Gypsy - Fagulha 31

 

O dia mal havia raiado e Itachi já estava acordado. Não tinha dormido nada.

Sua mente não havia desligado desde que Sakura tivera sobre ele naquela cama na noite anterior. As imagens dela dançando sobre si balançando o quadril, ela sentando sobre o seu colo e o beijo o atormentavam. Ainda conseguia sentir o gosto da boca dela na sua. Ainda conseguia sentir o calor do corpo dela sobre o seu. Ainda conseguia sentir o próprio corpo quente quando lembrava do quadril dela balançando no ritmo da música.

Mas então lembrava do que aconteceu depois. Lembrava de Sakura pegando sua mão, esbugalhando os olhos e começando a tremer. Lembrava de ela balbuciar "maktub" e de olhar para si, espantada.

E a parte mais terrível: lembrava dela pular da cama e sair correndo do quarto.

Essa última o matava.

Principalmente porque aquela era a última noite dela no palácio.

Ele não queria que fosse daquele jeito. Não com ela fugindo. Não com ele gritando atrás dela perguntando o que havia acontecido, muito menos de ter Sakura do outro lado do corredor batendo a porta na sua cara.

Depois disso, tudo se fez silêncio.

Sua mente.

Seu corpo.

Seu coração.

Nem se sentia respirar.

Ficou longos minutos de pé no meio do corredor encarando a porta do quarto dela, rezando a Allah para que Sakura saísse e viesse explicar o que tinha acontecido, mas o que obteve foi um grande "nada".

Sakura nunca havia voltado.

Resignado, retornou para o quarto e caminhou até a cama no automático, jogando-se sobre o leito macio de forma dormente., enquanto a única coisa que tudo em si queria saber era: O que houve?

Mas, mais uma vez, tudo o que recebeu em resposta foi o silêncio do quarto.

Naquele momento, por exemplo, ele estava apenas ali, deitado olhando para o teto. Tinha olhado para o relógio e ouviu alguns barulhos fora do quarto. Sabia o que era. Sabia que eram eles, partindo... E ela...

Por isso, permaneceu no quarto por tanto tempo. Não queria ver Sakura partir, porém, seu coração traiçoeiro e sádico desejava ter a certeza de que era real. De que Sakura estava indo embora. Decidiu levantar, ser homem e encarar os fatos. Sakura partia por sua causa. Com um suspirar profundo, Itachi levantou e foi se arrumar. Levou longos minutos até estar devidamente pronto, e quando constatou que estava, saiu do quarto e de fora lenta, caminhou até o local onde ficavam as carruagens. Constatou o óbvio: o local estava vazio.

Ficou alguns segundos olhando para o espaço até que um guarda se aproximou.

- Bom dia, senhor. Eles partiram faz cinco minutos.

Itachi olhou para o homem e meneou a cabeça, dando as costas e voltando para dentro do palácio. Não se preocupou em agradecer ou xingar ou qualquer outra coisa. Apenas entrou.

Caminhou pelos extensos corredores, tentando manter-se o mais distante das pessoas possível. Seus pés o guiavam no automático e só se deu conta de onde estava quando parou em frente a enorme escadaria principal do palácio. Lá, estavam seus dois irmãos lado a lado, mas Itachi preferiu permanecer afastado, olhando para o horizonte.

E lá estavam elas, as carruagens.

Engoliu em seco, percorrendo o olhar por todas elas indo embora, procurando pela carruagem que conhecia e a viu. Sakura realmente havia partido. A carruagem dela era inconfundível e ele a via ir embora, deixando para trás um coração partido.

Sentiu quando o peito apertou e um bolo subiu pela garganta, sufocando-o. De maneira discreta, pigarreou, respirando fundo. Queria tanto voltar para dentro do palácio e fingir que a partida dela não o afetava, mas ele não conseguia, porque tudo dentro de si doía. Tudo dentro de si estava quebrando. Itachi era puro desmoronamento interno.

Sentiu quando uma mão o tocou no ombro e olhando para o lado, viu Shisui que meneou a cabeça em um apoio silencioso e entrou no palácio. Suspirando, olhou para Sasuke que apenas deu de ombros, aproximando-se do irmão.

- Ela esperou você vir se despedir.

- Ela foi inocente demais se pensou que eu viria até aqui, vê-la partir. – respondeu baixo ainda com os olhos no horizonte.

- Se quer saber, Sakura não parecia tão feliz. – tentou amenizar a situação do irmão.

- Nunca seremos capazes de saber o que se passa na mente de Sakura, Sasuke. – suspirou – Não se iluda.

- Do que está falando, Itachi? – franziu o cenho.

Itachi permaneceu em silêncio. Não tinha necessidade de explicar absolutamente nada. Quando as carruagens finalmente sumiram do horizonte, ele suspirou e girou nos calcanhares, entrando no palácio, rumando para o escritório.

E lá passou o restante do dia.

 

~*~ Povo Cigano ~*~

 

Enquanto a carruagem dava solavancos pelo caminho, a jovem cigana estava paralisada, olhando para frente. Sua mente era uma bagunça, flashes da noite anterior invadiam sua mente enquanto ela tentava focar na estrada, mas estava tão difícil. Principalmente com os olhos banhados em lágrimas.

Fungou tentando contê-las, mas quanto mais tentava segurar o choro, mas chorava. Não entendia o porquê, mas simplesmente não conseguia parar de chorar. Tudo dentro de si doía e estava até difícil respirar. Agradeceu aos céus por estar com o véu que cobria todo o rosto, caso contrário, teria que dar muita satisfação sobre aquele choro compulsivo.

Sem falar que vinha com a carruagem mais atrás, tomando uma distância segura entre sua família e sua dor.

E ela nem sabia exatamente o motivo de tanta dor.

Deveria estar feliz. E estava! Sim, ela estava feliz. Muito feliz, mas ainda assim, porque chorava tanto?

A explicação era óbvia, mas ela não queria aceitar. Não queria concordar nem acreditar que sofria por causa do Gadjô que estava deixando para trás.

Bem, não “deixando” exatamente, afinal, ele não era dela.

Esse pensamento fez os momentos com ele na noite anterior voltar aos pensamentos. O momento em que dançava para ele, o momento em que se sentia hipnotizada pelos olhos negros. Aqueles olhos... aqueles que eram como duas chamas acesas, consumindo-a por inteiro sem dar a ela a oportunidade de se resguardar.

Lembrou da mão dele. Da linha da vida e fechou os olhos com força balançando a cabeça para afastar aquele pensamento. Não podia. Simplesmente não conseguia aceitar o fato de ser ele seu destino.

Por isso que Hinata havia insistido tanto para que ela ficasse afastada, mas jamais imaginou que fosse algo assim e mesmo assim, ainda assim, ela tentava se convencer de que poderia muito bem ignorar o destino e seguir com a vida sem ele.

Mesmo sendo infeliz.

Fechou os olhos e suspirou, fazendo mais lágrimas rolarem pelo rosto. Até suas mãos estavam doloridas por estar segurando as rédeas do cavalo com tanta força. Talvez a dor física acalmasse a dor emocional.

Lembrou daquela manhã quando acordou depois de uma noite turbulenta. Assim que saiu do quarto de Itachi, correu para o próprio quarto e se jogou na cama, chorando em silêncio. Chorou tanto que acabou pegando no sono. Quando acordou, Hinata estava sentada na beirada de sua cama, olhando-a com compaixão.

Encarou a prima por longos minutos, até que não aguentou e as lágrimas voltaram a cair silenciosa. Hinata suspirou, acariciando os cabelos da Haruno.

- Você viu, não viu? – perguntou baixo.

- Por que não me contou? – devolveu, baixo.

- Você sabe que eu não podia, Sakura. É do destino que estamos falando.

- Não é justo! – balançou a cabeça, sentando na cama, passando as mãos no rosto para tentar conter as lágrimas – Não é justo que seja ele, Hinata.

- Infelizmente é, minha prima. – mordiscou o lábio, nervosa – Eu tentei evitar, mas você nunca me escuta.

- Eu... eu não deveria estar me sentindo assim, Hinata. - levou uma mão ao peito, respirando fundo.

- É o seu destino, Sakura. - suspirou, inclinando a cabeça para o lado - E dependendo da sua escolha, só vai piorar.

- Eu fui tão idiota. – escondeu o rosto entre as mãos, fungando – É tão cruel estar ligada a ele. Não é justo.

- Desde quando a vida é justa? – perguntou baixo, mas Sakura não respondeu. Com outro suspiro, Hinata ficou de pé – Eu vou me arrumar. A escolha está em suas mãos, Sakura. Caso queira partir com a gente, sairemos em meia hora. Caso queira ficar, ninguém irá te julgar.

Sakura permaneceu em silêncio e quando a prima se afastou, ela abraçou as pernas, apoiando a testa no joelho, refletindo.

Metade de si queria ficar, mas a outra metade queria partir. Por mais que seu destino estivesse ligado ao dele, ela ainda poderia tomar suas escolhas e naquele momento, precisava estar longe dele para pensar. Por isso decidiu. Iria embora.

E ali estava ela, nos limites da cidade, seguindo sua família, enquanto seu coração ia esfarelando e ficando para trás pouco a pouco, criando uma trilha de dor por onde passava. E o primeiro pedaço daquela trilha havia ficado lá, na porta do quarto dele.

Porque quando estava partindo, ela caminhou até a porta do quarto dele e com delicadeza, deslizou a ponta dos dedos pela madeira bem talhada, sussurrando um “Adeus”.


Comentários

  1. Quando o destino está traçado não há COMO fugir... tentar enganar só sofre mais

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  2. Tomara que a Sakura volte logo, os dois tão sofrendo demais

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  3. Oh ela precisa voltar logo, não aguento mais ver Itachi sofrer tanto! Aguardando ansiosa...

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