Pelotão 28 - Capítulo Quarenta e Oito

 


Dois dias.

Dois dias haviam se passado desde sua captura. Sakura se encontrava extremamente cansada, com fome e com sede. Toda a alimentação que tinha ingerido no dia anterior foi um pão seco e um copo com água. Agora, estava sentada no chão, encostada na parede daquele enorme cômodo onde todos os soldados inimigos estavam concentrados.

Desde que chegara ali, a havia sido jogada de qualquer jeito naquele lugar e ali a mantiveram. Apenas a deixavam ir ao banheiro fazer as necessidades e nada mais.

Com muito, muito custo.

No dia anterior, os soldados receberam a informação de que Naruto havia sobrevivido. Ninguém conseguia acreditar, claro, afinal, foram eles que atentaram contra a vida do Uzumaki. Segundo o Capitão, era impossível o “desgraçado do Uzumaki” estar vivo.

Ainda no dia anterior, o capitão havia cortado uma mecha do cabelo da Haruno, pego um soldado que estava sendo feito de refém e entregou a ele a mecha do cabelo rosa, mandando ele entregar nas mãos do major do exército inimigo.

Olhava os muitos homens que estavam dentro daquele ambiente decadente. Uns conversando, outros trocando de roupa, outros doentes. Todo mundo junto. Sem nenhuma organização.

Sentia os pulsos doendo por conta da corda que a tinham amarrado e os tornozelos também. Já havia analisado cada mínimo detalhe daquele ambiente. Já tinha decorado cada perfil de soldado que entrava e saía. Já havia traçado um pequeno plano na mente caso surgisse alguma brecha.

O corpo estava exausto, mas a mente mantinha-se sã. Tinha ignorado todas as piadas, todas as ameaças, todas as tentativas de fazê-la ceder a qualquer pressão psicológica.

Por algum motivo, o Capitão daquele batalhão escolhera mantê-la “segura”. Havia dado uma ordem de ninguém tocá-la, porque ele tinha planos “melhores”.

Sakura não quis saber.

De repente, uma agitação começou a se formar na entrada daquele prédio e ficou atenta. Vários homens começaram a entrar sendo carregados por outros. Uns apenas feridos levemente, outros, bem graves. No mesmo instante a médica ficou atenta ao que se passava e viu quando os vários soldados começaram a ser colocados no chão de qualquer jeito.

Vários gritos de ordem ecoavam pelo ambiente enquanto uns tentavam ajudar aos outros.

Viu quando um homem vestido com uma roupa diferente adentrou no ambiente. Ele trazia uma bolsa nas mãos que estavam enluvadas e logo a Haruno entendeu: ele era médico.

Ficou analisando o trabalho do médico. Apesar de agir rápido, ele não possuía tanta perícia com alguns feridos. Fazia tudo muito no automático básico. Primeiros socorros da primeira linha. Algo decadente para uma guerra como aquela. Os olhos extremamente treinados da médica a fez visualizar algumas coisas que o médico deixava passar e isso a fez sentir nojo do homem. Como ele poderia se chamar de médico daquele jeito?

Começou a fazer várias notas mentais enquanto analisava meticulosamente o trabalho do homem. As horas foram passando e a grande maioria dos soldados estavam estabilizados, afinal, não possuíam grandes ferimentos, mas aqueles mais graves, estavam indo de mal a pior, porém, o que realmente chamou a atenção da médica foi um que reclamava de dor na barriga. Ele estava levemente ofegante e com muitas dores. O médico havia dado um remédio para dor ao soldado e informado que em breve a dor passaria.

Mas Sakura duvidava muito. Pela forma como o soldado estava agindo, pela dor intensa, pelas pupilas dilatadas e pelas mãos que estavam pálidas, aquele homem morreria em menos de uma hora se nada fosse feito.

Viu quando o Capitão entrou rápido, olhando ao redor. Ele parecia bastante desnorteado, além de preocupado. Pelo que Sakura conseguiu entender, metade do pelotão estava morto e a outra metade estava ali, ferida. Foi impossível para ela não deixar um sorriso escapar, principalmente quando um dos soldados gritou “Sabaku filho da puta”.

Parece que Gaara estava dando dor de cabeça.

Foi impossível para ela não ficar feliz.

Viu quando o médico suspirou e ergueu a cabeça enquanto o Capitão gritava ameaças ao homem que apenas meneava a cabeça com medo.

- Não tem mais o que fazer, senhor. - o médico informou - Tudo o que poderia ser feito, já fiz!

- Não quero perder mais nenhum homem, fui clado? - o Capitão se aproximou do médico com fúria.

- M-mas senhor... - o médico olhou ao redor - Estão quase todos estabilizados...

O Capitão abriu a boca para falar, mas Sakura ergueu as mãos que estavam amarradas e todos olharam para ela. Aquela era a primeira vez que a médica demonstrava qualquer sinal de que estava ali desde que chegou.

Aquele era o momento de começar a colocar em prática o plano que havia elaborado.

O Capitão olhou a médica com cara de tédio.

- Isso não é hora de ir ao banheiro, vadia.

Sakura bufou, revirando os olhos. Ela apontou um dedo para o homem que reclamava de dores na barriga.

- Ele vai morrer. - falou simples, como se perguntasse as horas.

Todos olharam para onde ela apontava: o soldado sentado do lado oposto ao qual ela estava, com o corpo inclinado para frente, as mãos abraçando a barriga, os olhos fechados e a boca entreaberta, gemendo.

- O que pensa que está falando? - o médico olhou para ela.

- Que ele está morrendo. - deu de ombros.

O médico sorriu. Na verdade, ele gargalhou, olhando para Sakura com escárnio.

- Claro, porque você consegue saber só de olhar, não é? - arqueou as sobrancelhas e ficou de pé, caminhando na direção da médica - Eu já o analisei.

- Você é um açougueiro. - olhou para o homem com tédio.

- O que disse? - parou em frente a ela.

- Que você é um açoug...

A fala de Sakura foi cortada quando o médico lhe desferiu um tapa na cara, fazendo-a virar o rosto. Vários fios de cabelo dela foram para o rosto feminino e ela assoprou, tirando-os dos olhos. Depois balançou a cabeça, tentando mandar os fios de volta para o lugar. A Haruno sorriu, olhando para o médico com deboche.

- Então é só isso que sabe fazer, não é? - arqueou as sobrancelhas - Bater em mulheres amarradas, porque salvar vidas, você não sabe.

- Ora, sua...! - começou, mas foi impedido de continuar.

- Já chega! - o Capitão o cortou, olhando para Sakura com os olhos estreitos - O que está dizendo?

Sakura levou as mãos amarradas ao rosto para arrumar os fios róseos novamente e deu de ombros, tratando aquilo com indiferença.

- O óbvio. - olhou para o Capitão com um sorrisinho de deboche - Vocês estão fodidos com esse açougueiro. - indicou o médico com a cabeça - Seus homens estão morrendo aos poucos enquanto esse incompetente brinca de médico.

- ORA, SUA VADIA! - o médico gritou, dando um passo a frente.

Mas o Capitão o impediu, se aproximando de Sakura.

- Então o que sugere?

- Bom... - ela olhou ao redor - Se fossem meus homens, eu começaria por ele. - indicou o da dor de barriga - Ele parece ser o mais grave.

- O que ele tem? - o Capitão quis saber.

- Pelos sintomas, ele está com hemorragia interna.

- Hahahahaha! - o médico gargalhou de forma irônica - Ele está ótimo!

- Não seja idiota. - ola olhou para o médico com tédio - Ele está com a barriga dura, com dores, as extremidades estão pálidas, além da falta de ar e o inchaço no abdome.

- Se você fosse a médica, o que faria? - o Capitão estava realmente interessado, ela percebeu.

- Abriria a barriga dele e costuraria o que tá rasgado.

- Você é uma vadia louca, não é? - o médico balançou a cabeça - Ela está querendo matar seus homens, Capitão, não vê? - apontou da médica para o soldado.

- Eles vão morrer de qualquer jeito! - Sakura rebateu, olhando para o Capitão - A única diferença é como: eles podem morrer largados ou tentando sobreviver.

- Isso é a porra de um campo de batalha, sua vadia! - o médico abriu os braços, mostrando o local - Não tem a menor condição de abrir esse soldado aqui.

- Você tem agulha, linha, remédio pra dor, anestésico, luvas e... - olhou para um canto onde várias garrafas de bebidas estavam amontoadas - Álcool.

- E o açougueiro ainda sou eu! - o médico bufou, colocando as mãos na cintura.

O Capitão ficou olhando de Sakura, para o médico e para o soldado que já estava deitado com dor. Ele olhava de um para o outro e a Haruno conseguia vê a luta interna que ele estava tendo. Não sabia se acreditava nela ou não.

- Você gritou para todos aqui que era impossível o Capitão Uzumaki estar vivo, não foi? - o Capitão olhou para ela com curiosidade - Pois então lhe darei uma informação exclusiva: O Capitão Uzumaki está vivo, bem e em breve voltará para o campo de batalha com toda a disposição do mundo para acabar com vocês.

O Capitão estreitou os olhos para Sakura e então inclinou o corpo para frente. Sakura viu incredulidade passar pelos olhos do homem e então curiosidade.

- Como pode ter tanta certeza?

Sakura arqueou o corpo, aproximando-se do rosto do homem. Ela tinha um sorrisinho debochado nos lábios, algo que beirava soberania.

- Porque EU o salvei. - arqueou uma sobrancelha, sentando novamente - Eu o costurei de cima a baixo, eu o estabilizei, eu cuidei dele de dentro pra fora… Vocês fizeram um estrago enorme, mas consegui recuperar. - inclinou a cabeça para o lado - Exceto pela bala na cabeça, essa dai teve que ser tirada por outro médico.

O Capitão esbugalhou os olhos. Ele não sabia se acreditava em Sakura ou não, mas a forma que ela falava, com tanta confiança, o deixou desconfiado. Poderia ser um blefe? Poderia. Ele estava ficando louco? Provavelmente. Mas precisava arriscar.

- Então salve meus homens. - informou.

- QUÊ?? - o médico olhou incrédulo para o Capitão - S-senhor...

- Se você não é capaz, então ela vai fazê-lo. - o Capitão mantinha os olhos em Sakura.

- O que ganho com isso? - ela perguntou.

- Continuará viva.

- Não é o bastante. - encostou a cabeça na parede.

- Sua vida não é o bastante? - o homem estava curioso.

- Já vou permanecer viva de qualquer forma. - deu de ombros - Se você fosse me matar, já o teria feito.

- Hun... muito perceptiva. - o Capitão cruzou os braços - O que quer em troca?

- Água, comida e integridade física.

- Só pode ser brincadeira. - o médico bufou, caminhando pelo local.

- Você é bastante exigente. - o Capitão pontuou.

- Seus homens me olham como se eu fosse um prato de comida. - estreitou os olhos - Me dê água, comida e integridade física e eu salvo seus homens.

O Capitão ficou olhando nos olhos de Sakura, analisando a proposta da médica. Ele olhou para o próprio médico que bufava irritado, andando de um lado para o outro e então suspirou, tornando a olhar para Sakura. Ele se abaixou em frente a médica, puxou um canivete do colete que usava e cortou a corda que prendia os pulsos e os tornozelos da Haruno.

- Qualquer gracinha, e eu mesmo lhe mato. - murmurou.

Sakura apenas meneou a cabeça e passou as mãos nos pulsos, sentindo-os livres. Ficou de pé quando o Capitão lhe deu espaço e caminhou até onde estava o homem deitado. Assim que ela se aproximou, ele esbugalhou os olhos, olhando ao redor em busca de ajuda. Sakura se abaixou ao lado dele e inclinou a cabeça.

- Deixe-me lhe olhar.

- Não! - balançou a cabeça - Não vou deixar você me matar!

- Você já está morrendo, idiota. - murmurou, revirando os olhos - Agora pare de infantilidade e tire as mãos da barriga.

- E-eu...

- Já chega, Astruz. - o Capitão falou atrás da médica - Deixe-a analisá-lo.

O homem piscou, olhando temoroso para o capitão, mas então retirou as mãos da barriga, olhando desconfiado para Sakura.

Rapidamente, a médica analisou as mãos do soldado, depois a pupila dele para se certificar, depois segurou no pulso do homem e colocou dois dedos sobre a artéria, sentindo-a acelerada. Olhou no rosto do homem e viu que ele suava frio. Tocou na barriga dele e o ouviu gemer muito. A cada toque, ele gemia mais e quando Sakura tocou na lateral próximo a costela, ele gritou.

- Preciso dos materiais. - informou, olhando para o Capitão.

O homem olhou para o médico e fez sinal com a mão.

A contragosto, o médico se aproximou e trouxe uma enorme bolsa, jogando-a aos pés da médica. Sakura lançou um sorriso debochado para o médico, abrindo a bolsa.

- Obrigada, açougueiro.

- Sua... - o homem começou, mas a Haruno o cortou.

- Vadia? Puta? Filha da puta? Desgraçada? - revirou os olhos, pegando um par de luvas de dentro da bolsa, depois ela começou a retirar todos os materiais e os colocar dispostos sobre uma tolha que havia forrado no chão, ao lado do homem - Procure novos adjetivos, porque esses ai já estão ultrapassados.

Uma onda de risos se fez ouvir e o médico rosnou, afastando-se.

Sakura prontamente começou a fazer aquilo que lhe tinha sido “confiado”. Em poucos minutos, o homem estava deitado, parcialmente anestesiado e com a barriga aberta. Os soldados fizeram um meio círculo em volta deles para observar a cirurgia. Era a primeira vez que viam algo daquele tipo. A médica não se importou, estava concentrada na função de salvar o soldado que apenas balbuciava vez ou outra alguma coisa incompreensível.

Sakura precisou costurar o pulmão do homem e o fígado, depois, verificou que duas costelas estavam quebradas e as colocou no lugar. Depois, analisou a pulsação do homem, percebendo a pressão alta e logo tratou de medicar também. Depois de horas, Sakura o deixou dormindo no soro e foi para o próximo soldado. Um por um, a noite foi adentrando enquanto Sakura cuidava dos mais graves.

Os soldados, o médico e o Capitão ficaram surpresos com as habilidades da Haruno em tratar ferimentos graves com naturalidade, maestria e cautela. Era como se ela soubesse exatamente o que fazer. E bem, ela realmente sabia.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Jiraya estava sentado, com as mãos apoiadas sobre a mesa. Kakashi estava de pé ao lado da mesa e Naruto sentado em frente a Jiraya. Os olhos azuis estavam vidrados sobre o tufo de cabelo rosa que era enrolado por uma cordinha.

Ele olhava fixo para os fios de cabelo de Sakura enquanto o major e o tenente esperavam por qualquer reação do loiro, mas ele estava paralisado. Naruto não teve nenhuma reação desde minutos atrás quando recebeu a notícia. Jiraya já estava ficando preocupado.

Pensou em como falaria para Naruto que Sakura havia sido pega. O soldado que estava sendo feito refém voltou com os cabelos da Haruno e um recado: a médica estava sendo mantida refém, e ela seria muito bem aproveitada. Isso fez o major suar frio.

Ele sabia como era uma mulher ser feita refém pelo exército rival.

Todos sabiam.

Depois do que pareceram longos minutos, o Capitão respirou profundamente e levantou. Ele pegou o tufo rosa e o envolveu com uma força absurda na mão esquerda, e então ergueu os olhos para Jiraya. Quando o major olhou nos olhos do afilhado, ele sentiu que aquela guerra havia se tornado séria e pessoal.

- Prepararei meu pelotão. - falava sereno, sério e baixo - Libere três tanques para mim. Partiremos hoje a noite.

- Naruto... - Kakashi começou, mas se calou quando o loiro o olhou pelo canto do olho de um jeito mortal.

- Não tem argumentos, Tenente. - o loiro respirou fundo - Vocês a trouxeram para esta guerra, vocês a mandaram para lá e agora ela... - parou e engoliu seco. Passou a língua entre os lábios e fechou os olhos rapidamente, tornando a olhar para o Hatake - Agora eu vou lá buscar ela. Corrigir essa merda que vocês fizeram e só voltarei quando tiver o sangue daqueles desgraçados em minhas mãos, a morte deles em minhas costas e minha mulher em meus braços.

E com isso, ele deu as costas e saiu da sala, batendo a porta.

Jiraya suspirou pesadamente e Kakashi passou a mão no rosto. Ele olhou para o major de forma preocupada.

- Pensei que ele quebraria tudo com a notícia.

- Seria melhor se ele o tivesse feito. - Jiraya murmurou, encarando a porta - Todo esse silêncio e frieza dele só deixa claro uma coisa... - respirou fundo - O Naruto está mentalmente insano agora. Ele não vai parar até ter a doutora de volta.


Comentários

  1. AI MEU DEUS
    Agora o bagulho ficou louco
    CONTINUUUAAA

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  2. 🥹🥹🥹🥹 eu adoro essa fic! Muito mesmo! Sempre espero as atualizações.

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  3. Bem vinda insanidade !!!!
    Horas horas ... tornando os inimigos dependentes do conhecimento e da necessidade ... ela é topzera......
    Ansiosa pelo estouro do próximo!

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  4. Mulheeer, por favor não nos abandone!! Me diz que vai continuar essa fic maravilhosa!!

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