

Enquanto a paisagem ao torno ia mudando da grande cidade para o subúrbio, ele ia tentando ensaiar o que falaria com ela. Precisava ser sincero. Precisava mostrar para Sakura que ela era importante para ele e que ele estava errado. Totalmente errado e se tivesse a menor chance de conseguir qualquer redenção, agarraria ela com unhas e dentes.

Estava tão focado no que falaria com ela que só percebeu onde estava quando uma bola bateu no para brisa e ele percebeu um grupo de moleques brincando no meio da rua. Rapidamente Madara freou o carro, vendo a bola quicar no capô e rolar pelo chão. Respirou fundo, voltando a dirigir, estacionando o carro.

Determinado, desligou o veículo e saiu do mesmo, ativando o alarme. Caminhou até o pequeno prédio onde Sakura morava e ao chegar na portaria, acenou para o porteiro que o olhou curioso, mas pareceu lembrar dele quando arqueou as sobrancelhas e se aproximou. O homem olhou o Uchiha de cima a baixo e parou do outro lado da grade, dando um sorriso simpático.

- Boa tarde. - cumprimentou, educado.

- Boa tarde, senhor. - pigarreou - O senhor sabe informar se a Sakura Haruno encontra-se ai?

- A senhorita Sakura? - balançou a cabeça - Ela não mora mais aqui.

- Não!? - franziu o cenho.

- Não. Já faz mais de uma semana que ela se mudou.

Madara ficou surpreso com aquilo. Como assim Sakura havia se mudado?

- O... o senhor sabe para onde ela foi?

- Não, senhor. A senhorita Sakura só se despediu e foi embora.

- Ah... - desviou brevemente o olhar - Tudo bem... obrigado.

- De nada.

E em total silêncio o Uchiha se retirou. Sua cabeça martelava sobre onde Sakura poderia estar morando, mas não adiantaria nada tentar adivinhar porque certamente não conseguiria, por isso, decidiu ir ao lugar mais provável para encontrar ela: O pub.

Entrou no carro novamente e arrancou rumo ao local de trabalho dela e quando chegou em frente ao mesmo, viu o letreiro apagado, mas o segurança já estava na porta, o que indicava que tinha gente dentro dele.

Mais uma vez, Madara saiu do carro e caminhou pela rua e não precisou se identificar. O segurança já o conhecia, por isso, apenas entrou, ouvindo o sininho informar sua presença. Dentro do pub estava abafado, as luzes estavam totalmente ligadas, o que era diferente quando estava funcionando. As cadeiras estavam sobre as mesas, o balcão vazio e o local estava silencioso também. Olhou ao redor procurando por Sakura, mas não a viu. Na verdade, não viu ninguém. Caminhou até o balcão e sentou em um banquinho, aguardando.

Minutos depois quem apareceu foi a loira, tal da Ino. Ela paralisou quando o viu sentado ali, mas com um respirar profundo, se aproximou dele.

- Pensei que não o veria nunca mais. - cruzou os braços.

- Boa tarde, senhorita. - tentou ser o mais gentil - A Sakura se encontra?

- Você não acha que é muita cara de pau sua vir até aqui, não? - Ino não era nem um pouco delicada.

O moreno ficou calado por longos segundos. Certamente Ino sabia do que havia acontecido. Que situação embaraçosa, mas bem... estava lá para se redimir com Sakura, então precisava quebrar o orgulho.

- É... eu sei... - pigarreou - Eu... eu só queria conversar com ela.

- Desista! - a loira o cortou, pegando um pano e limpando o balcão, fazendo questão de empurrar o braço de Madara que estava apoiado sobre o local - A Sakura não trabalha mais aqui.

- Como não? - assustou-se. Sakura dependia daquele emprego.

- Não trabalha, meu bem. E pronto. - revirou os olhos - Agora desista e vá embora!

- Eu não vou. - balançou a cabeça, achando aquilo um absurdo. Primeiro o apartamento, agora o trabalho. O que estava acontecendo? - Você sabe onde ela está morando?

- Claro que sei. - bufou - Mas não vou lhe falar.

- Eu preciso...

- Você não acha que fodeu demais com ela, não? - jogou o pano sobre o balcão e colocou as mãos na cintura encarando o Uchiha com fúria - Não acha que já fez o bastante?

- Sim, eu fodi com a Sakura. Eu sei. - rebateu. Ele sabia bem a merda que tinha feito, não precisava de ninguém esfregando isso na sua cara. A consciência já o estava matando - E eu quero pedir desculpas, ok. Eu quero realmente me desculpar com ela.

- Acha que um pedido de desculpas vai ajudar? - Ino gargalhou desaforada - Pelo amor de Deus, deixa de ser idiota e vá embora. A Sakura já está na merda o suficiente sem você.

- Não. Um pedido de desculpas não vai ajudar, mas se for preciso eu me ajoelho, me rastejo, eu imploro. - respirou fundo, esfregando o rosto com as mãos - Mas eu quero poder me redimir com ela. Eu PRECISO me desculpar!

Ino ficou encarando o homem sentado à sua frente. Ele estava com os ombros arriados, os olhos cansados e as mãos deslizando pelos cabelos. Pela primeira vez, a loira parou pra observar as reações dele. Trocou o peso de perna e colocou as mãos na cintura novamente, suspirando.

Sabia que não devia fazer aquilo. Sabia que Sakura tinha pedido segredo, mas iria fazer e sabia que corria um grande risco de se arrepender, mas precisava tentar arrancar a amiga daquele poço sem fim. Por isso, e apenas por isso, iria dar a informação a ele, porque queria muito que ele fosse capaz de resgatar Sakura.

- Olha só... presta bastante atenção no que eu vou te contar. - ela apoiou uma mão no balcão encarando Madara com raiva. Queria que ele percebesse que ela estava falando sério - Eu vou te contar, mas apenas porque a situação em que a Sakura se encontra não pode piorar. Entendeu?

- Sim. - respondeu rápido.

- Eu tô falando sério, seu idiota. Se você fizer mais alguma merda, eu vou fazer de tudo para arrancar suas bolas e fazer você comer elas. Fui clara? - estreitou os olhos.

Madara queria muito protestar tanto pelo "idiota" quando pela ameaça, mas a quem ele queria enganar? Ele havia sido um verdadeiro idiota.

- Sim. - murmurou, respirando fundo.

- Ótimo. - ela pegou um bloquinho de notas de baixo do balcão e uma caneta e escreveu algo, depois arrancou a folha e estendeu para ele - Eu espero que você seja homem o suficiente para corrigir a merda que fez e para convencer a Sakura de que ela merece mais do que está tendo.

- Ok. - pegou a folha rápido, temia que ela desistisse - Obrigado.

- Não me agradeça. Faça seu papel de homem e limpe a bunda que você melou de merda.

Ele piscou confuso pela analogia, mas bem, não iria questionar. Ino parecia ter o mesmo vocabulário de Sakura e sobre aquele tipo de palavras, ele já poderia se dizer acostumado. 

Com um simples meneio de cabeça, Madara guardou a folha no blazer e saiu do Pub. Ao entrar no carro, olhou bem o endereço e achou estranho. Não era tão longe, mas certamente era bem mais para dentro daquele subúrbio. Um certo medo se apossou dele, mas com um respirar profundo, o Uchiha tomou coragem e adicionou o endereço no GPS. Iria ser o homem que Ino havia dito e iria limpar toda a merda que tinha feito.

 


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