Pelotão 28 - Capítulo Dezesseis
Já estava há mais de 24 horas compenetrada. As pernas doíam, os olhos pesavam pelo sono, as costas estavam doloridas, a cabeça pesada, o corpo pedia por descanso, mas por mais que desejasse, não conseguia ir descansar. Finalmente estavam conseguindo estabilizar os mais graves e isso a permitiu deixar que Dante fosse descansar e depois o Zooko. Também dispensou alguns soldados que precisaram ir para o campo de batalha, restando apenas ela, Dante e mais dois soldados cuidando dos feridos. Nesses quase dois dias que estava ali, havia visto muita morte. Vários soldados que tinham ido para o campo de batalha não voltaram com vida. Isso só a deixou muito mal.
Por mais que tivesse imaginado que seria ruim, nada se comparava aquilo. Teve toda a assistência que lhe era possível oferecer, mas nunca era o suficiente. Viu e viveu coisas que não conseguia compreender, nem explicar porque era cruel demais para qualquer um. Tentou se manter forte a qualquer custo, mas já não conseguia pensar direito, muito menos absorver as coisas com clareza. A noite, o barulho de tiros e explosões ficavam mais intensos e ela não conseguia relaxar. Mais cedo, tivera um desentendimento com o Capitão Uzumaki porque não queria comer. Ele a obrigara a comer algo, mas tudo o que entrou (depois de quase trocarem tapas) foi um pão. Não queria perder tempo comendo, porque aqueles homens precisavam de si e cada segundo era precioso.
Estava trocando o soro de um soldado quando a porta foi aberta com brusquidão e por ela, passaram três soldados carregando um quarto que parecia estar desacordado. Piscou algumas vezes e viu que por onde eles passavam, rastro de sangue ficava pelo caminho.
- Coloquem ele ali! - indicou um canto próximo a mesa - O que houve? - perguntou enquanto caminhava em direção aos soldados e os ajudava a colocar o outro deitado com cuidado.
- Ele precisou fazer um cruzamento e foi atingido várias vezes. - um dos que carregava informou com lamento.
- Hun... - o soldado ferido gemeu.
- Meu Deus! - sussurrou quando os soldados saíram de perto e ela viu que todo o tórax do homem havia sido perfurado, era um milagre ele ainda estar vivo - Dante, quero gases. Muitas.
Com agilidade, a médica começou a tentar estancar o sangramento, mas parecia que quando ela tapava uma perfuração, o sangue saía mais por outra. Ele fora alvejado e depois de um tempo removendo fragmentos, e tentando controlar o sangramento, ela percebeu que não iria adiantar. O sangramento interno estava fora de controle e pela quantidade de sangue, ele não teria mais chances. E isso fez seu coração se apertar. O homem apenas gemia e se contorcia de tanta dor. O que mais abalou a médica foi ela ter constatado que aquele homem, era um dos que dirigia o tanque que a havia levado até ali. Ele era do Pelotão 28.
- Doutora...
Alguém chamou as suas costas, mas ela não respondeu, em vez disso, levantou a mão pedindo um momento e se afastou da mesa de primeiros socorros e foi até o armário, pegou duas ampolas transparente, seringa com agulha e voltou até o grupo. Todos estavam um pouco afastados do soldado, apenas Dante estava perto, aplicando soro. Ao ver a médica se aproximar, os olhos do enfermeiro foram para a ampola e com espanto, voltaram para a médica. Ela espetou as ampolas pegando os conteúdos na seringa, se aproximou do soro do soldado e aplicou o conteúdo da siringa ali. Colocou a seringa sobre a mesinha de apoio e se aproximou mais do soldado.
- Doutora... - Ouviu Dante chamá-la, porem, mais uma vez ela ergueu a mão.
- Ei... - sussurrou se inclinando sobre o soldado e ficando com o rosto próximo ao dele. O soldado abriu os olhos minimamente, olhando-a - Logo vai passar. - ela deu um sorriso e levou a mão esquerda ao pescoço do soldado pegando a dog-tag dele e olhando ali - Yudi. É um bonito nome.
- Huun... - ele gemeu sem tirar os olhos dela.
- Eu sei. - sussurrou. Todo o local estava em silêncio. Todos olhavam para aquilo sem compreender. Soltou a dog-tag e sorriu novamente, voltando a olhá-lo nos olhos - Sabe, Yudi, logo isso que você está sentindo vai passar, você vai sentir seu corpo leve, dormente, você vai querer falar, mas não vai conseguir, mas pode ficar tranquilo. Eu vou estar aqui com você. - a médica pegou a mão direita dele e colocou entre as suas. Ela viu que o medicamento começava a fazer efeito. Os olhos dele ficaram dilatados e cheios de lágrimas, mas o soldado esboçou um pequeno sorriso, ou uma tentativa dele. O homem também apontou com o indicador para seu pescoço - Sua dog-tag?
- Ele quer que você a tire. - ouviu uma voz baixa atrás de si e quando olhou por cima do ombro, viu o Capitão Uzumaki ali, olhando para o soldado.
- Ah... - olhou para o soldado que olhava para o Capitão e depois para ela - Tudo bem. - com cuidado, retirou a dog-tag. Olhou para o Uzumaki - E agora?
- Separe uma da outra. - ela tentou soltar, mas acabou se atrapalhando - Assim, Doutora. - ele a ajudou a soltar as dog-tags e em um pequeno momento, os dedos se encontraram e ela percebeu que ele tremia, estava desestabilizado, mesmo que não aparentasse - Essa fica com ele e essa será entregue ao oficial e posteriormente à família.
- Ah... então ela fica com você. - estendeu uma para o Capitão, mas ele balançou a cabeça de forma negativa. - Mas...
- Ele quer fique com você. - olhou para o soldado - Foi uma honra estar ao seu lado, 16.
- Huuun... - ele tentou falar, mas sua boca apenas mexia levemente. A morfina já estava em suas veias.
- Não se esforce. - sussurrou, ajeitando a cabeça dele. Ela guardou a dog-tag no bolso do jaleco e passou uma mão na testa do mesmo, limpando o suor, olhou ao redor vendo que vários soldados estavam ali. O Capitão Inuzuka também estava. Voltou os olhos para o soldado que seguia o olhar dela - Veja, estão todos aqui... Acho que você está sendo mimado demais. - estreitou os olhos e ele esboçou uma careta.
- Ele odeia ser mimado. - O Uzumaki brincou dando um leve tapinha no ombro do homem que estava deitado - Acho que vai ter gente se prontificando para limpar sua bunda, 16.
- Capitão! - A médica protestou, mas acabou sorrindo, e o soldado esboçou um sorriso que se desfez muito rápido. Ele estava quase indo. Fechou os olhos e suspirou profunda e lentamente. A médica acariciou as costas da mão dele, acalentando-o - É calmo, não é? - sussurrou e o soldado meneou levemente a cabeça - Eu sei... Mas pode ir tranquilo, Yudi. - olhou para a pequena janela e viu que a tarde se findava - Está um lindo final de tarde. - ele fechou os olhos novamente e suspirou - O céu está pintado de laranja, vermelho, branco e azul... Veja... até o barulho dos tiros cessaram...
- Como você mesmo dizia: Ao paraíso. - o Capitão sussurrou para o soldado que mesmo de olhos fechados meneou. A médica olhou para o Capitão por uns segundos e voltou os olhos para o soldado.
- Beyond the door, there's peace, I'm sure... - começou a cantar baixinho a música que sua mãe sempre cantava para ela dormir quase que num sussurro - And I know there'll be no more... - com um
último suspiro, o soldado afrouxou a mão da médica - Tears in heaven.
O silêncio continuava. Ninguém conseguia controlar o que sentia. A médica soltou a mão do soldado com cuidado, apoiando-a sobre o tórax dele. Passou a dog-tag em volta do pescoço do mesmo enquanto conferia a do bolso. Se ele havia escolhido a ela para aquilo, ela iria fazê-lo. Levantou a cabeça e respirou fundo, e foi quando fechou os olhos para respirar que sentiu algumas lágrimas escorrerem pela bochecha. Não havia percebido que estava chorando, mas sentia toda a dor em seu peito. Todo o peso daquilo. Nunca em sua vida havia sentido tanto o peso de ter uma vida em suas mãos. Sentiu uma mão segurar seu ombro com suavidade e ao abrir os olhos, viu que o Capitão a olhava.
- Vá descansar, Doutora. - ele sussurrou apenas para ela.
- Não posso. - sussurrou voltando a olhar para o soldado. Ele parecia tranquilo. Não fosse pelas várias perfurações no corpo, diria-se que estava dormindo. - Ainda há muitos feridos.
- Sakura... - a chamou pelo nome e ela o olhou rápido. Ele nunca havia dito seu nome. Os olhos azuis a olhavam determinados - Você também está ferida... Vá descansar. - Ela engoliu seco e voltou os olhos para o soldado. "Você também está ferida"... Sim, ela estava, mas não fisicamente e sim emocionalmente. - Nós vamos cuidar dele... Agora vá.
Ela balançou a cabeça de forma positiva minimamente e então levantou. Ao virar, ergueu a cabeça para poder olhar nos olhos do Capitão e ele franziu o cenho quando viu a bochecha dela molhada e os olhos marejados. Instintivamente, ergueu a mão para secar o rosto dela, não queria vê-la chorar, mas parou a ação no meio do caminho, baixando a mão lentamente. Meneou a cabeça de forma positiva e ela apenas passou por ele. Viu que o local estava lotado. Todos estavam ali não só pelos soldados feridos, mas também por aquele que acabara de morrer.
Sem falar mais nada. A médica seguiu para fora da sala e caminhou pelo corredor de forma inconsciente. Chegou no pequeno cômodo que haviam destinado como "seu quarto", entrou e fechou a porta às costas. Vagueou o olhar pelo quarto e fechou os olhos, respirando fundo. Tombou a cabeça para trás apoiando-a na porta e sentindo o bolo subir pela garganta. Porque era complicado estar em uma guerra. Era terrível. Era inumano. Era cruel. Ela não queria estar ali. Não queria ser tão responsável por todos. Sentía-se bem em seu hospital, atendendo pacientes rotineiros, e por mais que gostasse da ação, de salvar vidas... estar em uma guerra era uma faca de dois gumes onde uma hora ela salvaria e na outra, permitiria morrer.
Notas Finais:
Quero agradecer a Eva por betar esse cap também. ♥
Música cantada pela Sakura: Tears In Heaven
Aí que foda 😭😭😭😭
ResponderExcluirTadinho do pobre do Yudi 😭😭
Um minuto de silêncio pela vida perdida .... ⌚️
Aí esse capítulo foi muito triste, mais num campo de batalha é assim...
Amei o capitão Uzumaki com a Sakura, foi fofo a preocupação dele com ela, tbm procurando o bem estar dela...
Já qro outro capítulo Bru 😍
POSTA LOGO OUTROOOO CAPITULO PLEASE ❣️❣️❣️
OBS: Preciso saber notícias do meu capitão Uchiha ❤️
Triste mesmo T.T
ExcluirCara que capítulo pesadão. Foi foda ver isso tudo.
ResponderExcluirNem imagino como a Sasa tá se sentindo, e o Uzumaki tbm, meu Amorzinho perdeu um companheiro do time. Foda cara...
Ansiosa por mais!
Que o próximo cap. Venha logo!
Foda d+, mas eles vão superar
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